A FABRICA DE BONECAS - Parte 2

Laura se acomodou assustada no banco de trás do carro. David notou a agitação de Laura e perguntou a ela o que havia assustado ao que Laura explicou o que tinha visto. David então respondeu brincando que Laura estava trabalhando demais e via coisas que não existiam. Afinal, perguntou ele, de onde eram aquelas crianças e o que elas estariam fazendo ali na mata, no meio do nada, naquelas horas da noite? No banco de trás Laura dormia profundamente.

Durante o trajeto, David observava a estrada e conversava com Wiliam de vez em quando para passar o tempo.

O carro seguia na estrada escura indo a uma boa velocidade. William sabia que por não conhecer a estrada não era prudente dirigir em alta velocidade, alem do mais em uma estrada escura. Ainda assim, ele procurava dirigir em uma boa velocidade pois queria chegar logo em casa e também não estava gostando nem um pouco da rota indicada por David. Para William a estrada parecia conduzi-los cada vez mais para dentro das florestas e longe da estrada principal e, consequentemente, da rodovia interestadual que os levaria para casa. David tentava encontrar desculpas e encorajar William a prosseguirem na estrada sombria.

A tempestade, que fora anunciada na rádio, chegou forte após uns quarenta minutos na escura estrada de terra. Chovia muito intensamente e ventava forte, prejudicando ainda mais a visibilidade de William que começou a questionar David o caminho que tinham escolhido. William alertou que a estrada estava mais estreita e também mais acidentada, alem de estar mais escura do que antes, agora que a tempestade chegava com força e as nuvens cobriam a luz do luar totalmente. Dessa vez David não procurou desculpas e se lembrou dos avisos do velho frentista do posto de gasolina.

Então David estava quase falando para William fazer meia volta e retornar à estrada principal mas não houve tempo. Após uma curva bem fechada que William fez com todo o cuidado deram de frente com uma menina que carregava uma boneca. Desesperado William jogou o carro para a direita rapidamente que caiu numa encosta indo se chocar de frente a uma grande árvore. A chuva continuava implacável e houve um longo silencio.

Apos alguns minutos David perguntou se todos estavam bem. William estava tonto com a batida e tinha sofrido pequenos arranhões, Laura havia se chocado contra os bancos da frente e nada sofreu assim como David, mas Karen havia se ferido bastante. Tinha se esquecido de apertar o cinto de segurança e foi projetada para cima dos vidros. Seu rosto, outrora belo como o de uma musa do cinema, estava ensaguentado, haviam cortes em todo o rosto e tinha ferido o olho direito. Karen murmurava pedindo ajuda. David saiu do carro com Laura e em seguida tentou ajudar William a retirar Karen do carro.

Foi com muita dificuldade que conseguiram ajudar Karen a sair do carro. Alem do rosto desfigurado, suas pernas haviam ficado presas e por sorte não haviam se quebrado no acidente. Apesar disso, Karen estava lúcida e chorava muito, pois sentia muitas dores e caminhava com dificuldade pois, embora suas pernas não estivessem quebradas, com certeza ela tinha muitas dores.

David olhou para a estrada de terra lá em cima. Chovia muito forte mas o ventava pouco agora. David calculou que estavam há uns 25 KM da estrada principal e pensou em voltar andando e pedir ajuda. O carro havia arrebentado o motor com a batida e nunca mais iria leva-los à lugar algum.

Laura chorava muito com medo, assustada e movida por compaixão pela amiga Karen que estava seriamente ferida. David propôs seu plano de ir buscar ajuda na estrada principal mas William explodiu dizendo que David já tinha tido ideias demais naquela noite e que eles não deviam estar ali senão fosse por ele. Laura pediu que David não a deixasse ali e William argumentou que eles precisavam da ajuda de David para carregar Karen e que poderiam pedir ajuda para alguém que morasse ali, talvez houvesse uma vila próxima ou algo assim.

Resolveram permanecer juntos. Subiram a colina até a estrada com muito esforço pois Karen agora fraca devido a perda de sangue havia desmaiado e precisava ser literalmente carregada nos braços ora por William ora por David que se revezavam na tarefa. Laura seguia atras deles, chorando e assustada. Após subirem e alcançarem a estrada descansaram por alguns minutos e depois olharam a estrada escura. Nenhum sinal de vida, placa, iluminação, nada. Agora David compreendia os avisos do velho frentista do posto de gasolina. A estrada não era segura e além disso, não conduzia a lugar algum.

