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Capítulo I           Capítulo II        Capítulo III        Capítulo IV  


   Nádia olhava para Max esperando que esse desse uma resposta positiva.

 - Eu também não estou entendendo nada! – Deu ele de ombros apertando o play do gravador.

  “Um dos quatro da terra o inicia enquanto um mudo separa 19 de 20 , os convidando para dançar ao lado desta cadeira minúscula, até que o erro perca suas vogais e se torne uma só consoante findando a sua busca... Vocês tem uma hora Max! Repetia aquela voz mecânica.”

 - Um dos quatro da terra o inicia? O que seria isso? – Perguntava Nádia.

 - Bem, um dos quatro da terra? Vejamos, a terra tem quatro letras distintas; T , e, r, a. Será isso? – Refletia Max.

 - Pode ser! Mas parece obvio demais! – Disse a garçonete.

 - Um mudo que separa 19 de 20? Pode ser uma letra muda como o B em abstrato, mas e a dança ao lado desta cadeira minúscula? Não faço a mínima idéia do que isso significa – ele continuou.

 - Nem eu! Realmente isso ta com cara de jogo, fase três, geralmente é um nível intermediário. Está dificultando as charadas. Com certeza ele deve estar se divertindo com isso – pensou Nádia.

 - E esta parte; até que o erro perca suas vogais e se torne uma só consoante, findando sua busca – Max insistia incansavelmente.

 - Essa parte ta fácil. Tiram – se as vogais de erro, restam RR, uma só consoante seria então o r. Agora, findando sua busca? Será essa a última letra do nome ou “busca” seria um código nessa charada? Por fim o que temos? – Indagou Nádia.

 - Bem, pelo visto quase nada. Você parece ter encontrado uma charada a sua altura, o desgraçado realmente nos pegou nessa! – disse o pai, desesperado por salvar o filho.

 - Sim, mas temos muito tempo. Vamos nos sair bem – Ela tentou parecer otimista – estou com uma sede danada – completou.

 - E eu com fome. Mal comi dois pedaços daquele Hambúrguer.

 - Que tal um lanche? – Nádia sugeriu – Enquanto isso, analisamos essa louca charada.

 - Sim, vamos – E seguiram até o carro, entraram e Max deu partida.

...

 Uma hora atrás o corpo de bombeiros acabava de conter o fogo na casa de Max , o mesmo incêndio que propositalmente ele havia  iniciado. Um carro da policia chegava e dele descia um homem negro alto usando um blazer preto. O local estava isolado, os primeiros policiais já tinham entrado. Um gordo de farda estava a porta.

 - O que vocês encontraram – Perguntou.

 - Churrasco – Ironizou o guarda.

 - Ah sim, churrasco – olhou nos olhos do guarda, um olhar quase sombrio – Veja bem amigo, estou te fazendo uma pergunta simples e clara. Não estou aqui pra ouvir suas piadinhas, preciso apenas entender o que aconteceu nesta casa, quantos corpos há, e como este incêndio ocorreu.

  O guarda olhou para ele, e sentiu medo naquele olhar.

 - Não encontramos corpo nenhum. Apenas – Ele dizia.

 - O que? – Perguntou com a voz firme.

 - É melhor subir comigo – convidou.

  Ele o seguiu, subiram as escadas em meio aos escombros e chegando ao quarto de Bernardo, ele apontou pra parede. E algo ainda estava lá desenhado, por sorte um dos poucos lugares que o fogo não atingiu. O policial negro olhou para o desenho. Havia uma palavra escrita abaixo. “OUÇA” em letras maiúsculas.

 - Ok, amigo. Belo trabalho – Andou pela casa tentando entender todo o cenário e viu um bombeiro, um jovem bombeiro que ainda estava por ali.

 - E aí, o que descobriu? – Perguntou.

 - O fogo parece ter vindo daquele quarto – Andaram e seguiram até a suíte, depois entraram.

 - Veja isso – O bombeiro mostrava os sinais de arrombamento da porta do banheiro.

 - Por que alguém arrombaria a porta do banheiro? – Indagou o bombeiro.

 - Esse não é o fato mais importante, amigo. O que há para se notar é que se alguém arrombou a porta, então havia alguém aqui, e o corpo onde está? E se esta pessoa se salvou por que simplesmente não chamou por vocês? Temos um mistério aqui, um grande mistério – ele concluiu.

