A casa de praia
I'M NEVER GONNA SAY GOODBYE
827205.jpgQuando os outros cometem erros estamos certos da moral punitiva, quando erramos procuramos o perdão, pois somos humanos, se  fosse o contrário seriamos anjos.
JJ DE SOUZA
O CASAL EM CRISE
-Não sei por que você insiste nesse passeio, nosso relacionamento acabou. Você tem que aprender a lidar com o fim. – Disse Thais, Alex olhou para a esposa grávida de três meses e a única coisa que sentiu foi tristeza.
-Poderíamos tentar, no fundo sei que me ama, eu amo você demais – disse Alex – Não precisamos perder o que temos. Podemos salvar o que restou do nosso casamento, será que a tragédia não tem fim, pense bem, você me ama?
Thais sentou na cama, ela  estava desanimada com aquela conversa circular, já não tinha tanta certeza se amava Alex.
 Olhou para Alex, estava bonito como sempre, o homem por quem teve uma paixão e um amor tão grande!O que podia fazer se tudo havia terminado. O amor acabou agora ela queria ir embora, reconstruir a vida, tudo em Alex lembrava a tragédia da perda do filho.
O casal perdeu o primogênito em um acidente de carro que Alex havia bebido um pouco mais. Thais não culpava o marido diretamente. Claro que havia o fato: Alex bebeu demais aquela noite.
Ele estava sempre prometendo parar de beber e nunca, nunca conseguia  parar definitivamente, sempre havia o copo,amigos e lá estava a vontade de beber, então e ele cedia.
O acidente deu números finais a bebedeira do marido, hoje não bebia mais. Ela sabia que ele sofria, sabia que as pessoas são humanas, elas  podem errar, antes de tudo Alex era um bom médico e bom pai, mas não queria mais viver com ele, não queria reviver aquilo.
 Como um ultimo ato de desespero havia queimado todas as fotos do filho, passou por uma terapia de choque, entre psicólogos e drogas psicotrópicas, agora, grávida de três meses havia entendido: tinha que recomeçar,Alex era uma pagina virada.
-Um ultima chance nesse final de ano. Paulo, aquele meu amigo enfermeiro, a mulher dele tem uma casa de praia que herdou, a casa fica em  búzios, está meio acabadinha – Alex puxou o braço dela -  sei que vai gostar, ela tem um piano, você podia tocar a musica.
-Sabe que não toco mais a música. – disse Thais.
- I'M NEVER GONNA SAY GOODBYE – disse Alex, em tom  de quem  ia  cantar  a musica
-Pare, sabe que não gosto de ouvir essa musica – disse a mulher, não queria escutar a musica que um dia foi a musica do casal, com a mão bem tratada de unhas longas e vermelhas limpou a lagrima, o cabelo castanho e o sorriso perfeito completava a beleza feminina.
-Então vai comigo? – Alex parecia um menino, não o culpava um dia Thais foi apaixonada por ele assim, só que agora não havia sobrado nada,resolveu ceder em parte,afinal um fim de semana na praia com amigos divertidos poderia ajudar a esquecer.
-Esta bem, fazemos um acordo, se passar essa virada de ano com você, me deixa ficar durante as minhas férias de janeiro na casa da minha mãe, preciso de um tempo.
Alex não tinha opção, concordou, sua esperança no amor dos dois era que  depois de uma semana juntos em uma misteriosa casa de praia  a vida voltasse ao normal.
 
Paulo e Eduarda: os amigos
Paulo e Eduarda estavam recém-causados, depois de onze anos de namoro o casamento deu um tempero azedo a uma relação equilibrada, alguma coisa estava errada, após tantos anos de namoro o encanto acabou?
Eduarda herdou a casa de uma  tia ,ela nem sabia em que estado a casa estava.
Eduarda e os amigos passariam virada do ano na casa, tudo parecia perfeito, abastecido de maconha e muita tequila.
O casal  chamou um casal de amigos, Alex e Thais, alem de Mauro, um cirurgião geral decadente que morava sozinho e namorava um dermatologista.
Paulo não gostava de Mauro, a tendência do Cirurgião era paquerar todas as mulheres inclusive a dos amigos.O convite para mauro foi ideia de Alex, para não parecer um ciumento possessivo concordou.
Mauro um homem de meia idade atlético, muito simpático, queixo reto e definido, cabelos crespos e uma boa altura, um metro e setenta e cinco. Uma pessoa vulnerável a fortuna, que lia Maquiavel, amigo nas horas vagas, porém um cínico, um piadista, todas as piadas eram sobre enfermeiros gays.
