Um cadáver no quarto ao lado

Era uma noite chuvosa e Belinha estava colocando a Sra. Léia para dormir, afinal, ela já tinha 98 anos e tinha que dormir cedo.

Parecia um sonho, ganhar um dinheirinho cuidando de uma idosa durante a noite, sendo liberada pra comer qualquer coisa na geladeira, e ainda poder assistir uma TV a cabo com os melhores canais de filmes.

Belinha não tinha muita paciência e mudava de canal cada vez que enjoava do filme, sendo assim, assistiu romance, terror, comédia...

Quando estava quase dormindo no sofá com um lanche de peito de peru e um refrigerante no colo, ela levantou assustada ao ouvir um grito horrível vindo do quarto da idosa.

Ela assustou, pois a voz era tão grave que nem parecia que era da velha senhora, então se levantou e correu para o quarto onde viu Sra. Léia caída no chão com os olhos esbugalhados.

_O que aconteceu Dona Léia? Perguntou Belinha apavorada.

_Ele veio, ele está aqui, veio me buscar. Respondeu Léia trêmula.

_Ele quem? Quem veio te buscar?

_ Ele tá no armário, você não viu? Tem um monte deles andando por ai atrás de você.

Nesse momento Belinha sentiu um leve sopro em sua nuca e arrepiou-se toda, mas ao olhar pra trás não viu ninguém, nem nada.

Quando voltou o olhar para velha mulher, percebeu que ela já não respirava, foi então que o desespero bateu, ela imediatamente ligou pra policia mas a chuva estava tão intensa que não dava para ouvir uma só palavra.

A casa ficava afastada da cidade e a única maneira de sair de lá era ligando para um taxista que era amigo de família de Léia a anos e sempre realizava o transporte dela, mas com o telefone mudo isso não seria possível, mas quando parecia que as coisas não poderiam piorar a energia acabou deixando Belinha no escuro, incomunicável e com um cadáver no quarto ao lado.

De repente alguns ruídos estranhos começaram a vir do quarto de Sra. Léia, e Belinha seguiu até lá com passos lentos e silenciosos e ao olhar pela fresta da porta viu algo assustador:

O corpo de Sra. Léia parecia levitar sobre a cama e quando a presença de Belinha foi notada no quarto, o cadáver foi arremessado sobre ela fazendo-a correr desesperadamente para fora da casa em meio a uma chuva forte e uma tempestade de raios e trovões.

Foi então que Belinha lembrou do celular de emergência que estava no carregador na cozinha, voltou portanto a casa com toda sua coragem e foi até a cozinha e ascendeu uma vela, então viu o celular e enquanto discava o número, foi atingida por algo na cabeça e desmaiou.

Quando acordou percebeu que estava amarrada na cama e havia mais alguém na casa, vestido com um capuz preto.

_Quem é você? O que quer comigo?

Quando tirou o capuz, o sujeito revelou ser o taxista Rômulo, o amigo da família.

_ Senhor Rômulo, me ajude, por favor, não sei o que está havendo! Implorou Belinha.

_ Já vou te explicar o que está acontecendo Belinha! Disse Rômulo com um sorriso no rosto.

E continuou:

_ Eu e Léia nos amamos há muitos anos, e não podemos imaginar ficar longe um do outro, por isso há alguns séculos atrás oferecemos nossa lealdade a um bruxo maligno que prometeu que nossas almas ficariam na terra perpetuamente e assim quando completássemos 95 anos de idade poderíamos trocar de corpo com alguém mais jovem para vivermos nossa paixão mais plenamente e esta sendo assim desde então, e a hora de Léia trocar de corpo chegou e o espírito do bruxo está aqui para garantir que o ritual seja realizado da forma correta, ou seja, eu devo colocar o anel de Léia em seu dedo as três horas da manhã que foi o horário em que realizamos o pacto com o bruxo, ou então a alma de minha amada será carregada para as profundezas do inferno.

Já faltavam cinco minutos e Belinha não sabia o que fazer, foi então que viu que seu pulso não estava tão bem amarrado, então enquanto Rômulo pegava o anel ela soltou seus braços e pegou um vaso da escrivaninha e quebrou na cabeça do taxista que ficou tonto.

Então soltou os pés e correu pra fora e entrou no taxi, mas percebeu que a chave não estava no contato, logo viu Rômulo se aproximar com um machado na mão.

O Taxista quebrou o vidro do táxi e levou Belinha para dentro de casa e enquanto tentava amarrar ela na cama, o anel caiu em uma pequena fresta no chão fazendo Rômulo entrar em desespero e quando o relógio bateu às três horas, a porta do guarda roupas se abriu e um ser assombroso saiu de lá gargalhando e arrastou o corpo de Léia enquanto Rômulo gritava de desespero.

Uma labareda de fogo consumiu os dois personagens deixando Rômulo mais furioso.

_ Eu perdi meu amor por sua causa e agora você tem que morrer! Falou o taxista pegando o machado na mão.

Belinha correu até a cozinha e se escondeu em baixo da mesa e quando Rômulo se distraiu, ela cravou uma faca em suas costas e pegou a chave do carro em seu bolso.

Correu novamente ao taxi e ao dar partida viu Rômulo entrar na frente do carro, e sem pensar jogou o carro sobre ele, prensando-o contra parede, fazendo a faca atravessar seu peito.

Belinha foi ouvida pela policia, mas sua versão foi tida como surreal e ela passou a ter acompanhamento psicológico, mas agora já se recupera do trauma.

E dessa forma duas almas vagantes foram para seu merecido lugar: as trevas.

Ricko Bellini
Enviado por Ricko Bellini em 05/04/2013
Código do texto: T4224696
Classificação de conteúdo: seguro