"Não há nada pior que o medo, a única forma de vencê-lo é tendo coragem"
 


  A garotinha abriu os olhos ainda sentindo a dor que rondava o frágil corpo. Certa dormência a tomava, uma leve dor de cabeça, e a ponta dos pés tocava algo frio, enquanto mal podia se mover.

  Sentiu-se presa em um sótão longe da luz. Uma flor abandonada às sombras, enquanto ainda se lembrava da agonia que havia vivido. Olhou ao redor sentindo a mascará presa a face, e algo rígido imobilizando e contornando o pescoço.

 Não pôde ver nada, mas ouviu algo próximo. Tentou se mover, fugir dali, mas havia uma corda imobilizando os braços, amarrada acima de seus cotovelos deixando apenas seus antebraços e mãos livres. Tentou abrir suas pernas, movê-las, mas havia algo enrolado nelas, juntando-as, algo que pregava em seus poros e a cada investida sentia seus pequenos pêlos serem arrancados como se estivesse sendo depilada.  Ela estava presa, sozinha, e desamparada, revivendo as lembranças mórbidas que haviam impregnado em sua memória quando ouviu aquela voz. 

   Olhando para o alto viu duas saídas, uma forma de se comunicar, e movendo suas mãos da única forma possível ela as ergueu ultrapassando as paredes que a amedrontavam.

  A sensação que sentiu era algo fora do comum, um misto de ansiedade e medo, de conforto e de desconforto, em outra situação ela teria certeza que estava segura, entretanto agora ela só podia deduzir que estava morta ou a beira disso.

  Suas mãos tocaram a superfície lisa e o calor chegou incomum, ela chorou numa alegria incontida, mas não podia falar nada, pois estava amordaçada. Os seus gemidos escaparam pelas fendas e chegaram ao andar superior de onde os golpes vieram certeiros. Isadora sentiu dois de seus dedos se curvarem de uma maneira que ela julgava ser impossível, os gritos alucinantes chegaram aos seus ouvidos, gritos de socorro e de pavor enquanto ela sentia toda a dor daquela fratura. Puxou as mãos para baixo imersa em seu sofrimento enquanto podia ver a luz fraca que escapava para aquele novo e estranho quarto.

 


O jogo da Forca – Capítulo V – Fase III – Quarto do pânico

  Max e Nádia estavam de pé à frente do corpo. Fernanda estava morta, ainda dançando no ar ironicamente enquanto Max tentava entender o que ele estava fazendo ali. Como ele pôde ter sido tão ingênuo e não perceber que a janela estava presa a corda e se ele a abrisse Fernanda seria enforcada.  Mas se ele não fizesse aquilo, como entraria ali. Ele não tinha escolha.

  A charada continuava lá, escrita nas costas da vitima que silenciosamente os revelava o próximo nome a ser encontrado. Mas que charada era aquela? Do que se tratava afinal? Nádia balbuciava as partes, franzia a testa e aquilo revelava a Max que tudo estava tão complexo para ela quanto para ele. 

  Max lia, relia e a única coisa que entendia era que Fábio voltava a falar dele.

    “Pra começar ganhei duas gêmeas de presente. Mas só queria uma. Saiba que não sou esse. Sou outro agora, mudei pra poder errar. Ah, depois, quem se importa. Farei o que for preciso para matar o seu rei, pois no fim se não será ele, então quem será?”

 - Ele está falando das filhas, mas é estranho – Max dizia.

 - O que é estranho, Max? – Perguntou Nádia.

 - Ele diz que ganhou duas. São as filhas, Isadora e Érica. Mas ele diz que só queria uma – Ele explicou.

 - E se ele não estiver falando disso? – Disse Nádia – Ele também diz que não é esse, como se não fosse ele, diz que é outro – Ela dizia.

 - E mudei para poder errar – Completou Max em voz alta, enquanto estreitava os olhos e continuava a pensar. 

 - O que será essa charada Max. Realmente a mais difícil até agora. Ele está ficando bom nisso – Nádia comentou.

 - Não Nádia, ele está morto e ainda assim consegue continuar a jogar com todos nós. Mas o que mais me assusta é o assassino, não é como eu. Bernardo estava na forca e eu precisei matá-los para salvar ele, mas esse homem, esse cara, ele parece não ter escrúpulo algum.

 - Você acha que ele – Ela dizia.

 - Eu acho que ele não está sendo usado. Está no jogo porque quer e isso mostra o quão doentio ele é – Max aparentava-se preocupado – Eu sinto que ele não vai parar enquanto não matar todos nós, e diferentemente do Fábio ele parece não dar a mínima para regras.

