A menina da Rua 13 - DTRL

- O que você quer?

- Saber tudo que aconteceu naquele dia.

- E quem é você?

- Apenas fala-me o que conseguir. Depois te direi quem eu sou.

Está chovendo. Chovendo demais. Sai do serviço e estou indo direto pra casa, consigo ver apenas dois metros a minha frente. A 80 quilômetros por hora na Avenida Catedral, viro a direita na Rua 13 e com apenas a iluminação do farol, levo um susto. Freio bruscamente, não dá tempo. Acabei de atropelar alguém. Estou completamente em choque. Desci do carro e fui ver o que tinha acontecido com a pessoa. Era uma menina que parecia ter a mesma idade que a minha, tenho dezesseis, estava usando um vestido branco que agora estava cheio de sangue, um all star preto e tinha longos cabelos negros, era muito bonita por sinal. Mas agora estava morta. Com os olhos ainda abertos e olhando para o vazio que ficou em sua alma.

Acordei-me assustado, novamente tive esse pesadelo. Toda noite sonho com o que aconteceu há treze meses, matei uma menina na Rua 13. Maldito treze. Não suporto esse número. Minha mãe morreu no dia treze, meu pai também, há treze anos fiquei em coma por treze dias e agora toda noite sonho com o que aconteceu na Rua 13. E o pior é que não tive coragem de confessar nada, a família dela deve estar arrasada. Não consigo mais me desprender desse sentimento de culpa.

Cheguei ao colégio eram sete e cinquenta da manhã e quase que perco o primeiro horário. Entrei na sala as pressas e sentei na penúltima cadeira da primeira fila. Comecei a escutar o professor.

- Hoje vamos apresentar uma aluna nova. Que veio de outra cidade, sejam educados.

E então entrei em choque. Fiquei paralisado. Tranquei a respiração. A aluna nova era idêntica à menina que atropelei há treze meses. Isso era impossível, ela morreu. Deve ser só coincidência, apenas isso. Não é? Ela parece catatônica, fala olhando para o vazio. O mesmo olhar da menina morta. Que eu matei.

- Meu nome é Samara. Tenho dezesseis anos, prazer em conhecê-los.

Ela veio se aproximando. Estava indo sentar-se à mesa livre atrás de mim, e foi quando passou por mim que decidi aborda-la.

- Estou com uma estranha sensação que a gente já se viu – E foi então que entrei em choque. Ela nem olhou para trás.

- Sim. Já nos vimos. Há treze meses.

Meus pelos da nuca se arrepiaram. Meu sangue parou de circular. Congelou. Meu corpo estava a menos vinte graus. Não sabia mais o que fazer. Nem o que falar. Apenas deitei minha cabeça na mesa e dormi...

Acordei-me assustado no meio da aula de química. Tive aquele pesadelo de novo. Dei algumas batidas na minha cara e percebi que não era uma aula normal, ninguém nem sequer olhou para mim quando gritei. Tentei falar com a pessoa que estava na minha frente, ela não respondeu e nem sentiu meu toque. Levantei-me e fui até a porta. Tudo começou a girar, minha visão ficou desfocada por um breve momento até que ouvi um barulho de gotas de chuva, depois de alguns segundos comecei a senti-las, então notei onde estava. Na Rua 13. No mesmo momento daquele dia treze quando atropelei a bela moça de vestido branco, a mesma que foi hoje para o colégio.

Pisquei muitas vezes e então consegui ver tudo que tinha em cena. Meu carro, a chuva, o cheiro do freio, e a menina... Não, a menina não estava morta e o corpo dela nem sequer estava ali onde deveria estar.

- Tem algo errado não é? – Uma voz horripilando atrás de mim – Dessa vez não tem eu morta ai no chão.

Virei-me e vi a menina que matei há treze meses. Estava toda suja e cheia de sangue igual naquele dia, só que dessa vez viva. Não sei como. Mas estava muito viva.

- Desculpe-me, não tive a intenção. Eu mal conseguia ver.

- Não fale mais nada. Você tirou minha vida. Fez minha família sofrer e nem sequer pagou por isso.

- Não foi assim, não durmo em paz desde então. Eu só... – Comecei a chorar – Não tive tempo de frear, e nem coragem de me entregar.

- Não adianta chorar e nem pedir perdão. Você não conseguirá me impedir de criar minha própria vingança. Fiz um pacto com lúcifer... E vou com ele até o final para conseguir minha vingança.

Minha visão começou a ficar embaçada. A chuva está muito forte. Minhas pernas e mãos começaram a se mexer sozinhos. Virei um mero espectador. Comecei a suar frio e chorar desesperadamente. Meu corpo começou a correr depressa, virei-me para trás e vi uma pessoa com três olhos, duas bocas, um machado na mão esquerda e correndo em minha direção. Fiquei horrorizado. Meu corpo correu. Correu. Correu. Quando já não avistava mais "aquilo". Olhei para o lado e vi fortes faróis cegando meus olhos. Foi então que percebi que estava do outro lado do pesadelo, do lado da vítima. Não conseguia me mexer. Apertei os olhos e vi o carro em minha direção. Com a menina no volante...

- Então isso foi o que eu consegui psicografar do falecido. Ele me pareceu muito assustado e nervoso. Quem é você?

- Eu? Eu sou o outro lado da história