O ATIRADOR DA UNIVERSIDADE - Parte 2

Robert cuspiu sangue e tentou racionalizar melhor a situação. Seu tempo estava acabando.

Lembrou-se então de como tudo havia acontecido e de sua viagem com a família na semana anterior. Ele, sua mulher Angela e seu filho Tommy. Haviam recebido o convite da irmã mais velha de angela para passarem o final de semana na pequena cidade isolada próxima do deserto onde moravam. Robert não havia gostado nem um pouco do convite. Detestava o calor escaldante do deserto mas concordou em passar o fim de semana com a cunhada.

A viagem foi tranquila num dia quente de verão com o sol forte durante todo o trajeto. Quase ninguém ia para aquela região quente e deserta naquela época do ano e por isso a viagem transcorreu sem engarrafamentos e levou pouco mais de 4 horas de estrada.

Um pouco depois de deixarem a rodovia interestadual e pegaram a estrada que levava à cidade Robert notou muitos carros vazios e abandonados no acostamento ao longo da estrada, no sentido deixando a cidade. Achou estranho mais não parou para verificar pois todos os carros estavam vazios. Achou mais estranho ainda e prosseguiu a viagem até que, após alguns quilômetros, avistaram um posto de gasolina na estrada.

Robert resolveu dar uma parada para abastecer o carro. Notou o posto vazio. Nenhum sinal de funcionários ou clientes. Tudo deserto. Foi a loja de conveniência onde viu a funcionária sentada num banco, olhando o vazio do deserto, como se estivesse hipnotizada. Cumprimentou-a com um bom dia e somente após alguns minutos a mulher pareceu perceber que havia alguém ali. Robert sorriu e pediu uma coca-cola ao que a mulher, inicialmente séria e com olhar vazio, respondeu com um sorriso que pegaria uma coca-cola bem gelada no capricho e se levantou rapidamente indo até a máquina retornando rapidamente com uma coca cola gelada ao apos entregar voltou a ter o semblante frio, vazio, com olhar distante e voltou andando ao banco onde estava e retornou o olhar para o vazio do deserto.

Robert saiu e tomou sua coca gelada. Depois, antes de partir, resolveu ir ao banheiro para urinar e então quando estava saindo sentiu uma mão em seu ombro e quando olhou viu um homem velho barbudo e com expressão de medo nos olhos. Robert calculou que o homem estava se escondendo ali há semanas pois sentiu o cheiro forte e viu a barba grande do homem. Pensou que fosse um mendigo mas descartou pois viu o relógio rolex que o homem usava e o anel de curso superior.

O homem falava agitado que o havia observado quando chegou de carro no posto e que sabia que não eram da cidade mas que deviam voltar rápido antes que eles percebessem sua chegada ali. Robert achou que o velho era um bêbado ou um drogado e deu um passo para trás, afastando-se do velho que avançou em sua direção dizendo que eles estavam por toda a parte e haviam tomado a cidade em pouco mais de um mês. O homem disse que poucos conseguiram escapar nas primeiras semanas mas que agora ninguém estava seguro e que Robert devia partir enquanto ainda podia.

Robert continuou se afastando em direção à porta do banheiro mas não pode deixar de prestar atenção quando o velho disse que eles podiam fazer o que muitos da cidade tentaram mas não conseguiram pois eles acabaram levando-os de volta deixando apenas seus carros no acostamento da estrada.

Robert então se lembrou de ter visto o acostamento cheio de carros abandonados e quando ia perguntar algo para o velho foi puxado para fora do banheiro por um policial que o afastou para fora. Robert viu vários paramédicos que rapidamente imobilizaram o velho que gritava desesperado dizendo para Robert que eles não dormiam, não se cansavam e que não permitiriam que partisse, que Robert devia fugir agora ou seria tarde demais para ele e sua família.

O homem entrou em desespero e gritou com a certeza, em seu íntimo, de que era seu fim, quando um estranho médico lhe aplicou uma injeção ao que o velho foi se acalmando até perder os sentidos.

Robert ficou observando os paramédicos levarem em silencio o velho para a ambulância e partir em velocidade para a cidade. Um policial se aproximou de Robert e lhe perguntou com um sorriso forçado se estavam indo para a cidade ao que Robert respondeu que sim pois estavam indo visitar parentes e então perguntou ao policial o que estava havendo ali. O policial respondeu com um sorriso estranho no rosto que o homem era um louco fugitivo que estava sendo procurado há semanas. Em seguida, o policial disse que iriam acompanha-los de carro até a casa dos seus parentes e voltou ao semblante sério, vazio e distante. Se afastou de Robert e entrou no carro esperando que Robert pegasse a estrada.

Robert achou tudo muito estranho. Sua experiencia militar lhe dizia que havia algo errado ali mas pensou que fosse algo interno da cidade e que não iria envolver visitantes que estavam só de passagem.

