Sou muito grata aos amigos escritores que aqui me acolheram. Eu bem sei que muitos amigos cronistas e poetas não gostam de contos de terror, mas mesmo assim, deixam nos textos
seu apoio e carinho.
Grata de coração por tudo isto, continuo também a prestigia-los e a admirar suas escritas, pois palavras são sentimentos e pensamentos
que voam longe...
 Estou na fase de contos de terror e suspense. Tão logo, voltarei as minhas poesias e crônicas. De momento, vou aproveitar o cérebro que fervilha para assim
criar alguns contos noturnos.

Beijos e abraços, 
Zeni S. Dosan
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“É a verdade que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais”

Legião Urbana,
Metal Contra as Nuvens
 
 Andrea não sabia se era dia ou noite. Desorientada, perderá completamente a noção do tempo em seu cárcere. Esta era a pior parte, não saber a quanto tempo estava naquele cubículo.
 Quanta respiração gasta a sós com o seu medo... Quantos pensamentos sujos povoaram sua mente em toda aquela desgraça... Tentou contar os segundos, depois os minutos, mas acabou por desistir. Era um exercício inútil, mesmo servindo de distração para o desespero.
 Inerte na escuridão, já explorará tateando cada centímetro quadrado de sua pequena prisão. Não encontrou qualquer ponto fraco, nenhuma fissura que pudesse abrir ou alargar.
 Um cano descia por uma grade tapada com tijolos, por onde entrava o pouco ar que respirava. Estendeu o cobertor corta febre sobre o próprio corpo, um dos poucos luxos que tinham deixado para ela.
Mesmo trancada em uma caixa, a vida seguia uma rotina. Tudo que ela tinha para medir a passagem do tempo era seu estoque de comida. Algumas barras de chocolate e garrafas de água, deixada pelos sequestradores.

 Ainda havia um bom tanto de chocolate, e isto lhe dava a entender que eles não viriam tão cedo ao cativeiro. Colocou um pedaço de chocolate na boca, mas não mastigou. Deixou derreter na língua, enquanto tateava as garrafas com água mineral. Estavam acabando, precisava beber apenas o necessário:
 Não vai durar muito... Preciso deixar para trás o desespero e pensar em uma forma de sair... Eu preciso!
 Sentiu nas pontas dos dedos as garrafas amassadas. Quando acabasse a água o que aconteceria? Com certeza havia mais por vir... Por que seu sequestrador forneceria comida e água, apenas para que ela morresse de fome dias depois? 
 Não, não, não... – pensou em seu delírio, repetindo a mesma coisa varias vezes, só para ter o prazer de ouvir um único som, mesmo que fosse da própria voz. – Raphael vai pagar o resgate, seja quanto for, ele vai da um jeito de pagar! Mas porque fizeram isto comigo? Porque, Deus?
 Encostou-se na parede e deixou a pergunta  ecoando errante em sua mente. A única resposta que conseguiu chegar foi o resgate, porque mais a sequestrariam? Mais se era assim, porque ainda não tinham negociado com seu marido?  Porque não tinham voltado para repor os alimentos? Eles não podiam adivinhar que ela vinha racionando desde o primeiro momento... Ou então, teriam sido eles presos, lhe deixando a própria sorte?
 O som de sua própria respiração preenchia a escuridão. Gemidos de pânico crescente:
 Tudo bem, tudo bem Andrea... – Insistia em se dizer – Pare com isso! Você sabe que tem pilhas novas. Basta instala-las do jeito certo e a lanterna volta a funcionar... Você sabe!
 Tateou o chão, recolhendo as pilhas novas. Respirou fundo, abriu a lanterna, apoiando a tampa com cuidado sobre os joelhos dobrados. Tirou as pilhas usadas, colocou-as de lado. Cada movimento que fazia era na total escuridão.
 Calma Andrea, você já instalou pilhas antes. Apenas as coloque ai dentro, lado positivo primeiro. Uma, duas, agora enrosque a tampa na extremidade...
  A luz surgiu, linda e esplendorosa. Era a esperança. Andrea emitiu um suspiro e deitou-se de costas, exausta, como se tivesse corrido dois quilômetros.
 Você recuperou sua luz, agora economize-a. Não a deixe acabar outra vez... 
 O que ela não conseguia controlar, sentada no escuro, eram os medos que vez ou outra a assaltavam: 
 A essa altura Raphael já deve ter negociado com os sequestradores. Pensou – Ele leu um bilhete, ou recebeu alguma ligação telefônica. Ele vai pagar, claro que vai!
 Ela o imaginou implorando para uma voz anônima ao telefone. O imaginou soluçando na mesa da cozinha, arrependido, muito arrependido por todas as coisas ruins que dissera a ela. Pelas centenas de maneiras diferentes por meio das quais a fez se sentir pequena e insignificante. Possivelmente, agora desejaria retirar tudo o que dissera, desejaria poder lhe dizer o quanto ela significava para ele...
  Andrea fechou os olhos ao sentir uma angustia tão profunda que parecia agarrar e apertar seu coração como um punho cruel. As verdades inquietantes de sua vida antes dali a massacravam. Era inevitável não pensar e avaliar o outrora:
 Você sabe que ele não lhe ama. Você sabe disso a meses! Porque pagaria para lhe ter de volta? Talvez até pagasse para lhe ver distante!
 Envolvendo o abdome com os braços, abraçou a sí mesma. Curvada em um canto de sua prisão, não mais podia evitar a verdade. Lembrou-se da expressão de desagrado do marido ao olhar para seu corpo nu, quando ela saiu do chuveiro naquela noite. Ou da noite em que veio por traz para beija-lo no pescoço e ele simplesmente a evitou. Coisas que não importava ao longo prazo, porque havia o amor que ela sentia por ele, para  uni-los.
 Sua vida estava assim, sentada em uma caixa, esperando o resgate de um marido que não a queria de volta... Esses pensamentos a aterrorizaram.
 Não. Não podia pensar assim. Não podia ser ela própria sua pior inimiga! Eles não tinham muito dinheiro, mas ele tinha um bom emprego no banco, com certeza iria recorrer até a presidência, se necessário fosse.
 Era sim necessário. Não podia ser muito dinheiro, os sequestradores deviam saber que eles não eram ricos.
 Deitou-se no chão, tentando adivinhar se era dia ou noite. Seu estomago reclamava por comida, mas os biscoitos já tinham acabado e os chocolates tinham que durar, não se sabia quanto tempo. Sua maior preocupação era a água... Perdida em pensamentos sombrios e lagrimas, adormeceu.
 Acordou assustada, não sabia quanto tempo tinha dormido, mais sabia que tinha sido a falta de ar que a acordou. Desesperada, acendeu a lanterna, posicionou em direção ao tubo de ventilação e seu coração disparou, depois de colocar a mão por baixo do tubo. Não sentia a minguada ventilação que entrava pelo tubo. Não! Eles não podiam ter tapado o tubo! Nenhum ser humano seria tão cruel!
 Sua angustia foi aumentando e o ar cada vez mais escasso a sufocava.
  Calma Andrea... Calma... – repetia para si mesma – Tudo não passa de um mal entendido, vai ver que para abrir eles tenham que vedar por completo... Não vai demorar e você vai ouvir o barulho dos tijolos sendo retirados e vai ver a policia gritando que esta tudo bem! Raphael vai estar lá encima, gritando que por fim o cativeiro foi descoberto e em alguns minutos você estará salva!
 O ar já não mais entrava em seus pulmões. Quanto tempo leva para alguém morrer sem ar? Não... Não sabia responder, pois perderá a noção do tempo... Quanto tempo se leva para morrer e se sentir liberta? Esse foi seus últimos pensamentos antes de sentir seus pulmões pararem.
 
