A ESTRADA – FRONTEIRA COM INFERNO (A FORÇA DO ARCANJO MIGUEL)
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Patrícia não sabia o que era viver sem os pais, um acidente de carro levou os dois de uma só vez, tudo que ela conhecia como bom, foi arrancado, nem tinha completado cinco anos, filha única tinha tudo que uma criança podia querer, pais amorosos e uma avó jovem e ativa.
A avó fazia o que podia, comprava muitos presentes, lembrava-se das datas, mas o natal era a época mais difícil. Marta sabia que a menina estava triste, quando entrou no quarto ela estava fazendo a sua oração para o arcanjo Miguel.
-O que você está pedindo para o Arcando – disse a avó.
-Que proteja meus pais.
Aquilo doía muito no coração de Marta, pois os pais de Patrícia estavam mortos, como o arcanjo poderia proteger gente morta, Marta foi criada numa rígida educação presbiteriana, queria que a neta sentisse a morte da filha e do genro, mas tivesse uma vida comum, saudável que não era ficar o tempo todo pensando em demônios.
Marta era formada em História, tinha uma dificuldade para acreditar em todas as coisas existentes na bíblia, procurava manter a sua sanidade entre as leituras de doutora em história do Brasil e a sua fé.
Dava aula em um curso de pós-graduação, tinha muitos alunos ateus, havia feito uma pesquisa sobre o arcanjo Miguel, belíssima lenda, pensou, seria bom se realmente existisse, mas o comportamento da neta estava virando um problema médico.
Marta era crente, presbiteriana, pelo menos era assim que se via no espelho, mas no íntimo tinha dúvidas, acreditava na força do arcanjo Miguel, ou as vezes achava que aquilo tudo era uma bonita lenda.
 
 
         Marques e Sandra estavam andando por uma estrada escura e não havia luz suficiente para que reconhecesse a margem da estrada, mesmo não se lembrando de nada do que estava acontecendo com eles passaram a andar juntos, a única coisa que lembravam era o nome, mas não sabiam onde estavam nem como foram parar ali.
Marques usava uma roupa social, um homem atlético, uma boa estrutura muscular, olhos e cabelos pretos, mais de um metro e noventa, poderia passar por modelo fotográfico.
Sandra, uma bela mulher, estatura mediana, cabelos castanhos, lábios sensuais, estava usando o cabelo curto ao estilo masculino.
O casal de alguma forma havia perdido a memória, sabiam que se conheciam, mas não sabiam de onde, nem conseguiam lembrar-se de nada do passado.
-Estou cansada de andar, podemos parar um pouco? – perguntou Sandra.
-Não sei nem para onde estamos indo, talvez parar seja uma boa ideia.
-Você já notou que estamos andando há muito tempo e a escuridão persiste – disse Sandra retirando os sapatos e fazendo massagem no pé.
Ouviram um grito de mulher, não dava para saber a direção, na segunda vez perceberam que o grito vinha da direita, escutaram o barulho, parecia um chicote, toda vez que o chicote batia com força a mulher gritavam, era um grito pavoroso.
-O que é isso? – perguntou Sandra.
-Acho que alguém está sendo chicoteado – disse Marques, vem detrás das árvores.
-Está muito escuro, não conseguimos ver nada.
Marques era teimoso, entrou na mata, era um lugar escuro e fedia a podre, abriu o caminho com seu braço forte, olhou para o precipício de mais de vinte metros, lá embaixo havia uma pequena casa onde um anão açoitava com chicote uma mulher nua e gritava: ”prostituta”, com a outra mão encostava o ferro quente nas coxas onde desenhava figuras monstruosas, havia uma luminosidade de fogo, satânica, Marques sentiu medo.
Sandra caiu desmaiada, a visão do anão com seus olhos vermelhos e cabeça desproporcional ao corpo com garras de macaco no lugar das mãos era difícil de sustentar por segundos.
Marques voltou para a estrada segurando Sandra no colo, diante de todo o absurdo sentiu em seus braços o corpo perfeito, a única coisa estranha foi não sentir o perfume dela, Marques ficou sentado a beira da estrada até que Sandra recuperou os sentidos.
-O anão, parecia um ser demoníaco – disse Sandra.
-Devemos sair desse lugar o quanto antes – Marques levantou.
-O que é aquilo? – perguntou Sandra.
-Onde?
-No final da estrada.
-Parece uma luz, é tão pequena – Marques ajudou Sandra a se levantar – consegue caminhar.
 
