Acho que já disse isso para vocês, mas sempre é bom repetir para ver se estavam realmente atentos.

 Bem, meu nome é Fábio, não participarei realmente dessa história, mas quero compartilhar uma frase com vocês.

“A morte é o maior prêmio da vida, ela nos liberta” 

 


“Em algum lugar um avião sobrevoa o céu carregando o diabo de asas quebradas. Em algum lugar um anjo representa o pecado, em algum lugar outro anjo será sacrificado, e em algum lugar o amor será enterrado.”

O jogo da forca – Capitulo VII – Fase V – A origem e O Fim

  Lá estava ele, suas mãos atadas uma a outra, seu peito ensangüentado, marcado com uma simples charada.

  - Não é a mim que procura, não mais. 

 O suor e o sangue se misturando quimicamente enquanto as emoções e sentidos o provocavam uma dor inconveniente. E em suas lembranças toda uma vida que viveu e que sonhou em viver. Ele ergueu os olhos e olhou na direção do homem que o aprisionava.

 - Você tem medo de mim? – ele perguntou. O agressor sorriu, olhou-o novamente e sua expressão mudou completamente.

 - Não vou te machucar mais, não adianta me provocar seu idiota. Você é muito mais importante do que pensa, você é meu troféu, é minha vitima. Você só morrerá na hora certa, e com isso também serei morto, é tudo muito simples. Esse jogo deve acabar – Disse novamente, enquanto pensava no porquê de estar ali.

 
 
  Max sentiu a dor tocar-lhe a pele, quente, e mal pode seguir o rasto da bala que se perdeu na parede à sua frente. O sangue escapou minguado de seu antebraço e ele ouviu a voz de Alex ao fim da repentina surdez que o disparo havia lhe causado.

 - Fique onde está, Max! – Ele gritou.

  Nadia estava atônita. Viu Alex apontando a arma para eles e depois 
olhando para o sofá onde a mulher ainda gemia de dor. Já Max ainda estava com o telefone ao ouvido.

 - O que está fazendo Alex? – Max perguntou virando-se aparentemente destemido. Alex pelo contrário estava completamente confuso, já não sabia mais o que fazer.

 - O que – Ele gaguejou enquanto raciocinava sobre tudo que havia acontecido até ali. Logo a imagem do telefone na casa de Alessandra voltou a sua mente. O teclado estava limpo, mas o fone não. Isso revelava que Max teve que atender ao telefone e não discar, então alguém havia ligado para ele. Alguém que saberia que ele estaria ali. Ele ligou para a emergência de seu celular. Alex continuava a empunhar a arma enquanto algo que Alessandra disse no hospital voltou a aturdir seus pensamentos. 

Ela havia dito que apenas a protegeu. Mas protegeu quem? E disse também que ele não podia ser os dois. Ele é pior que a máscara. Demônio? – Alex olhou nos olhos de Max que continuava a olhá-lo firmemente.

 - Não sou um assassino, Alex. O Fábio é, e há outro louco agora, e ele é muito pior que ele. Tenho que salvar essas pessoas, amigo. Precisa me deixar fazer isso, ou – Max dizia quando foi interrompido.

 - Você conhece o Max, e você sabe do que o Fábio era capaz. Max não é um assassino, Alex – Ela disse.

 - Mas ele matou o Fábio. Eu vi o que ele se tornou – Ele disse ainda raciocinando enquanto o gatilho cada vez mais sentia a tensão de seus dedos.

 - Eu fiz o que qualquer pai faria, o que qualquer marido faria após ter visto sua mulher morta, e após ter que matar cinco pessoas, ter sido colocado em um jogo psicológico e brutal onde a única alternativa para sobrevivência de meu filho era matar pessoas que eu convivia, pessoas que mesmo após terem me traído eram pessoas que eu conhecia – Max estava nervoso e gesticulava enquanto falava.

 - O tempo está correndo Alex, já se passaram oito minutos e logo ele começará a torturar a próxima vitima. Carla está ao telefone, ela está em um caixão, e sua filha abaixo dela em outro caixão. Elas estão ficando sem ar – Disse Nádia.

 - Carla? – Ele então se lembrou – A ex-mulher de Fábio. Meu Deus! – Ele concluiu chocado.

 - Era o nome da ultima charada que Fábio nos deixou! – Revelou, Max.

 - O que? – Surpreendeu-se Alex – Então – Ele dizia quando teve certeza de que não poderia impedir Max agora. Por sorte aquele maldito tiro havia pegado de raspão – Coloque no viva voz.

 - Já está! – Max disse – Carla, Alex Sales está aqui. Ele é da policia – Max olhou para ele de relance, viu a arma agora já não mais engatilhada e tampouco apontando em sua direção – e é um amigo. Preciso que nos conte tudo!

 

  O assassino estava no banheiro, olhou para seu próprio reflexo, sorriu do que estava vendo. E imagens de um passado, de um encontro, de uma prisão, surgiram em sua mente. Um encontro que mudaria tudo.

 - Ei novato, o que pensa que está fazendo?

  Fábio olhou para ele, não entendia como o homem podia falar daquela forma, mas o tom de sua voz, seu olhar, tão compreensivo e ao mesmo tempo tão assassino era realmente algo assustador, até mesmo para ele.

  - Quem é você? – Fábio perguntou enquanto o estranho homem o olhava por entre as grades que os dividiam.

  - Todos me chamam de Pastor, mas você, suicida, pode me chamar de Moisés, esse foi o ultimo nome pelo qual me chamaram antes de chegar aqui – Ele disse enquanto continuava a olhar para as marcas no pescoço de Fábio.

 - O que tanto olha? – Perguntou Fábio.

 - Duas semanas e você tentou se matar três vezes, não come, quase não dorme e ainda é tão estúpido – Ele disse com um sorriso malicioso e cínico.

 - Vai te ferrar cara. Que espécie de pastor é você? – Perguntou Fábio imerso em seu ódio e ainda sentindo a dor do mau jeito que aquela frustrante tentativa causou a seu pescoço.

  - Acha mesmo que se enforcar é tão fácil assim? Não seja tolo. A forca é algo meticuloso, algo muito melhor que isso rapaz. Tem que ser preciso, calculado e não é com qualquer cadarço ou cinta que você vai conseguir se enforcar. Está sendo vigiado o tempo todo, quanto mais der bandeira, mais ficará difícil de conseguir o que quer.

 - Você acha que me conhece? Acha que sabe o que eu quero? – Perguntou Fábio.

