O Experimento
 
   Acordou em uma sala fria. Não me pergunte como essa estória aconteceu, o que sei é que o ambiente estava gelado, a pele mais branca do que se julgaria normal, isso para um ser humano.

  Levantou-se e viu os que o observavam, boquiabertos, segurando suas pranchetas e o olhando por cima dos óculos, como se mal precisassem daqueles instrumentos pala calibrar suas visões.

  As mangueiras e agulhas penetradas em seu corpo o dando a ligeira impressão de prisão, de impotência. Estava um pouco zonzo, estava completamente confuso, mas misteriosamente sabia o que significava cada um daqueles objetos ao redor.

  Só após alguns segundos, que mal completaram um minuto é que percebeu que estava nu. As canetas continuavam a arranhar os papéis. Homens e mulheres de jalecos brancos, usando mascaras para proteger-lhes, ou seria para proteger ele mesmo?

  Por fim ouviu a voz, num tom pesaroso, do senhor caucasiano, que o olhava com extrema decepção. Além do vidro que dividia aqueles dois ambientes, havia um mundo. Os membros da sociedade de medicina experimental olharam para ele, "o experimento" e balançaram a cabeça negativamente.

  - Anotem – disse o velho tal qual um palestrante – esse é o corpo do qüinquagésimo quinto clone de um humano, criado com o intuito de erradicar o câncer, e proporcionar órgãos para transplantes que sanarão outras tantas doenças - ele pausou - 
entretanto a cobaia apresenta as seguintes falhas:

1º - A cor do olho esquerdo diverge da cor do olho direito – os homens e mulheres anotaram  cuidadosamente enquanto olhavam para o os olhos do experimento, um olho era azul e outro castanho.

2º - Uma orelha é menor que a outra - eles continuavam a anotar e obersvar o espécime a frente deles.

3º - A boca apresenta lábios disformes e a face esquerda foge do padrão da direita, há uma cavidade bem próxima ao nariz, como um típico furo no queixo, entretanto este está na face.

4 º - Os dedos das mãos são todos do mesmo tamanho - ouviram-se alguns risos e também suspiros que demonstravam certo espanto.

5º - O cabelo aparenta uma queda irregular, ao esperado.

6º - O clone parece ainda carregar lembranças e sentimentos humanos, provavelmente originarios de suas matrizes.

  O clone, ou melhor, o experimento começava a apalpar a parede de vidro, no intuito, ou necessidade de um contato físico. Olhou na direção do homem que ditava para os outros. O mesmo o encarou de volta.

O experimnto gritou:

 - Abra! Me deixe sair daqui!

 O homem baixou os olhos e apertou um botão vermelho. Em seguida olhou na direção dos outros cientistas e de alguns estagiários. 

 - Anotem, por favor – instruiu – a falha teima em persistir, o experimento continua acreditando ser um humano, ainda que seja apenas um depósito de próteses, criado com o intuito único de salvar vidas  humanas – o homem olhou para o clone, e em seguida para as marionetes que continuavam a fazer suas anotações – Em cinco segundos uma fumaça entrará na sala, o gás congelará o corpo dele para que preservemos todos órgãos, e por fim os cirurgiões farão a remoção dos componentes que puderem ser aproveitados – o Clone o olhava e ouvia tudo que ele falava, assimilando o amontoado de informações e sentimentos que o contagiavam.

 - Não! Pelo amor de Deus! Estou vivo! Não sou um clone! Nãoooo – ele chorava olhando para aquela estranha e cruel raça, achando que eles tinham sentimentos humanos, como ele.

Pobre coitado...

  Ainda era um ser puro, alguém que não queria ser melhor que ninguém, apenas nasceu, nasceu com vontade de viver.

  Os visitantes olharam para sala após anotar algo, pensaram em como aquela cria da ciência se sentia, pensaram em como ele se parecia com um ser humano, olharam para as lágrimas que decaiam mapeando o rosto da criação, deixando clara a tristeza dele, mas é difícil prever para qual lado a  balança da consciência irá pender.

  Obviamente pensaram no quanto aquele ato era importante para a auto-preservação, e quiçá em breve conheceriam a tão sonhada imortalidade. Ou em breve, ou no centésimo ou talvez milésimo experimento...

Era um risco que valia a pena?

  O homem caucasiano, já acostumado a ver aquela cena sorriu deliberadamente, e disse:

  - Não se preocupem, logo ele parará de gritar.

Sejam sempre bem vindos!

 
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 21/02/2013
Reeditado em 22/02/2013
Código do texto: T4152305
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