Pantanal das Lamentações

Tentei, mas não consigo ficar longe. Revi minha decisão. Aqueles que sempre me apoiaram, meu muito obrigado. Espero que gostem desde conto.
Julio, Zeni, ainda vou insistir com a outra história, adianto que já gostei muito das ideias da Zeni, espero que também curtam este.

 
 


Augusto observava a grande casa em chamas, as labaredas enormes pareciam tocar o céu com dedos incandescentes enquanto uma densa fumaça negra subia devagar encobrindo a tênue luz do entardecer. Ao lado do casarão uma casinha menor também era consumida pelo fogo. Augusto baixou a cabeça e se virou, passou mais uma vez perto do alagado que cercava a fazenda, ali jacarés esfomeados brigavam uns com os outros enquanto se alimentavam, Augusto segurou uma sensação de asco, realmente não havia mais nada a fazer ali. Ele dirigiu-se até seu avião bimotor na pista da fazenda, entrou, acionou os controles e decolou, voando alto e para longe daquela fumaça negra e das lembranças ali deixadas.

Um ano depois.
As ruas da cidade estavam tranquilas aquela manhã, as pessoas dirigiam-se aos seus locais de trabalho sem imaginarem os acontecimentos que estavam prestes a acontecer, ninguém suspeitava que um crime fosse ser cometido. Na avenida principal da cidade um grande banco abria suas portas, os clientes começavam a entrar. Arnaldo, um guarda da agência arrogante e metido a gostosão, não deixava de prestar atenção em cada mocinha que entrava enquanto fantasiava situações de heroísmo para se mostrar, a seu lado outro guarda ficava distraído a olhar o interior da agência para Laura, uma bela e simpática gerente, mas sempre desviava o olhar quando via Ernani, o detestado e convencido gerente geral da agencia. Ernani passou perto de Laura e fez um comentário obsceno ao qual ela ignorou, ela sabia da fama de depravado do chefe e tentava se manter longe dele o mais que podia. Aos poucos os clientes entravam, aposentados, trabalhadores, office-boys e jovens secretarias pagando contas, em meio a tudo isso uma garotinha corria para lá e para cá, provavelmente aguardando a mãe que talvez estivesse na fila. Laura reparou que Ernani lançava um olhar libidinoso para a garotinha e deve ainda mais nojo de seu superior.
Lá fora dentro de uma van um grupo de quatro pessoas esperava a hora certa de agir, eram três homens e uma mulher.
- É agora – falou um dos homens.
Os quatro saíram do carro e rapidamente estavam na porta do banco, sem hesitar um deles atirou uma granada na porta do banco.
- Cuidado! – o guarda Arnaldo gritou.
Ele e seu companheiro se jogaram ao chão enquanto outras pessoas corriam. Seguiu-se uma intensa explosão que estilhaçou os vidros blindados da agência. As pessoas entraram em pânico.
Um dos assaltantes ergueu o fuzil e atirou para cima ordenando:
- Todos quietos e ninguém se machuca.
Rapidamente dois assaltantes correram para o interior do banco e fizeram a pilhagem. Os dois seguranças eram mantidos sob o olhar vigilante de um dos bandidos enquanto o quarto assaltante vigiava a rua. Foi ele quem deu o alarme.
- As sirenes! Os polícia tão chegando!
- Merda! – gritou um dos bandidos, parecia ser o líder – Cada um pega dois reféns pra usar de escudo!
Os funcionários e os clientes da agencia se desesperaram ao ouvir aquilo. O gerente Ernani tentou se arrastar para se esconder, mas um dos assaltantes o viu e o chamou:
- Ei bonitão, onde pensa que vai? Levanta daí!
- Não me leva não! Leva ela, ela é a gerente – chorou Ernani enquanto apontava para Laura, mentindo para salvar a própria pele.
- Ah é? – falou o bandido – vou levar os dois então, venham!
