As Crônicas do Mundo Negro - Lembranças de uma Bruxa - Capítulo VI

  A lâmina do machado desceu verticalmente, bem na direção de Pen. A amazonas deu um salto e esquivou-se agilmente caindo ao lado de Heitor. Esse por sua vez apontou uma flecha na direção do ciclope, que viu Claus se transformar em um magnífico Grifo.
 
 - Passarinho bonitinho! – Disse o monstro.
 
 Claus alçou vôo, o ciclope acompanhando-o entretido. Pen e Heitor lado a lado, agora com suas flechas apontadas para ele. Heitor olhou na direção de Pen, e sinalizou para ela positivamente. As flechas foram disparadas e cortaram o ar indo de encontro ao peito do gigante. Claus planando no alto.

 O Ciclope virou-se rapidamente. Heitor e Pen espantaram-se, as flechas mal perfuraram a pele da criatura que espontaneamente se curou. Era algo incomum, absurdamente mágico. A pele reconstitui-se e as feridas se fecharam, o sangue voltou para as veias desafiando todas as leis da física.

  O gigante segurou as flechas em sua mão e apertou-as quebrando-as entre os dedos. Pegou o machado e imerso em tremenda ira jogou-o na direção de Pen e Heitor, agora o objeto cortante vinha na horizontal. Claus desceu num vôo rasteiro na direção dos dois.

  O machado girando como uma roleta, bastava saber onde a bolinha iria parar. Machado ou cabo? Algo iria acertar os dois que estavam sem defesa ou tempo de reação. O ciclope ainda seguindo o vôo do grifo que passou próximo a ele velozmente, suas mãos tentaram segura-lo no ar, mas agarraram não mais que três penas de Claus que era muito ágil, porém não tanto para salvar os dois. Pen fechou os olhos, enquanto Heitor fazia o que podia para se defender.

...

 - Aqui está ela minha deusa! – Disse a criatura metade cara de homem e metade cara de cavalo.
 
 - Muito bem! Até que você não é tão imprestável assim touro velho – A criatura olhava para o estranho ser á sua frente com total fascínio.

 - Bem Elisa! Sei que não conseguirei tirar esse colar de você enquanto estiver viva, graças a sua magia. Apenas seu irmãozinho e você, é claro, podem fazê-lo, mas suas forças estão esvaindo-se bruxa, e logo, logo o colar será meu novamente – Luna levou a mão até o colar e os olhos das serpentes se acenderam, as víboras começaram a mover-se agressivamente mostrando suas línguas.

 - Sei bem o que vocês podem fazer com suas presas de metal enfeitiçadas – Disse Luna ao colar – Mas logo vocês serão minhas novamente.
 
...
 
  Ele agora estava de frente aquele espelho negro, sua moldura era de bronze, caveiras desenhadas em alto relevo pareciam estar vivas mesmo que permanecessem imóveis. Símbolos estranhos circundavam aquele bizarro objeto. Ele então apontou seu dedo indicador na direção dele dobrando-o, dois raios vermelhos partiram dos olhos negros da caveira de seu anel e foram de encontro ao espelho. O raio atingiu a superfície lisa e objeto respondeu ao impacto magicamente, tal qual um lago negro. Uma leve onda, circular e crescente até que revelou a imagem de uma garotinha de cabelos dourados, que brilharam na escuridão do espelho.

 - Diga-me fada da sabedoria. Para onde aquela sirene insolente levou minha querida irmãzinha? – perguntou o Senhor das Feras, o rosto dele perdido em um excesso de sarcasmo. Os olhos azulados daquela pequena fada de asas prateadas carregavam densa melancolia, mas ainda assim sua beleza era surreal. Ela balançou a cabeça negativamente, relutante em dizer onde estava Elisa.
 
 
 - Ah... Sofia... Sofia... Tão sábia e tão ingênua – fez um leve gesto com o dedo que carregava o anel, e abruptamente Sofia levou as pequeninas mãos á cabeça, sentindo uma dor indescritível. Fechou os olhos e tentou lutar, mas aquilo sugava suas forças, por fim ajoelhou-se no chão espelhado do próprio espelho e uma lágrima de luz brotou de seus olhos.