 - Se isso for verdade, Max, se você estiver certo, temos que ser mais rápidos – Nádia concluiu.

 - Teremos que matá-lo – Disse Max – Mas primeiro temos que sair daqui e salvar essa pessoa – ele finalizou.

 


  Alex Sales entrou na sala. Estava tão desabituado com aquele ambiente. O silencio, o tom pálido e pacífico. O aroma diferente daquele local. Olhou para o chão liso e limpo, algo tão diferente de seu local de trabalho. Na delegacia Alex estava acostumado a entrar nas celas e sentir o cheiro de urina, o odor dos corpos que transpiravam, o mofo das paredes mal cuidadas e rabiscadas de todos os tipos de imagens e figuras horrendas desenhadas pelos presidiários. Ele estava acostumado a ouvir o barulho, a gritaria, a algazarra que era feita na cadeia.

  Mas ali, os habitantes eram outros, e naquele caso especial era outra. Alex parou a centímetros de Alessandra e a viu de mais perto. Ela estava viva, o soro sendo injetado em suas veias, gota a gota enquanto o rosto, mãos, braços e pernas eram envoltos por faixas, gazes e ataduras. Os olhos da mulher se voltaram para ele e ela sussurrou com suas poucas forças.

 - Demônio!

 


  Carla pegou o celular e tentava esconder o nervosismo.  Afinal quem era aquele homem com quem ela falou há pouco? E por que ele havia ligado para ela?  Tantas perguntas sem resposta. Ela ainda ouvia ruídos, sabia que havia algo vivo abaixo de si, algo que ela não podia entender o que era. Ainda temerosa escutou a voz do outro lado da linha.

 - Oi Carla – Disse Nádia.

 - Onde está o Max? – Carla indagou. Nádia sentiu uma leve pontada de ciúmes, mas sabia que não era hora para aquilo. Olhou para Max e respondeu enquanto massageava o ombro dele.

 - Está dirigindo. Estamos rodando um pouco e procurando um lugar mais afastado para podermos pensar.

  - Qual é a charada? – Carla perguntou.

  - Pra começar ganhei duas gêmeas de presente. Mas só queria uma. Saiba que não sou esse. Sou outro agora, mudei pra poder errar. Ah, depois, quem se importa. Farei o que for preciso para matar o seu rei, pois no fim se não será ele, então quem será? Alguma idéia Carla? – Perguntou Nádia.

  Carla ouviu aquilo e não viu charada alguma, apenas sentiu na pele um turbilhão de sensações. A dor que penetrava em seu ser era antiga e ela sabia que não podia fazer nada para mudar aquilo.

  - Ele nunca as quis – disse Carla – e ele mudou tanto – sua voz chegava aparentemente carregada de remorso – Eu sempre me importei Fábio, mas, não foi minha culpa – Ela disse como se falasse com ele.

 - Do que ele está falando? – Perguntou Nádia, quando Max a interrompeu.

 - Ele não é esse! – Disse Max como se acabasse de descobrir algo novo.

 - O que foi? – Perguntou Carla do outro lado da linha completamente aturdida, enquanto o silencio chegava cheio de expectativas – Vocês descobriram algo? Digam! – ela disse enquanto sentia cada vez mais o ar chegar escasso até ela.

 - Ele é outro, Nádia. Duas gêmeas, mas só queria uma. Mudou para poder errar – Max disse como se fosse Nádia explicando-o seu raciocínio.

  Nádia o olhava e tentava entender do que Max falava. Foi então que ela ouviu o sussurrar de Carla ao telefone. A médica murmurava enquanto ouvia baixo o som da discussão dos dois.

 - Erre – Balbuciou Carla ao telefone. Nádia estava perplexa, como ela não pôde perceber aquilo.

 - Eu não sou esse, mudei para poder errar. Esse, erre, as gêmeas! – Disse Nádia colocando o telefone no viva voz.

 - Ele só queria uma – Completou Carla – é a letra R, uma letra R. Não as duas gêmeas – Ela concluiu.

 - É, esse trabalho de decifrar charadas está cada vez mais competitivo – Ironizou Nádia.

 - Temos que continuar! – Disse Max enquanto entrava com o carro em um beco.

 

   
  Bernardo acordou. Tentou abrir os olhos, mas só um deles respondeu ao seu comando, já que o olho esquerdo estava impossibilitado de se abrir. Cercado pelo inchaço, dolorido e roxo o rosto do garoto estava ainda sentindo os resquícios da pancada que ele havia tomado.