Partiram para a cidade sendo seguidos pelo carro da policia. Robert achou a situação estranha mas Angela achou engraçado e pensou ser coisa de cidade do interior. Serem escoltados pela policia até a casa de sua irmã.

Passaram pela cidade e não viram nenhum carro circulando. Quase ninguém nas ruas, apenas uns poucos que permaneciam imoveis no calor de 40 graus como se estivessem tomando um banho de sol. Passaram pela praça da cidade vazia e pelo centro comercial que deveria estar cheio em um sábado mas não tinha ninguém.

Percorreram mais algumas quadras e então chegaram a casa de Betty, irmã de Angela. Saltaram do carro e Robert viu o carro de policia passar e acenar para o marido de Betty que cortava uma grande arvore que ficava no jardim da frente da casa de Betty. Robert comentou por que cortar uma arvore que dava uma sombra tão boa numa cidade que era tão quente. Betty apenas respondeu com um sorriso que era necessário.

Tommy havia chegado cansado da viagem. Betty rapidamente o colocou para dormir depois de lhe dar um refresco. Em seguida chamou Angela, Robert e o marido para o almoço. Curiosamente nem Betty e nem seu marido Phillipe comeram nada. Apensa conversavam e perguntavam muito sobre a capital. Angela contava todas as novidades para Betty e Phillipe que pareciam muito interessados. Robert almoçava e ficou observando os tres na mesa. Angela conversava animada e os outros dois apenas ouviam com um sorriso no rosto.

Apos o almoço Robert se levantou e Betty lhe perguntou se queria tirar uma soneca depois de uma viagem cansativa ao que Robert respondeu que não e que preferia caminhar pela cidade e visitar um amigo que morava lá. Betty então mudou o semblante para aquele olhar vazio, distante e sem emoções que Robert havia visto na Garçonete do posto de gasolina.

Robert então notou que havia realmente algo estranho ali e perguntou a Angela se ela estava se sentindo bem ao que Angela respondeu que estava ótima. Robert então foi ver o filho Tommy que dormia profundamente e achou melhor não acordar o menino.

Robert saiu e caminhou pela cidade. Tinha um amigo veterano do exercito que havia servido com ele no Iraque e que morava a poucas quadras dali. Resolveu ir andando para sentir melhor o clima do local e talvez entender o que estava havendo ali.

Em seu trajeto não viu uma única pessoa andando pelas ruas, nem crianças brincando, nem mesmo animais. Tudo deserto como uma cidade fantasma. Passou por uma casa com portas abertas e o carro batido dentro da garagem como se o dono tivesse tentado deixar o local rapidamente e sem abrir a porta da garagem. Em outra casa notou a porta da frente aberta e as janelas quebradas. Concluiu que realmente havia alguma coisa errada naquele lugar afastado de tudo.

Finalmente chegou na rua onde o amigo Jonas morava e parou em frente a sua casa. Olhou o local que parecia fechado. Subiu a varanda e bateu na porta mas ninguém veio atender a porta. Sabia que jonas morava sozinho e que quase não saia. Esperou um pouco mais e tentou mais algumas vezes chamando o amigo pelo nome e batendo na porta mas não obteve resposta. Então decidiu voltar para a casa da cunhada pois já estava ficando tarde.

Já estava indo embora quando ouviu alguém chamar e viu jonas na janela atras da cortina o chamando. Fez meia volta e subiu as escadas a porta se abriu e Jonas mandou ele entrar rápido. Robert entrou e achou os corpos de uma mulher e um homem dentro de dois sacos plasticos, ambos mortos com tiros na cabeça. Jonas explicou que eles morriam somente quando eram atingidos na cabeça. Robert ficou surpreso e perguntou o que diabos estava havendo na cidade.

Jonas explicou que as pessoas começaram a agir estranho nos últimos 2 meses. Primeiro faltavam ao trabalho e ficavam tomando sol parados no quintal ou no meio da rua quase o dia todo. Depois se comportavam como se fossem máquinas, sem emoção, sem nenhum comportamento dentro do normal e aceitável pela sociedade. Eram isentos de dor, emoção, fadiga, fome, etc. Nunca comiam e nem bebiam. Falavam muito pouco, quase nada e nunca se cansavam. Pouco a pouco as pessoas da cidade foram mudando seu comportamento.

Robert perguntou a Jonas quem eram eles e Jonas respondeu que não sabia. Apenas tinha a certeza de que não eram humanos. Pouco a pouco, disse jonas as pessoas foram mudando e quando mudavam tentavam muda-lo também. Jonas disse que houve um grande tiroteio entre moradores e eles, no centro da cidade, mas eles não morriam, somente quando eram atingidos na cabeça é que morriam de fato.

Robert achou aquilo tudo loucura. E pediu que Jonas o deixasse levar a um médico o que Jonas respondeu dizendo que era loucura ignorar o fato de que estavam todos correndo perigo ali e que deviam tentar fugir e alertar as pessoas. Em seguida mostrou videos feitos por ele em vários pontos da cidade.