-Sabe qual é o sonho de todo enfermeiro gay?Operar o próprio pênis – dava uma gargalhada.
Paulo achava inconveniente.
 
O sonho de Mauro
Mauro acordou suado, tinha sonhado com a sua morte, no começo o sonho era agradável, ele e gostosa do segundo andar foram visitar uma fazenda, ela estava interessada em sexo no meio do mato, mas quando chegaram lá quatro caveiras o amarraram os dois, depois de açoitar Mauro com um chicote de três pontas e todas estupraram a gostosa, o detalhe mórbido do sonho: os pênis gigantes das caveiras deixou Mauro cabreiro.
O sonho continuava sufocante, as caveiras amarraram a sua boca, depois com um ferro de aço, isso que causou mais horror, sofreu um empalamento, quando o ferro saia pela sua boca ele acordou, coração disparado, suor frio, olhou para o relógio, cinco horas da manhã, precisava caminhar.
-Puta que pariu!Ainda bem que era sonho.
Max, desabrigado,desvalido
Max olhou para a casa, parecia abandonada, não tinha vigia, nem sistema de segurança, como as pessoas podiam deixar uma residência desprotegida assim em búzios, decidiu que valia a pena invadir, estava dormindo na rua havia dias, aquela casa parecia um bom abrigo.
O menino de rua, que com a cabeça pintada de vermelho tinha sido estuprado há dois dias por dois moleques de rua.
Fugiu para búzios, sozinho na estrada pegou uma carona do Rio até búzios. Conseguiu um pouco de alimento, foi sobrevivendo até encontrar a casa.
Lembrou como matou o primeiro menino, foi  depois que ele dormiu,Max pegou uma pedra e acertou na cabeça, bateu várias vezes até a cabeça perder a forma redonda e virar uma massa quadrada de sangue e cérebro.
O segundo foi mais difícil, pegou uma faca, enquanto ele comia um cachorro quente, Max chegou por trás como quem não quer nada e enfiou a faca com força nas costas, a faca entrou lateral a espinha, Max não sabia que era difícil atravessar a carne, ele colocou toda a força que podia.
Max não sentiu felicidade pela morte dos dois, apenas não sentia o aperto no coração e a dor brutalidade que sofreu diminuiu um pouco.
A chuva
Chovia torrencialmente, a impressão é que estavam em um dilúvio, não dava para ver muito além do farol, os amigos estavam desanimados dentro do carro.
-Belos dias na praia, água é que não vai faltar – disse Mauro.
Quando chegaram ao destino e viram a casa impressão inicial foi péssima, parecia uma casa assombrada de tão feia e velha, ficava em uma praia distante.
O local ficava em uma colina, estava coberta por capim, as paredes eram cinza, e as portas de madeira estavam comidas.
 Não havia vizinhos, apenas a casa do caseira.
Como um cartão postal macabro havia um jardim de rosas bem na frente da casa, lá, bem destacado entre as rosas rochas e as rosas vermelhas, podia se ver três lápides, uma tinha um nome de um cão e a outra de um senhor,  a terceira era de uma mulher .
 Eduarda disse que aqueles túmulos pertenciam aos  donos anteriores da casa que pediram para serem sepultados  juntos com o seu  cachorro.
-Que lugar maneiro, disse Mauro – ele estava empolgando – parece uma casa assombras, ainda tem um cemitério na frente.
-Para de brincadeira, sabe que respeito essas coisas – disse Thais – não estamos aqui para ouvir as suas gracinhas, ajude a descarregar, temos que limpar a casa, não vou dormir na sujeira, o lugar parece um pardieiro, levaremos dois dias para deixá-la habitável.
Paulo olhou uma casinha duzentos metros abaixo,  estava bem cuidada, ali morava o caseiro e sua filha, ele não sabia por que eles não estavam esperando, já que havia telefonado antes e deixado o recado para uma prima do caseiro já que ali  não havia telefone, poderia ser aquela chuva infeliz.
Uma maluquice dos amigos foi que combinaram nada de telefones nem internet.
-Você vai me desculpar, Alex também me desculpa, Thais está muito chata, deve ser os hormônios, gravidez é foda – disse Mauro, Thais jogou a bolsa nele e disse.
