Pequenos flocos de alegria

Retirou sua máscara de gás e estendeu a língua para fora da boca, deixando o pequeno floco a tocar. Estava curioso para saber qual era o gosto da cor branca.

Fez cara feia. Era gelado sim, como esperava, porém também era azedo. Limpou a boca lambendo as costas da mão e recolocou a máscara. Olhou para cima e deixou a nave grudar no verde vidro que protegia seus olhos.

Abriu os braços.

Começou a dançar.

A espingarda em suas costas atrapalhava um pouco seus passos, porém desajeitadamente conseguia dançar como um gracioso elefante bailarino. Seus feridos lábios sorriram. Estava feliz, sempre fora feliz na verdade.

Um estranho som quebrou o silêncio.

Parou bruscamente e ficou de pé olhando na direção onde um sentado espectador o aplaudia. A desconhecida pessoa se levantou e ainda aplaudindo dirigiu-se até o agora imóvel dançarino. O barulho ecoava entre os prédios da destruída e agora coberta de neve cidade ao fundo, sendo o único som que quebrava o fantasmagórico silêncio daquela desolada paisagem.

Os pequenos e redondos vidros das máscaras, de uma verdes e da outra vermelhos, se fitavam.

“Tenho que dizer que você até tem habilidade” Disse com uma leve risada e com uma das mãos em cima do coldre de seu revólver. “É bonito não é?” Ele levantou o braço livre e olhou para cima. “É sempre tão boni-“.

A força exercida em seu peito o fez tombar.

Sangue pintava o puro e branco chão, esvaindo-se por seu peito e pescoço. Apertou suas feridas como se quisesse arrancar os quentes pedaços de metal que o atingiram. Por trás daquela estranha máscara de vermelhos vidros, o homem soltou um ganido de surpresa e parou de se mover.

A espingarda em suas mãos soltava uma fina linha de fumaça. Guardou-a em suas costas e dirigiu-se até o corpo do agora morto “homem vermelho”. Levantou-o...

... e começou a dançar.

O “casal” movia-se desgraciosamente de um lado para o outro, pintando, com pequenas rajadas, a neve de vermelho. Bailavam deixando trilhas na neve por onde passavam, em uma romântica dança que só o que dentre eles estava vivo conseguia imaginar.

Olhou para cima e novamente sorriu.

Adorava aqueles pequenos flocos brancos que caíam do céu.

Pequenos flocos de alegria.

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