As sirenes tocavam mais alto e mais próximas. A mulher do grupo escolheu como reféns um rapaz, provavelmente um office-boy, e a pequena menina que antes brincava pelo banco, ela pensou ser bom levar uma criança, assim os policiais pensariam duas vezes em atirar. Também foram levados os dois seguranças.
Lá fora a polícia chegou. O bandido que estava na porta apertou o gatilho do fuzil e atirou:
- Vão pro inferno cambada!
Os tiros de fuzil perfuraram os carros da polícia. Enquanto se protegiam os policiais atiravam de volta e várias balas atingiram o bandido que caiu fuzilado.
- Tito! – gritou a mulher assaltante – Mataram o Tito!
- Coloquem os reféns na frente e vamos sair daqui! – ordenou o líder do grupo.
Então a polícia parou de atirar quando viu o escudo humano formado pelos reféns, se preocuparam sobretudo com a garotinha. Os bandidos e seus reféns foram até a van e entraram todos, eles partiram sendo seguidos de perto pela polícia. Agora tinham que fugir, mas partir por terra seria quase impossível, restava então uma última opção, fugir pelo ar.

No aeroporto da cidade havia vários aviões estacionados, mas só um em posição para decolar, era o bimotor do capitão Augusto Borges. Augusto partiria para uma fazenda no Mato Grosso, estado para o qual ele tentava evitar voltar, mas que ora ou outra era obrigado a visitar por conta de seus inúmeros clientes pecuaristas que tinham fazenda naquela região, havia algo no Mato Grosso que Augusto temia reencontrar, algo que o assombrava já havia um ano.
Augusto dirigiu-se até seu avião quando ouviu o barulho de varias sirenes se aproximando, ele se virou a tempo de ver uma van invadir a pista do aeroporto com várias viaturas de polícia em seu encalço. A van parou bem perto de seu avião e Augusto viu quando de seu interior surgiram dois homens e uma mulher armados com fuzis arrastando mais seis pessoas, entre elas uma mulher e uma criança.
- Você! – gritou um dos homens apontando a arma para Augusto – Você é piloto?
Augusto estava uniformizado, e não tinha como negar.
- Sim – disse ele friamente, sem demonstrar medo, medo era algo que ela não sentia há tempos.
- Venha cá rápido, irá nos levar para longe daqui.
Sem alternativa Augusto abriu as portas de seu avião, os bandidos entraram com os reféns. Os carros de polícia já começavam a entrar na pista do aeroporto.
- Levanta essa porcaria do chão, rápido! – um dos bandidos gritava no ouvido de Augusto ao mesmo tempo em que pressionava a arma contra sua cabeça.
Augusto não se incomodou muito, apenas seguiu os procedimentos devidos, ligou o motor, taxiou na pista e logo estavam decolando. Os três bandidos comemoravam, os reféns por sua vez experimentavam sentimentos diversos, o guarda Arnaldo guardava uma raiva contida, seu companheiro apenas ficava quieto e lembrava da família, Laura chorava um pouco, Ernani tremia todo de medo, a pequena menina permanecia calada e intimidada, parecia ainda não ter si dado conta dos acontecimentos, o rapaz estava muito nervoso, parecia querer pular do avião a qualquer momento.
- Ei piloto, leva a gente para o Paraguai!
Augusto ouviu. Paraguai, teria que passar pelo Mato Grosso de qualquer maneira.
- Está bem então – respondeu ele.
Augusto observou o grupo e ouvindo a conversa descobriu os nomes dos bandidos. Cesar era o líder, ele era forte e brusco e gostava de gritar, a mulher chamava-se Rafaela, era uma loura turbinada, muito bonita, mas com jeitão de vagabunda e o outro homem, um sujeito que parecia não ser muito inteligente, era André. Augusto observava também os reféns, chamou-lhe mais atenção Laura, uma mulher realmente linda com uma cara que só denotava bondade, Arnaldo por sua vez era só ódio, parecia que ia explodir a qualquer momento, o outro segurança, Mateus, era mais contido, via-se nele a preocupação e o medo da morte, Ernani, o engravatado parecia um sujeito asqueroso e Augusto confirmou isso quando o viu pegar a pequena menina no colo e esfregar suas perninhas disfarçadamente querendo “protege-la”, Augusto deve pena da menina, ela era a mais inocente do grupo, já o rapaz, chamado Pedro, estava cada vez mais ansioso.
