Prelúdio Desafinado, Desfecho Fatal

“Eu sou a tua morte, vim conversar contigo, vim te pedir abrigo... Preciso do teu calor... Eu sou... Eu sou... A lembrança do terror...”

Renato Russo, La Maison Dieu

Acordei no desespero da noite. Não vi seu corpo junto ao meu e tola que sou, me assustei. Imaginei que você não viria, como das outras vezes que prometeu e também não cumpriu.

Alcancei o castiçal apagado e acendi as três velas. Levantei-me de meu leito vazio e vaguei pela casa grande.

Era eu e a solidão novamente. Bernardo... Lembra-se quando as coisas davam certo para nós dois? Se lembra da tarde no parque,o vestido azul e a banda que tocava desafinada? Fui tão fácil... Seu sorriso tinha tão pouco a me oferecer e mesmo assim eu me encantei.

Sempre me prometeu a eternidade, mas nunca se fez presente por mais que alguns minutos... Chorei com suas promessas, com seus medos e sua maldita covardia... Sua incerteza...

O pequeno frasco de veneno é meu ultimo conforto, nunca imaginei que teria coragem para tal feito. Você me fez crer que nada vale apena... Não me importo com as consequências, Bernardo... É triste viver assim, na expectativa da sua boa vontade, de sua passagem meteórica que esquenta meu leito e de súbito o faz frio novamente. Você se satisfaz e se vai, como um sonho bom que aconteceu e tenho que me esquecer.

Eu bebo em um único gole. Não é a decadência, nem desespero ou falta de amor próprio. É apenas solidão e solução.

Meu corpo esfria junto ao chão. Ele esta gelado como seu coração, que nunca foi meu. Tão indiferente... Tão livre de promessas e façanhas. É assim mesmo Bernardo... As noites cortam os dias, as promessas são esquecidas... E o calor, o calor do seu corpo, jamais ira esquentar o meu, como outrora prometestes.

Depois do Começo

Legião Urbana

Vamos deixar as janelas abertas

E deixar o equilíbrio ir embora

Cair como um saxofone na calçada

Amarrar um fio de cobre no pescoço

Acender o intervalo pelo filtro

Usar um extintor como lençol

Jogar pólo-aquático na cama

Ficar deslizando pelo teto

Da nossa casa cega e medieval

Cantar canções em línguas estranhas

Retalhar as cortinas desarmadas

Com a faca surda que a fé sujou

Desarmar os brinquedos indecentes

E a indecência pura dos retratos no salão

Vamos beber livros e mastigar tapetes

Catar pontas de cigarros nas paredes

Abrir a geladeira e deixar o vento sair

Cuspir um dia qualquer no futuro

De quem já desapareceu

Deus, Deus, somos todos ateus

Vamos cortar os cabelos do príncipe

E entregá-los a um deus plebeu

E depois do começo

O que vier vai começar a ser o fim

E depois do começo

O que vier vai começar a ser o fim

E depois do começo

O que vier vai começar a ser o fim

E depois do começo

O que vier vai começar a ser...

Julio Dosan e letra de Renato Russo
Enviado por Julio Dosan em 30/08/2013
Reeditado em 30/08/2013
Código do texto: T4458819
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.