  Um objeto agora chamava a atenção do bombeiro. Um resto queimado no chão do banheiro. Era um pedaço pequeno, mas dava para ler parte da palavra.

 - O que é? – Perguntou o policial.

 - Veja isso – Disse abaixando-se e pegando o objeto com uma luva. Havia algumas letras legíveis “lcoo”.

 - O que poderia ser isso? – Perguntou o policial.

 - A única palavra que queima com dois o’s – respondeu o jovem.

 - Não entendi? Opa! Agora sim. Álcool! Então o incêndio foi proposital?

 - Sim. Provavelmente – respondeu o perito.

 - Muito bem! Obrigado pela colaboração – O policial andava pelo quarto, olhava pelos cantos a procura de alguma pista – Mas o que significa isso? “OUÇA”? Ouvir o que?  - pensava o policial – Onde estavam as três pessoas que moravam ali?

...
 

 - O que vão comer? – Perguntou o rapaz.
 
 - Uma porção de filé com fritas, por favor – Respondeu Max.

 - Para dois? – questionou o garçom.

 - Sim, e dois refrigerantes – ele respondeu.

 - Não, pra mim pode ser um Martine duplo – pediu Nadia.

 - Sim, senhora – o atendente respondeu e deixou-os.

 - Um Martine? – Surpreendeu-se, Max.

 - É muita morte pra um dia só! Acha mesmo que vou tomar
um refrigerante? – ela disse fazendo enquanto erguia as sobrancelhas.


 - Entendo – responde rindo pela primeira vez naquele dia.
 Estavam sentados em uma lanchonete no centro, de costas para uma televisão de plasma que ficava acima do balcão. Dez minutos haviam se passado, quando Nadia de repente se levantou da cadeira.

 - Meu Deus! – Espantou-se levando a mão direita a boca.

 - O que foi? Sente-se! – Sussurrou Max.

 - É você! – ela soltou.

 - Eu? Onde? – Disse virando o corpo.

 - Nossa! É minha casa! – Max agora olhava para
televisão. Havia uma repórter noticiando o estranho acidente e desaparecimento das três pessoas que moravam na casa. Os corpos simplesmente haviam desaparecido em meio as chamas.


 - Detetive Sales, pode nos dizer o que aconteceu aqui. Há boatos de que o incêndio foi proposital.

 - Não são apenas boatos! – O policial respondeu rispidamente.

 - Pode ser um golpe do seguro? – A repórter investigou.

 - Sem chances. O que aconteceu aqui ainda é um mistério, entretanto logo descobriremos e encontraremos essas pessoas – disse com voz em tom de confiança.

 - Acha que eles estão vivos? – ela insistiu.

 - Eu nunca acho nada, só digo o que sei senhorita Alves. E o que sei até agora é que há muito o que se fazer. Se me dá licença – E o policial saiu andando em direção ao carro.

 - Esta foi Sara Alves do Jornal da Cidade. Aguardem o próximo boletim de informações sobre este misterioso caso a qualquer momento.

  Max olhava para Nadia, agora sem entender o que havia ouvido na T.V.

 - Não entendo. Onde está o corpo de Daniela? Eu a deixei lá, morta, no quarto – disse pensativo.

 - Mas eles disseram que não havia nenhum corpo – disse Nádia.

 - Mas eu a deixei lá – os olhos de Max lacrimejaram.

 - Uma coisa é certa, Max, agora há uma foto sua passando na T.V., o que vai fazer? – disse.

 - Este não é o fato mais importante Nadia. Eles ainda não encontraram o corpo de Jonas, nem o pessoal da lanchonete, tampouco o Senhor Ivo.

 - Mas logo encontrarão não é? – deduziu a moça.

 - Sim, e eu cometi um grave erro – Disse se lembrando de algo.

 - O que foi? – indagou.

 - Nossa, sou um idiota. Se eles chegarem lá, encontraram provas de que estive lá, e mais que isso, que tinha motivos para matá-los.

 - E o que vai fazer?

 - Temos que voltar lá – disse em tom de preocupação.

 - E a porção?

 - Peça pra viagem. Vou pagar a conta – E pagaram e saíram em disparada.