“Que estranhos passageiros” – pensou Augusto.
Mal sabia que todos ali voavam para uma viagem sem volta.
O avião voava sem problemas, mas logo a frente podia-se divisar grandes nuvens de tempestade se formando.
- Não podemos prosseguir – falou Augusto calmamente.
- Por que não? – falou Cesar nervoso – Eu disse que é para ir para o Paraguai e é pra lá que a gente vai!
- Veja aquelas nuvens – Augusto apontou – é arriscado atravessa-las, este avião não voa muito alto e não pode voar acima delas. Se insistirmos em continuar poderemos ter problemas.
Rafaela olhou para as nuvens negras e viu raios brilharem em seu interior, a loira deve medo e tentou influenciar Cesar:
- Cesar, talvez ele tenha razão...
- Cala boca! – respondeu Cesar – Se a gente ficar no Brasil a gente tá enrolado, vamos prosseguir.
- Está bem então – Augusto assentiu, em seus anos de experiência sabia que seria arriscado, mas não impossível.
O avião enfim atingiu as nuvens. Tudo escureceu como se fosse noite, todos a bordo tremeram de medo, lá fora os relâmpagos riscavam o céu com seu trovejar, o avião era sacudido para lá e para cá como se estivessem em um barco no mar revolto.
- Oh meu Deus, eu falei que não era para prosseguir – chorava Rafaela.
Cesar também estava com medo, mas tentava não transparecer. Dos reféns o mais assustado era com certeza Ernani que não aguentou o pavor e mijou nas calças, a menininha apenas mantinha os olhos arregalados, admirada com todo aquele espetáculo impensável.
Então aconteceu o pior, a pequena aeronave começou a perder altura.
- O que está acontecendo? – gritou Cesar desesperado.
- Está acontecendo – falou Augusto – que sua teimosia vai nos matar, estamos caindo.
- Ai meu Deus – chorava Ernani – faça alguma coisa!
Augusto tentava estabilizar a aeronave. Os bandidos xingavam Cesar por sua burrice, Laura e Mateus rezavam baixinho, Ernani esperneava, Arnaldo socava as próprias mãos e a garotinha apenas abaixou a cabeça.
“Estamos mortos”. Pensou Augusto. O avião perdia altura mais rapidamente, totalmente fora de controle, ele tentava ao menos estabilizar a aeronave e tentar um pouso forçado, mas sabia que isso era quase impraticável. O solo aproximava-se cada vez mais, não havia muitas esperanças.
Enfim o avião atingiu a terra, Augusto conseguiu fazer a aeronave chegar ao chão de barriga, mas o impacto foi muito forte, o avião se arrastou por vários metros e a cabine se partiu, os passageiros foram sugados para fora aos gritos e choro, a carcaça do pequeno bimotor deslizou mais alguns metros no solo encharcado até finalmente parar.
Augusto ainda segurava o manche, ele levantou a cabeça e percebeu que sangrava, levou as mãos ao ferimento, parecia não ser nada sério, ele olhou para trás e não viu ninguém, na verdade todo o interior da aeronave havia se partido e as poltronas estavam espalhadas pelo solo, aliás não pelo solo, mas pela água, Augusto percebeu que não pousaram em terra e sim nos charcos do que parecia ser o Pantanal.
Ainda tonto com a queda ele tentou soltar seu cinto, com dificuldade ele saiu do que restava da cabine. Então ele olhou em volta, havia fumaça por toda parte e pequenos pedaços do avião pegavam fogo aqui e ali, tentou caminhar um pouco, mas logo parou pois sentiu algo tocar sua perna. Ele olhou para baixo e a viu:
- Ai meu Deus! Você está bem? – disse ele se abaixando e pegando a pequena menina no colo.
