A Noite De Cândida
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 No tronco da gigantesca arvore em meio à floresta, gritava a imunda bruxa Margot, prestes ao inferno, prestes a ser condenada por suar artimanhas e maldades. A bruxa velha se esforçava para escapar das amarras, em vão, estava predestinada a fogueira.
 Era noite de lua cheia, a sétima depois do dia em que ela se tornou bruxa. Seis luas cheias haviam se passado desde a sua ascensão. Na primeira noite que consegui evocar o mal e se consagrar bruxa, Margot devorou os olhos de três crianças. Todas elas eram filhas do velho ferreiro Joseph, que depois da grande desgraça, se enforcou no estábulo de sua propriedade.
 
 Mas bem antes de morrer, ele criou uma lamina. Era uma espada afiada digna de pertencer ao mais forte dos generais. A lamina era tão afiada, tão perfeita e mortal, que poderia retalhar até mesmo um forte soldado da guarde real ao meio. Foi esta lamina que a jovem viúva carregou no funeral do marido e das crianças. A lamina que vingaria seu criador.
 A esposa do ferreiro Joseph se chamava Cândida, e embora jovem demais para ser esposa de um homem beirando os 70, ela o amava. Ferreiro Joseph antes de desposa-la prestou grandes serviços à guarda real na condição de soldado.
 Quando sua perna foi decepada em uma batalha contra um bando de bárbaros, Joseph foi dispensado sem direito a nada da guarda real,pois o rei Sandro o condenou como inútil. A ingratidão o fez seguir o mesmo ramo que ainda na juventude deixou para trás para se alistar, voltou a ser um ferreiro.
 Foi ai que forjou a lamina mortal, lamina que ele bem sabia que nunca poderia empunhar em batalha, pois alem de velho, estava aleijado. Antes dos eventos, da grande desgraça que assolou o vilarejo, queria ele maquinar um plano. Decapitaria todos os soldados da guarda real, chegaria ao trono e decapitaria com as próprias mãos Sandro, o rei.
 Mas na verdade, não passava de um sonho ruim que alimentava. Estava velho e aleijado, jamais alcançaria tal façanha.
 Mas a velhice não impediu que ele se casa-se com Cândida. Cândida lhe foi ofertada pelo seu próprio pai, que embora mais jovem que o pretendente da filha, achou ser sábio na escolha. Estava certo, Joseph era honrado e sábio, digno da bela moça.
 Cândida nunca o culpou por ter se matado. Ela bem sabia que Joseph jamais lutaria em uma batalha perdida. Acreditava que sua desgraça seria maior ainda se caçasse a bruxa e ela lhe matasse, trazendo um infortuno ainda maior a sua jovem esposa.
 Cândida chorou em desgraça sobre os quatro caixões enfileirados em seu terreiro, enquanto o povo acostumado a perder suas crias, tentava lhe dar o conforto. Não existia remédio para sua dor, seu ódio... O único remédio era a vingança!

 Por ironia do destino foram os soldados da guarda real que prenderam a velha bruxa Margot no tronco da arvore grossa. Dois deles montaram guarda na frente da arvore, para no dia seguinte a julgarem.
 Na madrugada, Margot seria arrastada até o meio da praça e ficaria lá o dia todo, sobre o sol escaldante, até ser condenada na tarde e queimada na noite. Depois de seis luas cheias matando e comendo os olhos das crianças do vilarejo, ela finalmente foi pega. Estava condenada e este era seu destino.
 
 No entanto não era esse o plano de Cândida. Quando soube que a maldita havia sido capturada pelos homens do rei, a viúva sorriu.
 Naquela mesma noite, foi até o cemitério e beijou a lapide de pedra sobre a cova de seu esposo. Em lagrimas, empunhou a espada e lhe prometeu, banhada sobre a sétima lua cheia:
— Eu ei de vingar nossos filhos! E depois que eu o fizer, farei sua vontade: matarei toda a guarda real e decapitarei o maldito rei Sandro!
 Cândida montou em seu cavalo e galopou em meio às covas antigas. O cavalo cruzou o cemitério pequeno e rumou até a floresta, onde a bruxa devoradora de olhos estava amarrada.
Enfim avistou o fogo alto feito pelos dois guardas medrosos. Parou o cavalo e caminhou a pé, até a prisão de sua grande inimiga.
 Um dos soldados ouviu um galho seco estalar com o pisar desajeitado da jovem viúva. Ele tremeu dos pés a cabeça, empunhando sua espada, mostrando que estava protegido:
— Quem esta ai? – perguntou alimentado pelo medo.
— É a sua morte! – respondeu a bruxa amarrada, gargalhando em perversidade.
 O outro soldado segurando espada e escudo gritou:
— Em nome do rei Sandro eu ordeno que apareça! Se não o fizer de imediato, será condenado como aliado da bruxa maquiavélica!
 Diante deles surgiu à viúva, e antes de arrancar a cabeça do soldado que portava o escudo, revelou:
— Não sou aliada da maldita. Ela esta certa, sou a morte. A morte de vocês e a morte dela!
 O outro soldado correu aos gritos, até uma adaga arremessada pela viúva atingir seu pescoço entre o capacete e a armadura.  A adaga atravessou até sua garganta e ele caiu, se estrebuchando em meio as folhas secas.
 Cândida determinada aproximou-se bem devagar do soldado que agonizava. E antes que o pobre se entregasse a morte, ela arrancou-lhe a adaga e cortou com a lamina afiada seu pescoço.
 Margot gargalhava e comentava:
— Pois muito bem! Fizeste muito bem, moça! És digna de se formar, digna de ser como eu! Aproveite a lua cheia e se entregue, se renove e aceite os poderes de bruxa! Juntas poderemos conquistar o que quisermos!
 Cândida enfurecida limpou a lamina nas próprias vestes. Caminhou até a bruxa Margot, olhou dentro de seus olhos e assim falou:
— Eu já havia conquistado tudo o que eu queria. Casei-me com um homem honrado que me deu três filhos. Você arrancou tudo isto de mim, e poder nenhum que me ofertar, me trará de volta minhas conquistas sepultadas nesta terra maldita!
 A ultima coisa que a bruxa Margot enxergou, foi a ira nos olhos da jovem e bela viúva Cândida. Ela impetuosa, enfiou os dedos nos olhos da bruxa e os arrancou, os devorando no mesmo instante.
 Margot gritava em desgraça. Sua face ardia e o sangue quente e negro escorria por seu rosto enrugado. Cândida a retalhou com sua espada, e ao final, juntou folhas secas no pé da arvore e disse, antes de espalhar o fogo:
— Bruxa imunda, eu a condeno a morte.
 As chamas infernais cobriram a bruxa que gritava desvairada enquanto seu couro grosso cozinhava. Cândida  fortalecida e realizada, montou em seu cavalo e galopou até o castelo do rei Sandro.
 Na entrada antes do fosso do castelo, ela parou. Olhou ao longe, para a lua cheia que tentava se esconder atrás do topo do castelo. O topo, onde dormia seu maior inimigo, o rei Sandro. O maldito que decapitaria, para assim realizar a vontade de Joseph, seu esposo.
 
(...)

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Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 12/09/2013
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