 - Não. Somente Deus sabe o que você quer, mas bem, nunca fui um bom pastor, tampouco um bom homem, mas sou ótimo para conhecer as pessoas sem precisar sequer trocar uma palavra com elas. Você não quer se matar. É mais forte que isso, você quer vingança.

 Fábio sentiu-se estranho. Como aquele homem poderia falar daquela forma com ele? O sujeito tinha seu corpo, sua altura, ou quase a mesma. Era branco, os olhos desafiadores e uma voz imponente. Fábio passou os dedos sobre o vergão que ainda se mostrava em seu pescoço.

  - Sim, é o que eu quero, mas eu a amo demais – Fábio disse.

  - O amor é um veneno, amigo. Um veneno mortal. Quer mesmo beber dele através do fio de uma corda? Quer sentir seu pescoço quebrar enquanto essa pessoa continua por aí, pecando, errando, mentindo, enganando alguém? É isso que você quer? – O pastor perguntou enquanto seus dedos agarravam as barras de aço e seu rosto se enfiava entre elas. Sua boca parecia mover-se em câmera lenta, e a cada palavra o peito de Fábio se enchia de um ódio incomum.

 - Não! Eu quero minha vida de volta! Quero minha filha que tanto sonhei! Quero vê-la em um caixão! – Ele explodiu.

 - Pois bem! Temos várias formas de fazer isso, várias formas. E como você está tentando tanto se enforcar, bem, isso me faz pensar em algo 
– O pastor disse enquanto olhava para sua bíblia por sobre a cama.

 - No que está pensando? Do que está falando? – Fábio mostrou-se interessado.

 - Estou pensando em um jogo, um jogo que você já deve ter jogado – ele fez uma pausa,virou-se e caminhou até a cama fétida onde havia passado as ultimas noites, levantou o colchão e pegou um papel velho e uma caneta que barganhara com um dos agentes penitenciários.

  - O que tem aí? – Fábio estava ainda mais curioso.

  - Bem. Acho que você vai gostar – Moisés então rabiscou algo na folha e então o mostrou.

 - O jogo da Forca? Quer brincar disso? – Ele perguntou.

 - De uma maneira que você nunca jogou – Disse o sujeito e então Fábio começou a contar-lhe tudo que havia lhe acontecido.

 


  Carla sentiu que as lágrimas já não existiam, e que o ar não lhe reservava muitas expectativas, e sentiu que sua filha logo estaria morta. Olhou para o teto de madeira, já abalado e ainda sentiu a poeira pousar sobre sua pele, e engoliu a saliva quase seca rompendo sua garganta.

 - Sim, Max, eu o traí – ela disse gaguejando entre soluços – Max ouviu-a imerso em surpresa. Nádia olhou para ele, viu os olhos de Max se encher de duvidas e então a voz de Carla voltou – Mas não da forma que você está pensando, Max.

 - Como assim? – Ele indagou.

 - Nos conhecemos, e como disse eu não o amava, mas não porque não queria e sim porque ainda amava outra pessoa. Um ex-namorado, alguém que simplesmente me abandonou, que me deixou a deriva quando eu mais precisava.

 - Ele sabia disso? – Nádia perguntou.

 - Fábio o conheceu, quando ainda namorávamos. Na verdade ele me defendeu dele uma vez. Porém levou uma surra, ficou caído na frente de um bar enquanto Maik, ou ao menos como eu o conhecia, já que ele era um verdadeiro cafajeste, entrou no carro da policia e saiu correndo de lá.

 - Ele era policial? – Alex perguntou.

 - Mas como assim? Como o conhecia? – Completou Max.

 - Ele era um idiota, esteve brincando comigo o tempo todo, oito meses e meio e eu, uma tola achei que ele era o cara certo – Dava para sentir a revolta de Carla ao falar dele, ela respirou mais uma vez e concluiu - Até descobrir que ele era noivo. Ele nunca havia me levado para casa dos pais, nunca – Max ouvia a tudo tentando raciocinar, queria entender afinal do que ela estava falando, que história mais louca era essa.

   - E suas filhas, porque ele se casou já que achava que você era uma traidora? – perguntou Nádia.

 - Eu era uma tola, uma grande tola. Só descobri a verdade sobre ele no fim de nosso relacionamento – Ela voltou a engolir em seco e então continuou enquanto Max, Nádia e Alex a ouviam – Eu não sabia que ele era policial, ele dizia ser apenas segurança pessoal de um senador, nada mais que isso, e por isso vivia viajando – Ela contou.

  - E como descobriu – perguntou Nádia.

  - Ela o seguiu, era cega de amor por ele, tanto quanto eu. Nos pegou entrando em um motel e ao invés de brigar com ele, não, ela foi até mim e me ameaçou, jurou me matar se eu chegasse perto dele de novo – Disse Carla.

  - Deus! – Disse Nádia.

  - E ele? O que falou? – insistiu, Max.

  - Eu ainda me encontrei com ele mais uma vez – Ela disse já chorando – Queria saber o que ele realmente sentia por mim. Tudo foi lindo, uma noite maravilhosa, e então o revelei o que havia acontecido. Ela mal havia falado para ele – Disse Carla com a voz trêmula.

  - E ele? – os dois perguntaram juntos, curiosos.

  - Ele se levantou assustado, olhando como se temesse algo. Vestiu-se atrapalhadamente e me deixou plantada naquele motel.

  - Sem te dizer nada?? – Perguntou, Nádia.

  - Não, disse algo sim. Disse para eu nunca mais procurar ele, e que aquilo tudo havia sido um erro. Que se eu atrapalhasse a vida dele eu corria grandes riscos.

   Max e Nádia entreolharam-se surpresos.

  - Então você nem sabe o nome dele, o nome dele não era Maik? – perguntou Max.

   - Não, nunca mais quis saber dele. Conheci Fábio no dia seguinte. Estava deitada na maca de um hospital. Ele havia me salvado. Eu poderia ter sido estuprada, morta, sei lá, mas ele me salvou.

  - Como assim? – Alex questionou também confuso.

  - Eu bebi tanto naquela noite, estava sozinha, e Fábio ao meu lado, no Balcão de uma boate. Saí de lá por volta de quatro horas da manhã e não andei mais que cinqüenta metros após a saída da Boate e desmaiei no meio da sarjeta. Mas ele me seguiu e me colocou no carro. Acordei e me deparei com um buquê de flores e um cartão.

   - E ele? Digo, o Fábio. – Perguntou, Max.

   - Ele havia sumido. Li o cartão...

