“O medo ressuscita fantasmas que sequer morreram”

  Tal qual o som de um coração pulsante em um filme de suspense as batidas ocas chegaram aterrorizantes naquele cubículo funesto em que Carla estava. O som repentino surpreendeu-a de tal forma que ela gritou em meio a angustiante sensação de isolamento em que se encontrava. Ouvindo o estranho som, baixo e ao mesmo tempo aterrorizante Carla abruptamente entrou em pânico.

  - Aaaaaaaaaaaaaaahhh!!!

  As batidas na madeira  continuavam a chegar breves e assustadoras. Não bastasse isso sentiu algo encostar-se a sua perna como se fosse um inseto a rastejar por sua pele. A sensação de desconforto e repulsa veio iminente enquanto ela debatia-se e seus joelhos tocavam o teto do caixão. Carla estava apavorada, sentiu-se em uma cena de filme de horror, e naquela escuridão tentava enxergar através do fio de luz amarelada e fraca que a lanterna em sua mão produzia. Com imensa dificuldade, vista a posição em que se encontrava, mal conseguia avistar seu próprio umbigo. 

  Em completo nervosismo, Carla começou a chutar e esmurrar a tampa do caixão, enquanto a poeira da terra entrava pelas juntas da madeira e ela gritava em total desespero.

 

 O jogo da Forca –  Capitulo IV – Fase II – Entre o medo e a loucura

  - Preciso de sua ajuda, Nádia – Max disse enquanto a abraçava. Ela o retribui o gesto, percebendo que a roupa dele estava cheia de sangue. 

 - Estou aqui Max, fique calmo! Ta bem? – Ela disse enquanto o puxava para dentro de casa notando que ele estava completamente abatido.

   Ele sentou-se enquanto as lágrimas surgiam. Nádia caminhou até a cozinha e pegou café, levou até ele, que agora massageava a cabeça na região acima de seus olhos. Sua enxaqueca havia voltado e Max sabia que os minutos passavam rápidos demais. Olhou no relógio e como se sentisse que havia acabado de perder o primeiro round de uma luta, esfregou os cabelos da cabeça e em seguida desferiu um murro na mesa de madeira à sua frente.

 - Aaaahhhh! Desgraçado de uma figa! – Ele disse vendo que os primeiros dez minutos haviam se passado.

  Nádia chegou até ele, estava assustada com aquela situação. 

 - Tome isso, Max – Ela disse entregando o copo para ele e um comprimido para dor de cabeça. Max olhou-a confuso. Pensava em como ela podia saber tanto dele em tão pouco tempo.  Engoliu o comprimido enquanto sentia seus olhos pesarem e o café escorrer morno por sua garganta. Nádia estava ali, vestida normalmente, mas ainda assim era dona de um belo corpo.

  Se tudo não estivesse àquela bagunça, certamente ele teria outras intenções. A medida que Nádia falava, o piercing aos poucos se revelava em sua boca. Max estava exausto, mas ainda assim ela o deixava louco.

 - Max, o que está acontecendo? Que sangue é esse? – Ela perguntou temerosa da resposta que viria a seguir e ainda lembrando-se daquele maldito sonho. “Acorde para uma nova batalha”. Não pode ser? – Ela pensou, enquanto a resposta chegava de imediato, como se Max estivesse a ouvindo.

 - Ele ainda continua me atormentando. O maldito está morto e ainda assim está se divertindo as minhas custas, Nádia. Ele fez outras vitimas e agora quer que eu as salve – Nesse momento, Nádia olhou-o, confusa, mas aparentemente firme. 

  No pouco tempo que conheceu Max, entendeu que ele faria de tudo para salvar aquelas pessoas, como também estaria disposto a matar qualquer um que ameaçasse uma delas. Assim como ele voltou atrás e pôs em risco a vida do filho e a sua própria, para salvar Nádia quando a retirou do congelador da lanchonete. Naquele momento ele provou para ela que não era um assassino.

 - Max, vamos logo. Se ele continua, então temos que pará-lo, me explique tudo – Ela disse enquanto suas mãos massageavam os ombros dele e Nádia o encarava nos olhos.