A menina não disse nada, apenas mantinha um olhar apático e vazio emoldurado por cabelos desgrenhados, parecia estar chocada com o acidente. Augusto rapidamente a examinou e não constatou ferimento algum.
- Não se preocupe pequena – disse ele novamente – você está bem. Agora vamos procurar os outros.
Não foi preciso procurar muito, logo ele ouviu um pedido de socorro:
- Me ajudem, me ajudem por favor!
Ele se aproximou mais e reconheceu quem gritava, era Ernani, o gerente, estava caído no chão, mas também não aparentava estar ferido.
- Você se feriu? – perguntou Augusto se aproximando.
- Não sei, o avião caiu, o avião caiu! – choramingava ele.
- Eu sei, agora levante-se e vamos ver onde estamos.
- Ainda estamos no Brasil seu piloto de merda! – alguém falou as suas costas.
Ele se virou e deu de cara com Cesar, ele estava segurando uma arma e a seu lado estava André.
- Graças a você caímos na porcaria do Pantanal! – continuou Cesar – Agora a única coisa que posso fazer para agradecê-lo por isso e tirar sua vida!
Cesar apontou a arma para Augusto pronto a atirar, não tomando conhecimento nem mesmo da menina em seu colo, mas no momento H ele foi surpreendido por uma figura que surgiu por trás dele e o jogou ao chão.
- Quem vai morrer é você seu filho da puta! – gritava o segurança Arnaldo jogando todo seu peso sobre o oponente.
Os dois rolaram no brejo. Arnaldo acertou vários socos em Cesar, mas aí André se mobilizou e partiu para ajudar o comparsa. Arnaldo parecia estar encurralado, mas aí surgiu uma ajuda inesperada, era Pedro, o jovem office-boy atracou-se com André, mas André era mais forte e o conteve facilmente. Neste momento a última integrante da quadrilha surgiu.
- Segura esse cretino André – foi logo dizendo Rafaela segurando uma arma – vou acabar com ele e com a bosta do seu amiguinho segurança.
Rafaela apontou a arma para Pedro sob o olhar triunfante de Cesar. O jovem fechou os olhos e esperou pelo pior. Então um tiro foi ouvido.
- Larga a porra dessa arma agora! Senão o próximo tiro vai entrar nessa sua linda cabecinha loura.
Rafaela olhou para Augusto, durante o tumulto ele conseguiu pegar a arma de Cesar e agora a apontava para a cabeça de Rafaela.
- Não tem coragem – ironizou a loura.
- Quer apostar? – disse Augusto.
Rafaela sentiu medo do tom daquela voz, aquele piloto aparentava mais do que parecia, e ela largou a arma.
- Agora você – disse ele para André – solte este homem.
André mais do que depressa soltou Pedro que respirava ofegante agradecendo por ter sua vida poupada, enquanto isso Arnaldo largou Cesar e imediatamente alcançou o revolver de Rafaela.
- Acho que o jogo virou pro nosso lado – disse o segurança se colocando junto de Augusto e de Pedro.
- O que vão fazer agora? Por acaso vão matar a gente e ficar com o dinheiro? – perguntou Cesar.
- Até que não seria uma má ideia – disse Arnaldo engatilhando sua arma.
- Não – falou Augusto – as autoridades já devem estar procurando este avião, é questão de tempo até nos acharem, vamos ficar todos reunidos aqui, assim será mais fácil nos localizarem. E vocês irão para a cadeia. Agora quero todos juntos.
Foi neste momento que o gerente Ernani, que havia se mantido quieto durante todo o tumulto, falou:
- Mas espere. Não estão todos aqui, tem gente faltando.
Augusto correu o olhar. Realmente faltavam duas pessoas, não se via sinal nem de Mateus e nem de Laura.
