Rosas de Ferro

Lucinha caminha sobre um prado vasto e negro. Prefere não se introduzir, pois seu passado a condena. A senhora, velha e rabugenta, no entanto, cautelosa e minuciosa com o dia a dia, têm os seus dias contados aqui no planeta dos mortais, em breve, partirá dessa para uma melhor, teoricamente. Lucinha vivera de modo amargo, bem amargo. Ao caminhar por um prado silvestre, percebe que há uma sombra acinzentada perseguindo-a a todo instante. Lucinha prefere não querer saber muito dessa curiosa sombra assombrosa. A gaúcha continua com o paço tranquilo e firme sobre o prado que com o passar dos minutos e segundos, começa a se transformar de cor. Lucinha é alucinada por flores de cor azul, ao que me parece, sua irmã que morreu de desastre, também era. Deve ser coisa de família, não sei. Por onde passa, no campo ali, cata um ramo pequenino de flor que passam a se formar em turgidez. Uma coloração pseudo-cinza invade as pétalas já murchas reservadas na palma da mão de Lucinha. Lucinha mantém os ramos esquisitos no seu bolso meio remendado com cetim. As plantinhas parecem machucar o corpo da gaúcha, parece arranhar, coçar e até queimar a pele enrugada da coitada. Nessa altura, Lucinha não sabe mais distinguir o que é dor e o que é dor. Dor é muito parecido com Dor, de fato. Lucinha arranca do solo quente mais um raminho de espinhosas rosas pretas, que salientavam ácidos sorrisinhos maldosos nas sépalas. Aquele caule tortuoso e negro parece necrosar a mão de sangue de Lucinha. Pois bem, a senhora guarda o ramo recém colhido no bolso esquerdo ainda mais conservado. A madame avista uma árvore recheada de roseiras nas bordas e no seu caule um coelho. Sim, um coelho cinzento e cheio de ódio para dar. Lucinha com todas as forças restantes, corre em direção ao doce prêmio e abre os lábios rachados: "Me leve daqui, este lugar é bom demais para minha pessoa. Não mereço permanecer aqui. Me leve, coelho, me leve daqui!" O coelho pisca e retruca: "Senhora..." Isso basta. Lucinha caminha para além dos alpes negros a frente do prado e desaparece. Nunca mais fora vista por ninguém.

Nathus
Enviado por Nathus em 26/11/2012
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