O ATIRADOR DA UNIVERSIDADE - Parte 4

O sol estava forte naquela tarde. Robert acordou no vagão cheio de minério. Olhou em volta e não viu ninguém na estação ferroviária. Se sentia tonto e com um gosto estranho na boca. Desceu o vagão com cuidado e começou a andar pelos trilhos quando foi parado por um funcionário que o avisou que não podia andar pelos trilhos ali pois era área de circulação de trens de carga. O homem era um senhor de uns sessenta anos de idade, mal humorado que deu uma boa olhada em Robert que estava exausto e então disse que nem ia perguntar como Robert havia ido parar ali, em seguida lhe apontou o caminho para a plataforma de embarque dizendo para cair fora dali e virou-lhe as costas e foi embora reclamando dos funcionários que haviam faltado pelo segundo dia e por isso havia vários pilantras querendo viajar de graça.

Robert ficou parado por um tempo sentido uma brisa forte no rosto e depois seguiu pelo caminho que o velho funcionário lhe havia indicado. Não demorou muito tempo e Robert avistou ao longe a plataforma de embarque da estação que estava com umas poucas pessoas de pé, algumas sentadas em bancos, aguardando a chegada do próximo trem.

Robert morava em uma cidade grande e calculou que não havia nem metade dos passageiros que normalmente pegavam o trem naquele horário. Sendo consultor de vendas, ele mesmo já havia viajado por todo o país pegando o trem naquela plataforma e sabia que sempre estava cheia. Mas naquela tarde, eram poucas as pessoas que estavam deixando a cidade.

Robert se apressou e subiu pela plataforma sem que fosse parado por nenhum guarda ou fiscal. Parecia mesmo que as pessoas tinham ficado em casa. Passou pelos passageiros que estavam esperando o trem e não notou nada errado. Pessoas que riam, crianças brincando, um casal de namorados discutindo, um senhor falando no celular furioso com a filha, enfim, pessoas normais e que estavam saindo da cidade.

Robert seguiu para o corredor de saída da estação de trem. Notou então que o salão de embarque estava quase vazio e que havia somente uma funcionária na bilheteria. A mulher branca e gorda com cabelos ruivos bem curtos lia uma revista. Robert atravessou o salão e desceu as escadas para a rua que estava pouco movimentada.

Procurou um táxi e demorou um bom tempo até aparecer um. Antes de entrar no táxi notou algumas pessoas paradas na esquina, imóveis, tomando sol, em silencio. Robert sabia o que aquilo significava. A contaminação havia chegado na cidade. Tão rápido pensou que ninguém poderia acreditar. Pensou então que talvez a cidade já estivesse sendo contaminado mesmo antes de que ele partisse para a casa de sua cunhada. Lembrou que nos dois dias que antecederam a viagem notou que o vizinho estava agindo de modo estranho e que no prédio onde trabalhava, poucas pessoas haviam ido trabalhar naquela semana.

Disse ao taxista que queria ir para casa, dizendo o endereço para o taxista e então o táxi o levou indo pela rua principal, onde Robert pode ver melhor o que estava havendo em sua cidade. Lembrou de Jonas que havia lhe dito que se quisesse escapar devia fugir para o mais longe que pudesse. Perguntou então ao taxista se havia acontecido algo diferente na cidade ao que taxista respondeu que nos últimos três dias o aeroporto havia sido fechado para pousos e decolagens e que os trens iriam parar naquela tarde por duas semanas devido a obras na linha ferroviária. Robert concluiu o isolamento que estava em progresso na cidade e lembrou das pessoas na estação de trem que aparentemente não estavam contaminadas e que não sabiam o que estava acontecendo. Pensou então que talvez fossem as últimas pessoas a deixarem a cidade antes do pior que estava por vir. Iriam se salvar sem saber do que e sem saber do perigo.

Durante o trajeto para casa Robert viu poucas pessoas nas ruas. Alguns jovens, algumas crianças voltando mais cedo da escola e alguns funcionários da prefeitura trabalhando em uma obra. Fora isso, quase ninguém nas ruas.

O taxista então disse a Robert que as pessoas estavam sumindo das ruas e que no geral a situação estava estranha. Nunca tinha ganho tão pouco com o táxi pois sempre tinha passageiro em cada esquina. Acrescentou dizendo que queria ir logo para casas ver a sua família. Robert então respirou fundo e lembrou de sua esposa morta e do filho perdido.