Os minutos passavam e a charada ainda não havia sido decifrada. O telefone tocou.

 - Diga – perguntou.

 - Onde vai?

 - Você quer que eles me prendam? É isso que quer? – Max estava furioso.

 - Do que está falando Max? – Perguntava a voz assustadora.

 - Das provas que eu os matei. Os papéis assinados, as cópias da chave de minha casa esparramadas pelo chão do sitio do Ivo. São ótimos indícios pra que me torne o principal suspeito, não?

 - Fique calmo, Max. Ainda não quero que seja preso. Você terá tempo pra resolver tudo isso – disse a voz.

 - Minha foto está na T.V. idiota. O que fez com o corpo de minha mulher? Logo eles encontraram Jonas e Ivo. E quem será o suspeito?

 - Você é muito bom Max, mas não se preocupe com isso. Salve seu filho! – insistiu o assassino.

 - Eu vou salvá-lo, pode ter certeza, mas não serei preso!

 - É o que veremos amigo! Mas sou eu quem faz as regras. Não se esqueça disso!

 - Nem sempre! – desafiou Max, desligando o telefone. O suor escorria de sua testa, estava nervoso, e o assassino estava ligando de novo.

 - Atenda Max! – Disse Nadia.

 - Não! – ele ignorou.

 - Mas e o Bernardo? Ele pode matá-lo.

 - Não, não vai! Ele não pode simplesmente acabar com minha vida assim. Não haverá mais jogo se ele matar o Bernardo.

 - Mas se ele não te deixa falar com ele. Como saberá se ele está vivo ou não? – Nádia advertiu.

 - Ele não deixava! Agora eu é quem digo! As regras mudaram Nadia!

  Eles seguiram rumo a casa de Jonas, Max acelerando o carro cada vez mais. Os sentimentos e razão entravam em conflito. Pensava se haveria feito a escolha certa. E se o assassino simplesmente matasse o Bernardo, mas não podia pensar nisso. Era uma escolha e ele precisava tentar.

  Max dirigia o carro, concentrado, tentava transparecer toda tranqüilidade e autocontrole possíveis, mas Nadia parecia saber o que se estava passando em sua mente.

 - Vai dar tudo certo, Max. Você tem razão. Ele não vai matá-lo – Disse ela com a mão sobre o ombro dele e podia sentir os músculos tencionados do homem – Você agiu muito bem, é, realmente não pode ser preso.

 - Obrigado – respondeu engolindo em seco todo seu medo.

  Depois de doze minutos eles chegaram até a casa de Jonas.  Olharam ao redor, mas não havia polícia, apenas crianças brincando na rua e os carros passando para um lado e para o outro. Desceram e chegaram até a porta. Max pegou sua blusa e enrolou-a na mão, evitando que deixasse suas digitais na maçaneta. Correu até a sala e olhou ao redor, mas o corpo havia desaparecido. Não havia nada mais ali, os papéis, a faca, tudo havia sumido. Ele não entendia o que estava acontecendo. Olhou pro ventilador. Não faltava mais o parafuso. Ele estava no mesmo lugar. As paredes estavam limpas. Estava tudo perfeito. Naquele momento sua enxaqueca voltou.

 - Onde está o corpo? – Perguntou Nádia.

 - Estava aqui. Estava tudo aqui. O que está havendo? – Perguntou Max massageando a própria cabeça.

  Vamos embora Max. Tem algo errado. É melhor irmos para o Sitio.

 - Sim, vamos – Concordou enquanto se virava para a porta de saída. Vamos sair daqui.

  Antes de fechar a porta Max ainda olhou para traz procurando algo, mas não via nada. Eles seguiram em direção ao carro, entraram e partiram em direção ao sitio.
 
 - O que está acontecendo? – Se perguntava Max – Onde está Jonas?

  O tempo passava muito rápido. Ele estava preso em seus pensamentos. Até que Nádia o despertou.

 - Max. Entre 19 e 20, letra 19 e letra 20 do alfabeto! – deduziu.

 - Como?

 - Letras 19 e 20.  Letras S e T – ela revelou.

 - S e T? Um mudo entre estas letras. Mas como? – Max pensava.

 - Ainda não sei. Mas ainda está faltando algo. Ele está nos atrasando de alguma forma – A garçonete se empenhava ao máximo.