  O homem dirigia a carreta enquanto ao fundo, o som escroto de um funck horrível chegava aos seus ouvidos, enquanto ele se olhava para o rádio em suas mãos.

  - Esse garoto vai me causar problemas!  - Ele disse enquanto dirigia pela rua de terra, o local era deserto e a poeira subia dando cores mortas as folhagens.

 


  - Do que você está falando? – Ele perguntou.

  - Eu não fiz por mal! Apenas a protegi, só isso – Dizia Alessandra. 

  - Do que está falando? – Alex perguntou enquanto tentava não ficar observando as cicatrizes da vitima. A mulher olhou para Alex, o encarou de uma forma doentia. Não dava para saber se ela estava dentro do seu juízo. Ela parecia possuída. Alex sentiu a mão dela agarrar seu punho e então se assustou.

   - Demônio! Ele não pode ser os dois! Ele é um demônio! Eu vi a máscara dele, mas ele é muito pior que aquilo – Alessandra dizia enquanto segura Alex via a expressão da mulher e aquilo o transmitia um quadro total de insanidade.

  - É melhor o senhor sair daqui! – Disse uma enfermeira que chegava às pressas e aplicava algo na veia de Alessandra. A vitima afrouxou a mão e fechou seus olhos, aparentemente inconsciente.

 


  - Bom, bom, bom, acho que você não vai gostar dessa noticia – Disse a voz irritante do assassino. O tom sarcástico chegava incrivelmente excitado aos ouvidos da nova vitima – Estou um pouco atrasado, me perdoe – Ele dizia – mas, pense que tudo foi planejado, você está aqui há poucas horas, e permita-me observar que essa posição é um tanto quanto desagradável – O assassino a olhava. A mulher de rugas cansadas que lhe surravam a face, olhava-o, tentava enxergá-lo melhor além das cataratas que inundavam e cegavam seus olhos.

  - Você é louco! – Ela disse enquanto ele calçava as luvas.

  - Não soltei sua mordaça para que ficasse me criticando. Ainda tenho que terminar seus preparativos, mas quero lhe fazer uma ultima pergunta – Ele disse enfiando a mão nos bolso e retirando a navalha. Abriu-a e expôs a lâmina, ergueu-a a altura dos olhos enquanto a mulher acompanhava cada movimento.

 - O que você quer com isso tudo? – Ela perguntou enquanto sentia-se cada vez mais fraca.

 - Você sabia desde o principio não é? – Ele indagou – Achava o que? Que Fábio era um idiota? É isso? – Ele disse cada vez mais nervoso.

 - Como pode falar assim? – Ela voltou a questionar – Ninguém pode fugir do que realmente é? Como Carla não pôde fugir do que acabou fazendo. 

  O assassino a olhou mais uma vez, viu a cadeira de rodas caída de lado. A mesma cadeira que ele havia chutado mais cedo quando entrou na casa dela e a prendeu ali. A mulher sentia algo apertando seu pescoço, mas não estava sendo enforcada, não ainda. Estava sendo mantida de pé enquanto seus ossos doíam, mas aquela era só uma parte da dor dela. Ele havia calculado tudo, e preparou algo de especial para ela. 

 - Vamos começar logo com isso, afinal já se passaram treze minutos – Disse ele colocando a mordaça novamente enquanto ela balançava a cabeça e mordia o pano certa de que nada ali poderia melhorar, o sofrimento estava apenas começando.

 - Desgraçadooo!!! Aahhhhhhh!! – Ela gritou enquanto sua voz chegava abafada e fraca aos ouvidos dele que começava a arranhar a pele da mulher sem nenhuma piedade.

 


 - A única coisa que temos é o R? – Disse Max furioso consigo mesmo.

 - Calma Max, só tivemos quinze minutos – Nádia tentou motivá-lo.

 - É, e isso só me lembra que estamos a cinco minutos de mais uma sessão de tortura Nádia – Ele disse enquanto fechava os olhos e tentava raciocinar, sem imaginar o que aquele novo maníaco estaria fazendo.

 - Espera! – Disse Carla. Farei o que for preciso para matar o rei – Ela disse animada ao telefone.

 - Como? E daí? – Perguntou Nádia com a mesma sensação de estar sendo substituída naquela situação.

 - Não há rei algum, isso foge da lógica dessa charada, portanto torna muito óbvio que ele fala de algo relacionado a rei.  

 - Farei! – Não é hora para isso Carla, mas você está realmente se saindo bem – comentou Max. Nádia abriu a porta do carro e saiu, ela agora entendia do que Carla estava falando.