Três demônios estavam reunidos na beirada do caminho, o mais alto usava uma capa, tinha três chifres e na sua mão direita um cajado de ferro, seus olhos eram vermelhos, tinha cabelos longos e ralos.
O do meio usava um boné de jogador esportivo, sua face não aparecia diretamente, mas todos sabiam que era uma caveira, os ossos da mão segurava uma foice.
O último tinha uma fisionomia feminina, mas a cabeça de réptil, dominador, mesmo sabendo que o demônio com cajado de ferro era o mais poderoso dos três, uma espécie de líder, a réptil disse.
-Quero a mulher para mim.
-Cala boca – disse o demônio de cajado – só podemos botar as mãos neles se saírem da estrada, agora apareceu um ponto de luz, alguém está interferindo por eles.
-Alguém forte – disse o demônio de boné e completou – para chegar luz nesse lugar tem que ser alguém forte.
-Já viu as fraquezas deles, sexo, drogas, mentiras cobiça? – disse o demônio de cajado.
-Tenho uma lista aqui – deram uma gargalhada.
A réptil chegou perto do demônio de cajado e disse:
-Ele está começando a sentir desejo por ela.
-Isso é bom – disse o demônio que segurava o cajado e encostou o cajado quente na face da réptil, ela gritou – agora sai de perto de mim.
 
Marques não parava de pensar em Sandra nua, desejava de várias maneiras, seus olhares fixados nas partes sexuais, Marques salivava, o desejo crescia incontrolável, o que estava tirando o sossego de Sandra que percebeu os olhares, não sentia desejo por Marques e a situação não era propicia para um encontro amoroso.
Alguém estava gemendo na estrada.
Um gemido horrível, os dois só conseguiam ver dois metros a sua frente, Marques e Sandra correram para ver de onde vinham os gemidos. Havia um homem caído na estrada, uma de suas pernas tinha sido arrancada, a beira da estrada uma criatura de três cabeças mastigava a perna do homem, Marques teve uma vertigem e vomitou.
-Me ajudem. – A sena do homem se arrastando com o sangue escorrendo de sua perna empalideceu Sandra outra vez, uma carnificina.
-O que aconteceu? – perguntou Sandra ao homem.
-Tentei sair da estrada, aquela criatura me agarrou e arrancou a minha perna – disse o homem que vestia uma roupa branca como um avental que tinha o nome Dr. Armando.
-Onde estamos? – ele perguntou a Marques. – Pode me ajudar, tenho muito dinheiro, sou o chefe da ala cirúrgica de um hospital importante, estava com meus alunos quando vim parar aqui. O que é esse lugar?
Marques não respondeu, pois uma figura branca, com olhos azuis apareceu.
-Fiquem na estrada, é só o que peço a vocês – disse à figura que parecia um anjo.
-Que lugar é esse? – perguntou Sandra.
-Um lugar onde não há nada para fazer de útil, exatamente o que os humanos pensam na terra de suas vidas, a margem da estrada é a fronteira com o inferno, não virei mais aqui, não ajudarei mais, sou um expectador do período de transição de vocês.
-Transição de que seu merda! – disse o médico, ao mesmo tempo em que se distraia e rolou para fora da estrada, o demônio de três cabeças puxou a perna boa e levou o médico para trás das matas. Sandra escutava os gritos desesperados, enquanto o demônio de três cabeças mastigava o cirurgião vivo.
-Você não vai fazer nada? – perguntou Marques.
-Não, como disse sou apenas um espectador.
-Para que existem anjos se não podem fazer nada? – disse Sandra.
-Humanos – disse o anjo – se não estivéssemos fazendo nada vocês já estariam na mão de uma dessas criaturas, elas se alimentam de sua indisciplina, construir um ser, um individuo é a verdadeira arte de viver, mentir para outras pessoas pode até ser sensato às vezes, muitas vezes necessário, mas mentir para si mesmo isso empurra vocês para o inferno.
-Onde está Deus em uma hora dessas? – disse Marques.
-Vocês humanos pensam no Criador como um super-herói, um ser de capa que lhe salvará na hora necessária – disse o anjo rindo – o criador é o maior trabalhador de todos.
O anjo sumiu, Marques e Sandra perceberam que a luz que vinha dele foi embora, então a escuridão voltou.
 