  - Oi mocinha. Espero que tenha acordado bem. Vodka não combina com muita coisa, tampouco com você. Bem, te convido para um jogo, adoro jogos e esse é de sedução. Não sei se o destino quer me pregar uma peça, mas tenho certeza que posso fazer você se apaixonar por mim. É estranho, eu sei, mas me interessei muito por você. Abaixo está o meu número, pense, e me ligue. Seja bem vinda ao jogo, Carla.
 
  - Caramba! – Disse Nádia.

  - No começo eu não gostava dele, mas ele me surpreendia, era tão inteligente, tão bom. Eu era maluca, transei com ele sem mesmo gostar dele, mas quando descobri que estava grávida tive a certeza que não eram deles e sim daquele idiota. Não queria magoá-lo. 

  - Deus! Você escondeu isso dele por anos – Disse Max.

  - Ele não me perdoou, disse que eu não podia ter feito isso. Tentei explicar, mas ele não me deu escolha. Me bateu tanto que quase morri, e depois de um tempo na prisão, depois que ele conheceu aquele homem, ele nunca foi o mesmo.

 - Que homem? – Perguntou Max, quando o telefone de repente ficou mudo – Carla? Carla, você está aí? – Mas ela simplesmente não podia falar mais nada, e o telefone ficou mudo.

 

 
 - Pra onde está me levando? – Bernardo disse enquanto a arma continuava a ameaçá-lo. 

 - Não seja tão ansioso garoto, logo chegaremos – Disse a pessoa desconhecida, enquanto uma de suas mãos segurava o volante e a outra o revólver que apontava para Bernardo.

  Bernardo só queria entender porque aquela pessoa havia matado o homem, e tão friamente. Afinal como ela o encontrou ali? Ele não sabia se estava com sorte de ter se livrado daquele maldito pedófilo ou com azar em estar nas mãos de outra estranha.

  - Ele está te obrigando a jogar? Você é uma jogadora não é? – Ele perguntou.

  - Sabe garoto, você não sabe mesmo quem eu sou. Eu não jogo, não blefo e não suporto crianças! – A mulher olhou para ele com um sorriso tosco e deu-lhe uma coronhada com o revólver. Bernardo mal pode se defender e de repente apagou.

  O telefone da mulher misteriosa tocou.

 - Oi! – ela disse aparentemente impaciente.

 - Por que o nervosismo? Já pegou o garoto? – Perguntou a voz do outro lado da linha.

 - Ele está tirando um cochilo – Ela respondeu.

 - Muito bom, continue com o planejado, logo terá seu prêmio – Ele terminou e desligou o telefone.

 

 
- Max? Max? Droga a bateria acabou! Maaaxxxxx!!! – Carla gritou tendo certeza que estaria morta em pouco tempo, tanto ela como sua pequena bailarina.

 Pela primeira vez ela sentiu que a solidão e o desespero a tomavam. Tentava ligar o celular, mas assim que o mesmo acionava, surgiam três bips intermitentes que chegavam causticantes aos seus ouvidos, e então uma mensagem rápida na tela do celular aparecia zombeteira de sua angustia;

 “sem bateria”.

 - Merda! – Praguejou, assustada. Lembrou-se então de sua filha abaixo dela – A mamãe está aqui querida. Respire devagar, a ajuda está vindo 
– Carla sentiu os olhos arderem e rapidamente se inundarem, e seu rosto transformou-se numa cachoeira, enquanto ela com uma das mãos acariciava o caixão e cantarolava baixo uma canção que sua filha tanto adorava ouvir.

 


  Alex olhava para todas aquelas charadas na parede, mas ele era péssimo naquilo. Olhou para a mulher que jazia desmaiada no sofá. Nádia ainda cuidava dela, limpando os ferimentos.

 - Temos que pedir uma ambulância, Max – Nádia observou.

 - Sim, temos – Concordou Max, enquanto olhava fixamente para a parede, lado a lado com Alex – Temos muito em comum, Max. Dois homens traídos. Dois excelentes pais de família. Dois ou um? Essa é a charada que você precisa decifrar, Max. Quanto ao nome, ele está no fim, bem no fundo do oceano. É apenas o começo dessa luta, pense bem, no meio dessa guerra si entrar, saiba que pode ser o fim de suas duvidas. Termina agora, Max. Afinal você é bom? E eu sou mau? Não há vilões nem heróis. Somos todos uma engrenagem, Max. Prepare-se para a verdade e bem vindo a fase V, o jogo ainda não acabou – Ele murmurou em voz baixa porém audível a todos que ali estavam.

  - Quanto tempo se passou? – Indagou Alex.

  - Dezoito minutos – Disse Max olhando para o relógio pendurado na parede lateral a que se encontravam as charadas – mas estou mais preocupado com Carla, o telefone simplesmente cai na caixa postal, acho que acabou a bateria – Ele concluiu pensativo.

  - Temos que encontrar essa pessoa, rápido! – Disse, Nádia deixando a vitima no sofá.

  - A charada! Precisamos matar ela logo! Vamos pensar! – Disse Alex.

  - Dois excelentes pais de família, dois ou um? Ele está falando de Fábio e de mim – Se formos analisar, apenas um, pois as garotas não são filhas dele, mas ele não parece estar falando disso. Mas por que preciso decifrar isso? – Max continuava pensativo.

 - Mas a charada do nome começa depois, Max – Disse Nádia – Quando ele diz que o nome está no fim! – Ela volta-se também para a parede – no fundo do oceano? – Ela pergunta como se todos estivessem participando de um maldito teste oral em uma sala de aula.

 - É apenas o começo dessa luta, pense bem, no meio dessa guerra si entrar, saiba que pode ser o fim de suas duvidas? – Alex estava cada vez mais perdido.

 - Não estou conseguindo raciocinar! Maldito! Por que afinal ele está fazendo isso comigo? Por que eu estou nesse jogo ainda? Por quê? – Max gritava consigo mesmo.
 



Fábio e o Pastor estavam sentados, cada qual em sua cela. Há dias vinham conversando, maquinando um plano para quando saíssem dali. Ambos eram perfeccionistas demais.

 - Fábio, você precisa encontrar as pessoas certas. Ajude alguém a enxergar a verdade, alguém que mereça uma chance de recomeçar, alguém que você possa confiar – Disse o pastor.

 - Como encontrarei essa pessoa? – Ele perguntou.

  - Com o tempo encontraremos, mas precisamos realmente planejar isso. O que você faz da vida? – Perguntou Moisés.

 - Sou advogado – Respondeu Fábio.

 - Interessante – Respondeu o Pastor.