 - Fa, como eu posso estar deixando isso passar. Mas tem algo muito maior por trás dessas charadas. Ele fala da vida deles, de fatos que ocorreram. O que ele está querendo nos contar? – Nádia pensava apoiada a porta do carro.

 - Nádia venha para dentro, está frio aí fora! – Max disse enquanto Carla se mostrava mais aliviada por estar podendo fazer algo, mesmo na situação em que se encontrava.

 - Ah, depois, quem se importa? Droga, essa foi ridícula! – Observou Nádia dando um soco na lataria do carro.

 

  Olhar para aquelas luzes, ouvir a voz dela, sentir que se está desamparada enquanto na verdade estava debaixo dos braços de sua mãe, foi uma sobrevida. A mascara a impedia de falar, mas ela precisava mostrar para Carla quem ela era. O pescoço ainda doía e as imagens passavam repetitivamente a frente de seus olhos, como um filme mudo, mas intenso. Seu pai estava de pé e sua mãe desmaiada. Tudo aconteceu tão rápido. Ele as pegou, e saíram para aquele passeio. 

  Há muito tempo não passeavam juntos, mas era aniversario delas e aquele foi o único pedido que ambas haviam feito. Que os quatro passassem juntos aquela data, como se fossem uma família perfeita. Tudo havia sido ideia de Fábio, ele sempre as dizia que amava a mãe, mas ela o havia traído e ele precisava perdoá-la, ele queria perdoá-la.

  Ainda sentido a imensa dor que sondava seu corpo, a pequena bailarina permanecia deitada enquanto as lágrimas deslizavam por sua face. Ela não podia entender nada daquilo.

 


  - Demônio? Max, onde você está e porque não fala comigo! Eu quero te ajudar, mas assim fica difícil! – Max tentava encontrar respostas quando recebeu uma ligação.

  - Alô? – Ele disse ao atender.

  - Oi Alex. Ainda quer ajudar o Max não é? – Disse a voz.

  - Quem é que está falando? – Ele perguntou.

  - Quer impedir que mais gente morra? Então é melhor pegar ele, porque isso nunca vai parar enquanto Max estiver vivo – A voz do assassino chegava ameaçadora – Estou cada vez mais excitado com esse jogo e não me obrigue a ter que arrancar a outra orelha de seu filho, Alex. E outra coisa, saia desse hospital, Alessandra está viva, quanto a mim, não se preocupe, eu já morri há muito tempo. Fim de ligação.

 - Idiota! Aaaahhh!! – Alex estava furioso, mas acima de tudo estava preocupado com seu filho.

 


  - Onde estou? – Bernardo pensava enquanto sentia o motor do veiculo ser desligado. O silencio tomou conta do local e mal enxergando ele ouviu os passos do homem que se aproximava cada vez mais. Bernardo não tinha muito que fazer, ele só fechou os olhos. 
 


 - O que foi Nádia? – perguntou Max.

 - A, depois! É isso. Depois do r vem o a. Ra, e depois fa – Ela disse esgueirando-se pela janela do carro. Seu corpo estava para fora, mas seu rosto estava ali, insinuante e com o ar de inteligência que Max aprendeu a admirar.

 - Você é genial garota! – Ele disse – rafa, ficou óbvio.

 - Sim, respondeu a voz de Carla. Mas – Ela continuava e de repente ficou muda.

 - Pois no fim se não será ele, então quem será? Ela, no fim, se não for ele será ela! – Nádia olhou para Max e ele para o celular ainda esperando uma resposta de Carla.

 - Mas por que ele está fazendo isso comigo? – A voz de Carla chegava completamente derrotada.

 - Quem é Rafaela, Carla? – Perguntou Max.
 Outro minuto de silencio e a voz de Carla voltou chorosa aos ouvidos dos dois.

 - É minha mãe! O desgraçado está na minha casa! – Ela respondeu - Liga para ele e fala que o nome! Liga Max! 

 

  - Bom, um engoliu a isca, agora precisamos aumentar o nível, afinal logo vem a fase quatro.

   As mãos da mulher estavam pregadas ao marco da porta dois pregos cada uma, cravados no centro das mãos. Um cinto dava a volta no seu pescoço, passava entre a fivela e a comprimia enquanto a ponta da correia jazia pregada por três pregos à parte superior do marco. As frágeis pernas cambaleavam abaixo de seu corpo enquanto a morte sussurrava fria e convidativa, Rafaela não suportaria por muito tempo. Estava fazendo o possível para segurar todo seu peso. Já fazia isso a cerca de vinte cinco minutos, desde que o jogo havia começado para ela e o relógio começou a contar seu tempo regressivamente.