 - Bem, mas já foi um grande progresso. Tenho que pensar em nomes de homens com S e T no meio e que se iniciem com uma das quatro letras; T, E, R ou A.

  - Isso!

 - Mas falando sério. Não vem ninguém a minha mente – disse pesaroso.

 - Tudo bem! Vamos devagar.
  Agora Max dividia seus pensamentos entre a charada e o desaparecimento dos corpos. Mas nada se encaixava.

  Enfim chegaram a rua do Sitio. Max parou o carro e ambos desceram, entraram e correram para a estufa.

 
 - O que é isso? – Perguntou Nadia.


 - Onde está o maldito corpo? – Max pensou alto.

 - Também não vi nenhuma chave no caminho. E os vasos quebrados?

 - A estante ainda está amassada pela queda. Mas não há bagunça. Vendo ela ali no canto é como se nunca houvesse acontecido nada aqui – Max não conseguir pensar em uma resposta lógica.

 - O que está havendo, Max?

 - Não sei. Vamos verificar a porta. Ver se o desenho ainda está lá.

 Eles seguiram procurando por alguma chave ali. Mas não acharam nada. Chegaram até a porta. Max novamente enrolou sua camisa nas mãos e abriu a porta. Quando olharam não se surpreenderam. Não havia mais nada.

 - O que ele está fazendo? Só pode ser o assassino. Mas por quê?

  Max tentava raciocinar. Buscava algum motivo para ele retirar os corpos dali. Mas para onde os levava e por que se preocupava com isso? Aí se lembrou do que o assassino havia falado na ultima ligação.

 “Fique calmo Max. Ainda não quero que seja preso. Você terá tempo pra resolver tudo isso.”

 - O que foi Max? No que está pensando?

 - Ele está nos dando tempo.

 - Como?

 - Tirando a polícia do nosso caminho. Vamos sair daqui. Precisamos matar essa charada logo Nadia. Acho que ele está preparando algo muito pior. Estou com um mau pressentimento.

 - Vamos – Ela concordou.

   Ambos entraram no carro e o telefone voltou a tocar. Max atendeu e colocou no viva voz.

 - Alô?

 - Está satisfeito Max.

 - Onde estão os corpos? – questionou.

 - Fique calmo! Logo os encontrarão. Mas você ainda tem tempo Max. Mate a charada. Mate o terceiro. Finde sua busca. E logo encontrará o primeiro. A ordem dos fatores não altera o resultado do produto – disse a voz.

  - Encontrar o primeiro? Do que está falando? – perguntou Max.

  - Ajude-o Nádia e mantenham a cabeça no lugar, se privem das distrações. Senão quem vai morrer é o Bernardo. E pelo que vejo, ele já está perdendo as forças por aqui. Ele é como você Max, um guerreiro. Não desiste nunca – Fim de ligação.
 
 - Seu cretino! Eu te mato! – Mas Max falava sozinho.


 - Acalme-se Max! – Ele está bem.

 - Droga! Do que ele estava falando. Quem é o primeiro?

 - Esqueça-se disso Max. Ele tem razão. A charada tem distrações. Temos que esvaziar nossas mentes. Como você fez na lanchonete quando me salvou.

 - Tudo bem – concordou.

 - Um dos quatro da terra o inicia, um dos quatro... T E R A.

 - Não é isso! – Max pensou alto.

 - Como? – ela surpreendeu-se.

 - Aí são letras, então teria que ser uma das quatro. Ele está falando de outra coisa.

 - Quatro da terra? Quatro, quatro, quatro. Quatro elementos? – ela deduziu – Terra, fogo, água e ar!

 - Mas pra começar com um deles. Só há um que inicia nomes – disse Max – Ar! Mas tem vários nomes que se iniciam com Ar. Eu tenho uma fábrica se lembra, ou pelo menos tinha. Tenho clientes, fornecedores, duzentos empregados, parentes e amigos, fora outros conhecidos – Max suspirou.

 - Tudo Bem. Quanto tempo temos? – ela perguntou.

 - Agora restam 27 minutos – respondeu.

 - Bem, S e T são as próximas letras e R pode ser a final, se busca não for outro código.

 - Está muito confuso. Um mudo no meio? Uma cadeira minúscula? – Max pensava.

