Olhos Verdes

Ao longo caminho percorrido tive a sensação que nada consegui entender. Apenas dúvidas e mais dúvidas, mesmo tendo a certeza de que deveria caminhar. Tentar procurar uma resposta, cuja verdade é que nem sei se realmente existe ou se eu realmente gostaria de descobrir.

O certo é que coisas estranhas vivenciei no caminho, e é sobre isso que gostaria de compartilhar com vocês.

Tudo começou em uma noite de junho, mas precisamente dia 26 de junho de 1986, era uma tarde quente, a rua estava tranquila e eu estava sozinho em casa, minha mãe tinha ido ao trabalho e meu pai estava doente em uma cama de hospital.

Desculpem-me, pois não me apresentei, chamo-me Diego, hoje com 33 anos, mas na época tinha seis. Morava em uma cidade do interior de Alagoas chamada Penedo. Muito bela por sinal, adorava aquele lugar, era muito divertido brincar na rua sem preocupações ou aborrecimentos que hoje atormentam minha vida.

Vivia brincando na beira do rio, o velho Chico. Não me cansava de correr pelas areias na beira do rio, ora pescava ora caçava algum animalzinho que na beira ficava. Mas voltando ao dia especifico, estava eu na sala assistindo a televisão, quando uma mulher bate a minha porta perguntando por meu pai, sem abri-la eu do local onde estava gritei: não esta em casa, esta no hospital. A mulher insiste em falar com meu pai, dai desci do sofá e abri a pequena janela.

Quando para minha surpresa avistei uma linda mulher de cabelos lisos e negros, com belos olhos verdes. Novamente lhe respondi que meu pai estava no hospital, ela apenas sorriu virou-se e foi embora. Não tinha achado estranho, pois era um moleque de seis anos e também pensei que fosse alguma amiga da família.

Um pouco mais tarde minha mãe chega em casa aos prantos, com minha avó abraçada a ela, pergunto se ela estava sentindo alguma dor e ela tenta me responder, mas não consegue. Pergunto a minha avó e ela coloca sua mão em meu ombro e diz: “seu papai esta no céu agora! Você tem que ajudar sua mamãe e ser o homem da casa.” Não tinha entendido de inicio, mas logo percebera que meu pai não voltaria mais daquele hospital.

No dia do enterro, muita gente compareceu, seus amigos de infância, parentes e uma figura que não me saia da cabeça, aquela mulher que havia perguntado sobre meu pai.

Tinha me lembrado de seu rosto e comentei com minha mãe, falei que aquela mulher procurou meu pai no dia anterior. Minha mãe para minha surpresa me perguntou: “qual mulher?” e eu apontei para ela, mas curiosamente minha mãe não a via. Eu insisti em apontar e gesticular em direção a bendita mulher, mas minha mãe insistia em dizer que não a enxergava.

Depois de um tempo desisti e fiquei quieto, mas continuava a ver a tal mulher, que não tirava os olhos do caixão de meu pai, até que em um minuto ela vira seu rosto e me olha de uma forma tão penetrante e hipnótica, que o medo se instalou em mim. Virei meu rosto e depois de alguns segundos olhei para ver se ela ainda estava me encarando, e para minha surpresa a misteriosa mulher havia sumido. Isso me intrigou até os dias de hoje.

Já se passaram trinta anos e ainda me lembro de seu lindo rosto, sua voz aveludada, seus cabelos negros ao vento. Aos vinte e cinco anos me casei com uma bela morena chamada Ana, vivíamos em Maceió na época. Éramos felizes e compartilhávamos tudo, tínhamos muita amizade um pelo outro. Em certa noite minha esposa sentiu uma dor de cabeça muito forte e tive que leva-la ao hospital. Chegando lá ela fora examinada e o médico aconselhou que ela ficasse de repouso no hospital tomando medicações, para no dia seguinte ter alta. Tive que deixa-la por um instante e voltar para casa, para buscar alguns itens pessoais dela e umas roupas, ao chegar a casa, abro à porta, caminho ao nosso quarto e assim que abro a porta do quarda roupas, a campainha toca, caminho até a porta, observo pelo olho mágico, e o que vejo me deixou extremamente assombrado. Era a mulher que veio procurar meu pai quando pequeno. O mesmo rosto, cabelo e os lindos olhos verdes bastante expressivos.

Respiro fundo e abro à porta, pergunto oque ela desejava, em com a mesma voz aveludada ela me responde: “estou procurando Ana!” eu não sabia se mentia ou falaria a verdade. Então apenas falei que não sabia de seu paradeiro, pois tinha acabado de chegar da rua.

Ela me olhou direto nos meus olhos e disse: “esta bem então.” Eu tentando me controlar de pânico, entro pego as coisas a que vim buscar e parto em direção ao hospital.

Ao chegar corro em direção ao quarto em que minha esposa estava interna e para meu horror, descubro que minha mulher havia falecido, tinha um aneurisma e não suportou a crise.

Choro a noite inteira e no dia seguinte tenho que organizar o enterro e tomar todas as providencias. Quando chega então a hora do enterro, muitos amigos nossos estão presentes e todos se mostraram surpresos com a morte repentina de Ana. Viro-me para cumprimentar um amigo e vejo ao lado do caixão a tal mulher misteriosa que havia visto quando criança e há um dia, então eu saio em sua direção e quando chego próximo a ela, como num passe de mágica ela some. Pergunto as pessoas se elas haviam visto tal mulher, mas nenhuma pessoa a tinha visto. Então agora eu pergunto a vocês, será que essas situações acontecem com todos? Já se passaram cinco anos desde o falecimento de Ana e o curioso é que para mim, o tempo deixou de ser um vilão e tornou-se um companheiro, de fato outras lembranças de minha vida eu já esquecera completamente. Lembro-me de seu rosto, mas que o de meus pais e agora começo a esquecer o de minha mulher. Apenas lembro-me dos cabelos negros, lindos olhos verdes e uma voz aveludada. E por incrível que pareça, tenho a impressão que a verei novamente.

FIM.