  - Não se preocupe, agora depende só de você Rafaela, Doutora Rafaela Gouveia, a mulher que fez o parto das gêmeas. Aquela que incentivou Carla a seguir carreira. Você sempre foi o espelho de sua filha, não foi? Então a culpa disso tudo também é sua! – Dizia o agressor quando o telefone tocou.

 - Max? Mas já? – Ele perguntou irônico.

 - Estou indo pra aí seu merda e se ainda estiver aí quando eu chegar eu juro que te mato! – Disse Max.

 - Max, Max – A voz do assassino chegava aos ouvidos de Max, sarcástica – Assim vai parecer que essa nossa relação, esse nosso, como eu posso dizer, esse nosso relacionamento está passando por uma crise! Max, você não vai me matar, pois se me matar, matará Carla, matará Isadora, matará as outras duas vitimas e isso não acabará, Max. E pra falar a verdade, você é o mocinho, os mocinhos sempre tem regras e conceitos, já os vilões – ele deu uma pausa proposital e aquilo mexia com Max – bem Max, vilões como eu não dão a mínima para essas coisas. Corra Max, por que essa velha não tem condição nenhuma de sair daqui. Vamos para fase IV. Fim de ligação!

  - Seu filho da puta! – Max disse, mas ele não estava mais ali.

  - Temos que chegar logo, Max – Nádia falou após ouvir toda a conversa.

 


  Carla pensava em todas as charadas e odiava ficar ali sem ar, sem ninguém e cheia de seus medos. Pensava alto, conversava sozinha. Queria voltar no tempo, fugir dali, não ter aceitado o pedido de Fábio para aquele maldito passeio. Mas lá estava ela. Pensou em Érica e Isadora, pensou em sua mãe e num ultimo ato desesperado, começou a rezar.

 - Pai nosso que estás no céu – Ela estava completamente confusa. Abaixo dela, sua filha ouvia a tudo e se juntava em silencio a oração da mãe.

 


  Os minutos passavam cada vez mais rápido, cada volta dos ponteiros, cada giro da roda do opala, cada lágrima derramada por Carla e cada gota de sangue e pedaço da pele que se abria a cada esforço de Rafaela para manter-se viva. Tudo não estava adiantando nada. Ela tentava se segurar, mas suas pernas eram fracas demais. Sentia a correia apertar-se cada vez mais que seu corpo sedia. 

  Pensou em suas netas, em sua filha, no caos que toda aquela maldita confusão havia se tornado. Sentiu que não teria mais forças e as lágrimas chegaram a seus olhos enquanto suas mãos continuavam firmes, porém os cotovelos baixavam e o ar dava adeus a seus pulmões.

  Os olhos castanhos se reviravam e seus pés se debruçaram no chão. Ela só precisava ter resistido, mas não havia forças mais. A última imagem que viu foi a do homem que entrava desesperado enquanto ela forçava um sorriso e sua voz escapava ainda relutante. 

  - Salvee minhaa filhaa – Foram as ultimas palavras dela antes de seu corpo desfalecer por completo e seus joelhos se curvarem a morte.

 


  Nádia entrou logo depois de Max. Ele estava do na sala, olhando para o rosto de Carla. Viu uma cômoda com as fotos da família. Ali não havia foto sequer de Fábio. Apenas as garotas, Rafaela e Carla. Algo normal visto que os dois eram separados. Nádia olhou mais uma vez para ele e viu o semblante pensativo de Max. Queria poder ler seus pensamentos, mas a única coisa que podia ler era a charada na barriga de Rafaela.
 
  Aqui há um segredo, e juntos iremos desvendar. O sol já não brilha mais, pois agora é a vez dela. Tire-a dai antes que termine o ar. Ela não está em baixo, mas eu sempre minto. Eu repito, tire-a!

 


 - Alô? – Ela atendeu.

 - Desculpe por isso, mas faz parte do jogo – O assassino disse friamente.

 - Quem é você? Por que esconde sua voz, seu idiota. Eu juro que você vai morrer! – Carla estava possessa. Perdera a mãe e a filha no mesmo dia e tudo por um joguete elaborado pelo homem que ela mais havia amado na vida.

  O assassino a ouvia enquanto pensava no porque de estar ali. E quanto mais pensava o ódio crescia dentro de si. Ele não podia se controlar.

 - Sinto muito, Doutora. Bem vinda a fase quatro. É hora de recuperar o fôlego.

 

Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 19/08/2013
Reeditado em 21/08/2013
Código do texto: T4441906
Classificação de conteúdo: seguro
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