 - E você? É pastor mesmo? – Perguntou Fábio. Moisés sorriu para ele. 

 - Fui por muito tempo, mas vi que não é possível corrigir todas as pessoas com orações, algumas devem ser castigadas, assim como Deus Fazia, se preciso fosse ele tiraria tudo de um homem – Disse, enquanto abria o livro sagrado e debruçava os olhos sobre alguma parte da escritura – e eu sou uma delas, e ele fez isso comigo, me tirou tudo.

 - O que você fez? – Fábio perguntou.

 - Confiei nas pessoas e não em Deus, estou aqui por diversos motivos, mas o que originou tudo isso – ele disse enquanto fechava a bíblia, pausou e respirou fundo – já confiou tanto em uma pessoa e depois foi traído? Foi isso que aconteceu com você, não foi, ela te traiu – ele perguntou e afirmou ao mesmo tempo – Minha mulher fez isso comigo, Fábio, e eu te garanto ela não terá essa chance jamais.

  - Você a matou? – Fábio perguntou.

   O homem olhou-o, sorriu e então seus olhos se encheram de uma ira terrível.

  - Eu quis, mas a vadia não tinha muita sorte, foi morta no dia seguinte. Um homem a atropelou enquanto eu a perseguia na rua. Eu estava pronto para fazer aquilo. Eu estava armado, pronto para acabar com ela, e então veio aquele maldito cruzamento, ele cruzou meu caminho. Ouvi o barulho da buzina, o baque do corpo dela por sobre o capô, ouvi até o barulho do pára-brisa se partindo e caindo aos pedaços no chão. E ela, bem, a cadela estava morta. Larguei a faca assustado, olhei para os lados, estava a trinta metros deles. Ninguém havia me visto, ninguém me viu com a arma. Joguei-a no lixo e corri na direção do homem que pousava as mãos por sobre a cabeça, incrédulo.

  - Eu não – Ele gaguejava – ela apareceu do nada! Meu Deus – Ele dizia andando em círculos como se o mundo girasse ao seu redor julgando-o impiedosamente – Contendo minha alegria e ao mesmo tempo infeliz por não tê-la matado com minhas próprias mãos eu parti para cima dele, o bati tanto que o maldito ficou quinze dias no hospital, ficou cego de um olho, chutei tanto ele, quebrei-lhe três dentes e pisei por sobre seus dedos da mão direita esfolando-os no chão – Moisés contava aquilo como se desejasse fazer aquilo tudo novamente – ouvir seus ossos quebrando-se era como as badaladas de um sino na torre da igreja anunciando um culto, era como se tudo fosse perfeito, eu enfim podia me sentir calmo após o que ela tinha me feito – Ele concluiu.

  - Acho que nos parecemos muito, como pode ser isso? – Perguntou 
Fábio – é como se fossemos um só.

 - Também acho isso, mas talvez possamos ser um só – Disse o Pastor – Há mais mistérios entre a vida e a morte do que sonha a nossa vã filosofia, Fábio – Mistérios, charadas, um jogo, pessoas enforcadas e pessoas buscando a redenção e respostas para seus enigmas interiores. Podemos fazer isso, juntos, só precisamos encontrar um homem capaz de fazer tudo por alguém, precisamos testá-lo, precisamos conhecê-lo, precisamos conhecer aqueles que o rodeiam – disse o Pastor.

  - Mas então, como faremos isso? Como o encontraremos depois que sairmos daqui? – Perguntou Fábio.

  - Um pastor não precisa ir até as ovelhas, Fábio, as ovelhas vem até nós – Disse Moisés com a voz serena e quase encantadora.

 


 - Quanto ao nome, ele está no fim, no fundo do oceano – Nádia continuava a repetir parte da charada – ele está no fim? O final do nome é “ele”. Mas que nome é esse? – Ela tentava adivinhar.
  
 - É apenas o começo dessa luta, pense bem – Alex tentava raciocinar – Mas de que luta ele está falando? – Alex se irritou sentindo-se imponente.

  - No meio dessa guerra si entrar, saiba que pode ser o fim de suas duvidas – Max balbuciou esse pedaço e então algo o chamou a atenção – Droga, como podemos ser tão tolos? – Ele gritou.

  - O que foi, Max? – Perguntou Alex enquanto Nádia apenas esperava a conclusão de Max.

 - Ele está dando dicas demais aqui. Vejam, começo, meio e fim. Ele embaralhou a charada, mas diz claramente as posições de cada dica. 

 - Então temos que dividir a chara em três, e descobrindo isso matamos o nome! – Concluiu Alex.

 - Na verdade acabei de descobrir o nome, mas – Nádia estava completamente perdida.

 - O que foi, Nádia? – Perguntou Max, ansioso.

 - Como saberemos quem é esse homem e onde ele mora? – Ela concluiu.

 


 - O que você quer que eu faça? – Ele perguntou.

 - O que estou mandando, ora bolas – Disse o assassino – Quer ela salva não quer? – Ele continuou.

 - Sim, deixe apenas que ela sobreviva, é a única coisa que te peço – Ele falou enquanto sentia a corda levemente acariciar sordidamente seu pescoço.

 - Eu cuidarei – Ele disse enquanto se afastava dali e deixava o homem a mercê de seu destino. 

  O assassino saiu caminhando, sem sequer olhar para trás. Lembrou-se de sua perca, afinal não era para ter sido daquela forma, eles sairiam vivos, fugiriam juntos, mas a vida tem dessas coisas. Restava a ele terminar o jogo, enfim morrer.

 


 - E se algum de nós morrermos? – Perguntou Fábio.

 O pastor parou um pouco olhou e então fechou os olhos como tantas vezes fazia. Olhou para Fábio novamente e então abriu a bíblia sem saber em qual página ela abriria, e leu a mensagem que entendeu ter recebido.

 - Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo – Ele leu aquilo confiante de que Deus estaria do lado deles – mesmo que isso aconteça temos que levar isso até o fim, afinal agora somos mais que irmãos, somos um só.

 - O assassino lembrou-se do tempo que levaram para arquitetar aquele sórdido plano. Lembraram de como tiveram que estudar a vida daquelas pessoas, de como conheceram Max e de como o enganaram facilmente.

 


  - Bom dia, Max. Aqui quem fala é Fábio, sou advogado, acabei de abrir um escritório aqui na região e queria marcar uma reunião para se possível firmarmos uma parceria – Tem algum horário.

  - Oi amigo, desculpe, aqui quem fala é Rafael, sou sócio e amigo do Max. No momento ele não está podendo atender, mas – Rafael parou um pouco, olhando para Max enquanto o amigo entregava um dinheiro para o jardineiro, o nome dele era Ivo. Max o havia contado que a filha de Ivo estava tendo sérios problemas de saúde.

