Segredos do Pântano - A Porta Fechada - parte I

Era comum que prisioneiros fugitivos adentrassem pelo pântano, quando em fuga - ali seria fácil se esconder e difícil a busca. Os cães tinham o seu faro dificultado pelos gases que desprendiam da lama. A água, também,era uma grande aliada. Os tiros ecoavam às suas costas. Sentia o som das balas rompendo a folhagem e os galhos das árvores, mas, felizemente estava se saindo bem. Apenas um tiro de raspão no ombro. Os latidos dos cães se aproximavam, aumentando a sua tensão.

- O filho da puta atirou na minha cabeça, ou no meio das costas, não acertou.

Caveirão - era assim, que era conhecido no mundo do crime e na prisão de Guatelmo, prisão especial para criminosos perigosos, irrecuperáveis. Na cadeia, como era de se esperar, mesmo vivendo isolado, não se sabe como, continuava a fazer das suas. Numa confraternização de Natal, matou um rival asfixiado. Passado cinco anos, num campeonato esportivo interno, matou mais um, por pura diversão, por ter recebido uma falta no jogo de futebol. Chutou o pobre diabo no pescoço e no estômago, por três vezes, e o matou antes que a guarda o segurasse. daquele dia em diante, foi mantido em isolamento total. Trasnferido para Guatelmo, por ordem expressa pela Sistema de Segurança do Sistema Prisional Federal.

Comeu um pedaço de carne apodrecida, tudo programado. Mesmo sentindo dores,conseguiu dominar o médico. Matou-o. Troucou de roupa com o mesmo e a sua fama de homem rico - que podia comprar a sua liberdade -, proporcionou-lhe a fuga, num dia ideal. A chuva era torrencial. O local era frio, fazendo com que a guarda ficasse encolhida, indisposta. À noite, a prisão ficava à meia-luz, o ideal para que a sua figura em semi-penumbra não fosse facilmente identificada no jaleco do médico e no seu chapéu de napa, que costumava usar. Por sorte, tinham porte físico semelhante e as cabeças de mesma circunferência - o chapéu do médico lhe coube bem.

- Podia não ter matado aquele infeliz, mas, ele me denunciaria, então...

O pântano.

Dizem que o pântano guarda os seus segredos. Local misterioso e temido. Alagado e úmido. Corvos e jacarés á espreita, aguardando o momento certo para a degustação natural da carcaça caída á lama. O pântano é selvagem, cruel e repleto de mistérios. Contava a lenda que era coisa comum serem avistadas no céu nebuloso um grupo de bruxas voando em suas vassouras na direção do pântano. As adoradoras do Diabo, que fugiam da perseguição da Santa Inquisição da igreja Católica, ali se instalarem para suas existências eternas.

O ambiente é selvagem, intransponível para alguns, as dificuldades são muitas. A vegetação é farta, mata fechada no alagadiço.

- Vamos voltar.

Disse um dos guardas do presídio, os cães estavam agitados.

- Ele não voltará. O pântano é traiçoeiro, mortal.

- Prefiro acreditar que sim, aqui finda a trajetória de vida criminosa de Caveirão. Que se encontre com as suas mais de cinquentas vítimas.

O ambiente de farta água escura, árvores de aspecto sinistro. O coaxar dos sapos, incessantes. O som de um jacaré nervoso, ao avistá-lo. Quanto mais penetrava pãntano a dentro, mais a sua tensão aumentava, de forma curel.

Resolveu subir numa árvore, e ali aguardar que a noite passasse. A chuva dera breve pausa, retornando, agora, com mais intensidade. pensara, que era ruim por um lado - o desconforto, o frio dilacerante feito um fio de navalha, de bater o queixo. Contudo, havia a certeza de que a guarda do presídio, desistiria de sua caçada.

- Lugar maldito, feio e amedrontador. Conta-se que ninguém volta daqui, eu vou voltar, juro que vou voltar. tenho muitas vidas para tirar ainda na minha vida de crimes.

falou assim, dando uma risada sinistra,em baixo tom. O som da chuva era ensurdecedor. A água o molhava de forma cruel, o queixo batia, de frio. Para suportar, tinha de estímulo a conquista da liberdade. Olhando para baixo via a água correr de forma violenta e subir de volume. estava numa árvore de caule frondoso, daquelas de raízes suspensas, como se fosse um mosntro vivo a poder mudar de lugar, de acordo com escolha própria- pareciam as raízes, um múltiplo de pernas asquerosas, tétricas.

Permaneceu acordado, por entre a folhagem por toda à noite. A pior noite de sua vida - so agora, soube valorizar o conforto que havia na sua minúscula cela. Um colchão, um vaso sanitário.Um espaço exiguo-ali se sentia acuado - o que dizer do pântano, chuvendo.

Ao amanhecer desceu do galho, onde se abrigara. Com a água lhe beirando o peito, seguia pântano a dentro. Parecia perdido, seguiria em busca de áreas secas. talvez, pudesse alcançar a via principal que dava para à floresta, depois para a zona da cidade, sabia que por ali, havia um lugarejo. Difícil, seria sobreviver por tantos dias dentro do pântano, onde não havia árvores frutíferas.

- Seria verdade a história de que no pântano moram as bruxas?

Indagava-se, andando a ermo meio á vegetação molhada,e no alagadiço - as águas até os joelhos, causando-lhe total desconforto, e medo de ser atacado por um jacaré faminto. Além dos mosquitos que o cercavam e o picavam nos braços e na testa, corvos agourentos seguiam-no, soltando os seus cantos agourentos. Seguia praguejando, pântano a dentro.

( continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 11/11/2012
Reeditado em 02/11/2016
Código do texto: T3979714
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