A Casa da Colina

Naquele momento estava agachado de joelhos sob aquele chão escrúpulo e asqueroso. Meu coração batia em ritmo aceleradíssimo e meu sangue fluía de modo que minha cabeça latejava. Estava todo vermelho de nervoso e meus olhos salientados quase que nem enxergavam mais o visual ali, que por sinal era apavorante.

Eu estava sendo perseguido. Perseguido por um ser desfigurado e mal cheiroso, alto, de proporções infinitas.

Aquela cabana, no alto de uma das colinas mais famosas da época, estava já em decomposição. Além dos rangidos e móveis todos espatifados, o cheiro era repugnante. Um cachorro morto no meio da sala, ali jogado, exauria um odor singular naquele ar. E eu continuava ali, inerte e rezando...

Enquanto as drosófilas se alimentavam daquele cachinho de bananas podres que jazia na fruteira da cozinha, uma matilha de lobos começaram a surgir pouco a pouco. Um deles chegou a entrar na cabana e eu, rapidamente, me refugiei em cima da bancada de cortar carne, estava imunda, torpe a ponto de escorregar e bater a cabeça na torneira que gotejava um líquido alaranjado e barroso. O lobo uivava e me encarava como dizendo: "tu és minha próxima refeição, de certo." e eu o encarava de volta.

Enquanto toda essa bizarrice acontecia, o ser que me perseguia também entrou na cabana, só que pela porta dos fundos. Seu ruído era ímpar, pois tamanha era sua espalhafatosidade. O rangido das botas era alto o suficiente para espantar de imediato um par de lobos que ali estavam a comer a carne podre do cão.

O esquisitão me olhou e eu o olhei de volta. Ele, parecendo furioso por eu estar sentado com o meu traseiro na sua tábua imunda de carnes, gritou tão alto que meus ouvidos doeram deveras.

Ele veio em minha direção, depois de defenestrar o corpo do cachorro morto, e em uma fração de segundo, eu me levantei e caí de bruços no chão. Ofegante, suado e fedido, resolvi permanecer ali e entregar a luta àquele gigante nojento. Foi quando ele agachou e olhou para o meu rosto. Eu, com muito medo de abrir os olhos, pude sentir o bafo dele na minha cara e não demorou muito para eu abrir minhas pálpebras e acordar, finalmente, em minha cama macia e alva, estava literalmente ensopado, fedido e agitado. Ansioso, fui lavar meu rosto e quando retornei à posição ereta...dei de cara com...a minha mãe dizendo: "Filho, é hora de se aprontar para a consulta com o doutor, lá na casa da colina."

Nathus
Enviado por Nathus em 19/09/2013
Reeditado em 19/09/2013
Código do texto: T4489136
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