  - Ta certo, eu ligo depois – Dizia a voz, quando Rafael o interrompeu – Ei, Fábio, só um instante, por favor, ele já vem – E então Rafael passou o telefone para Max.

  - Pronto, quem fala? – Atendeu, Max.

  - Olá, aqui é o Dr. Fabio quem fala, estou ligando para oferecer-lhe meus serviços – E naquele dia eles encontraram a pessoa certa.

 

  Carla via-se perdida em meio à noite inescrupulosa e forçada que a cercava. O silencio era rompido pela difícil e rouca respiração de sua filha que a cada instante tornava-se mais angustiante.

  - Deus, pai nosso que estás no céu – Ela orava enquanto que abaixo de si Isadora acariciava o teto do caixão, quase sem forças. Os pensamentos da garotinha, a insegurança, seus medos, os pesadelos e a sensação de desconforto deixavam-na estarrecida    . 

 - Quero sair daqui – Ela pensava, enquanto queria falar, mas não conseguia.

  A luz da lanterna jaó não acendia mais. A escuridão reinava e o medo imperava a seu lado. Não havia sons externos e isso tornava o ambiente ainda mais desesperador. Carla queria poder fazer algo, Isadora queria falar com sua mãe.

  E quando a escuridão reinou uma luz chegou quase salvadora. Quase...

 


 - É verdade, precisávamos de Carla para conseguir o endereço da pessoa, que droga, estamos perdidos – Disse Max.

  - Você disse que sabe o nome, Nádia. Diga o nome – Alex pareceu pensar em algo.

 - Quanto ao nome, ele está no fim, no fundo do oceano – Nádia olhava para os dois– ele está no fim! Esse é o fim, ele está no fim e onde é o fim do oceano? 

 - No fundo – respondeu Alex, enquanto Max a olhava tentando compreende-la.

 - Pensem na palavra. O fim da palavra Oceano pode ser “o”, “no”, mas também pode ser “ano” – Ela concluiu.

 - Sim, pode ser, mas e o resto? – Perguntou Max enquanto a admirava. Era incrível como a inteligência de Nádia a deixava ainda mais atraente.  

- É apenas o começo dessa luta, pense bem – Nádia continuou – o começo da luta, é muito simples.

 - “L” ou “Lu”? – Perguntou Alex.

 - Exatamente “Lu” – Concluiu Nádia.

 - Temos o fim e o começo, correto? – Disse Nádia.

 - E então o meio é “si”, porém para nos enganar. E ao mesmo tempo deixou isso evidente, quando era pra ser “se” ele escreveu “si” – trocamos o “s” pelo “c” e temos “ci”. O meio do nome – Raciocinou Max.

 - Luciano – disse Nádia – mas quem é esse tal de Luciano. Esse então é o fim de nossas duvidas, e agora me enche de interrogações, afinal como poderemos encontrá-lo? – Nádia perguntou.

  Alex olhou para eles e então discou o numero no celular, no segundo toque a voz feminina atendeu.

  - Senhor? – disse Débora do outro lado da linha.

  - Débora, preciso que pesquise um nome , encontre qualquer ligação com Carla e Fábio ou qualquer uma das vitimas até agora. 

 - Sim, Senhor. Qual é o nome? – Ela perguntou.

 - Luciano – Disse Alex e então no outro lado da linha Débora pensou em algo. Ela não podia acreditar naquilo.

 - Luciano, senhor? Pesquisei toda a família de Carla, não há nenhum Luciano, tampouco amigo dela – Débora revelou, deixando Alex frustrado. Ele balançou a cabeça negativamente.

 - Certo, Débora – Ele dizia quando ela o interrompeu.

- Mas enquanto pesquisávamos encontramos um ex-policial, há uma ligação entre um tal de Luciano e Carla, a ex de Fábio – Alex arregalou os olhos entusiasmado – Luciano Diaz, é o nome dele, Senhor.

 - Luciano Dias, me lembro desse nome – Disse Alex.

 - Isso mesmo Senhor, é um ex-oficial da policia, perdeu seu distintivo há cerca de dois anos quando foi flagrado aceitando suborno de alguns traficantes – Disse Débora.

 - Ele era da 18ª? Foi fotografado por um civil, uma foto aparentemente involuntária, mas vazou rápida demais, e ele estava à paisana. Foi um caso realmente intrigante e triste para aquela unidade – Concluiu Alex – Onde ele mora? – perguntou Alex.

 - Senhor, na esquina da Avenida Fernando Passos com a Getulio Vargas – Revelou Débora.

 - Certo, acione o reforço e a equipe de resgate – ele disse, sorriu para Max e Nádia, abaixou os olhos e antes de desligar chamou-a pelo nome mais uma vez – E Débora – ela o respondeu:

 - Senhor?

 - Veja como está meu filho, e obrigado, bom trabalho! – Ele então desligou.

 - Tem o endereço? – perguntou Max .

 - É o ex de quem ela falou, seu nome verdadeiro é Luciano Dias –Respondeu Alex.

 Max ficou pensativo, olhou para Nádia, depois para Alex e então ouviu os gemidos de Lucimar. 

 - Você ficará aqui para ajudá-la, Nádia – Ele disse. Nádia olhou-o relutante.

 - Não pode fazer isso comigo! – Ela disse.

 - Eu posso, pois preciso de você aqui, ela precisa – Ele disse direcionando seu olhar para Lucimar – Logo a febre chegará e eu tenho o Alex comigo, ta bem? – Ele disse sorrindo para ela.

 Nádia engoliu algo que não existia em sua boca, sentiu a garganta seca e o coração paralisado. Olhou para o homem a sua frente, aquele mesmo que conhecera sentado à mesa de sua lanchonete, balbuciando uma charada tola, sem saber sequer do que estava falando. Um filme passou por seus olhos naquele instante e abruptamente ela correu até ele e o beijou, um beijo diferente, com um tom de despedida mesclado com um sabor de quero mais, um sabor de volte pra mim.

  - Espero por você aqui! – ela disse.

 


   Bernardo acordou e sentiu uma sensação estranha. Era como se certa vertigem o tomasse. Queria perguntar onde estava, mas só podia fazer isso consigo próprio já que estava impossibilitado de falar. Suas mãos estavam atadas para trás, amarradas a altura de sua cintura.

  - Droga! – Ele pensou – olhou para a sua esquerda e lá estava ele.