  Max a fitou, e lembrou-se de quando ele havia duvidado dela. Lembrou-se do quanto ela havia sido importante para que ele salvasse Bernardo, e a beijou. Um beijo não muito longo, nem tão curto assim, mas cheio de sentimentos e necessidades. Ela o abraçou e o perguntou.

  - Nossa, você ainda tem energia pra isso é? – Ela ironizou sorrindo. Max a olhou, viu os lábios dela ainda molhados e repentinamente se levantou.

  - Energia, mas sem orgia! – Max disse inesperadamente enquanto Nádia se mostrava desentendida – Como não pude ver isso. Temos que descobrir isso logo. Ele disse vendo que já se passaram dezessete minutos. 

  - O que foi Max? – Ela perguntou apanhando uma blusa e o seguindo.

  - Te explico no caminho, Nádia. Eu estou agindo como um moleque. Já perdi tempo demais – Ele disse enquanto abria a porta e via um carro de policia parado ao lado do opala. Um policial apontava a lanterna para a placa enquanto falava ao rádio – Maldição!! – disse Max fechando a porta abruptamente. Nádia permanecia confusa – Tem uma porta dos fundos? – Ele perguntou.

 


  Bernardo estava encolhido no banco da carreta enquanto o homem olhava o tempo todo para ele e fazia perguntas e observações descabidas. Como, quantos anos têm? Seu pai sabe que você está aqui? Você tem uma pele tão macia.

  O coração do garoto estava disparado enquanto o velho continuava dirigindo pela rodovia deserta sem pressa alguma.

 


  - Sabe de uma coisa. Você está perfeita – Disse o massacro enquanto continuava a torturar sua vitima – A navalha em suas mãos enquanto ele dançava sozinho de olhos fechados e cantarolando.

  O assassino mascarado rodeava em volta da vitima enquanto uma de suas mãos estava colada em sua camisa na altura de sua barriga e a outra jazia de punhos cerrados apontando como uma espada, mas na verdade tinha a navalha, enquanto ele forjava um tango e sua vitima sentia a agonia de ficar ali, presa e ameaçada por ele enquanto o estranho desenho dava cor e traços mórbidos á pele da castigada.

 


  Ele deixou o filho com a avó e saiu em disparada direto para o local onde havia tido a ultima ocorrência. Sentiu que estava vivendo um dejávù, entrou na cena do crime enquanto um policial recolhia as digitais, outro fotografava a corda dependurada e a poça de sangue no chão. O lençol da cama também não estava tão diferente. Alessandra já havia sido levada para o hospital. 

  Alex apoiou uma das mãos ao marco da porta e suspirou, esfregou os olhos enquanto ainda lembrava-se de atender ao telefone.

  - Alo? – Ele disse exausto enquanto ainda olhava para o filho que dormia com um curativo feito na orelha.

  - Sr. Alex, temos um problema – Disse a voz feminina.

  - Espero que tenha algo muito importante para me dizer, pois estou exausto. Tem ao menos ideia do dia que tive – Ele rosnou como um cão rabugento.

  - Sim senhor – Disse a voz – Senhor, Max, o sujeito que o senhor deixou no hotel, acaba de roubar um carro, e pouco tempo depois disso recebo a informação de que outra pessoa foi encontrada em uma casa. Uma mulher – A voz da policial chegou receosa, enquanto Alex olhava assustado para o filho e absorvia a informação, ainda perplexo – uma mulher foi encontrada em estado grave senhor.

  - Como assim? O que aconteceu com ela? – Indagou Alex.

  - Ela estava para ser enforcada, senhor, e teve parte de seu corpo mutilado por uma navalha – revelou vendo que o telefone ficou mudo.

  - Max? O que você fez? – Disse Alex assustado, o telefone estava  caído no chão e Alex só tinha uma certeza. O jogo estava continuando.

 

  Ela caminhou ao ouvir o som das batidas a porta, viu a camisa de Max suja de sangue e engoliu em seco temendo o que aconteceria. Girou a chave e a porta se abriu forçosamente. O cano da arma apontava para seu peito enquanto ela erguia suas mãos apavorada.