 
     Em um antigo terreno da prefeitura destinado há anos à construção de um novo cemitério, um carro esporte para e seu motorista desce.
 — E então? – Pergunta um homem alto, moreno claro, na faixa de seus quarenta anos, usando um terno cinza e óculos escuro. – Ela já esta morta?
 — Esta sim, senhor Raphael. – responde um outro homem, que veio ao seu encontro quando viu o carro encostar. - O duto foi fechado há pouco mais de duas horas.
 Tirando um pacote do bolso, ele passa para o homem e diz.
 — E ela sofreu? Ela sofreu bastante?
 — Sofreu sim. Teve tempo para pensar em toda sua vida enquanto esperava esperançosa pelo socorro que não viria.
 Raphael sorriu ao imaginar Andrea rezando por sua presença. Ele que tanto a repudiou, agora conseguira provar o quanto a odiava. Conseguiu provar que o que sentirá por ela não era nem pena e nem desgosto. Era ódio e nojo.
 Você cumpriu com sua parte, estou cumprindo com a minha. A policia suspendeu as buscas, o rio onde o carro dela foi encontrado é muito perigoso. Eles afirmam que o corpo foi levado pela correnteza.
 Só uma pergunta, senhor – disse o homem que tinha acabado guardar no bolso o pagamento – Porque teve que mantê-la viva por tantos dias?
Ele mentiu ao responder:
 Tinha que manter uma carta na manga, caso a pericia descobrisse que o carro tinha sido empurrado ponte abaixo sem ninguém na direção, eu poderia insinuar que ela tivesse sido sequestrada, e até ajudar nas buscas. Do mais, ela era gorda e adorava chocolate. Foi um bom presente de despedida.
 Com um aceno de mão, Rafhael voltou a entrar no carro e partiu em alta velocidade. Agora era deixar passar o período de luto e curtir a brisa batendo em seu rosto. Viveria todos os dias comemorando o fim que planejou, respirando todo o ar a qual Andrea foi privada.
 
Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 23/08/2013
Código do texto: T4448508
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