O dia dos namorados que não acabou bem #4
A criança sabia do problema de Gabriele:
- Sim, a sonâmbula! Você a viu? - Perguntei esperançoso.
Uma sensação crescia dentro de mim, como se algum perigo se aproximasse, aquela sensação que você tem de entrar em um bairro escuro e perigoso, ou quando você diz que sua namorada está gorda:
- Claro que a vi, ela faz parte do plano. - Disse tranquilamente a criança. - E para vê-la novamente você terá que vim comigo.
Eu não entendia o que estava acontecendo:
- Plano? Que plano? - Eu estava nervoso, prestes a avançar na criança quando um apito ecoou pela estrada vazia.
- Eu explico tudo depois prometo, você precisa vim comigo agora! - E começou a correr floresta adentro.
Eu o segui-a com velocidade, a criança era rápida como um lobo, parecia conhecer a floresta muito bem, isso me lembrou minha infância.
Não confundam as coisas, não é como se João (a criança) e eu fossemos a mesma pessoa, a situação já estava confusa o suficiente, e sua aparência nada lembrava eu quando menor.
A floresta era bem úmida, como se tivesse acabado de cair uma chuva imensa, o chão repleto de lama sujava meu tênis e manchava a barra da minha calça:
- Ei João para onde estamos indo? - Gritei para a criança que corria na frente.
- Vamos para minha casa, estou tentando despista-lo!
- Despistar quem? - Porém não precisei de resposta alguma.
Não sei como me refiro a "ele", o Homem sem Face re-apareceu na floresta, muito mais perto do que da outra vez.
Era um pouco mais alto que eu, não tinha olhos nem boca. O nariz apenas o formato, sem as narinas. Não tinha orelhas, nem ouvidos. Vestia um capuz que cobria o rosto até a altura da testa, sua pele tinha uma textura diferente, como se fosse feito de cera ou algo do gênero.
Não consegui ver braços nem pernas, estava muito escuro:
- Corre! Ele me achou! - Gritou o pequeno João para mim.
Foi difícil me manter em pé, o medo e a angustia eram tamanhos que minhas pernas pararam de funcionar, porém eu as forcei e corri como nunca antes.