  - Onde ele está? –Gritou o policial enquanto olhava para os lados e não via ninguém. Apenas a camisa no chão, ensanguentada revelava que ele estava ali. Olhou de novo para a mulher e refez a pergunta – Nadia, responda logo, sabemos que ele veio até aqui, o carro está lá fora – A mulher apontou com os olhos para o quarto, amedrontada pelo que estava lá dentro. Ele fez sinal com as mãos para que ela se afastasse e segurou a arma com mais firmeza. Caminhou olhando para ela e entrou.

  A porta estava aberta, o policial viu o quarto, a cama desarrumada e o guarda roupas entreaberto, viu estranhamente que havia uma parte do guarda roupas com trajes masculinos. E o mais estranho era que não havia ninguém ali.

  - Onde ele está, Nádia? – Ele perguntou ainda mais nervoso, enquanto sentia-se enganado.  Ela o olhou e parecia querer sorrir pela loucura que acabara de fazer. 

  - Nádia é minha irmã, me chamo Cintia – Ela disse quando ele ouviu os pneus do opala cantarem sobre o asfalto.

  - Droga!! – Ele disse saindo correndo em direção a porta e vendo o opala já embalado fugindo dele. Correu até o carro, entrou e procurou as chaves enquanto Cintia se lembrava de tudo.

  - Acorde Cintia! Acorde!  - Disse Nádia quase que sussurrando em seu ouvido. Ela acordou assustada e viu Max com a camisa repleta de sangue. Olhou para Nádia que sugeria silencio com o indicador à frente da boca – Precisamos de você!

  - O que foi? Que sangue é esse? – Ela perguntou.

  - Não da pra explicar. Preciso pegar uma blusa do papai dentro do guarda roupas. Que bom que fiz esse quarto para vocês dois. Tenho que encontrar uma camisa para o Max e preciso que despiste um policial para nós. Tem gente correndo perigo – Nádia disse.

  Cintia se levantou e rapidamente Max disse o que precisava que ela fizesse para que eles dessem a volta pela casa antes da chegada de reforços. Eles não poderiam ir a pé, pois o tempo corria rápido demais. Max abriu a porta e no momento que Cintia colocou as mãos na chave a porta dos fundos se fechou enquanto eles davam a volta e esperavam o policial entrar no quarto enquanto eles espiavam da janela. Ela ainda os viu correr. Max entrou no Opala e Nádia foi para viatura, não ficou muito tempo lá. Aproveitou a porta escancarada do carro de policia e surrupiou as chaves. Passou correndo em direção ao opala e entrou enquanto o policial gritava querendo uma explicação.

  O policial olhava agora para a silhueta do carro já distante e pensava no quanto havia sido ingênuo. Pegou o rádio e comunicou a fuga.

 

  - Meu Deus Max! Mas quem pode estar por traz disso? Como ele convenceu alguém a continuar com um jogo idiota desses? Precisamos achar essa pessoa.

  - Eu sei. Mas essa charada é complicada Nádia. Por isso fui atrás de você – Ele disse com um ar de arrependimento por ter tomado aquela escolha.

  - Espertinho você! Pra ser cúmplice de assassinato eu sirvo, mas para ajudar a salvar vidas tem que ser outra né – Ela disse rindo e então espontaneamente deu-lhe um beijo no rosto – estamos juntos nessa – ela completou.

  - Mas bem Nádia. Quando me falou de energia, lembrei-me da charada. Energia sem orgia. orgia não tem nada a ver com a frase, se fosse pensar nisso, quando lhe beijei tive a certeza que isso não iria repor minhas energias e sim tirá-las. Tem que tirar orgia de energia. Entendeu?

  - Não da Max, Não tem o "o" em energia, você pode estar enganado – Ela pensou e então ele lhe lançou um olhar esperando que ela refletisse melhor e naquele momento ela sacou – Claro! O rgia. Se tiro o rgia de energia sobra ene, ou melhor a letra n. E quanto ao resto, vamos... O telefone tocou e Max olhou o numero e levou o telefone ao ouvido.
 