- Vocês três – disse Augusto para os três bandidos – levantem-se, fiquem atrás um do outro e mãos na cabeça. Vamos procurar aqueles dois.
- Tem certeza? – falou Arnaldo – devem estar mortos.
- Eu sou o piloto, não posso abandonar nenhum de meus passageiros.
Arnaldo resignado ajudou Augusto a escoltar os três sujeitos, mas o que ele queria mesmo era estourar os miolos deles, menos Rafaela, a loura poderia ser uma ótima diversão antes de morrer. Assim o grupo seguiu, com a menina segurando a mão de Augusto e Pedro e Ernani indo atrás, este último sempre com medo de tudo.
- Vamos contornar o local da queda, talvez os encontremos. – disse Augusto.
Enquanto caminhavam eles observavam a paisagem. Não era um pântano comum. O céu estava muito nublado, era como se uma tempestade fosse cair a qualquer momento, entretanto o calor era infernal, sobrava um vento quente que os faziam suar em bicas. A vegetação também era curiosa, era como se todas as plantas daquele local estivessem secas, apenas galhos e raízes retorcidas sobre a água, uma água tão opaca e cinzenta quanto as nuvens que os cobriam, não se via sinal de nenhum animal, nem mesmo moscas, e um cheiro fétido tomava conta de tudo.
- Este lugar parece estar morto – comentou Rafaela – dá arrepios.
- Nosso amigo piloto escolheu o pior pedaço do Pantanal para cairmos – falou Cesar.
- Quietos! – ordenou Augusto – Não estão ouvindo algo?
Todos pararam, realmente ouvia-se algo, era um gemido fraco.
- Vem dali! – disse Pedro apontando com o dedo para um pedaço do avião ainda em chamas.
Eles avançaram em conjunto naquela direção. Lá chegando se depararam com uma triste cena, Mateus agonizava, mais da metade de seu corpo estava queimado, inclusive parte do rosto, totalmente desfigurado.
Enquanto todos olhavam paralisados Augusto se aproximou dele.
- Você vai viver, em breve a ajuda virá – disse ele, mas sem esperança alguma na voz.
- Vivi o bastante – disse Mateus – agora é hora de ir... eles já a levaram e... e... disseram que viriam me buscar, devia tê-los visto! Eram maravilhosos!
- Ele está delirando – disse Cesar sem se importar muito – dá um tiro na cabeça dele e vamos embora daqui.
Augusto nem deu importância ao comentário e continuou a conversa com o moribundo Mateus.
- Calma, do que está falando.
- Não... não tenho mais tempo... cuide-se capitão, eles disseram para ser forte, você merece tudo o que está por vir... eu vou descansar agora. Vejam! Lá estão eles, são maravilhosos não são.
Os olhos de Mateus pareciam contemplar admirados o vazio. Os outros apenas achavam que ele delirava, foi quando Pedro chamou a atenção de todos.
- Olhem! O que é aquilo lá no céu?
Todos olharam. Um grande circulo de luz abriu-se no meio das nuvens escuras, uma nevoa brilhante desceu por ele envolvendo todo o grupo e raio ainda mais brilhante iluminou o corpo de Mateus. Todos observaram boquiabertos enquanto o que parecia ser o espirito de Mateus abandonar seu corpo e subir rapidamente até a abertura nos céus. Depois a luz desapareceu tão rápido quanto chegou, deixando para trás um corpo sem vida e um grupo de pessoas espantados com o que viram.
- Mas o que está acontecendo aqui? – perguntou Ernani.
Essa era a pergunta que todos se faziam.
- Vimos um fantasma! Mateus era um bom sujeito, foi pro céu, que Deus o tenha – disse Arnaldo – agora falta achar a dona Laura.
- Nem precisa procurar mais – falou Cesar – ela está bem debaixo do gordinho.
Cesar apontava para Ernani e este ao ver onde pisava soltou um grito de pavor que fez os três bandidos caírem na gargalhada.