-Por que já ficou grávido?Será um fim de semana dos infernos para vocês – disse Thais e olhou para casa e rindo – se depender do lugar ele pareceu uma porta para um tipo de filme macabro - mas ao mesmo tempo um frio passou pelo seu corpo.
A casa
A casa estava um lixo, mofo e roupas velhas, além de um cheiro insuportável.
-Tem alguma coisa morta aqui – disse Eduarda.
-Com certeza, já morreu podre – disse Mauro.
Paulo gritou foi um grito de horror, depois apareceu no andar de cima vomitando, todos correram até o segundo quarto  do andar de cima, o enfermeiro já estava chorando e apontava para uma sena de horror e morte, um adolescente que aparentava quinze anos foi cortado em partes,  havia tanto sangue!
A cabeça de Max, de forma bizarra estava sobre a escrivaninha, ele tinha os olhos abertos, como quem procurava por socorro, só Alex notou que piscava.
-Meu Deus! – Foi o que disse Eduarda.
Do lado de fora uma tempestade, caia há horas havia um deslizamento na única estrada, ouviram pelo rádio, já eram quase dez da noite, eles estavam presos longe de tudo,  incomunicáveis,  com um cadáver de um menino de rua.
-Quem teria feito isso – disse Alex – vamos sair do quarto, depois a policia vai querer fazer uma pericia, poderíamos ir até a casa do caseiro.
-Está chovendo muito - disse Thais, nunca vi um temporal assim.
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Fecharam a porta e saíram do quarto, Alex foi o ultimo trancou a porta, o menino falou “ ajuda”?Alex achou que sua sanidade poderia estar em jogo, como uma cabeça poderia falar.
 Eduarda estava agitada, sentia que alguma presença do mal, queria sair logo.
 Mauro o mais assustado, que tinha medo de espírito e demônios decidiu ir primeiro, passou a mão em uma faca de cozinha.
-Que merda de passeio – disse Thais, passou a sentir um incomodo na barriga.
-O que foi – perguntou Alex, quando Thais colocou a mão no ventre.
-Estou com dor – disse – mas acho que é só fazer repouso – como médica Thais sempre fazia os seus juízos diagnósticos, mesmo quando a paciente era ela mesma.
A coisa ficou mais séria e ela teve uma tontura, Alex a segurou, Thais  estava pálida, só então viu o sangue escorrendo pela perna.
-Me coloque deitada – disse ao marido – se eu perder esse filho também eu não sobrevivo, morro junto com ele.
A chuva caia muito forte, parecia só aumentar, o telhado da casa cedeu em uma parte foi arrancado. A água passou a descer  como uma cachoeira, caia com força, escorria pela escada, não havia mais local seguro.
-Temos que sair da casa – disse Paulo, mas foi a ultima coisa que o enfermeiro falou, uma barra de ferro desprendeu do teto com a força do vento e acertou a sua cabeça, entrando fácil, como se fosse um alfinete,  perfurando o alto do crânio, saiu do lado do pescoço, Paulo  ainda caminhou dez passos, pediu ajuda e caiu morto.
Eduarda gritou, Alex aproximou-se do corpo do amigo, mas viu que o teto começou a desabar, pediu para que todos saíssem.
 Ajudou Thais que estava mais lenta, quando chegaram do lado de fora a chuva era intensa.
 O  que pode ver em meio a chuva o deixou barbarizado, Alex não acreditaria  se alguém lhe contasse, um velho e um cão quase secos parados em frente a porta.
-Não deviam vir aqui, tem que tirar o corpo do menino de dentro da casa, a casa não o quer, por que vieram aqui tirar o nosso sossego?
O homem parecia seco demais! Para Alex  ele deveria estar ensopado, mas mesmo de longe Eduarda teve medo dele, não dava para ver as partes de seu corpo, pareciam em decomposição.
-Ele está morto, não vamos mexer na sena de um crime. – disse Alex.
-Tem que tirar ele de lá, disse o homem com o cachorro – apontando com o dedo – a casa não o quer.
-Quem fez isso com ele? – perguntou Mauro.
-Não vim aqui para responder a suas perguntas, retire o corpo de dentro da casa.
-Essa chuva? Que raio de chuva do inferno é essa? – Perguntou Alex.
O homem havia desaparecido.
Os fantasmas
 Thais estava pálida, sangrava, poderia estar perdendo a criança, não era hora de acreditar em fantasmas, pensou Alex, precisava tirar sua esposa grávida dali.