  - Max, me tire daqui, por favor! – A voz suplicava.

  - O que foi Carla? Fique calma, vou te tirar daí – Ele disse enquanto Nádia tentava ouvir.

  - Coloque no viva voz, Max – Nádia pediu e então a voz ecoou mais alto pelos pequenos alto-falantes do celular.

  - Tem algo debaixo de mim. Está fazendo um barulho estranho, estou com medo – Carla sentiu novamente que algo a tocava, a sensação do medo a deixava ainda mais apreensiva e temerosa. 

  Nadia e Max estavam confusos e tentavam raciocinar a fim de encontrar alguma explicação para aquela situação. Onde estaria realmente Carla? E o que seria isso que estaria abaixo dela? Ela estaria ficando paranoica devido a situação em que se encontrava? Tudo era muito vago até ali e então outro grito de Carla.

  Ela havia batido com sua perna contra o que a acometia, ouviu um leve estalo como de algo se quebrando, um com bisonho veio junto com o estranho estalo e ela sentiu que aquilo fugiu dela deixando-a livre.

  - Sumiu – ela disse olhando para os lados e apontando a luz anêmica da lanterna.

  - Você está bem? – Perguntou Nádia.

  - Quem é você? – Carla perguntou confusa.

  - Opa! Desculpe Carla, essa é Nádia, uma amiga – Ele disse sem graça.

  - Oi – Nadia cumprimentou.

  - Olá! Vocês decifraram o enigma? – Ela perguntou.

  - Estávamos tentando quando você ligou – Disse Nádia.

  - Então vamos continuar – ela disse.

  - Ta certo. Descobrimos uma parte, energia sem orgia, Carla. É a letra n – Mas o resto ainda é subjetivo.

  - Sei, essa coisa não me deu tempo pra pensar – Ela disse já mais calma.

  - Você está cansado, Max. Recarregue suas energias, mas sem orgias, ok? No final ande, e a achará. A primeira coisa que precisa é ter fé. E não se esqueça de começar a rezar, pois isso tudo é uma verdadeira bagunça – Só pra todo mundo lembrar, essa é a charada, deciframos a primeira parte que é o n, mas tem muito mais.

  - Ande e a achará? O que ele quis dizer com isso? – Perguntou Nádia.

  - Confuso demais. Não se esqueça de começar a rezar pois isso tudo é uma verdadeira bagunça – Carla tentava se concentrar enquanto se encolhia no caixão e o ar parecia cada vez mais escasso.

  - Ele está brincando com a gente. Isso não faz sentido. Espera aí! – disse Nádia.

  - O que foi? – Perguntaram os dois juntos.

  - É claro! A primeira coisa que precisa é ter fé. Está óbvio demais. Fé é o inicio do nome e mais ainda no final ande e a achará – O final é a.

  - Inicio é fé, final é a – Carla tentava compreender enquanto Max permanecia calado, mas raciocinava.

  - Fé, a, n? - Max tentava encontrar uma resposta já balbuciando o que haviam encontrado – Começar a rezar! É o r! – é o começo, a primeira letra. Começar a rezar! – Ele concluiu e Nádia concordou imediatamente.

  - No final ande – Disse Carla.

  - Como assim? Não é a? – Max observou confuso.

  - Não Max, ela tem razão, e você também – Disse Nádia.

  - O que? – Carla estava surpresa.

  - No final ande e a achará. Não é ande mas achará a. Então é anda.

  - Anda no final, fé no começo, r e n no meio. Agora desfaça essa bagunça – Max montava as letras e silabas mentalmente enquanto notava que sua enxaqueca havia passado.

  - Fernanda? Mas por quê? – Carla perguntou.

  - Não há motivos, foi isso que ele disse – Observou Max.

  - Sempre há algum motivo Max. Você disse que a primeira charada falava de um encontro entre Fábio e Carla, e que essa falava de você aconselhando-o a recarregar suas energias. Ele está querendo falar com vocês de alguma forma. Mas ainda não sei como.

  - Que droga, onde ela mora? – perguntou Max.