 - Ficaria Ars??tr. Faltam duas letras – concluiu Nádia – Dá pra pensar em alguém?

 - Ainda não. Não conheço nenhum nome que começa com Ars.

 - Ainda estamos deixando passar algo. Um mudo? Uma letra muda no meio. Uma cadeira minúscula – A garçonete tentava raciocinar

 - Peraí. Pense em letras, Nádia. Uma letra em forma de cadeira – ele sugeriu.

 - Em forma de cadeira minúscula – ela pescou o pensamento no ar e os dois se entreolharam e disseram ao mesmo tempo.

 - O H! – Ambos disseram juntos.

 - Isso Nádia. O H minúsculo. O “h” parece uma cadeira.

 - E também não tem som. Ele pode ser mudo. Junto com o C ele faz som de X, mas em hiato, por exemplo, é mudo, como em hoje. Mas e no nome? – Refletiu Max.

 - No meio de S e T não dá pra ter H – Concluiu Nádia.

 - Não dá mesmo – Concordou.

 - Então S e T estão errados. Não são 19 e 20. Não entendo – Os ombros dela baixaram.

 Max olhou pra Nádia. Ele parecia ter descoberto algo. Esperava que ela também tivesse sacado.

 - Lembra-se do que ele nos falou no fim da ligação, após essa charada?

 - Disse que tínhamos uma hora – ela tentou se lembrar.

 - Não, depois disso – Max continuou.

 - Bem , ele disse fase três, as regras mudaram – ela falou.

 - Isso Nádia! As regras mudaram.

 - Você acha que ele não se referia as regras do jogo? – perguntou a garçonete.

 - Regras ortográficas, ele falava do alfabeto – Max disse – estamos contando 26 letras. Assim 19 é S e 20 é T. Mas se contarmos 23 letras, regra antiga.

 - O 19 é igual ao T e 20 seria o U – Concluiu Nádia.

 - Então – Max instigou.

 - Ar inicia, T e U com um mudo no meio, dançando ao lado de uma cadeira minúscula, thu, erro perde suas vogais e se torna uma só consoante, r – Arthur, mas quem é ele?

 - É o médico de Daniela.

 - Como?

 - Vamos logo. O tempo está se acabando, Nádia.

 Eles saíram em disparada e pegaram a avenida principal. Max não sabia o que aquele homem havia feito para morrer.

 - O que você acha que ele fez?

 - Bem Nádia, o que sei até agora é que não conheço as pessoas que estão ao meu lado. Veja você. Há quanto tempo estamos juntos e mal sei realmente quem é.

 - Como assim? Eles mataram meu pai. Eu te disse.

 - Me desculpe, mas você está bem aqui do meu lado e pode muito bem estar do lado dele.

 - Entendo e não te culpo por isso, mas está entrando no jogo dele Max. Não perca sua sanidade. É a única arma que manteve o Bernardo vivo até agora, e a única coisa que o torna diferente dele – Aquilo fez Max pensar.

 - Eu não sou igual a ele. Não pense que senti desejo ao matar aquelas pessoas. Simplesmente não tive opção.

 - Eu não disse ou pensei isso, mas infelizmente Max você agora é um assassino como ele – ela observou.

 - Eu sei. Não fujo disso. Mas o que eu poderia fazer, Nadia?

 - Realmente não sei. Acho que nada diferente do que você fez até aqui. Salvar seu filho.

  Você é um bom homem Max e te ajudarei a vencer este jogo. Darei minha vida se for preciso para que salve o Bernardo.

  - Obrigado, mas esse sacrifício não quero que faça. Tire apenas este piercing horrível e decifre as charadas. O resto eu faço – Disse tentando sorrir.

 - Por que quer que eu tire o piercing? Ta querendo me beijar e com medo de se machucar – respondeu ela sorrindo.

 Naquele momento Max passou por cima de um quebra molas que não havia visto e o carro deu um pulo. Foi o necessário para que a conversa terminasse.

 - Estamos quase chegando – disse para Nadia mudando de assunto.

 - Qual é a casa dele?

 - Aquela verde mais à frente.

  Max estacionou o carro duas casas antes da de Arthur. Desceram e foram até a porta. Bateram e mais uma vez ninguém atendeu. Nadia olhou pelo vidro da porta e também não viu nada.