Augusto e Arnaldo se aproximaram e viram o corpo já sem vida da bela gerente caído sobre o charco, era possível ver uma perfuração em seu tórax, ela havia morrido rápido e seu rosto parecia exibir um sorriso.
- As pessoas boas morrem cedo, Mateus e Laura. – comentou Arnaldo – tudo culpa desses imbecis! Vamos mata-los de uma vez piloto!
- Não, chega de mortes - falou Augusto – esse lugar é estranho, acho que vamos precisar de todos se quisermos sobreviver aqui.
- Mas onde estamos? – perguntou Ernani ainda tremendo.
- Não sei – respondeu Augusto – não parece em nada com o pantanal mato-grossense. É como aquela mulher disse – falou olhando para Rafaela – este lugar parece estar morto.
Depois de dizer isso Augusto e todos os demais perceberam que o mau cheiro aumentava de uma maneira insuportável, seus olhos até lagrimejavam. O vento quente sobrou mais forte e eles tiveram que segurar um nos outros para não cair, então uma voz rouca e sinistra foi ouvida por todos ali.
- Não – dizia a voz – este lugar não está morto. Vocês é que estão!
O grupo se virou em uníssimo em direção a origem da voz e viram a sua frente um cavalo negro e diabólico, soltando fogo e fumaça pelas ventas e montado sobre ele uma figura ainda mais grotesca, um grande cavaleiro esquelético com uma caveira no lugar da face.
- O que é isso meu Deus? – chorava e gritava Ernani seguido por Rafaela.
O cavaleiro avançou sobre o grupo, cavalgava depressa e urrava sem parar.
- Atira! – tomado pelo pânico e pelo pavor Arnaldo atirava enlouquecidamente e Augusto sem saber o que fazer o imitou descarregando sua arma sobre a estranha aparição.
Seus tiros porém efeito nenhum surtiam. O cavaleiro continuou avançando, o grupo se dispersou, cada um seguindo para um lado, menos a menina que ficou hipnotizada tremendo com o que via. Mas Augusto a alcançou a tempo, antes de ser pisoteada pelo cavaleiro.
Porém ele já parecia ter escolhido seu alvo, André. O mais contido dos três bandidos corria o mais que podia, mas foi alcançado pela figura demoníaca que o segurou pela camisa e o ergueu do chão colocando-o em cima de sua cela.
- Me ajudem! Me ajudem!
Infelizmente ninguém fez nada. O cavalo estacou e a criatura ergueu André no ar com apenas um dos braços. Ele olhava horrorizado para a caveira sem olhos e via naqueles buracos o próprio terror. O cavaleiro então usou a outra mão e com ela perfurou o peito de André que emitiu um grito de agonia enquanto via seu coração ser retirado do peito ainda batendo.
- Você nunca teve coração André – disse a figura lançando o coração de André na direção do grupo.
André não podia acreditar, apesar da dor lancinante que sentia e apesar de ter visto seu próprio coração ser arrancado ele ainda estava vivo!
O cavaleiro o jogou ao chão novamente, o segurou por uma das pernas e voltou a cavalgar arrastando o corpo de André, que gritava desesperadamente, desaparecendo com ele no charco sombrio.
Os sete sobreviventes se reuniram de novo. Todos muito assustados. Eles se colocaram em volta do coração de André que ainda pulsava como se estivesse no peito de seu dono.
- Como... mas como... pode ser isto? – perguntou Rafaela tremula.
- Ora é simples – disse Arnaldo friamente – não ouviu o que ele disse? Estamos mortos.
Ernani olhou para seu segurança, a pergunta saiu mesmo que ele não quisesse fazê-la.
- Mas se estamos mortos, então que lugar é este?
- Ora, não sabe? Aposto que até o piloto sabe, não é mesmo capitão? – perguntou Cesar para Augusto.
- Sim, eu sei – respondeu ele – acho que estamos no Inferno.

CONTINUA...

 
Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 07/12/2012
Reeditado em 21/12/2012
Código do texto: T4024435
Classificação de conteúdo: seguro