  - Rua B, a dois quarteirões da casa de Alessandra. O número é 43 – Carla informou enquanto olhava para o celular e via que a bateria acabara de perder seu primeiro marcador – merda, melhor desligar e esperar vocês.

  - Ta certo Carla, tome cuidado aí por favor. Você está indo muito bem – Max disse antes de encerrar a ligação.

 

  - Trinta e nove minutos – O assassino olhava no relógio de seu pulso enquanto calçava as luvas e sorria sarcasticamente – O telefone dele está ocupado de novo. Aposto que está falando com ela, vamos verificar. Faremos o seguinte eu aposto que ele está falando com ela, mas se eu errar não farei nada com você.

  Ela olhou para ele enquanto os dedos encapados teclavam os oito números do celular. Ele colocou no viva voz e após um mísero segundo o som chegou amargo aos ouvidos da vitima. O assassino ergueu as sobrancelhas. 

  - Humm, isso não foi bom pra você – Ele disse abrindo a navalha e se aproximando dela. 

  Ela estava nua, tecido algum cobria sua pele.  Seus olhos o vislumbravam e sua boca permanecia vedada por um pedaço de fita adesiva. Seus pés e pernas estavam suspensos no ar enquanto um talabarte a segurava. Uma corda estava ligada a ele, passava por cima de uma das vigas de aço do telhado de sua sala e seguia em direção a janela de madeira onde estava amarrada a alça de uma de suas janelas venezianas que teimavam em resistir a todo o seu peso. Outra corda pendia da mesma viga e ainda folgada abraçava seu pescoço. 

  O assassino caminhou até ela, olhou-a nos olhos novamente e inclinou a cabeça. Viu o sexo da mulher a sua frente, e aquilo não o trouxe desejo algum. Passou as mãos pela perna dela descendo enquanto o medo a sondava. Sorriu e decretou sua sentença.

  - 42 minutos! Odeio estar atrasado – Ele ironizou e passou a navalha na vertical descendo pela cocha da vitima, e depois fez o mesmo na outra perna, enquanto as bochechas dela inflavam e do grito abafado se via apenas a saliva escorrer no canto de sua boca, enquanto a mulher se debatia e a janela ainda resistente se mantinha fechada e aparentemente viva.

 

   - Estou na estrada há horas. Preciso parar pra descansar – Disse o velho sorrindo para Bernardo. Seu olhar carregado de um desejo promiscuo que o garoto já havia identificado.

  - Não posso parar. Esta perto da cidade, lá você encontrará um posto de gasolina – Ele disse enquanto se encolhia cada vez mais perto da porta da carreta.

  - Acha mesmo que vai fugir de mim garoto. Se pensar em pular eu te garanto, se não morrer pelo tombo eu mesmo faço questão de passar encima de você, ou – O carreteiro olhou para Bernardo e levantou a camisa, revelando a arma que estava enfiada dentro de sua calça – eu estouro seus miolos. Agora se sente pois vamos nos divertir um pouco – Ele disse preparando-se para parar o carro. 

  Bernardo sentiu o medo e ao mesmo tempo sentiu-se enojado. Pensou em abrir a porta e pular, mas o tombo poderia imobiliza-lo e aí não teria chance alguma de fuga. Foi então que o som da voz chegou até ele.

  - Na escuta! Ei na escuta 482. Os dois suspeitos ainda seguem com o carro roubado. Encontrei uma camisa cheia de sangue e não há nenhum sinal de arrombamento, portanto ele não a fez de refém. Seu nome é Max e pelo que parece eles estão indo atrás de outra vitima.

  - Mas o que é isso? – Disse o velho abrindo a sacola – um rádio de policia? Aonde arrumou isso garoto?

 


  Olhando para a poça, havia um rasto de sangue no chão. Uma pequena gota que se impregnou no sapato do suspeito que se moveu na direção de algo. Alex seguiu o rasto e parou em frente ao telefone. Olhou para o aparelho e viu que as teclas do mesmo estavam limpas. Ele só havia segurado na parte que usava para falar e ouvir. Alex sorriu, virou-se de costas para a cena e saiu para a rua dando de cara com um bando de jornalistas.