O táxi parou na porta de sua casa e Robert saltou olhando em volta na vizinhança e ouvindo o taxista dizer que realmente a cidade parecia estar mudando. Robert pagou ao homem que lhe deu um sorriso e lhe disse boa sorte quando ia saindo com o carro. Robert então sentiu pena do taxista que parecia boa gente e resolveu alerta-lo para que talvez pudesse salvar sua própria família. Robert gritou para o táxi que parou imediatamente ao que Robert se aproximou e falou ao taxista que o perguntou se estava tudo bem e se havia errado no troco ou algo assim.

Robert então olhou para o taxista sério e com bondade falou ao taxista que a cidade estava sendo contaminada por uma doença mortal. Não quis dizer ao taxista exatamente o que estava acontecendo. O taxista ficou surpreso com a notícia e desligou o motor do carro, olhando atentamente para Robert que então fingiu ser um especialista em doenças e lhe disse que devia tirar sua família da cidade naquela mesma tarde e partir para o mais longe que pudesse se quisesse ficar livre da doença mortal que estava se espalhando. O taxista então, visivelmente preocupado, perguntou a Robert que tipo de doença ao que Robert respondeu dizendo que não sabiam mas que era mortal e se espalhava rápido. Repetiu o alerta dizendo que o taxista devia pegar a família e partir imediatamente, saindo da cidade. Acrescentou dizendo, com lágrimas nos olhos, que havia acabado de chegar de uma outra cidade, ao sul, no deserto, onde quase toda a população havia sido morta pela doença. O Taxista ficou mais assustado ainda e perguntou onde era a cidade ao que Robert disse.

Então o taxista, pediu um minuto e ligou para casa. Esperou alguns instantes e a esposa atendeu. Robert chorou então enquanto o taxista falava para a mulher se aprontar e se aprontar o filho pois eles teriam que fazer uma viagem. Robert notou que a mulher do taxista parecia ter entendido e respondido que estaria pronta quando o taxista chegasse em casa. Robert então acrescentou dizendo que sim, sim, saiam da cidade.

O Taxista então se despediu da mulher com um beijo e desligou o celular para em seguida agradecer ao "Dr. Robert" que enxugando as lagrimas respondeu por nada, acrescentando apenas que não devia dar carona a nenhum estranho e que devia sair imediatamente ou acabariam mortos.

O Taxista notou que Robert estava visivelmente emocionado e concluiu que a situação era muito séria. Então agradeceu a Robert novamente e lhe desejou boa sorte e que Deus o ajudasse com seu trabalho. Agradeceu novamente e depois saiu com o táxi rapidamente em direção à sua casa.

Robert ficou de pé na calçada em frente à sua casa, vendo o táxi se afastar rapidamente seguindo pela rua arborizada e com belos jardins até dobrar a esquina e desaparecer.

Robert então entrou em casa e fez várias ligações. Nenhum dos amigos ou pessoas conhecidas atendeu. Já estava ficando desesperado quando um dos amigos atendeu a ligação. Era David seu amigo dos tempos da faculdade e que trabalha em uma consultoria de informática. Haviam estudado administração mas David havia seguido pelos rumos da criação de software especialista e não se viam com muita frequência.

Robert conversou com David e procurou antes sondar a situação temendo que o amigo já estivesse contaminado. Então depois ouvir o amigo conversar visivelmente preocupado sobre o que estava acontecendo, Robert resolveu revelar o que havia acontecido na pequena cidade no deserto.

David então respondeu que nos últimos três dias muita coisa estranha tinha acontecido e que agora no fim da tarde havia descoberto que a cidade estava isolada, sem internet. David acrescentou que colegas haviam desaparecido na última semana e que não se teve mais notícias deles. David disse que uma noite, saiu do trabalho e resolveu ir na casa de um colega que trabalhava com ele e viu algo assustador. O amigo havia morto com pauladas a mulher e a filha pequena de dois anos e estava de pé em frente a casa, em silencio, olhando tudo em volta com se fosse novidade. Ao vê-lo soltou um grito monstruoso e correu em sua direção, seguido por outros moradores da rua.

David disse que fugiu do local e aviso a policia que não fez nada e que as duas delegacias que havia ido estavam quase vazias, com poucos policiais que estavam muito ocupados com vários chamados estranhos naquela noite.