  - Garoto, considerando sua sorte diria que você ressuscitou – Disse a voz do homem mascarado – vim apenas para dizer algo a você. Estamos quites, te botamos na forca ontem, mas hoje te tiramos das mãos de um maldito pedófilo. Muita coincidência ele ter te pego você na porta daquele hotel, muita mesmo. Mas ele estava justamente procurando mais uma vitima, maldito idiota, entrando em propriedade alheia. Você tinha que desobedecer seu pai, moleque enxerido – Disse a voz.

  Bernardo tentava gritar se contorcia enquanto via-se dependurado, seus pés amarrados ao teto e ele de cabeça para baixo, remexendo-se feito uma minhoca que era tirada de seu habitat normal.

 - Bem, espero realmente que seu pai possa salvar você e que logo ele me mate, afinal Deus vai me dar outra vida garoto, livre de meus pecados, ele tem o poder de perdoar todos nós – Disse o homem segurando uma bíblia em suas mãos – Adeus! – ele se despediu e antes de sair fechando a porta do quarto ele disse – E garoto, se seu pai chegar até aqui, diga a ele que para encontrar Carla ele terá que perguntar onde ela está para você!

 - O quê? – Bernardo pensou.

 


  Max e Alex estavam a cinco minutos do local indicado, Alex dirigindo o carro.

  - Temos que achá-los logo. Carla já pode estar morta, Max – ele observou – se você tivesse me contatado talvez eu pudesse ter rastreado o celular dela – ele reclamou.

 - Não podia arriscar, Alex. Fábio sempre previa tudo, com certeza está nos vigiando de alguma forma – Disse Max, certo de que havia tomado a escolha certa, mas e se Carla não resistisse. Ele estava nervoso.

  - Estamos quase chegando! – Observou Alex quando o telefone de Max repentinamente tocou e eles entreolharam-se.

 - É ele! – Disse Max – Diga – Max atendeu.

 - Bem, Max, vejo que está a caminho – disse a voz do assassino.

 - Você é como ele não é? Por que acha que vai sair vivo dessa? Fábio não saiu e você não sairá! – Max ameaçou.

 - Não espero por isso Max, minha morte é necessária para que esse jogo termine bem.

 - Você é doente, como ele! – Disse Max.

 - Max, leia bem as charadas, pode se surpreender com elas. Agora eu digo isso a você amigo, foi realmente muito bom jogar com você. Fim de ligação, Max.

 


 - O que é isso? – Carla esticou seu braço ao máximo para poder pegar o objeto que reluzia em meio à escuridão. Foi aí que ela conseguiu, ele estava no piso do caixão, na quina e da forma que estava só seria visto se não houvesse luz alguma ali. Estava embrulhado em papel laminado fluorescente.

  Carla desembrulhou o papel e dentro surpreendentemente havia uma folha de caderno brochurão que enrolava algo mais pesado. Ela desembrulhou e percebeu algo cair.

 - O que é isso? – o objeto caiu por sobre seu corpo e ela o pegou enquanto segurava a parte maior em sua mão esquerda. Sacudiu a caixa pequena que havia caído sobre seu peito e abriu-a sentindo que já sabia o que era. Era como se abrisse uma minúscula gaveta. Segurou um palito e riscou-o e só então a claridade voltou. 

  Carla estava entusiasmada, mas sem ar, e o fogo ali não era uma boa opção. O fósforo queimou enquanto ela reconhecia o objeto maior e mais pesado. Ela sentiu as chamas queimarem seus dedos então deixou que o fósforo caísse no caixão, o mesmo apagou-se rapidamente. Pegou outro e acendeu, desamassou a folha de brochurão vendo que havia algo escrito, aproximou o fósforo e leu. 

 - Duas balas, duas vidas, você escolhe como vai ser! – Ela então olhou para o revólver e para o papel e só teve uma certeza, ela não queria ver sua filha morrer asfixiada.

 

  Alex e Max desceram do carro. Alex foi na frente com a arma empunhada, eles eram os primeiros a chegarem ali.

 - Vamos esperar pelos reforços – Sussurrou Alex.

 - Não temos tempo! – Já se passaram cinqüenta minutos, em dez ele estará morto ou mutilado! Não faço idéia do que esse maníaco planejou para ele – disse Max.

  Alex pensou, olhou para a rua, não ouvia sequer barulhos de sirenes – Droga! – Ele Praguejou – Vamos entrar.

 Havia uma garagem na frente de casa, e a porta da frente estava aparentemente fechada, entretanto Alex apenas girou a maçaneta e a porta se abriu.

   Fez sinal com os dedos para Max, cada um iria para um lado protegendo-se atrás dos móveis. A porta rangeu e eles entraram.

  A tensão cercava o local, Max ainda estava pensativo em relação a tudo que vivera naquela noite. Foi quando ele ouviu um barulho.

  - Chiiiiii! – Alex colocou o indicador a frente da boca e solicitou silencio.

 - Merda! – Max estava atrás do sofá. Alex estava bem do lado da porta que dava para o corredor – Por ali – Alex apontou para o corredor.

  Eles se levantaram e seguiram, ouvindo alguém até que chegaram a uma porta. Era alguém tentando dizer algo, mas estava impedido. Max hesitou em abrir e se deparar com outra armadilha, mas sabia que tinha que fazer aquilo. Girou a maçaneta e ouviu o ronco da dobradiça zombar de seus sentidos.

  - Bernardo? – Ele se assustou.

  - Ele e Alex entraram correndo para socorrer o garoto quando ouviram passos e Alex engatilhou a arma.

 Ela então apareceu á porta apontando a arma para eles. Alex engatilhou e ia disparar quando a reconheceu.

 - Débora? – Ele chamou.

 - Senhor, os reforços estão a caminho – ela disse apontando a arma.

 - Então abaixe a arma! – Ele continuou.

 - Esse é Max, Senhor! Ele é um assassino! – Ela continuou.

 - Ele não é um assassino, Débora. Abaixe essa arma, com ordem de quem largou seu posto? – Alex insistiu. Débora olhava receosa pelo corredor.

 - Onde está ele? Onde está? – perguntou Débora enquanto Bernardo se movia bruscamente.

 - Débora baixe a arma! – Alex insistiu.

   Max voltou a pensar, aquilo tudo estava muito estranho. Bernardo estava muito agitado e a olhava como se a conhecesse, e pior, como se tivesse medo dela.

 - Atire nela, Alex – Max disse.

 - Está louco! – Alex retrucou enquanto o clima ficava cada vez mais tenso.

