Caçadores caçados - parte 2

Miguel e Afonso já seguiam a trilha por duas horas, os poucos raios solares já haviam deixado sua companhia há alguns minutos.

Os rastros seguiam em circulo por diversas vezes se confundiam com pegadas de animais.

Em dado momento decidiram que deveriam procurar abrigo para passar a noite, não seria prudente ficar andando a esmo em um território desconhecido.

Encontraram um pequena gruta, grande o suficiente para abrigar os dois sem grandes problemas.

- Afonso vá dormir um pouco, eu faço o primeiro turno de vigilha.

- Onde será que eles se meteram?

- Não faço a menor idéia. Amanhã de manhã voltamos para o acampamento principal e vamos embora. Eu não gosto deste lugar.

- Eu também não Miguel, eu também não.

Afonso se recostou no fundo da gruta e dormiu teve um sono profundo e sem sonhos.

_________________________________________________

Já eram quase onze horas da noite, quando Miguel viu uma pequena chama balançando no interior da floresta.

Esfregou os olhos, achando que o cansaço afetava os seus sentidos, deu mais um trago na garrafa de pinga que estava ao seu lado.

ele realmente estava vendo fogo, rapidamente deduziu que deveria ser um dos companheiros desaparecidos ou mesmo Antonio que estariam a procura da dupla.

Os desgraçados devem ter voltado e quando souberam que tinhamos vindo lhes procurar, vieram atrás de nós. Pesou Miguel.

Pegou um tocou de madeira e com um trapo que estava no meio dos seus pertencentes improvisou uma tocha usando a pinga como combustível para acende-la.

Pensou em alertar Afonso, mas conhecendo o rapaz sabia que ele diria que era o demonio ou qualquer bobagem do tipo e se borraria nas calças antes de ajudar em algo.

Com sua arma em uma mão e a tocha na outra seguiu as pequenas chamas.

Quando estava próximo as chamas apagou a sua tocha e lentamente se aproximou, as suas mãos suavam e o seu coração acelerava a cada passo.

Levantou a cabeça por cima das pedras que lhe ocultavam e as chamas haviam sumido.

A sensação de alívio foi incomparável, porém não durou muito tempo.

Sentiu três garras serem enfiadas na sua coxa direita. Como se punhais em chamas forçassem a sua pele e carne.

De repente as chamas reapareceram cobrindo a cabeça e iluminando os olhos de uma pequena criatura, que possuia um pouco menos de um metro e meio, que transpirava maldade e raiva. Sua pele tinha um tom escuro e seus pés eram virados para trás.

Exibindo um sorriso que assustaria os mais bravo dos mortais, exibindo dentes pontiagudos, disse:

- Corre minha presa, corre.

Miguel correu como nunca havia corrido antes.

O desespero superava toda a dor que sentia, os galhos das árvores batiam em seu rosto fazendo com que espinhos rasgassem a sua carne.

O sangue jorrava das perfurações em suas pernas.

O pequeno demônio gargalhava ao longe e suas risadas podiam ser ouvidas de toda a parte da floresta.

Sentiu uma picada nas costas e caiu imóvel no chão, ainda consciente porém sem controle algum do seu corpo.

A pequena criatura virou o seu corpo como se ele fosse feito de papel e olhando bem nos seus olhos enfiou as garras na sua garganta decapitando-o.

Depois disso ele não sentiu mais nada, nem mesmo quando a pequena criatura se banqueteou com as suas entranhas.

____________________________________________________________

Afonso acordou amordaçado e com os braços e pernas amarrados por cipós.

Tentou gritar em vão, se debateu o máximo que pode sem obter sucesso.

Quando viu a pequena criatura entrar na caverna seu coração gelou e a raiva e o desespero tomaram conta do seu ser.

O pequeno demônio carregava a cabeça de Miguel nas mão com a boca manchada de sangue do seu falecido amigo.

Arremessou a cabeça de Miguel em uma pilha de outras já em estado avançado de putrefação.

O cheiro da caverna era nauseante, o pequeno demônio se movimentava com uma mistura de pequenos saltos e passadas desajeitadas, mas era nítida a agilidade do pequeno ser.

Se aproximou de Afonso com um sorriso malicioso estampado no rosto bem próximo do seu ouvido e disse:

- Vou cortar cipós, se gritar mato.

E com as garras compridas cortou os cipós que o prendiam.

Afonso de joelhos vomitou. A criatura lhe olhava com olhos curiosos, analisando cada centimetro do seu ser, pareciam que seu olhos podiam ver a sua alma.

- Quem é você? Gaguejou Afonso.

- Eu ser guardião de Tupã.

- E por que você fez aquilo?

Apontando para a pilha de cranios e cabeças empilhados no fundo da caverna.

Naquele momento a cabeça calva da criatura e os seus olhos se incendiaram e a ameça voltou a seu rosto.

- Você em terras minhas. Em terra meu, macaco não pisa se eu não deixa.

Você vai me matar? Perguntou Afonso com os olhos cheios de lágrimas e as calças manchadas de urina.

- Não. E neste momento as chamas se apagaram. - Você cheira ruim e você diz para não voltarem, guardião feliz e você vivo.

O pequeno ser mostrou o pequeno pacote de fumo que Afonso havia deixado na clareira pedindo proteção aos espiritos que guardavam a floresta.

- Respeito, você vive.

- Mas...

A pele de Afonso ardeu quando a criatura espalmou em seu peito e antes de desmaiar ouviu a criatura dizer.

- Curupira é nome meu, guardião de Tupã.

_________________________________________________

Acordou livre na clareira onde havia passado antes. O seu peito possuia uma queimadura no formata da pequena mão do Curupira.

Afonso não teve dúvida alguma se levantou meio desajeitado e um pouco desequilibrado e correu em disparada para sair daquele lugar.

Não se esqueça de sonhar...

Marcelo Rebelo

Marcelo Rebelo
Enviado por Marcelo Rebelo em 13/09/2013
Reeditado em 30/03/2015
Código do texto: T4480141
Classificação de conteúdo: seguro