Pacto

...

- Nãoooo, eu estava mentindo. Quero desfazer o acordo. Por favor, piedade, clemência!

O homem gritava de desespero. Ele era acometido pela pior sensação de sua vida. Todo seu corpo tremia, e a dor era lancinante. Sentia que suas entranhas eram dilaceradas por uma implosão celular. Esguichava sangue de todos os seus orifícios. Primeiro aos pingos, depois, jorrando. O futum de podridão invadia sua narina; sufocando-o. O braço esquerdo desgrudou-se do ombro e caiu, o direito se partiu logo em seguida, pareciam necrosados. Em pânico tentou correr, tracionando seus pés ao chão e jogando seu quadril para adiante. O quadril foi, e despencou, parando no piso com um baque surdo, as pernas ficaram no mesmo lugar onde estavam em pé, imóveis por alguns instantes, até que caíram, formando um ângulo de noventa graus com o tronco sem membros à frente. Um toco vivo que balançava desequilibrado em cima de um lago de sangue. Seus globos oculares foram cuspidos da órbita, seus dentes caíram um a um, sua língua saiu da cavidade bucal como uma cobra sinuosa, esticando, esticando, esticando, até se despregar de seu freio e ir lamber a sopa vermelha derramada no solo. Um escalpo voou. As orelhas e o nariz foram decepados e, finalmente, sua cabeça tombou de seu pescoço. Seu corpo estava sendo mutilado por um cutelo invisível e infernal. No entanto, ele ainda via e vivia tudo aquilo. Sua consciência estava alerta, seus sentidos a flor da pele. E ele urrava de dor e medo, pela boca de sua cabeça caída, enquanto seus outros pedaços agonizavam no chão. Uma quentura tomou conta dele, agora ele ardia em chamas; não seus retalhos; sua alma.

- Nãoooo...