 - Parece não ter ninguém aqui – ela observou.

 - O jeito é entrar sem ser convidado e conferir – Respondeu Max.

  Ele enrolou um pedaço da camisa na mão e abriu a porta que estava apenas encostada. Ambos entraram.

  Não era a primeira vez que Max entrava naquela casa. Daniela já o havia levado lá, logo que ela havia começado o tratamento. Ás vezes a noite ela se sentia muito insegura, cheia de medos. E no inicio das terapias ele ia com ela até a casa do Doutor Arthur e ele conversava com ela.

  Arthur era um psicólogo novo, mas de renome apesar da idade. Ainda tinha 40 anos, entretanto havia conquistado grande credibilidade nesse meio.

  À sua frente o que Nadia viu foram belos e diversos quadros na parede, réplicas de obras conhecidas, como “Mona Lisa” de Da Vinci e “O Quarto” de Van Gogh entre outras belas obras.

  Era uma casa realmente linda. Eles continuaram, devagar. Max sempre na frente, Nadia espiando por sobre seus ombros, entraram na sala de T.V, uma enorme T.V. de plasma na parede, abaixo havia um DVD, mais a frente uma mesinha de centro.

  Max procurava pelas paredes alguma marca. Olhava para o teto, mas não encontrava nada ali. Nadia viu algo encima da mesa de vidro no centro da sala e andou naquela direção. Estava envolto em um plástico, mas o vermelho era irreconhecível, era sangue.

 - Aaaaaaaaaaaaa! – Gritou Nadia.

 - O que foi? Está louca! Não grite aqui!

 - Mas é um dedo humano – Era um dedo cheio de sangue.
Ele estava sobre um DVD, no DVD estava escrito “Veja”!

 - O que há neste DVD? – ela perguntou.

 - Não faço a mínima idéia! – Max o pegou segurando-o pela sua capinha de plástico e colocou no DVD, esperou que o menu principal aparecesse e em seguida apertou o play. O que viu a seguir o deixou paralisado, sua mente o transportou para o primeiro dia em que ele a havia levado no escritório.

 - Bom dia! O senhor deve ser o Max?

 - Sim, sou.

 - É um prazer conhecê-lo.

 - O senhor pode ajudar minha esposa?

 - Bem, como conversamos pelo telefone, lhe disse que meus métodos não são nada ortodoxos, mas em contra partida são mais eficientes.

 - Então o senhor pode ajudá-la?

 - Vou me esforçar ao máximo.

 - Querida? Você quer mesmo fazer isso? – Max olhava para Daniela.

 - Não sei. Tenho medo, estou muito confusa, mas quero tirar estas imagens de minha mente – e então ela surtou – Quero que você saia logo daqui seu cretino. Suma daqui. Saia, saia, saia seu monte de merda! – Daniela havia ficado descontrolada. Saiu de si, como em tantas outras vezes nos últimos meses. Os dois a seguraram e o doutor aplicou uma injeção nela. Ela simplesmente apagou.

 Max voltou a olhar o vídeo despertado pela voz de Nadia.

 - Quem é ela?

 - É Daniela!

 - E ele?

 - O desgraçado é o Arthur – respondeu rancoroso.

 - Meu Deus! Que horrível!

 - Eu vou matá-lo!

 Por fim a gravação terminou e a tela ficou azul. Max já havia se virado para adentrar na casa, quando Nadia ainda olhava para a TV.

 - Max veja isso – ela chamou.

 - É o Bernardo!

 - Estou bem pai! Obrigado pelo que está fazendo. Gostei de saber que conseguiu ajuda. E para ter certeza que ainda estou vivo acabei de vê-lo sentado numa lanchonete com essa aí do piercing. Bonitinha ela pai. Vê se não demora. E se esta for a ultima vez que nos falarmos pai. Eu quero dizer que te amo muito e que sempre estarei com você. Fim de mensagem

  Era uma gravação, a única coisa que Max e Nadia puderam ver foi o queixo e a cabeça de Bernardo, um tipo de corda ou fio que não dava pra distinguir direito, pois a gravação estava péssima. Só poderia ter sido feito de um celular. A voz ofegante, ele lutava pra não ser enforcado. Não dava pra saber onde ele estava. Mas dava pra ter certeza que ele estava vivo.

