O gato malvado da tia Marta.

Uma velha senhora de setenta e poucos anos possuía um gato um tanto quanto estranho. Pele negra como o carvão. Olho direito era verde e o esquerdo amarelo. Um amarelo dourado. Era amado pelas crianças do bairro, mas ele nunca me enganou. Nem ela.

Era dia treze de maio. Numa sexta-feira. Tinha acabado de chegar da aula e estava exausto, porém não conseguia mais conter minha desconfiança daquele maldito gato de olhos diferentes e de sua dona igualmente estranha. Decidi esperar o anoitecer e entrar escondido naquela casa. Não foi tão difícil assim. Pulei o muro, de mais ou menos um metro e meio. Minhas fugas do colégio não tinham sido em vão. Pensei em entrar por alguma janela aberta, mas decidi antes tentar o mais óbvio e tentar pela porta da frente. Bingo. Estava aberta. Adentrei a casa e a primeira coisa que senti foi um cheiro de queimado. Um forte cheiro que vinha de todos os lados. Tive a impressão de ter ouvido algum grito. Caminhei até a porta no fim do corredor e abri uma fresta para espiar o que estava acontecendo.

Fiquei tonto e com náusea. Não acreditava em minha visão, que logo em seguida ficou embaçada. Tinha um forno grande e dava para ouvir gritos vindo lá de dentro. Foi quando a velha apareceu de algum lugar na escuridão daquele cômodo.

- Viu minha criança. Foi brincar com o meu gato e agora vai acabar como o Freddy Krueger.

Tinha uma criança lá dentro. Minha vontade de sair gritando era tanta. Senti minha pele queimando e meus olhos arderam. Virei-me para sair pela porta da frente. Agora estranhamente ela estava trancada. Segurei meu grito e minhas lágrimas. Ouvi alguns passos e decidi me esconder atrás de um sofá velho que tinha do meu lado esquerdo. A velha veio, fez um carinho no gato e sentou-se no sofá. Ligou a tv, porém não saia som nenhum. O gato entrou em sua caixa de areia. Era uma areia cinza. Pelo menos achei isso por um momento até ela falar com o gato.

- Luci. Você gosta mesmo de deitar em cima do Davi não é?

Tapei minha boca para não gritar. Minha respiração estava começando a acelerar. Tentei me controlar de todas as maneiras. Sabia que tinha cometido o maior erro da minha vida. Ela desligou a tv e quase sussurando falou.

- Eu sei que você está ai atrás.