Enfurecido e com medo Mauro pegou as partes do corpo do menino e colocou em uma  sacola de lixo que achou na cozinha, atirou para fora da casa, como mágica a tempestade parou.
-Podemos ir embora. – disse Mauro.
Todos ao mesmo tempo, menos Eduarda entraram no carro, ela tropeçou e sua face bateu com certa violência na sacola que estava o corpo do menino no chão, sangue e restos de corpo entraram na sua boca e lambuzaram o seu cabelo, ela tentou limpar aquilo, mas estava muito nervosa só batia a mão e gritava, foi então que viu três cães parados, Eduarda e Mauro não entendiam raças caninas,mas aquela era diferente não eram cães comuns, pareciam vir do inferno.
Gigantes e com mandíbulas enormes eram negros, Eduarda nunca gostou do numero três. Os cães correram na direção de  Eduarda e dilaceraram o seu braço esquerdo, depois uma mordida arrancou o seu nariz, o terceiro cão comia os restos de Max.
Mauro pensou em ajudar já que Alex e Thais estavam no carro, mas permaneceu no carro vendo Eduarda ser devorada pelos cães do inferno e Alex deu a partida, pois sua única preocupação era Thais e o filho que estava para nascer.
 A camionete fez um barulho estranho, mas pegou saiu devagar e rateando, como se tivesse um grave defeito, Alex queria acelerara mais, porém estava no limite que conseguia foi andar a vinte por hora, um passo de tartaruga.
Olhou para trás onde estava Mauro, horrorizado  tomou um susto, o menino esquartejado, estava sentado atrás junto há Mouro.
Alex parou o carro e pegou Thais no colo, começou a correr, tinha deixado tudo para trás, não pegou nada.
A verdade
Olhou pelo ombro, o menino estava parado observando a sua corrida louca, olhou novamente para trás o menino ria, foi ai que notou que não carregava Thais, mas sim o cadáver de uma velha em decomposição, largou imediatamente.
Olhou para trás outra vez, sua corrida para afastar-se de tudo aquilo parecia interminável. Viu o menino em pé rindo. Tudo ficou claro, foi nesse momento em que as lagrimas molharam sua face, como aquela chuva torrencial, uma dor insuportável na sua cabeça, e uma angustia enorme.
Alex lembrou-se do acidente, não havia filho nenhum, Thais estava grávida, ele matou a esposa que amava e os três amigos, os únicos amigos que tivera em toda a sua vida, os únicos amigos verdadeiros.
Voltou e falou com o menino.
- Que estou fazendo aqui se eles estão todos mortos? – disse Alex ao menino.
Ele respondeu apontando para o coração.
Agora Alex compreendia tudo, ele estava bêbado, no carro a mulher e os cinco amigos, todos mortos.
Um violento acidente provocado pela bebida, entre dois carros,  no primeiro carro o senhor, um cachorro e uma senhora, na camionete estavam todas as pessoas que amava.
O destino, um vilão que não perdoa erros, deixou apenas Alex vivo. Os outros estavam mortos.
Há meses tinha esse pesadelo todas as noites, mas foi a primeira vez que apareceu o garoto.
Sublime culpa
Acordou, estava suado,  sua casa estava uma bagunça.
Seu telefone havia tocado muitas vezes, era do hospital, resolveu atender, não tinha nada para fazer.
Era a enfermeira Aline, havia um menino baleado no tórax, Alex sempre foi o melhor cirurgião de tórax do hospital.
-Dr. Alex, estão todos no centro cirúrgico, precisão de sua ajuda  - Alex ouviu que o menino estava entre a vida e a morte, precisavam da ajuda no centro cirúrgico.
 Alex era o único que poderia salvar o menino com sua habilidade.
Pensou no seu erro, seis cervejas, e tudo que construiu na vida  foi embora.
Aquele sonho foi diferente, apesar da dor de cabeça e do vomito após o sonho, foi diferente.
Fui renovado por uma força, talvez fosse a força do próprio perdão.
 Alex teve sucesso que nem mesmo os meus colegas acreditaram. Então quando ele foi visitar o menino no pós-operatório  Alex viu que era mesmo menino de rua do sonho.
Confirmou a história dele com um policial, foi achado baleado em uma casa em búzios, tinha enfrentado dois bandidos que tentaram estuprar a filha do caseiro, o menino era praticamente um herói.
 
 
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 13/12/2012
Código do texto: T4034107
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