 - Pântano negro! – Soltou aquelas palavras em meio a soluços.
 
 - Muito bem Sofia! E os nossos amigos, onde estão? – insistiu o Bruxo.
 
 - Você é um monstro! Ela disse sentindo uma dor inimaginável, como se enormes agulhas penetrassem em sua cabeça.

 - Diga onde eles estão e sabe que a dor irá embora – Disse fechando a mão fortemente, o que fez a dor aumentar ainda mais.
 
 - Montanha das almas! – Revelou soltando um suspiro. Ele olhou para ela acariciou o espelho, suas enormes unhas passando onde era refletido o rosto de Sofia. Ela se recuperava, enquanto ele virou-se para Eneias que jazia de pé ao seu lado.
 
 - Traga-a para mim e mate aquela sirene! – ordenou.
 
 - E quanto aos outros, mestre? – perguntou o lacaio.
 
 - Tenho algo em mente! – Disse em tom sarcástico, enquanto Sofia desaparecia lentamente e o espelho se perdia novamente em plena escuridão.
...
 
 O machado seguia girando na direção de Heitor e Pen. O olho do gigante acompanhando aquele objeto o qual já tinha tirado tantas vidas. Claus teve que ser rápido e fez sua escolha, suas garras agarraram Pen e ele subiu salvando-a na hora exata em que o machado bateu contra Heitor. O gigante deu um urro de vitória. Claus deu a volta no ar e não acreditou no que viu.

  O gigante agora calado olhava para Heitor. O machado cravado no escudo, Heitor estava á quatro metros de distância, caído no chão. O elfo havia batido fortemente contra uma árvore e estava desmaiado, e gravemente ferido, mas ainda estava vivo. O gigante esqueceu-se dos outros dois e partiu na direção do guerreiro, faminto.

 
 - Tenho que acertar ele Claus! Tenho que acertar o olho dele! – Disse Pen sem ter certeza se ele a entendia perfeitamente, pois do modo que ela estava dependurada em suas garras não conseguiria manejar seu arco. Ele então a soltou no ar.

  Ela gritou, seguindo em queda livre. O gigante se aproximando de Heitor. Claus então apareceu por baixo de Pen, que caiu montada em seu pescoço.

 - Ahhhhh!!! Eu vou te matar seu grifo idiota – O ciclope pegou o machado e separou-o do escudo de Heitor, a arma estava rachada.

 - Agora eu vai cortar você elfinho engraçadinho! – Disse o Ciclope levantando o machado.

  Claus batia suas asas o mais rápido que podia. Eles agora coavam em direção ao monstro, frente á frente com aquele ser imortal. Pen mirou sua flecha, ela não poderia perder aquele tiro, ou Heitor estaria morto.

  O Ciclope deu um urro alto e assustador, era um grito de vitória.

 Ele ia cortar Heitor ao meio, quando a flecha atingiu seu olho e ele soltou o machado aturdido. Suas mãos sobre seu olho furado, ele gritava e se debatia andando em círculos feito um cachorro que corre atrás de seu próprio rabo. Ele estava cego.

  Claus pousou perto de Heitor, que ainda permanecia desacordado enquanto o ciclope se embrenhava na mata totalmente desorientado e distanciando-se deles gritando desesperadamente. Claus manifestou-se perto do elfo como homem, e abaixou-se o chamando.
 
 - Heitor! Está me ouvindo amigo? Acorde! – Mas Heitor estava muito ferido. A nuca estava sangrando, ele realmente não estava bem. Foi quando Pen pegou o machado e foi na direção de Heitor.

  Claus se levantou imediatamente enfrentando-a. Pen lançou-lhe o mesmo olhar que lançara para suas amazonas. O albino permaneceu firme.

   Ela emparelhou-se com ele e se abaixou próxima a Heitor. Claus a observava atento e receoso. Ela virou Heitor de forma que a nuca do elfo ficasse para cima e encostou o cabo do machado junto a ferida. Claus percebeu o que ela estava fazendo.
 
 - O machado? - Ela virou-se para ele, enquanto a ferida de Heitor se fechava. A pele dele de reconstituía de maneira milagrosa.
 