A pequena Patrícia fazia o desenho dos pais rodeados de demônios horrorosos de três cabeças, o outro, tinha cabeça de réptil, a psicóloga achou que era um caso que precisava de uma avaliação psiquiátrica.
A avó, de pé estava chorando, as suas lágrimas traduziam o desespero de não saber lidar com a neta.
-Acha que pode ser definitivo – disse a avó – ela vai muito mal nas aulas, principalmente de matemática, ruim de maneira geral na  escola, as professoras tiveram que reprova-la ano passado, tem crises de ausências e quase não dorme, fica orando para o arcanjo Miguel, já levei até em um pastor, Deus me perdoe, tem alguma coisa de muito ruim rondando essa menina.
-O imaginário dela foi perturbado pela morte dos pais no acidente de carro – disse a psicóloga – isso realmente não é fácil de digerir pode levar um tempo, pode trazer a menina todas as quintas, vou indicar um neuropsiquiatra infantil.
Patrícia veio correndo.
-O arcanjo Miguel falou comigo – disse para as duas senhoras. A avó passou a mão na cabeça da neta e perguntou.
-O que ele lhe falou.
-Para voltar a minha vida normal, estudar e passar de ano que meus pais estão protegidos pela sua legião de anjos.
 
Marques parou à beira da estrada, não conseguia dar mais um passo, olhou para a margem, viu uma linda mulher nua, sentiu desejo, chamou Sandra.
-Você vê? – perguntou apontando para fora da estrada – tem uma mulher nua.
-Você escutou o que o anjo disse – falou Sandra – do outro lado é o inferno.
-O que pode ser pior que andar nessa estrada? – disse Marques e completou gritando – estou com fome, sede e desejo, você nem olha para mim, fomos casados por dez anos.
-Fomos casados – disse Sandra, mas ela também estava se lembrando que havia descoberto uma traição de Marques e para revidar saia com o melhor amigo dele, teve vontade de dizer isso para Marques.
-Você não se lembra – disse Marques segurando no seio, mas Sandra retirou a mão do marido com força.
-Me lembro de você saindo com a secretária, enfiando o pênis nos orifícios dela, principalmente na cloaca que saia os excrementos e depois em casa a boa esposa enfiando a nojeira na boca – com um empurrão Sandra jogou Marques para fora da estrada, mas ele conseguiu revidar e puxou a mulher junto.
O demônio réptil segurou a Sandra com uma corda, o demônio de cajado colocou algemas em Marques.
-Quem são vocês? – perguntou Marques desesperado.
Marques estava desesperado, as algemas eram quentes e a sua mão doía muito quase não conseguia pensar, Sandra só gritava, mas o demônio feminino com cabeça de réptil apertava a corta mais ainda até que Sandra não conseguia falar.
-Vamos descer a colina com eles.
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Uma Luz forte cegou os demônios, um ser estupendo com duas espadas prateadas apareceu e disse:
- Obrigado meu Pai por permitir atender esta oração em particular – o ser mágico de joelhos terminou a sua oração e levantou a cabeça.
-Soltem Sandra e Marques demônios. – A autoridade na voz irritou o demônio de cajado.
-Sabe que não pode descer aqui arcanjo, foram eles que atravessaram a fronteira, eles desobedeceram à lei – disse o demônio de cajado.
-Não menospreze a oração de uma garotinha de sete anos, soltem os humanos ou sentirão a autoridade da minha espada – disse o arcanjo.
-Não pode vencer três de nós – disse o demônio de boné.
O arcanjo não esperou mais, rodou a espada prateada e cortou a cabeça da réptil, com um só movimento, feito em x com as duas espadas cortou o demônio de boné ao meio, o demônio de cajado acertou no arcanjo a barra de ferro que segurava, estava quente na asa esquerda do arcanjo, a queimadura provocou dor, mas o arcanjo com uma habilidade de guerreiro revidou atravessou as duas espadas ao mesmo tempo no peito do demônio, rasgando no meio, fazendo a criatura virar um pó preto.
Envolveu Marques e Sandra com a luz e levou os dois para um posto de recepção de espíritos doentes, o guardião, um homem vestido de frei, abaixou a cabeça quando viu o arcanjo.
-Guardião, cuide dos dois, depois os coloque para trabalhar, eles têm muito que aprender – disse o arcanjo.
-Assim será feito – disse o guardião.
 
A avó olhava para a neta com orgulho estava com quinze anos, ajudava em um orfanato como voluntária, gostava de ajudar as pessoas, sempre falava de sua experiência com o arcanjo Miguel aos sete anos.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 10/12/2012
Reeditado em 16/04/2013
Código do texto: T4028604
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