A PROCISSÃO

Nossa história se passa em Belém do Pará, no inicio do século XX. Noêmia, nossa principal personagem , contava 35 anos e acabara de herdar de sua avó, um grande casarão localizado em pleno Igarapé das Almas, próximo ao centro comercial onde a cidade começou a se formar.

Era uma casa muito grande e lá viveram por muitos anos, os avós de Noêmia. Diferente do caráter de seus avós que eram amados por todos, a dita cuja sempre foi muito encrenqueira, sempre gostou de fazer pequenas maldades com os vizinhos e com os animais dos mesmos, sempre que podia, se insinuava para os maridos das vizinhas, já vindo a ter vários casos, com aqueles onde a fidelidade não fazia morada.

Após a morte dos avôs, Noêmia passou sentir-se a toda poderosa, ela passou a ficar cada vez pior, seu amargor era tão grande que a vida alheia acabara por tornar-se um inferno, era impossível viver com aquela mulher.

Certo dia ela conheceu Jonas, um estivador de cais do porto, com quem passou a viver, homem muito forte e de uma estupidez que raiava as fieiras da bestialidade. As brigas entre ele e Noêmia, eram uma constante e por diversas vezes ela foi espancada e por vingança, ela por duas vezes seguidas o esfaqueou quando ele estava dormindo, Noêmia sempre dizia: - um dia ainda mato você. Era ela falar isso, que a porrada comia de novo e assim eles viviam em seu inferno, fazendo da vida de seus vizinhos um total desassossego.

Noêmia um dia levou tanta porrada na cabeça, que acabou indo parar no hospital e quando retornou, estava diferente, mais taciturna, dava a impressão de ter ficado meio abobalhada. Mas não se enganem não era nada disso, é que em sua alma apodrecida em tudo que não prestava, passou a crescer o desejo de matar Jonas, de fazê-lo pagar por tudo que ele havia feito com ela e assim, ela o fez.

Numa segunda feira, após ter passado o final de semana bebendo, Jonas retornou para casa, com sua rispidez característica, gritou com Noêmia, exigiu comida e foi deitar-se, ela fez tudo com tranqüilidade, ele achou estranho ela não balbuciar uma reclamação sequer, mas como estava muito cansado, não deu muita atenção.

Noêmia esperou ele dormir e não contou conversa, na manha antes de Jonas retornar, ela havia comprado um pouco de chumbo, que ela agora, havia derretido, aproximou-se de onde Jonas estava deitado e despejou o chumbo derretido, dentro do ouvido dele. Só deu tempo dele acordar desesperado, sentindo sua cabeça cozinhar, parecendo que ia explodir, segundos depois estava morto.

Noêmia tranquilamente pegou uma faca e foi cortando Jonas em pedaços, tudo bem pequeno e tratado como se fosse carne de algum animal. Naquele tempo havia muita escassez de alimentos e ela resolveu dar os pedaços de Jonas, aos velinhos de um asilo próximo a sua casa, como se estivesse dando carne de boi.

Receber aquela carne foi tudo de bom, e a mesma foi preparada pelas cozinheiras do asilo. Naquela mesma noite, após terem comido a carne, 27 velhinhos vieram a falecer, por conta da carne contaminada.

Noêmia soube da noticia e fez pouco caso, ate riu do acontecido e disse para si mesma: - Foi até bom, acabei por fazer um favor aqueles desgraçados que só estavam ocupando lugar nesse mundo e apodrecendo em vida. Depois deu risadas como uma louca e foi deitar-se.

Meses se passaram e ninguém deu por falta de Jonas, pois para a vizinhança ele era um entojo, só mesmo no caso dos velhinhos, que a policia estava investigando, mas sem ter sucesso algum. Por volta de 01:00 de domingo, Noêmia acordou com uma forte chuva e foi olhar o tempo pela janela, quando deparou-se com uma grande procissão que passava em frente sua casa, ela achou aquilo tudo muito estranho, como poderiam estar fazendo uma procissão a uma hora da manha e debaixo de chuva e ainda com as velas acessas. O sangue de Noêmia muito frio e calculista, a levou a aproximar-se da procissão e foi chegando cada vez mais perto das pessoas, notou que elas estavam esquisitas e de cabeça baixa, ela tentou falar com alguns e perguntar do que se tratava, mas não obteve resposta.

Intrigada com aquilo, foi seguindo a procissão que parou em determinada rua, agora um tanto desconhecida, quando uma senhora de aspecto horripilante aproximou-se dela e lhe chamou pelo nome: - Noêmia, você não queria saber do que se tratava a procissão ? imediatamente ela acenou afirmativamente com a cabeça, agora seu sangue frio dava lugar a um medo que ela desconhecia, seu corpo tremia e ela aguardou pela resposta da velha, que falou o seguinte: - Essa procissão é para você, para que purifique sua alma pútrida e pecaminosa, você não esta nos reconhecendo? Ela deu uma olhada mais aprofundada e percebeu que se tratavam dos velhos do asilo que ela havia dado a carne estragada do corpo de Jonas, agora todos eles já a cercavam, ela gritava como uma louca e tentou sair daquele inferno, mas não deu tempo, ela foi acorrentada pelos espíritos dos velhos que lhe disseram: -Você nos acompanhou ate aqui e agora esta condenada a vagar conosco, ate que sua alma seja purificada, nesse ínterim ela gritava desesperada por socorro, quando surge a sua frente, Jonas, que lhe ri debochadamente, coloca-se ao seu lado e segura firmemente as correntes. Ela enlouquece e segue gritando por socorro....e assim a procissão segue seu cortejo macabro.

Muitos anos se passaram, as pessoas fizeram pouca procuração de Noêmia e nada encontraram, mas como disse antes, quem queria saber para onde ela foi, melhor que tivesse ido para o inferno diziam alguns, uma praga como aquela, foi uma benção ter sumido.

Ate os dias de hoje um ou outro morador da área onde residia Noêmia, diz ter visto passar por volta de uma hora da manha, uma grande procissão e que no meio dela parecia haver uma mulher acorrentada que gritava por clemência.

......Por via das duvidas os moradores que tiveram esse desprazer, voltavam a dormir e diziam para si mesmos: - Foi só um pesadelo, ahahahahahhahahah.

Tony Monteiro
Enviado por Tony Monteiro em 29/05/2013
Reeditado em 30/05/2013
Código do texto: T4316095
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