 - Então você conseguiu – Disse Nádia.

 - Que alivio. Ele está vivo. Agora tenho que manter ele assim. Vamos!

  Eles seguiram para dentro da casa e logo entraram no corredor que dividia os cômodos. Lá estava ela na parede. Uma forca desenhada a sangue e uma seta apontando para cima.

 - Eles olharam para o teto, mas não havia nada. Eles começaram a andar, quando ouviram um barulho no teto. Por cima de suas cabeças e Nadia disse.

 - Aquilo é uma porta? Era uma espécie de porta sim, que dava em um sótão. Algo fazia barulho lá encima. Max andou até o outro cômodo e encontrou uma escada de abrir. Abriu ela debaixo da porta e subiu, empurrou-a e abriu-a entrando no sótão seguido por Nadia. Foi quando eles viram o homem a sua frente.

 - Meu Deus! Esse é o Arthur? – Perguntou Nadia.

 - Sim, sou – O próprio Arthur respondeu com a voz abafada pela corda que envolvia o pescoço.

 - Parece que você está mal hein – Ironizou Max.

 - Ainda vai piorar não é? – perguntou certo de seu fim.

 - Pelo que eu vi no vídeo amigo, acho que você está atolado até o pescoço – ironizou Nadia.

 - Quer que eu cuide dessa aí também Max? – Disse ofegante.

  Max fechou seus punhos, se aproximou de Arthur, e deu-lhe um soco em cheio no rosto. Por um segundo Arthur se desequilibrou e ia caindo quando Max o segurou.
 
 - Você é doente seu cretino! Não pense que vai morrer assim tão fácil. Ainda temos alguns minutos.

  Nadia olhava para ele, que estava descalço, nu como os outros, porém com um dedo médio a menos na mão esquerda. Estava sobre uma mesinha de vidro com 30 cm de altura, era a conta de encostar seus pés sobre ela. O pescoço e as mãos estavam ensangüentadas, não só pela falta do dedo, estavam viradas para trás, quebradas, e arranhadas por algum tipo de instrumento cortante. Elas estavam soltas no ar e ele mantinha seus braços abertos para que elas não encostassem no corpo.

  Diferente dos outros dois além das cordas amarrando seu pescoço, havia um balde amarrado em uma peça de madeira acima da sua cabeça, estava preso a corda de seu pescoço de modo que quando ele descesse o liquido cairia sobre o corpo ferido, as costas estavam marcadas a chicotadas, o sangue escorrendo das feridas. No chão havia uma mascara negra daqueles antigos carrascos. Em seu peito a sangue estava escrito:
Não o perdoe papai!

 - Ele quebrou suas mãos e te chicoteou? Pela primeira vez admito que me simpatizo um pouco com ele – Max disse – O que acha que há no balde? Pelo cheiro é álcool – deduziu.

 - Vai me matar agora? Ou vai ficar aqui curtindo sua vingança? – Disse o Doutor olhando com os olhos cheios de medo, mas esperançosos no fim de todo aquele sofrimento.

  Ele suava feito um porco. Seus pés patinavam levemente pela mesa num misto de suor e sangue. Não era para menos, além do esforço que fazia, lá naquele sótão ardia em calor. Mas o vidro da mesa não agüentaria por muito tempo. E mesmo querendo morrer logo ele ainda não tinha coragem de forçar o vidro e se matar.

 - Espero que vá direto para o inferno pelo que fez com Daniela.

 - Eu não vou estar lá sozinho, Max. Ela vai estar lá comigo – O pescoço sangrava enquanto falava.

 - Pela altura que você está amarrado, sua morte será lenta. Irá sofrer muito mais do que imagina. Irá sangrar, se debater e não irá morrer tão facilmente, seu maníaco – Max bufava de ódio – O que pensava que estava fazendo com ela? A dopando? Você é um idiota. Seu tratamento só a piorou. Você arruinou a vida dela ainda mais. A fez sofrer.

 - E você a me entregou facilmente. Como ela era linda. Ela mereceu tudo aquilo Max. Ela era de uma beleza rara e você não fez nada, nada mesmo. Você é um idiota. Ela se entregou para mim tão facilmente, tão facilmente – dizia o médico sem nenhum escrúpulo.

Nadia viu a expressão no rosto de Max e fechou seus olhos.