A chuva continuava forte e então decidiram não esperar o amanhecer e iniciar a caminhada de volta imediatamente. E foi quando iam começar a longa caminhada de volta para a estrada principal que Laura pensou ter visto luzes ao fundo, na estrada. Avisou a David e William que se viraram junto com Karen e conseguiram ver luzes ao fundo na estrada. David então comentou que poderia ser uma fazenda ou algum vilarejo e propôs que fossem até lá pedir ajuda. Sem opção e com Karen bastante ferida o grupo começou a caminhar adentrando ainda mais a estrada sombria e deixando para trás o caminho que os levaria de volta à estrada principal.

Durante a caminhada William pensou ver entre os arbustos, escondidos pela mata, carcaças de carros antigos, há muito deixados ali. Achou estranho mas estava por demais cansado e preocupado com Karen para levantar mais um problema. David se esforçava para ajudar Karen enquanto Laura tentava encorajar dizendo que tudo ficaria bem e que logo encontrariam ajuda. Caminharam por uns quinze minutos e avistaram o que parecia ser uma imponente mansão ali no meio do nada.

Se aproximaram e constataram ser uma mansão bem antiga, provavelmente do início do século 20 ou final do século 19. Havia uma pequena trilha que conduzia à entrada da mansão. No portão antigo e enferrujado estava escrito "Lar da Família Sterner 1881-1948". Abriram o portão com dificuldade e se puseram a seguir a trilha. Os jardins em volta haviam sido tomados pela mata. Estátuas antigas e bancos todos cobertos pelo mato e consumidos pelo tempo. Todo aquele ornamento para decoração do jardim dava um tom macabro ao lugar. Caminharam com pressa e chegaram na varanda ao que Laura bateu na porta e aguardou alguns momentos para depois bater novamente. Não foram atendidos e então Laura abriu a porta e entraram na mansão.

Curiosamente o interior da mansão estava muito bem cuidado e limpo. Todos os móveis estavam no lugar e havia um grande quadro no alto na parede em que havia sido pintado o retrato do patriarca da familia Sterner, Sir. Albert Sterner. Havia um olhar triste no rosto retratado no quadro. Deitaram Karen no sofá e então Laura acendeu as luzes do resto do salão. David então notou que na sala de jantar, a mesa havia sido preparada para a refeição.

William procurou um telefone e encontrou um ao que ligou para emergência e relatou o ocorrido. Ao ser perguntado por sua localização não soube dar o endereço e apenas descreveu o lugar com sendo uma mansão localizada na estrada que ligava à estrada principal, mas a ligação foi cortada. Tentou ligar mais algumas vezes mas não conseguiu e gritou palavrões inconformado.

David examinou Karen e viu que estava muito mal. Talvez a batida tivesse deixado danos internos na cabeça dela. David então pediu que William ficasse com Karen enquanto ele e Laura iriam procurar remédios e itens de primeiros socorros para tentar dar algum tratamento à Karen que ainda sangrava muito. William se sentou cansado e concordou com a cabeça.

David e Laura desapareceram pelos corredores da mansão. Vasculharam todas as salas e quartos e foram entrando mansão à dentro. Ficaram pensando em quem devia morar ali. Notaram muitos desenhos e pequenas peças de artesanato que parecia ser egípcio por toda a casa. David comentou então que alguém da casa gosta de egípcios.

Laura achou estranho e começou a observar melhor o lugar. Ao passarem por um corredor com várias salas entraram em uma onde havia uma coleção de bonecas antigas, todas muito bonitas. As bonecas eram grandes e eram todas muito bem feitas. Todas deviam estar ali há muitos anos, pois Laura notou poeira nos panos que as envolvia. Laura então disse que eram lindas e examinou de perto as bonecas que pareciam novas, recém fabricadas. Laura notou em um ponto no pescoço das bonecas alguns estranhos caracteres que também pareciam egípcios. Intrigada com a descoberta achou melhor sair daquela sala e continuar procurando os remédios para ajudar Karen. Seguiram procurando e encontraram uma sala que parecia uma enfermaria onde encontraram uma caixa de primeiros socorros com material bem antigo mas em bom estado.

