Caçadores caçados.

Um grupo de bandeirantes formado por seis desbravadores experientes, partiu em uma manhã ensolarada, do porto de Santos, a fim de encontrar novas riquezas em terras Tupiniquins.

Caminharam durantes dias, caçando para se alimentar e se defender, pois naqueles tempos os animais existiam em abundância em nossas terras.

Exaustos da viagem resolveram acampar as margens de um córrego nas proximidades. O cardápio se restringia a carne de caça e água rançosa.

Quando ao longe ouviram um grito, de uma voz feminina.

- SOCORRO!!!!

Todos imediatamente ficaram em alerta, pois estavam em território hostil.

Três dos seis bandeirantes partiram em direção ao grito e Miguel, Afonso e Antonio ficaram no acampamento a fim de garantir a segurança do local.

Ninguém disse uma só palavra no decorrer da noite, o clima estava extremamente tenso no local.

- Devemos ir procurá-los! Já faz muito tempo que partiram. Disse Miguel, para ouvintes mais atentos era possível sentir o nervosismo em suas palavras e o tremular da sua voz.

- Dificilmente teremos algum êxito, a floresta é muito densa e a manhã não tarda a chegar, os três são exploradores experientes sabem se virar muito bem, se não voltarem até a manhã partimos atrás deles. Respondeu Antonio.

Os demais apenas concordaram, mas aquelas palavras não trouxeram conforto algum para eles.

Na manhã seguinte os três aventureiros restantes, não havia pregado os olhos, era nítido o medo que havia se instaurado em seus corações.

- Devemos procurá-los. Disse Afonso. Os coitados devem ter se perdido na escuridão da noite, devem estar aguardando que os encontremos.

Os três se entreolharam sabendo das mentiras naquelas palavras, os três desaparecidos eram muito experientes para que aquilo ocorresse.

- Mas como vamos deixar o acampamento desprotegido? E se houverem nativos na redondeza? E se eles nos roubarem?

Afonso não era covarde, porém era necessário que alguém ficasse para trás.

- Bom eu irei, sou o rastreador mais competente dessa incursão, sugiro que Antônio fique para guardar os nossos equipamentos, pois ele é o mais rápido dentre nós caso haja a necessidade de buscar ajuda, ele estará descansado. Afonso você me acompanha, vamos ver se encontramos os três desgraçados e talvez possamos festejar com a indiazinha que pediu socorro. Miguel esboçou um sorriso tímido, que mais transparecia o nervosismo que sentia do que a segurança que ele tentava simular.

- Estou de acordo. Respondeu Afonso.

Antonio apenas consentiu com um sinal de ombros e cabeça.

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Os dois saíram do acampamento por volta das duas da tarde, após organizarem tudo, para que se caso fosse necessário pudessem partir as pressas.

Aquela manhã foi muito silenciosa, sem as brincadeiras e os sorrisos habituais.

Por volta das quatro da tarde encontraram o rastro dos três desaparecidos. Miguel achou estranho, pois de alguma forma as pegadas pareciam terem sido apagadas.

Continuaram seguindo os rastros por mais ou menos uma hora, quando chegaram a uma clareira, onde as pegadas terminavam.

- E agora Afonso as pegadas terminam aqui. Puta que pariu onde diabos os malditos se meteram?

Afonso respondeu com um simples menear de cabeça, tão confuso quanto Miguel.

Miguel foi investigando as margens da clareira, procurando algum sinal do que havia ocorrido. Não havia sinais de luta nem de acampamento.

Até que encontrou pequenas pegadas indo à direção à clareira, provavelmente feitas pelos pés de uma criança.

- Ei Afonso venha ver.

Miguel levantou a cabeça seguindo o rastro, ele ia à direção a uma parte muito mais densa da floresta, onde poucos raios solares conseguiam penetrar.

- Miguel você acha que eles foram por ali?

- Que alternativa nós temos?

Miguel deu o primeiro passo em direção ao desconhecido.

Afonso sentiu um arrepio nas costas, algo não estava certo. Mas não podia deixar Miguel sozinho e por isso adentrou na mata cerrada.

Afonso Olhou para trás observando a clareira fez rapidamente o sinal da cruz e deixou cair uma garrafa de bebida e um pouco de fumo.

- Que Deus me proteja e peço licença aos espíritos que guardam esta floresta.

Miguel olhou para trás e viu seu colega realizando o ritual de sempre, já estava acostumado, mas duvidava que dessa vez ele iria protege-los.

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Antônio estava sozinho com os seus pensamentos, todos os ruídos da floresta o assustavam.

Por diversas vezes o pensamento de abandonar a todos passou pela sua cabeça, mas ele continuava inerte.

No inicio da noite já frustrado e impaciente começou a caminhar de um lado para o outro no acampamento xingando em voz baixa os colegas desaparecidos.

De repente ele escutou um grito.

- ANTONIO, SOCORRO! FOMOS ATACADOS.

O susto foi tão grande, que ele sentiu seu coração saltar da boca.

- SOCORRO, ANTÔNIO NÓS ESTAMOS FERIDOS.

Ele tinha certeza que aquela voz era do Miguel.

Rapidamente passou a mão em sua arma e saiu correndo em direção ao companheiro ferido.

- Miguel, estou indo,

- SOCORRO ANTONIO, SOCORRO!

O rapaz corria, porém toda a vez que ouvia a voz de Miguel parecia que ele estava mais longe.

- Mas que merda Miguel, cadê você?

Urrava Antônio no meio da mata.

A cena que Antonio viu naquela noite, gelou sua espinha, o desespero tomou conta do seu ser.

Em um buraco no meio da mata, encontrava-se um dos primeiros bandeirantes desaparecidos, empalado por uma estaca de madeira.

Antonio sentiu uma picada profunda no pescoço, sua mão foi institivamente onde havia sido feito o ferimento.

E tudo se apagou...

Continua...

Não se esqueça de sonhar...

Marcelo Rebelo