Os videos haviam sido gravados por Jonas ao longo das semanas, em vários pontos da cidade. Em um vídeo gravado na praça pessoas ficavam paradas em silencio tomando sol enquanto um bebe chorava caído no chão. Em outro vídeo, crianças no pátio de uma escola carregavam a professora morta para dentro de uma das salas de aula. Um video mostrava um casal desesperado no shopping da cidade sendo cercado por uma multidão em silêncio. Outro vídeo mostrava um policial solitário atirando contra pessoas que avançavam para cima dele até o alcançarem e lhe assassinarem no chão da calçada.

Robert perguntou por que a policia não conteve a contaminação. Jonas respirou fundo e em seguida disse que a policia fez o que pode mas não sabia como detê-los. Somente perto do fim a policia descobriu que tinha que atirar na cabeça. Mas no fim, a polícia não conseguiu conter a contaminação.

Robert então contou a Jonas sobre os policiais que o haviam escoltado até a casa de sua cunhada ao que Jonas sorriu e disse que não eram policiais, acrescentando que Robert havia visto como o último policial havia morrido.

Jonas explicou que a cidade estava isolada. Os contaminados haviam sabotado todos os veículos para que ninguem escapasse da cidade. Apenas alguns conseguiram nas primeiras semanas. Eles furavam os tanques de gasolina, assim muitos carros nao conseguiram ir muito alem dos limites da cidade na rodovia. Robert lembrou dos carros abandonados no acostamento da estrada.

Jonas disse que também tinham cortado a comunicação. Sem internet, sem celular, sem telefone. Robert disse que havia sido convidado pela cunhada há 4 dias para passar o fim de semana ao que Jonas respondeu que ele havia sido atraído para uma armadilha. Se usaram o telefone é porque queriam traze-los, finalizou Jonas.

Robert se levantou do sofá e disse que iria buscar a mulher e o filho mas Jonas lhe disse que seria melhor esperar anoitecer. Robert observava a rua por tras da cortina da janela. Jonas disse que havia uma chance de escapar, uma chance pequena mas que era melhor do que ficar e ser apanhado.

Robert perguntou como Jonas havia conseguido se esconder por tanto tempo. Jonas disse que seu tempo no exercito havia lhe ajudado. Ora se escondendo no telhado, ora se escondendo no porão. O certo era que os contaminados iriam encontra-lo mais cedo ou mais tarde. Sabia que eles estavam perto. No inicio quase nao apareciam na rua. Nas duas ultimas semanas, passavam diariamente e olhavam as casas pela janela, procurando por alguem.

Jonas explicou que havia uma linha ferroviaria antiga que passava perto dos limites da cidade. Essa linha era usada para transporte de minerio e só passava uma vez por mes. Disse que algumas pessoas haviam tentado escapar logo no inicio da segunda semana em uma caminhonete. Fugiram à tarde e se dirigiram para a cidade vizinha em busca de ajuda. Tres dias depois, Jonas os viu andando nas ruas, silenciosos e com olhar vazio. Haviam sido contaminados. Entao Jonas disse que compreendeu que talvez as cidades proximas já estivessem contaminadas e que se tentasse fugir deveria ir o mais longe possível. O trem era sua única chance.

Robert perguntou quando o trem viria novamente e Jonas explicou que o trem passaria naquela mesma noite, pontualmente as nove e meia e que ele iria tentar a fuga pois tinha certeza que não conseguiria se esconder por mais um mês até a chegada do próximo trem. Robert então perguntou onde ficava o caminho para a estrada de ferro e Jonas explicou que ficava cerca de meia hora caminhando indo pela rua principal, ou alguma rua paralela, para a parte sul da cidade, que era a área mais vazia e onde ficavam poucas residencias. Ali, acrescentou, devemos seguir em frente, cruzando o campo até avistarmos uma colina. A linha de trem fica bem depois da colina. Não tem como errar. Jonas acreditava que essa era a melhor chance que eles tinham e acrescentou que o carro de Robert provavelmente já estava sabotado e que não era opção de fuga.

Robert ficou esperando anoitecer e combinou com Jonas que se não voltasse até às oito Jonas devia tentar a fuga sozinho. Jonas abriu um armário e pegou uma pistola para Robert. Em seguida, lhe deu dois carregadores e explicou que devia atirar na cabeça e que ao fazer isso devia se apressar pois o disparo iria atrair todos os contaminados para onde ele estivesse. Eles agiam assim, sempre em grandes grupos. Jonas acrescentou que iria esperar até as oito e meia nas cercanias da parte sul da cidade, próximo ao bar onde costumavam beber juntos.

Robert se despediu de Jonas e saiu. Olhou a rua pela janela e se certificou que não havia ninguém. Saiu pela porta dos fundos e cruzou o jardim com cuidado, sendo bem silencioso e tendo o cuidado de olhar para ver se o caminho estava limpo. Em seguida, cruzou a rua e desapareceu na escuridão da noite.

CONTINUA

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 19/01/2013
Código do texto: T4092818
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.