PARA QUEM DEIXO MEU CADÁVER DTRL

São Paulo, 13 de novembro de 1992

Ali no canto da parede parecem me encarar, malditas baratas, com suas antenas me examinando, desejando meu cadáver, sabem que meu fim está próximo, ainda não terão esse gostinho, não ainda.

Essa casa já fede a carniça, o velho relógio faz um barulho anormal, cada passagem dos segundos ecoa uma fúnebre contagem regressiva, aqui na mesa da cozinha onde estou sentado, observo os ratos no canto da parede farejando meu fim.

Se você está lendo isso caro leitor, meu último esforço de deixar essa carta deu certo, meus velhos dedos franzinos conseguiram desenhar ainda as letras que há tempos não faziam.

Pensei muito em que escrever, o porquê minha mulher está ali na cama, decapitada, o maldito amante aberto ao meio. Já tentei algumas vezes puxar esse gatilho, as forças não são suficientes, ou esse maldito gatilho está emperrado.

Querem o que? o clímax logo? esse conto não tem clímax, não sei se é um conto ao certo, deve ser um conto sim pois quem conta sou eu. Então deixem de ler se não interessa mais, ou leiam, por apenas pura curiosidade.

Matei sim minha mulher, usei a faca que usávamos no churrasco dos fins de semana, um único golpe em seu pescoço, o sangue respingado em minha boca, dava-me momentos de frenesi, com o segundo golpe cortei todo o corpo daquele verme, fui traído na minha própria cama.

Não tinha nenhum copo de cachaça em casa, a única garrafa de vinho escapou da minha mão e seu liquido esparramou-se pelo chão, misturando-se com o sangue, dois líquidos vermelhos distintos.

Gostaria de saber como isso irá acabar, sei que vou morrer, mas como? se a arma ainda não funciona?

São Paulo, 20 de novembro de 1992.

Boa noite caro leitor, sou o oficial da polícia militar do estado de São Paulo, Caio Castro. Tomei a responsabilidade de escrever o resto dessa carta.

O senhor Alfredo Jardim, foi encontrado morto nessa manhã, vizinhos alegavam um cheiro muito forte vindo da casa dele, a policia foi avisada e chegamos no local e vimos a seguinte cena:

Estava ali deitado com um sapato agarrado em suas mãos, haviam muitas baratas mortas esmagadas, provavelmente o porquê do sapato, em cima da mesa encontrava-se um pote de veneno chumbinho e 4 ratazanas mortas ao redor, relendo a carta vi que ele não queria deixar seu cadáver para eles.

Devem estar se perguntado como ele morreu, foi de uma forma estranha. Ele cortou a mão da mulher, encaixou-a no gatilho da arma junto com a sua, um disparo aconteceu acertando sua cabeça.

Essa carta será arquivada na central da polícia militar ou entregue á família.

Sem mais.

Eduardo Junio.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 13/06/2013
Código do texto: T4340461
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