 - Não, não é o machado, mas sim o cabo – ela disse – Quando Asclépio foi fulminado pelo raio de Zeus, o ciclope pegou-o e fez esta arma. Por isso as flechas não fizeram efeito nele. Ele já é um ser imortal por natureza, e enquanto tinha esse machado em mãos ele era quase invencível, a não ser pelo seu ponto fraco.
 
 - O olho, não é mesmo? – Disse Heitor levantando-se. Obrigado amigos! Vamos logo pois Elisa precisa disso. Claus se transformou em um grifo e eles partiram.
 
 ....
 
  - Onde ela está? – Perguntou Heitor olhando para o chão e vendo somente Nescuro e as Amazonas ou pelo menos os seus corpos. Claus pousou. Pen e Heitor se assustaram com o cenário á sua frente. Pen pela primeira vez mostrou-se completamente arrasada. Ela ia de corpo em corpo procurando alguma sobrevivente enquanto Heitor e Claus desesperados procuravam por Elisa. Claus foi até Nescuro e colocou o cajado sobre o local onde o espinho da manticora havia penetrado. Um liquido transparente se expeliu espontaneamente e as orelhas de Nescuro ergueram-se, ele estava em sua forma normal, era um lindo hotweiller negro. O cão saltou sobre Claus derrubando-o e lambendo a boca do albino.
 
 - Funciona! – Alegrou-se Heitor – Agora precisamos achá-la!
 
 - Maldito Senhor das feras! – Disse Pen.
 
 - Sinto muito, Pen – Disse Claus virando-se para ela – Heitor a olhou quase sem fala.
 
 - Eu também – Ele disse.
 
 - Precisamos ir para o castelo do Senhor das feras – Disse Claus – Ele está com Elisa.
 
 - Acho que não – Disse Pen, agachada próxima ao corpo de uma de suas amazonas.

 - Como assim? – Perguntou Claus.
 
 - Vejam isto – Disse ela mostrando-lhes uma bola de pelo em suas mãos – Heitor e Claus não entenderam o que ela queria dizer.
 
 - Vocês não entendem nada mesmo! – debochou ela – Isso é pêlo de touro.
 
 - Touro? – Indagou Claus.
 
 - Só conheço um touro nesta cor malhada. Um touro covarde de duas caras – Disse Pen.
 
 - Taumos! – Disseram Heitor e Claus ao mesmo tempo.

 - Vamos até o pântano! – Disse Heitor. Foi quando no céu três horríveis monstros surgiram. Eram parte mulheres, parte aves de rapina, tinham a aparência de velhas, e os corpos eram deformados, tinha dentes podres e pontiagudos. Os seios era horríveis e enrugados,os mamilos pareciam berrugas, viviam desnudos, se rebelando entre algumas penas, as mãos eram unidas às enormes asas, eram garras horrorosas e letais. E quanto aos pés, nesses tinham apenas três dedos, com unhas crescidas e grossas como as de uma águia. As harpias eram conhecidas por serem criaturas de força e agilidade fora do comum.

- Aquelas são – Dizia Heitor.

 - Aelo, Ocípite e Celeno – Completou Pen.
  Eram três Harpias, seres terríveis, Aelo era conhecida como a tormenta, Ocípite era a rápida no vôo e Celeno era a obscura.  Elas procuravam sempre capturar os corpos dos mortos para usufruir de seu amor. Parcelas diabólicas de suas energias cósmicas representavam a provocação de todos os vícios e as maldades. Elas eram seres incrivelmente poderosos e cruéis. Elas então desceram e pousaram próximas a eles.
 
 - Corpos apetitosos! – Disse Celeno referindo-se as amazonas mortas.

 - As deixem em paz! – Ameaçou Pen.

 - Elas serão apenas a sobremesa! – Zombou Aelo – Vocês é que serão o prato principal.

 As harpias colocaram os dentes afiados e as garras demoníacas à mostra e atacaram impiedosamente. 





Sejam sempre bem vindos!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 20/02/2013
Reeditado em 20/02/2013
Código do texto: T4150697
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.