 - Só me responda uma coisa, como sabia do Luciano? Como ligou o nome dele a Carla? – Max perguntou.

 - Carla havia sido namorada dele, Alessandra revelou isso no hospital, Alex. Ela recuperou a consciência, está bem agora, Alex – Continuou Débora ainda com a arma mirando para Max e Alex então baixou a arma.

 - Alex, lembra-se do que Carla nos contou? – Perguntou Max.

 - Ela nunca soube o nome dele – Alex pensou mas era tarde demais – Abaixe a arma Débora! – Ele disse e então ela sorriu e disparou em cheio no ombro dele que mal teve tempo de se mover.

 - Você é um tolo Alex, nunca baixe a guarda – Ela disse caminhando na direção deles. Como acha que você se meteu nisso Alex? Como acha que Fábio te colocou no jogo? – Ela perguntou ironicamente – Max então voltou a raciocinar.

 - Do que está falando? – perguntou Alex.

 - Você, Max, e todos os outros são apenas peças no tabuleiro. Essa 
vingança é muito maior que qualquer um de vocês – Ela disse.

 - O que você ganha com isso? – Perguntou Alex e então Max interferiu.

 - Ela quer se vingar de Carla – Ele disse olhando nos olhos dela que sorria para ele – Você quer mesmo cumprir sua promessa não é?

 - Eu disse a ela que a mataria! – Débora gritou.

 - Você era a noiva do Luciano? – Alex concluiu.

 - Acha mesmo que deixei as ruas por uma mesinha de telefonista apenas porque queria fugir da rotina? Era tudo parte do plano, seu imbecil – Ela então voltou a apontar a arma e preparou-se para matá-los quando recebeu o golpe na cabeça. A arma ainda assim disparou,porém Débora caiu inconsciente.

 - Sua louca! – Max disse – o que faz aqui?

 - Não acha mesmo que também não perceberia que havia algo de errado nessa informação. Não tinha como ela saber do Luciano, saquei isso na hora, mas achei que poderia ser um elemento surpresa – Ela disse e então viram Alex caído no chão.

 - Aaahhh!! – Três tiros em um dia? – A bala acertou ele novamente – Max soltou Bernardo e pegou a arma de Débora caída no chão.

 - Droga amigo, você vai ficar bem! Nádia, aponte essa arma para porta e se alguém passar por aqui atire. Cuide deles. Tenho que achar o Luciano.

 - Pai! – Bernardo chamou.

 - Oi filho – Ele respondeu

 - Ele pediu pra te dizer algo. Disse que se o senhor chegar até aqui, era pra dizer que para encontrar Carla você terá que perguntar onde ela está, terá que perguntar isso pra mim – Bernardo estava confuso – não sei do que ele está falando.

 - Logo saberemos, filho – Disse Max abraçando-o e depois saindo na direção do corredor adentrando ainda mais na casa.

 

 
  Carla ainda segurava a arma em suas mãos, não podia acreditar que Fábio a tivesse oferecido aquela opção. Sentiu que o mundo estava desmoronando sobre sua cabeça. Sentiu pela primeira vez que ela e Isadora estavam mortas.

 - Eu não quero morrer assim – sussurrou a si mesma então ouviu a tosse de sua filha.

  Isadora estava cada vez mais fraca, não conseguia respirar profundamente, estava exausta, e a falta de ar cada vez mais a maltratava. A tosse chegou asmática, intensa e mórbida. Tudo estava tão perto do fim.

 

  Max continuava a andar empunhando a arma, ele precisava salvar a ultima vitima. Entrou numa sala enorme, fotos de Luciano fardado estavam expostas pela parede. Havia também uma foto de Débora, por sobre uma estante, ambos vestidos a caráter, ela trajava um longo vestido azul e ele um fraque estonteante e imponente.

  Encontrou também fotos de outra pessoa esparramadas pela mesa, já essas fotos eram mais intrigantes, eram fotos de um velho com uma criança, Max ficou assustado com o que viu. As fotos estavam à vista, fotos doentias, havia fotos de uma cabana e de ossos desenterrados ao lado de um buraco. O estranho é que nas fotos do velho eram sempre fotos mais distantes como se ele fosse o tempo todo vigiado.

  - Que merda é essa? Mas por quê? – Max se perguntava.

  Olhou ao redor, tudo era tão confuso, havia uma espingarda pendurada em outro canto da parede, e uma foto de um senhor mais velho acima dela. Max deduziu que aquele era o pai de Luciano – Deixou as outras fotos ali e continuou andando.
 

  Dois passos à frente, outra porta, porém fechada. Max engatilhou a arma e preparou-se para entrar, levou a mão até a maçaneta e a girou.

 - Meu Deus! – Max disse enquanto via o homem dependurado na corda. Ele esperneava como se estivesse sendo estrangulado, havia uma mordaça em sua boca e os olhos imersos em tremendo pavor. No chão havia duas réplicas idênticas das torres gêmeas, quebradas, arruinadas, destruídas pelo peso do corpo de Luciano, que tentava apoiar os pés no chão, mas estava a dois centímetros dele dançando no ar, feito suas bailarinas. E bem abaixo de seus pés algo escrito a sangue.

  “Quando um homem tiver cometido um crime de morte e for condenado, será enforcado.” “O enforcado é uma maldição de Deus”

    Max correu até ele, o homem não havia sido machucado demais, e pelo atraso que tiveram, ele já deveria estar morto, mas incrivelmente parecia lutar por sua vida.

 - Acalme-se! Vou te tirar daí! – Max disse enquanto pensava em uma forma de tirá-lo da corda sem que ele caísse. O homem estava de camisa, ela estava suja de sangue, porém dessa vez o assassino apenas o colocara na forca. 

  A corda estava amarrada ao teto, havia um gancho parafusado lá. Max procurava algo, quando encontrou justamente nas mãos atadas de Luciano que estavam à altura de seu abdome.

  Max olhou para aquilo enquanto viu que Luciano parecia perder a consciência.

  - Droga! – Ele disse e então pegou a navalha, arrastou a cadeira da mesinha do computador e subiu nela de frente para Luciano e então cortou a corda enquanto Luciano parecia estar inconsciente, ou morto – Max estava desesperado.

A corda se partiu e os pés de Luciano rapidamente tocaram o chão e só aí Max percebeu o nó da corda por detrás de Luciano.

 - O quê? – Max estava confuso, mas agora era tão claro. O laço que contornava seu pescoço não estava ligado diretamente ao gancho preso à laje, na verdade esteve frouxo o tempo todo enquanto a corda estava presa a um cinto de segurança que estava amarrado ao seu corpo, por debaixo da sua camisa.

