O Mistério do Casarão

‘’O Casarão Misterioso’’, assim que a chamavam. Uma imensa casa abandonada há séculos por um barão e uma baronesa que tinham sido assassinados numa noite  de Lua cheia escura e sombria, os trovões rugiam forte e os relâmpagos faziam clarões no céu. Não havia evidências de quem fizera o crime, os escravos fugiam por entre as parreiras de uva e um a um caiu ao chão de terra, tingindo-a de vermelho pelo sangue que escorria de seus membros, primeiro rasgava a carne das pernas, em seguida a dos braços e por último cravava as longas unhas bem no coração, até não restar nenhum escravo. Por fim o alvo final, a baronesa e o barão. Ela correu até os pulmões quase estourarem, direto para o porão da casa. Trancou a porta com chave e a janela de ventilação abria para o lado de fora, mas tinha grade de ferro, então apenas travou o trinco. Nada entraria lá. Que esperteza a dela! Porém, não foi tão esperta quanto o monstro. Caiu de bruços sobre a pequena mesa que ficava no canto da parede. Deu seu último sopro de vida. O Barão foi mais engenhoso, dirigiu-se ao segundo andar da casa, o covarde esgueirou-se pelos vastos corredores, entrou em um dos quartos de casal e trancou-se ali, fechou as janelas com cadeados e correntes extremamente grossas, somente se eles fossem derretidos alguém conseguiria entrar. Infelizmente, sua hora chegou, uma sombra tateou seu corpo embaçado pelo papel de parede do quarto, antes mesmo que ele percebesse foi agarrado e enforcado por garras tão afiadas que deixaram marcas profundas em sua garganta, seu rosto desfigurado ficou com uma cor arroxeada. Ninguém sabe por quem ou pelo que todos daquele local foram assassinados. Se for verdade ou não, basta que alguém descubra! Há, há, há!
Cerca de 340 anos depois...
— Henrique, nós vamos acampar, você quer ir também? — Indagou Sabrina — Vai ser na floresta no alto da serra.
— Eu vou sim, sábado à noite, certo?
— Combinado, até lá!
Chegando num pasto ao lado da floresta, Jéssica e Sabrina montaram suas barracas e foram pegar um pouco de lenha. Os garotos foram explorar o local, a noite estava fria e úmida, a Lua brilhava, a chuva começou a cair fina e contínua. Henrique não gostou muito da ideia de xeretar a floresta tão sombria que chegava a causar calafrios. Cada árvore tinha marcas de garras afiadas na casca. Uma tempestade arrastava-se pela frente. Logo viram a casa branca e despedaçada, bem no topo da serra. Era uma casa medonha, bela e horrível ao mesmo tempo.
— Você está maluco, Guto? Não vou entrar aí, essa casa me dá arrepios, quem sabe o que pode viver lá? — Henrique arcou-lhe uma sobrancelha — Se pensa que eu vou entrar, está enganado!
— Está com medo, é? Não me importo, se é muito medroso para encarar, fique aqui vigiando, eu vou entrar!
Henrique puxou-o tentando impedi-lo, mas Guto se soltou e foi andando pelo caminho de pedra ardósia que acabava na pequena escada. Subiu-as e hesitou diante da velha porta de madeira de ébano. Será que ele havia mudado de ideia? Não. A sua direita um corvo de penas negras o encarava, parecia estar avisando sobre o perigo. O garoto colocou a mão sob a maçaneta e girou-a cuidadosamente. Deu um passo a frente e a porta bateu atrás de si. Estava sozinho lá dentro. O hall de entrada era escuro e coberto por teias de aranhas e baratas, em cada canto um cavaleiro de armadura empoeirada segurava uma lança. Na ponta um crânio espetado. Algo tocou seu ombro e virou-se rapidamente para trás, uma luz ofuscante estava a sua frente, tinha a forma de um homem velho e gordo.
— Cuidado, proteja-se! — Sussurrou o fantasma — Rápido! Ele está aqui!
— Proteger? Quem está aqui? — Passos vinham ao seu encontro — Espere não se vá! Quem está aqui?