Robert perguntou onde David estava ao que David disse que estava no escritório e deu o endereço. Disse que estava com uma amiga que trabalhava com ele e que não havia voltado para casa depois que encontrou a família com o mesmo comportamento estranho que David havia encontrado com o amigo que tinha resolvido faltar o trabalho 3 dias e depois massacrar a própria família. Disse que Alice trabalhava com ele e que estava muito assustada.

Robert disse então que iria ajudá-lo e que estava indo para o escritório ao que David disse que estava aguardando junto com Alice. Robert desligou o telefone e pegou a chave do carro. Foi até a garagem e quando estava saindo viu o vizinho se aproximar em silencio, com olhar vazio como se fosse um daqueles zumbis dos filmes de terror americanos. Robert vi outros se aproximando e acelerou o carro passando por eles. Olhou o retrovisor e vi que eles vinham atras do carro, caminhando lentamente em silencio, numa visão macabra na noite que havia chegado.

Robert dirigiu pela cidade e notou poucos carros. Alguns parecendo estar fugindo da cidade. Outros parados com a porta aberta no meio da rua. Seguiu pelas principais ruas da cidade e viu a mesma situação desolada.

Chegou apos algum tempo no edifício. Na entrada não encontrou porteiro, nem segurança. O prédio parecia abandonado. Nas ruas poucos carros andando e poucas pessoas andavam apressadas tentando chegar até o metrô. Ventava forte naquela noite.

Robert subiu para o andar de cima e pegou um elevador até o décimo quinto andar. Caminhou pelos corredores e notou que alguém havia chamado o elevador para o sétimo andar. Concluiu que não estava totalmente sozinho naquele prédio. Achou a sala onde David dizia que estava trabalhando e só encontrou Alice chorando, escondida atras de um mesa. Robert se apresentou e a moça assustada lhe pediu que não lhe fizesse mal ao que Robert respondeu que era amigo de David e perguntou onde ele estava.

Ela disse que não sabia. Que David havia saído para tentar conseguir um carro mas que não havia retornado. Robert então perguntou quando David tinha saído. Alice limpou as lagrimas do rosto e disse que tinha visto David pela última vez faziam dois dias e que não tinha tido mais notícias dele. Robert então concluiu que havia sido atraído para uma armadilha e falou para Alice que precisavam sair dali e que ele tinha um carro. Alice se levantou e concordou em fugir dizendo que sabia que os estranhos, como eles os chamavam, estavam no prédio procurando por ela.

Robert saiu para o corredor com Alice e viu quando o elevador chegou. Se esconderam rapidamente em outra sala e ficaram em silencio. Os contaminados haviam chegado. Eram sete ou oito contaminados. Andaram lentamente, em silencio, olhar vazio e começaram a procurar pelas salas.

Alice se controlava para não chorar e abraçava Robert que olhava pela pequena aberta da porta os contaminados que agiam em silencio, procurando por ele. Era questão de tempo até o encontrarem ali no andar e então Robert fez sinal para Alice segui-lo ao que notou então que o semblante dela havia mudado, olhar vazio, sem emoções, gestos mecânicos e que ela tinha alguns espasmos rápidos, como uma boneca com defeito. Robert se levantou em silencio olhando para ela que então pareceu se ligar no que estava acontecendo e começou a gritar alto avisando aos contaminados e revelando a posição para Robert que não conseguiu se controlar e disparou na cabeça de Alice que caiu no chão para em seguida se levantar e ir andando em direção a Robert que se afastou horrorizado com a cena macabra para depois vê-la cair morta.

Robert saiu da sala onde estava escondido para o corredor mas os contaminados já haviam chegado no corredor e foram direto em sua direção. Alguns se moviam pelo teto rapidamente como predadores, outros caminhavam rapidamente na direção dos elevadores para evitar que Robert conseguisse fugir. Mas Robert agiu rápido e derrubou dois deles com disparos precisos na cabeça mas foi atingido nas costas por um terceiro vindo do teto. Robert se virou e meio desequilibrado pelo golpe disparou na cabeça do contaminado que caiu em espasmos no chão.

Robert então optou por descer as escadas correndo ao que foi seguido pelos contaminados restantes. Sentiu que deviam haver muitos outros e achou que não encontraria chance de escapar. Desceu alguns lances de escada sendo seguido e se sentiu cansado. Abriu a porta e teve acesso a um andar de escritórios de serviços de uma representação comercial. Viu então um grande garrafão de água mineral e se lembrou que os contaminados não gostavam de água. Agarrou o garrafão e atirou em cima dos contaminados que o seguiam que se afastaram desajeitadamente, caindo por cima uns dos outros e gritando desesperados ao entrarem em contato com a água.