  - Isso vai começar de novo? –Ele perguntou a si mesmo.

  - Detetive Alex, acha que o empresário Max Ventura é o autor desses crimes? – Perguntou um dos jornalistas.

  Alex o olhou, como sempre ele fechava a cara quando via esse bando de urubus ensandecidos com a carniça e prontos para abocanhar a maior parte dela enquanto deixavam para trás apenas os ossos e o odor da morte. Eles se alimentavam de toda aquela tragédia.

  - Não há nada claro ainda. Ele é sim um suspeito, mas há indícios de que há algo mais e enquanto eu não descobrir o que está realmente acontecendo por aqui, não lhes adiantarei nada. Portanto tirem suas carcaças imundas da minha frente – Ele disse peitando o repórter que arredou de lado apavorado com a feição de Alex.

  - O que está acontecendo, Alex? – Ele pensava consigo mesmo.

 

  O assassino sorriu, mais três minutos para outro corte. A vitima continuava cada vez mais fraca e ele sentindo o gosto da vitória. Olhou para o espelho e viu a máscara triste e ao mesmo tempo sádica que usava. Um maldito vermelho circulando a boca, e duas lágrimas negras descendo dos olhos. Ele usava um boné e falava normalmente.

  - Ninguém me conhece de verdade. Nunca me conheceram. Todos são covardes, Fernanda e você nunca mereceu a confiança de Fábio. Como Alessandra, você a acobertava. Sempre a ajudou a sustentar essa mentira. Odeio mentiras, e não suporto pessoas como vocês. Alessandra se safou, mas você... Ah, acho que não terá chances – Ele disse enquanto trancava a porta de madeira e a janela continuava agressiva segurando todo o peso da melhor amiga de Carla.

 

  Carla estava apreensiva. Não entendia como Fábio pôde mudar tanto e se tornar um assassino, e pior ainda depois de morto deixou alguém que fosse capaz de fazer isso com ela e suas filhas. Estava confusa e continuava a ouvir o som de algo rastejando abaixo dela. O medo a tomava, mas o que quer que fosse não a tocava mais.

  Fernanda sempre fora sua maior confidente e agora estava nas mãos de um assassino frio e cruel. 

  - Deus! Faça com que eles a encontrem! – Ela disse enquanto ainda procurava algo.

 
  
 - É ali! – Disse Nádia vendo o número da casa. Desceram e caminharam até a porta. Max como sempre tentou abri-la e dessa vez estava realmente trancada. Era uma porta resistente de madeira maciça e as janelas eram venezianas. Ambos ouviram o barulho da madeira da janela batendo.

  - Ela está viva! – Disse Nádia. 

  - Precisamos entrar logo – Raciocinou Max que olhando pela brecha viu a silhueta do homem mascarado.

  - O que foi? – Perguntou Nádia vendo a expressão de surpresa de Max.

  - Ele está aqui! – Disse Max que viu que a janela de fora estava aberta. Olhou a parte de dentro que era mista de madeira e vidro e viu a mulher dependurada enquanto o homem segurava a navalha em suas mãos e cortava ao redor de sua boca. O assassino o olhou nos olhos e bateu com um dos dedos no relógio de pulso, ergueu as duas mãos e abriu os dedos mostrando que só restavam dez minutos.

  - Vou tentar achar uma porta ou janela aberta – Disse Nádia.

  Max ficou estarrecido com a ousadia do assassino, que ainda fez sinal girando o dedo e dizendo que não com a cabeça em sinal negativo.

  Nádia chegou respirando exausta e revelou que todas as portas e janelas estavam trancadas. Aquela era a única que a parte exterior estava aberta.

  - Ele quer vencer essa a qualquer custo! – Disse Max, pegando o telefone e ligando para ele.

  - O que você quer? – Perguntou Max assim que ele atendeu.

  Ambos olhavam diretamente um nos olhos do outro. O assassino sorriu, e Max pôde enfim sentir a frieza nos olhos dele.

  - Qual é a resposta, Max? – Ele perguntou.

  - Fernanda, é óbvio. Por isso cheguei até aqui – Enfatizou Max.