  Assim que os pés de Luciano tocaram o chão ele abriu os olhos e partiu para cima de Max dando-lhe um murro e derrubando ele da cadeira.

 - Merda! – Max gritou sentindo sua cabeça bater contra o chão – Você? – Max dizia enquanto era surrado.

 - Vou matar você de uma vez por todas – Dizia Luciano enquanto o chutava.

 - Aaaaahh!! –Max gritava e se defendia com os ombros enquanto procurava uma maneira de sobreviver aquilo.

 - Você achou mesmo que podia salvar todo mundo?– Ele dizia – Max raciocinava. Débora estava ali, como ele não pensou nisso antes, Luciano era o assassino? Mas por que ele faria aquilo com as próprias filhas?    

 - Por que você está fazendo isso com suas filhas? Você matou uma delas? – Max questionou.

 - Elas não são minhas filhas – Luciano disse aquilo aparentemente sem sentimento algum – Não tenho filhas, nunca tive e você, você é só uma peça do tabuleiro Max.

  - Max se encheu de ódio com aquilo, olhou para o objeto que escapara a pouco de suas mãos.

 - Terei que matar você – Disse Luciano – E vou fazer isso agora – Ele ameaçou. Naquele momento Max se moveu rapidamente, esticando o braço esquerdo e apanhando a navalha, passou ela fortemente cortando as canelas de Luciano. O sangue saltou das veias de Luciano e ele gritou imediatamente.

 - Cretinoooo! – o ex-policial caiu com dois profundos cortes e então Max levantou-se com certa dificuldade.

 - Onde está Carla? – Max perguntou.

 - Idiota – Luciano berrava como um porco num matadouro – ela está mortaaa!

 - Não! – Max puxou-o pelo cabelo e encostou a navalha no pescoço de Luciano – Não perguntei isso! Me diga onde ela está!

 - Eu não sei – Luciano disse olhando para Max como se realmente não soubesse.

 Max queria matá-lo, acabar com aquilo novamente. Sentiu o sangue ferver e o coração disparar. Seu pulmão enchia-se e esvaziava muito rápido. Ele queria cortar a jugular de Luciano.

 - Pessoas morreram, outras ficaram com cicatrizes para o resto da vida seu cretino – Max estava possesso – você é mesmo doente!

 - Eu sei disso, não precisa me falar, Max – Retrucou Luciano – Mate-me logo ou vou fazer tudo isso de novo. É o que quer? – Ele ironizou – Quer continuar com a adrenalina?

 - Eu te salvei, esse era o trato, são as regras, Luciano. Diga-me onde ela está? – Max perguntou novamente.

 - Max, só posso lhe dizer uma coisa – Luciano sentiu a lamina da navalha tocar sua pele, fria e mórbida – “A morte é o maior prêmio da vida, ela nos liberta” – ele disse.

 - Maldito! – Max gritou e naquele momento ele sentiu que nada que fizesse iria fazê-lo falar a verdade – Desceu a lamina mais um pouco e começou a rasgar a pele que aquele corpo trajava. Dava para ouvir o barulho, sentir o nervosismo e ver o sangue que se escondia por debaixo dela. 

 


  Nádia estava apertando forte o ferimento de Alex, Bernardo estava no chão, o olho ainda roxo. 

 - Maldito dia! – ele praguejou – Foi quando terminou de pronunciar a palavra que viu Débora arrancar outra arma de trás de si após despertar – A mulher apontou a arma para Nádia, que também apontou contra ela.

 - Vou me levantar daqui! Se ousar atirar, mato vocês três – Ela disse. Naquele momento de tensão ela se levantou com o olhar fixo para Alex que estava em estado grave e para Bernardo de Nádia.

 - Afastou-se e saiu do quarto – solte a arma – Ela ordenou para Nádia.

 - Nem morta! – Disse Nádia ainda apontando contra ela. Nádia sabia que se soltasse a arma seriam todos mortos.

 - Aposto que não sabe nem usar essa arma – Débora disse em tom sarcástico.

 - Você quer pagar pra ver? – Nádia retrucou – Débora sorriu, um riso murcho ainda sentindo a dor daquela pancada – ainda não espertinha e então saiu andando de costas do quarto indo em direção da voz de Luciano.

 


 - Me mate seu imbecil! – Luciano gritou enquanto Max rasgava a camisa dele e via a charada escrita em seu peito –“Não é a mim que procura, não mais”. Do que está falando? Como pode fazer isso em você mesmo? – Max perguntava a ele, mas Luciano permanecia calado.

  - Carla precisa de ajuda! Ela te amou, sabia? – Max indagou.

  - Eu também a amei, eu a amo, mas isso não importa mais! – Disse Luciano e naquele momento Débora ouviu tudo.

  - O quê? – Débora era impulsiva – Como você pode dizer isso? Eu vim te salvar! – Luciano virou-se e logo sentiu o impacto dos disparos certeiros em seu peito.

  - Aaahhh!! – Ele disse caindo para trás, nos braços de Max que se viu sendo a próxima vitima.

 - Adeus Max! – E então ela disparou. 

 - Aaahhh! – Gritou com a voz abafada, o projétil atingiu em cheio sua nuca e ela caiu. Nádia disparou sem piedade.

 - Você a matou? – Max disse espantado.

 - De vê ser a convivência com você, isso está me afetando – Ela disse estranhamente sorrindo – Eu disse que era melhor ela não pagar pra ver – completou Nádia abaixando a arma.

 Eles então ouviram a tosse de Luciano.

 - Maax? – chamou.

 - Estou ouvindo – disse Max.

 - Não deve procurar a mim – Dizia Luciano com imensa dificuldade – Os fatos revelam tudo, mas o que revelamos não são fatos, não é mesmo, pergunte ao Bernardo, acredite ele saberá onde ela está!

 - O quê? – perguntou Max atônito enquanto o pescoço de Luciano cedeu e sua cabeça pendeu para baixo.

 - Você não pode morrer me deixando outra charada! Acorde! Abra os olhos seu filho da puta! – Max pestanejava.

 


 Carla estava em estado de choque, por mais que quisesse salvar a filha ela também não podia mais ouvi-la sofrer. O ar já não era suficiente, dava pra sentir as narinas tomadas pela poeira, o pulmão fraco e a sede tomando –a de uma maneira assustadora.

 - Isadora me perdoe! – Carla disse.


Continua AQUI!

 
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 03/09/2013
Reeditado em 03/09/2013
Código do texto: T4464964
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.