É gente, o negócio tá feio pro meu lado! Estou realmente sem tempo, não tenho escrito nada novo e para não decepcionar quem me lê o jeito é ir republicando velhos contos. Bom, mas quem leu pode ler de novo e quem não leu vê o que acha. Obrigado a todos pela compreensão.

 
A maldição do bruxo da praça
 
Maldito poodle! Estou tentando me livrar dele há horas.
Já me disseram algumas vezes que você colhe o que plantou, mas eu nunca levei essa afirmativa muito a sério, talvez seja por isso que estou na situação em que me encontro hoje, fugindo desses cachorrinhos sem noção.
Quem olha para mim, um ser pequeno e indefeso, nunca iria adivinhar minha história e de como tudo isso aconteceu comigo. Ainda me lembro como se fosse hoje...
Eu e meu camarada Octávio resolvemos sair mais uma noite para nos divertir. A aula da faculdade tinha sido um porre, então decidimos pegar nosso carro e tomar umas cervejas. Beber e dirigir? Ah, quem liga? Se atropelássemos alguém nossos pais tinham dinheiro de sobra para um advogado, azar do atropelado.
Mas, como ia dizendo, tomamos umas cervejas, como a noite estava muito chata decidimos fazer algumas brincadeirinhas inocentes, do tipo que fazíamos sempre como bater em alguns sem-teto, pichar umas paredes, quebrar uns orelhões e coisas do tipo. Acha isso errado? Ora, nós temos todo direito de nos divertir, não temos?
- O que você tem aí Renato? – perguntou-me Octávio.
- Cara, consegui um spray de pimenta e uma soda caustica.
- Beleza, e a gasolina?
- Ah cara, esqueci! Porra, foi tão legal botar fogo naquele mendigo outro dia.
- Deixa, hoje a gente só joga soda caustica, vai queimar pouco, mas já vai dar pra rir um pouco.
Rodamos pela cidade, a certa altura Octávio falou:
- Para aí cara, olha só aquele cachorrão, vamos lá soar com ele.
Paramos e descemos do carro, atrás de um alambrado um imenso rottweiler vigiava um depósito.
- Fala aí totó – gritei enquanto chutava o alambrado e atraía a fúria do vira-lata.
Ele latia ferozmente, batendo com as patas no alambrado.
- Ele não gostou de você não Renato.
- Disso aqui ele vai gostar – disse eu enquanto baixava as calças e mostrava minha bunda branca para ele. – vem morder seu pulguento, vem.
Octávio e eu ríamos as gargalhadas.
- Octávio me dá o spray de pimenta – pedi.
Dei mais uns chutes na cerca, assim que o cachorro chegou bem perto eu esguichei uma dose caprichada de spray de pimenta nos olhos dele que não aguentou e saiu ganindo como uma cadelinha.
Nós dois nos divertimos a beça e partimos para outra.
- Olha Renato, agora é a minha vez – ele havia visto um cavalo velho atrelado a uma dessas carroças de rua.
- O dono deve ter deixado ele aqui – disse eu – também ninguém ia querer roubar uma porcaria dessas.
- Olha só – Octávio pegou um canivete e esvaziou os pneus da carroça.
O cavalo deu uma relinchada.
- Cala boca pangaré – disse Octávio – ou será pangaroa?
Octávio achou um cabo de vassoura na carroça e disse:
- Vamos ver se ele gosta – e enviou com tudo para dentro do rabo do cavalo que deu um troço e saiu correndo pela rua puxando a carroça com os pneus vazios.
- Hehe, acho que essa noite eu ganhei de você Renato.
- Calma, acabou ainda não, chega de mexer com bicho, olha lá naquela praça.
Ele se virou e viu. Deitado num banco da praça estava um mendigo com um cachorrinho magrelo, pelado, pulguento e cheio de moscas.
- Demorou – falou Renato – vamos lá.
Corremos para praça.
- Acorda aí gente boa – gritei.
- Vamos, acorda – berrou Octávio também.
Mas o mendigo só murmurava.
- Quer acordar não Renato.
- É, vamos refrescar ele, vamos – eu falei abrindo o zíper da minha calça e tirando meu pinto pra fora.
- É agora – disse Octávio enquanto me acompanhava numa mijada caprichada em cima da cara do mendigo.
- Qui merda é essa? – berrou o mendigo se virando e caindo no chão com a boca cheia de urina – ô seus fio da puta!
- Aí Octávio, tá xingando nossas mães.
- Vamos mostrar para ele que não pode fazer isso não, tem que respeitar! – disse Octávio enquanto desferiu um chute na barriga do mendigo.
- Aiiii – gemeu o mendigo – para cum issu seus disgraçadu, para seus merda...
- Cala boca! – gritei eu chutando a cara dele – você não tem direito de falar nada, só de apanhar.
Ficamos um bom tempo chutando o desgraçado, até que eu cansei daquilo e falei pro Octávio:
- Me dá a soda caustica Octávio, vamos queimar o rabo desse velho.
- Só se for agora!
Agarramos o mendigo e puxamos a calça fedorenta dele.
- Que qui ocês vai fazê? Para cum isso seus fio duma égua!
- Tá xingando nossa mãe de novo Renato.