Um último contaminado ia em direção de Robert mas foi atingido na cabeça em cheio. Robert então olhou do corredor o elevador que se aproximava descendo dos andares mais altos em direção ao andar onde ele estava. Robert então novamente pegou o caminho das escadas e desceu rapidamente até chegar ao térreo e ter acesso às portas de saída.

O vento era forte agora e Robert correu para as portas mas entrou em desespero ao ver um grupo grande com um oitenta contaminados andando em sua direção, alguns saindo dos elevadores, outros da galeria comercial anexa ao prédio e outros entrando pelas portas da frente. Robert olhou em volta e viu que estava sendo cercado. As portas dos fundos também cheias de contaminados se aproximando em silencio.

Robert então pensou em tirar a propria vida mas olhou as paredes de vidro do andar térreo e então disparou varias vezes abrindo um buraco e pulando em cima dele. Caiu nos jardins da calçada do prédio. Os contaminados se aproximavam lentamente, mas Robert tinha ganho alguma vantagem. Precisava sair dali rapidamente. Por sorte, não tinha quebrado nenhum osso na queda. Correu pelas ruas e viu um carro vindo em sua direção. O carro parou e um homem gordo gritou para Robert entrar no carro para salvar a vida. Robert correu e entrou no carro que saiu rapidamente.

O homem era Simon. Disse que estava tentando sair da cidade desde o inicio da tarde mas que as vias de acesso para as estradas estavam todas controladas. Robert viu vários carros de policia indo na direção do prédio. Simon acrescentou que era uma batalha perdida e que a policia estava perdendo aquela guerra. Simon se apresentou como sendo ecologista e que estava estudando sobre o aquecimento global em uma empresa patrocinada pelo governo. Descobriram então que os contaminados estavam por trás do aquecimento e que se alimentavam de luz solar. Mas que precisaram dos corpos humanos para sobreviver. Simon disse que havia conhecido um pesquisador, Dr. Kimbal que o havia explicado o que estava acontecendo e que a contaminação era rápida mas que não sabiam como acontecia. Simon achava que era pelo contato físico mas também achava que pudesse ser pelo ar. Acrescentou que as pessoas contaminadas levavam algumas horas para se transformar, às vezes, alguns dias. Simon disse então que toda a pesquisa do Dr. Kimball foi feita em cima de aquecimento global e que lhe daria mas detalhes em uma entrevista mas que por sorte Simon não foi entrevista-lo. Explicou que os amigos que haviam ido falar com o Dr. Kimball não haviam voltado.

Robert perguntou então onde poderia encontrar o Dr. Kimball?

Simon explicou que Dr. Kimball trabalhava na Universidade da cidade que parecia ser o local onde muitos contaminados se reuniam. Simon acreditava que Kimball era um deles ao que Robert respondeu que tinha certeza que sim. Andaram um pouco mais e então o carro parou de andar. Olharam o indicador de combustível zerado.

Robert explicou que o carro devia ter sido sabotado. Simon estava desesperado, gordo e desajeitado, não conseguiria escapar correndo daquelas coisas. Robert disse então para não perderem tempo e saírem dali imediatamente. Simon concordou e dois deixaram o carro para trás.

Robert e Simon andaram rapidamente por alguns quarteirões e encontraram alguns contaminados atacando uma mulher. Robert e Simon se esconderam abaixados atrás de um carro estacionado e ficaram observando os contaminados agarrarem a mulher. Mas antes que Robert pudesse agir, Simon gritou enfurecido e correu para os contaminados a fim de ajudar a mulher ao que eles largaram a mulher e o cercaram rapidamente.

Robert viu a mulher se levantar e agir como um deles, correndo para o circulo de contaminados em volta de Simon a fim de ajudar a capturar Simon que ao ser tocado pelos contaminados começou a gritar desesperado.

Robert então deixou o local, ouvindo os gritos de Simon até cessarem completamente. Abriu a tampa do esgoto e se escondeu no esgoto da rua, fechando a tampo atras de si.

Achou que era o único lugar seguro na cidade e concluiu que não podia confiar em ninguém.

CONTINUA

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 25/01/2013
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