David e Laura retornaram rapidamente à sala principal da mansão e disseram à William o que haviam encontrado. Trataram de Karen lhe fazendo um bom curativo e conseguiram estancar parcialmente o sangramento. Karen havia perdido completamente os sentidos. William estava abatido mas achou estranho não ter ninguém na casa. Concluíram que os proprietários deveriam estar fora da casa e que os criados deviam ter ido pra casa.

Lá fora a chuva continuava intensa e sem dar sinal que iria passar. Dentro da mansão David, Laura e William conversavam sobre o que deveriam fazer no dia seguinte pela manha. Agora o plano de David parecia bom. David era um atleta e corria maratonas periodicamente. Ele poderia correr até a estrada principal e pedir ajuda enquanto Laura e William poderiam esperar confortavelmente na mansão cuidando de Karen.

Parecia agora que eles tinham uma esperança de tudo dar certo e foi quando falavam palavras de encorajamento mútuo que ouviram barulhos estranhos no andar de cima com gargalhadas estridentes repetidas. William deu um saldo e então disse a Laura e David que eles haviam encontrado as crianças que Laura pensara ter visto apos o que se arrependeu do que havia dito. Perceberam que não poderia haver crianças vivendo ali sozinhas naquele lugar isolado.

O barulho continuava e as gargalhadas ficaram mais altas. David então propôs a William que fossem juntos ver o que era mas Laura não aceitou ficar sozinha com Karen que parecia agora estar em um sono profundo. Subiram os três as escadas, lentamente. Laura observava fotos antigas da família Sterner e também algumas inscrições egípcias em quadros fixados na parede. Laura assustada pegou na mão de David que suava frio.

Ao chegarem no andar de cima seguiram por um corredor que dava acesso aos quartos que era de onde pareciam vir as gargalhadas estridentes e agora guinchos agudos muito altos que incomodavam os ouvidos. Ao seguirem pelo corredor escuro o som parecia ficar mais forte e então sentiram um cheiro forte de putrefação. Abriram a porta do quarto de onde pareciam vir o som macabro e ao abrirem a porta não encontraram ninguém. O quarto estava vazio mas tudo era uma bagunça, como se crianças tivessem realmente brincado ali. O cheiro era muito forte agora e insuportável. No fundo do quarto Laura avistou um grupo de bonecas, sorrindo, com olhar fixo diretamente neles. David e William não entenderam nada mas Laura sentiu calafrios. Havia algo errado naquele lugar. Laura então percebeu que o cheiro vinha do armário e então pediu a David e William para abrir o armário para então verem horrorizados o corpo decomposto de uma mulher e de uma criança pequena. Notaram que os olhos lhe haviam sido arrancados assim como os órgãos internos.

Laura começou a chorar descontrolada. Era a única que tinha uma compreensão mínima do que havia de realmente errado ali. David e William ficaram assustados mas tentaram racionalizar. Notaram que as roupas vestidas pela mulher e pela criança eram muito antigas, do início do século vinte e acharam que os corpos estavam ali há muito tempo. Pensaram que talvez houvesse um serial killer ou algo parecido que tivesse acontecido naquela mansão abandonada mas pelo tempo provavelmente o assassino já teria morrido. Laura continuava chorando e pedindo para pegarem a Karen e deixarem o lugar imediatamente.

David e William decidiram examinar a mansão, comodo por comodo, para se certificar de que realmente e estavam sozinhos. Laura os acompanhava chorando e com os nervos à flor da pele. Não ouviram mais as gargalhadas estridentes e nem os guinchos agudos. Nada foi encontrado, não havia mais ninguém naquela mansão. Também não encontraram mais nenhum corpo na mansão e nem uma evidência de que alguém estivesse ali. Porém Laura não se sentia segura e pediu para voltarem até onde Karen estava.

Desceram as escadas e então retornaram ao salão que estava vazio. Não encontraram Karen no sofá onde a haviam deixado. A chuva prosseguia forte e trovões assustavam Laura que agora só repetia as mesmas palavras para David, pedindo para irem embora.

David ficou assustado. William agora começava a achar que algo errado estava acontecendo ali. Laura gritou dizendo que Karen não conseguia ficar de pé e que jamais poderia ter saído dali. Para onde ela iria naquela tempestade?

CONTINUA

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 10/01/2013
Reeditado em 10/01/2013
Código do texto: T4076615
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