Marcelo - Contos paralelos da HQ nacional PLANETA MORTO

História Paralela nº 1

Marcelo

Depois de um domingo de trabalho, Marcelo observa as ruas escuras de dentro do ônibus que o leva para casa. Com uma mochila no colo e fones no ouvido, ele está sentado em um banco duro ouvindo sua musica preferida e imaginando uma vida perfeita...

O veículo para e uma jovem loura de óculos adentra o coletivo, passa a catraca e, observando brevemente os lugares disponíveis, senta-se ao lado dele. Sua chegada seria totalmente despercebida pelo cansado rapaz se a jovem não tivesse arremessado violentamente sua cabeça contra o banco da frente.

Marcelo tira um dos fones do ouvido, colocando uma das mãos sobre o ombro da jovem:

- Moça... Tá tudo bem? – ela levanta a cabeça com nítido esforço, sorrindo envergonhada, enquanto ajeita uma mecha de cabelos dourados:

- Sim, foi só um enjoo.

Ele deseja em silencio que ela não vomite ao seu lado.

Poucos quarteirões adiante a loura começa a grunhir alto, chamando a atenção de quase todos os passageiros. Marcelo não ouve, pois está imerso demais em sua musica, tocando uma bateria imaginaria enquanto pensa em si mesmo em cima de um palco.

Somente quando a jovem começa a agitar-se no banco e as pessoas se levantam, ele percebe que algo está errado. Retira os fones do ouvido e percebe que a garota ao seu lado parece convulsionar. Ele instintivamente afasta-se dela, colando suas costas na janela do ônibus, em desespero.

Uma senhora gorda, de cabelos pretos brilhantes, começa a gritar:

- Segura ela! Alguém segura ela! – sua voz fina e estridente em nada melhora os ânimos dos passageiros.

Outro homem que estava mais ao fundo adianta-se e segura a jovem, deitando-a no chão do veículo. Alguns observam curiosos, enquanto alguns desesperados começam a gritar. O cobrador grita ao motorista para que pare o ônibus, mas antes que seu pedido fosse atendido, uma viatura de policia e um caminhão de médio porte chocam-se em frente. O ônibus freia e todos, inclusive a garota que convulsiona, são atirados para frente pelo empuxo da freada brusca.

Com o veículo já parado, outro grito chama a atenção.

A jovem que antes convulsionava aparentemente está consciente, seus dedos parecem querer perfurar os ouvidos do pobre homem que a ajudava e, para espanto de todos, a garota morde seu nariz, ignorando os golpes que ele desfere, em uma tentativa inútil de se soltar. Todos se afastam da cena. Marcelo, com a testa sangrando pelo impacto e o coração acelerado, tenta chegar até a porta mais próxima, que já está aberta.

Desviando das pessoas que agem como uma manada em fúria, ele chega até a saída, mas então vê algo que o faz seu corpo gelar.

Marcelo não é capaz de assimilar o ocorrido imediatamente, mas o ônibus está sendo invadido por pessoas que, correndo e grunhindo como demônios e com sangue por todo rosto e roupa, atacam todos que conseguem alcançar, devorando e arrancando membros vorazmente.

Fernanda Oz
Enviado por Fernanda Oz em 03/01/2013
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