- Agora ele vai aprender a ficar quieto – eu falei enquanto derramava soda caustica na bunda suja dele – não lava o rabo né? Agora só assim para tirar tanta sujeira.
Ele berrava de dor, fazia tempo que eu e Octávio não nos divertíamos assim!
A única coisa que estava atrapalhando era o cachorrinho que não parava de latir.
- Cala a boca filhote de cruz credo! – eu gritei enquanto dei um chute bem dado no bicho, o chute foi tão forte que ele caiu desfalecido no chão.
- Ai ai ai, Perneta! – gritou o velho – ocê matou a Perneta, ocê matou minha cachorrinha, seu miserarve!
Eu e Octávio rimos mais ainda com o choro do mendigo.
- Ocês vão tudo quema nus inferno! – o velho tava possesso – eu vou jogar uma praga nocêis! Ocêis vão sofrer sete anos e depois vão queimar nus infernu!
- Ah, vão bora Octávio, o velho pirou.
A gente o deixou lá com a bunda ardendo e suas pragas e cada um foi para sua casa. Tinha sido uma noite muito cansativa.
Foi no outro dia de manhã que notei algo errado, estava com uma coceira horrível.
- Que merda de coceira!
Tomei um banho caprichado, mas nada da coceira passar, o pior era o fedor, estava com um fedor horrível , ninguém queria ficar perto de mim, a não ser umas moscas.
- Vai tomar um banho Renato – meus pais diziam sempre.
Mas banho nenhum tirava aquela inhaca, e a droga da coceira continuava. Pensei em ligar pro Octávio, mas aí meu celular tocou e vi que era ele.
- Alô Octávio, eu já ia te ligar, cara eu tô com uma puta coceira e...
- Eu também Renato, mas não é só isso não cara, eu tô com um problemão – disse ele, parecia estar preocupado – meu pau, meu pau não para de crescer, já tá com uns trinta centímetros! E tem pelo crescendo no meu corpo todo também, pra tudo que é lado! É praga daquele mendigo maldito, só pode.
- Que isso cara, pira não!
- Não é piração, vai dar uma olhada no teu cacete e depois me liga.
Eu fiquei preocupado, fui ao banheiro, tirei as calças e olhei.
- Não! – eu gritei, meu pau não estava crescendo como o de Octávio, estava encolhendo, não deveria ter nem dois centímetros! E ao invés de pelos crescendo eu vi que meu saco já estava todo careca.
- Maldita praga!
Liguei pro Octávio de novo e combinamos de nos encontrarmos na praça do mendigo. Chegamos lá ao mesmo tempo e avistamos o sujeitinho deitado no mesmo banco, do lado dele jazia a cachorrinha morta.
- Acorda aí seu filho da puta! – gritamos os dois juntos.
O mendigo abriu o olho e falou.
- Sabia que ocêis ia vorta, mas agora é tarde, mexeram cum a pessoa errada.
Eu estava puto de ódio e o derrubei no chão.
- Fala velho, fala o que você fez com a gente!
- Uai – disse ele – ocêis caçaram, ocêis caçaram. Ocêis acha qui todo mendigo é iguale? Num sabe, eu sô um bruxo, um bruxo véio, mas sô. Agora ocêis vai sofre sete ano, sete ano!
Eu e Octávio nos olhamos e em nossa fúria chutamos o mendigo mais ainda, mas ele agora só ria.
- Ocêis é uns fio da puta mermo! Eu ia deixar ocêis sofrer divaga, mas vô faze essa mandinga funciona é agora!
Depois disso meu mundo e o de Octávio se transformou, nada mais foi como antes.
Já faz um ano que estamos assim, ainda faltam seis, não aguento mais!
De vez em quando ainda vejo Octávio. O velho bruxo o transformou num velho cavalo puxador de carroça, outro dia ele passou por aqui cheio de moscas no traseiro e puxando uma carga de 50 sacos de cimento enquanto o carreteiro chicoteava o lombo dele. Bem, pelo menos às vezes ele tinha comida, pastava na beira do rio ou da estrada.
Quanto a mim, tive menos sorte. Lembram-se do cachorrinho velho? Na verdade da cachorrinha velha, pois é, o mendigo me transformou nela. Agora estou aqui, quase sem pelos, cheio de pulgas, carrapatos, bernes e moscas. A coceira e o cheiro são horríveis, às vezes nem eu suporto. Para completar ainda tenho que aturar as maldades do velho que me bate muito e só me dá osso duro pra comer, meus dentes já estão quase todos quebrados. Mas o pior mesmo é quando estou no cio, como agora, ou você pensa que é fácil ter 20 cachorros te comendo todos os dias?
Nós já tentamos nos matar várias vezes nos jogando na frente de carros, caminhões e até trens, mas sempre acordávamos da mesma forma de novo, não tinha jeito, o negócio era esperar os sete anos passarem e ir para o inferno depois, nem sei o que era pior.
Pois é, foi isso que aconteceu comigo. Mas agora preciso ir, acho que aquele poodle sem vergonha voltou, ainda bem que o bilau dele é pequenininho...
Epa! Peraí...
Ah merda! É a droga daquele rottweiler de novo!



Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 06/01/2013
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