 - Ele está certo. Há um câncer aqui. E vou extraí-lo agora. Arrancá-lo de seu corpo, verme – Bradou.

 - Ande logo! – Gritou em desespero, a saliva saltando da boca.

 Max se aproximou de Arthur e cuspiu na cara dele, depois subiu na mesa de vidro. O móvel não resistiu e os pés afundaram, quebrando-a.

  Max estava no chão a centímetros de Arthur que se debatia feito um animal, suspenso no ar, o corpo trêmulo. O doutor gritava, os olhos se revirando enquanto ele mordia a própria língua desesperadamente. A cena era assustadora, o álcool penetrava nas feridas, nas mãos e no pescoço ensangüentado. A agonia era tanta que ele levava as mãos quebradas até a corda tentando tira-la do pescoço, com isso seu sofrimento parecia aumentar já que a tentativa era em vão.

 Por fim levou os braços na direção de Max, que se afastou um pouco para que ele não o tocasse, o médico doentio não conseguia pedir ajuda mais, estava sendo estrangulado, diferente do que acontecia quando as quedas eram mais altas, ele estava apenas a 25 centímetros do chão.

  Max o olhava em nos olhos, ele tentava encarar Max, tentava se salvar, mas o sarcasmo já não existia, ele não tinha forças para nada. Naquele momento Max fechou os olhos e as imagens do vídeo voltaram a sua mente, Daniela, estava amarrada na cadeira do consultório, desmaiada, dopada, nua, ele lá a beijando, acariciando. E um pouco depois a vestia novamente como se nada tivesse acontecido. Era um maldito doente. Daniela acordava e ele dizia apenas; “A seção terminou, querida. Você desmaiou de novo, mas as drogas estão fazendo efeito. Quarta - feira continuamos. Logo você o esquecerá”.

 Com o rosto ainda cheio de uma ira insana, Max olhou novamente para Arthur que agora se debatia menos, apenas alguns tremores, a vida esvaindo-se aos poucos, a respiração fraca, apenas suspiros que se comportavam como soluços. O pescoço não quebrou por causa da altura, mas estava roxo. Max o acompanhou até o fim. Viu a língua sangrando, cada passo daquela execução, até que o homem não se moveu mais, e a respiração não existia, no fim os olhos jaziam esbugalhados e apagados, sem vida alguma. Max continuou ali, inerte, até que Nadia o chamou.

 - Vamos Max! Vamos sair daqui!

 - Vamos – Concordou, virando-se pra ela. E eles desceram a escada.

 - Tudo bem com você? – Perguntou Nadia.

 - Tudo. Me desculpe pelo que estou te fazendo passar – a voz chegou num tom nostágico.

 - Fique firme, Max! – disse ela. E então o telefone tocou.

 - Diga a charada – Max cuspiu.

 - Bravo Max. Muito bom mesmo. Viu como a ordem dos fatores não altera o resultado do produto. Ele foi um dos primeiros, Max, e agora está sendo um dos últimos a morrer.

 - Lhe agradeço por esse. Ele merecia, assim como você – Max ameaçou.

 - Sim, concordo. Como os outros dois também.

 - Qual a charada?

 - Vou te dizer logo, mas cuidado ao sair de casa. Ligue o gravador.

 - O que quer dizer com isso? Cuidado?

 - Bem vindos a fase IV! Lá vai Max: Por fim cantaram tanto que acabou-se o ano, um grilo cantou uma vez, uma vez o grilo então cantou, depois começa o sapo, e deu um tititi danado. Descubra o nome ou o Bernardo acabara sendo enforcado! Fim de ligação.

 - Max – chamou Nádia.

 - Oi.

 - Acho que a charada terá de esperar – Nadia olhava entre as cortinas, pela janela. Cinco viaturas policiais estavam paradas em frente a casa. Um policial negro estava com um telefone na mão.

 O telefone da casa tocou.

 - Nadia, atenda!

 - O que? – Ela indagou surpresa.

 - Atenda logo – ele ordenou.

 - Alô? – atendeu.

 - Aqui é o Detetive Alex Sales. Saiam com as mãos para cima. A casa está cercada. Vocês tem cinco minutos.

Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 19/07/2013
Reeditado em 19/07/2013
Código do texto: T4394724
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