  - Pois bem Max, confesso que você é surpreendente e vejo que agora Nádia se juntou novamente ao jogo. Mas você precisa entrar para salvá-la, pois o jogo continua. Eu sairei pela porta dos fundos, Max e não pretendo ser abordado, pois saiba que sem mim mais três pessoas morrerão em lugares que nunca encontrará e Carla e a pequena Isadora, ah... Também nunca serão encontradas – Ele disse sem nenhum remorso.

 - E a charada? – Max perguntou.

 - Hora Max, para que pressa? Nem salvou essa aqui. Fim de ligação, Max.

  Max viu o assassino saindo por um corredor, olhou para o chão e viu uma pedra. Olhou para Nádia e para a janela. Bateu com a pedra na janela e soltou o trinco para abrir a mesma e naquele momento se surpreendeu. A porta da janela se abriu em um solavanco e a corda do cinto que protegia Fernanda desceu abruptamente fazendo com que ela caísse em disparada e fosse segura apenas por uma corda, a corda que a impediu de cair no chão.

  Max entrou em meio aos cacos de vidro, mas descobriu que caiu numa maldita armadilha. Fernanda continuava a contorcesse enquanto seu pescoço era envolto pela corda. Max abraçou as pernas ensanguentadas da amiga de Carla e tentou ergue-la, mas sentiu os últimos e melancólicos espasmos dela enquanto Nádia via o rosto da vitima se tornar terrivelmente horrendo. Os olhos dela pareciam estar esbugalhados e sua língua e boca faziam um par tenebroso, jogados de lado. Fernanda estava morta, e aquela estava sendo a primeira derrota de Max. 

  Nádia viu Max entrar em desespero, mas não havia nada o que ser feito. Ela então olhou para o corpo da vitima e lembrou-se de que Max a havia contado que na primeira a charada estava na barriga de Alessandra, mas em Fernanda não havia nada escrito. Foi aí que Max a soltou com as mãos ensanguentadas. Ele olhou para suas próprias mãos e viu o sangue de Fernanda. Afastou-se dela assustado e ergueu os olhos. O corpo mórbido girava no ar, dependurado e vagaroso. E a medida que isso acontecia revelava o desenho nas costas dela. 

  - Isso é uma forca? – Nádia perguntou.

  - É sim. O sangue escorreu, mas veja, abaixo dela. E assim os dois leram aquilo juntos.

  “Pra começar ganhei duas gêmeas de presente. Mas só queria uma. Saiba que não sou esse. Sou outro agora, mudei pra poder errar. Ah, depois, quem se importa. Farei o que for preciso para matar o seu rei, pois no fim se não será ele, então quem será?”
 
  - Mas que merda é essa? – perguntou Max.

  - E eu que sei? – Respondeu Nádia pensativa.

 


  Cercada pela escuridão Carla viu a luz do celular piscando e atendeu rapidamente.

  - Max, o que houve? Ela está bem? – Ela perguntou.

  - Acalme-se moça – Disse a voz disfarçada – Não se preocupe com ela, pois esta morta assim como você estará.

  - Quem é você? – Ela perguntou assustada.

  - Bem, se depender de mim, nunca descobrirá doutora – Ele disse sorrindo.

  - O que quer comigo? – Ela perguntou. O silencio reinou do outro lado da linha. E ela voltou a perguntar – Por que está fazendo isso comigo?? Quem é você seu patife de uma figa??

  O assassino parou, olhou para casa ao longe e viu Max e Nádia saindo de lá. Sorriu e desligou o telefone. Olhou novamente para o aparelho e pensou em tudo que havia abdicado para se tornar aquilo. Mas a vida é assim, há feridas que nunca cicatrizam.

  - Bem vindo a fase três Max. Espero que realmente a encontre – Ele pensou enquanto guardava a navalha em seu bolso e via seu carro mais a frente.

 


("Corrija Com o n, depois tira o ra, por fim tire a roupa e veja como vai findar") = Continua dia 07-08-2013

 
Desculpem-me pelo atraso, fim de semana corrido! hehehe... 
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 05/08/2013
Código do texto: T4420155
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.