Mas o fantasma já havia desaparecido, parecia ter medo. Medo de quem? Guto se apavorou, os passos estavam cada vez mais perto, ele correu pelo corredor da esquerda, que se dirigia a sala de jantar, um banquete na mesa. Na parede um cavaleiro vinha em sua direção, a lança apontada para seu peito. Ele se esquivou e o cavaleiro espetou a lança na parede! Correu desesperadamente para o andar de cima! No fim do corredor uma sombra apareceu, um monstro, meio lobo, meio humano mostrava seus dentes afiados e suas unhas arrasadoras! Ele entrou numa sala vazia e ouviu o lobo uivar. Trancou a porta e a janela, mas ao dar um passo para trás, lá estava ele, cravou as unhas em seu coração. O sangue espirrou nas paredes. O lobo agarrou-lhe pelo pescoço e jogou-o na parede. Quem seria o próximo?
— Sabrina! Jéssica! Socorro, socorro! Onde vocês estão? Precisamos ajudar o Guto! — Procurou desesperado de medo pelas duas no acampamento, mas nada achou. — A Floresta! Não!
Henrique correu às pressas para encontra-las, rastros de sangue manchavam o verde do pasto. Teria algo alcançado elas? Oh, não! O medo invadiu-o. Ouviram-se gritos pela floresta nebulosa e sombria. Relâmpagos cortavam o céu. Era Jéssica! Ele seguiu o som de sua voz trêmula e desesperada, mas já era tarde, o monstro já havia perfurado uma madeira pontiaguda em seu estômago. A cena de terror arrepiou o garoto. Será que Sabrina ainda estava viva? Ele voltou à casa aos tropeções, a porta estava aberta, ela havia entrado. Ele entrou rapidamente e seguiu as gotas de sangue no piso branco. Levavam ao porão. Era um breu lá embaixo. Tateou os dedos pela porta e encontrou a maçaneta, girou-a e a empurrou. Uma luz estava acesa e havia um esqueleto sobre uma mesinha de canto.
— Henrique! Você está bem? Procurava por você... e por Guto. — Ela abraçou-o. Pronunciou o nome quase que num sussurro.
— O que aconteceu com ele? Você machucou o braço, como?
— Um monstro horrendo o matou e a minha irmã também. Um cavaleiro de armadura ficou vivo e me atacou com uma espada! Mas eu estou bem.
— Rápido vamos embora, já houve muitas perdas por esta noite!
Eles correram para cima em direção ao hall de entrada. Henrique abraçava-a por causa do ferimento. Ele tropeçou, uma mão peluda puxou seu pé, era um lobo ou um homem? O monstro agarrou sua blusa, rasgando-a, unhou seu braço direito e pressionou as garras contra sua garganta! De repente, Sabrina foi até a mesa e pegou uma faca de prata, mirou o coração da fera e afundou-a em seu peito! Ele soltou Henrique, roxo por ter sido quase asfixiado. Demasiado cansados foram até a porta, abriram-na e saíram depressa daquele lugar tenebroso. A única visão foi do lobisomem uivando na noite de tempestade. Porém a fera disparava atrás deles, mesmo fraca. Conseguiram chegar ao carro. A garota pegou um galão de gasolina e fósforos, entregou-o a Henrique, quando o monstro se aproximou ela deu o sinal e ele jogou o líquido escuro e altamente inflamável naquela abominação, ela acendeu um fósforo puxou ele junto de si e jogou o fogo. Imediatamente o lobo se incendiou e depois de alguns minutos de tanto se contorcer de dor, caiu ao chão carbonizado. Tudo havia terminado. Os dois foram à delegacia de polícia e relataram tudo o que havia acontecido lá para o delegado. O delegado negando-se a acreditar foi até o Casarão no dia seguinte, mas nada encontrou na casa. Tudo havia sumido. Sabrina e Henrique foram junto para comprovar, porém a única coisa que Henrique viu foram os fantasmas do barão e da baronesa acenando para os dois, agradecendo por terem posto fim em séculos de tormento com aquele monstro. E o lobisomem jamais voltaria. Será? Há, há, há!





Anna Julia Dannala
Enviado por Anna Julia Dannala em 09/02/2013
Reeditado em 12/02/2013
Código do texto: T4130913
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