A estrela.

Certamente ninguém lerá esse texto, já que mortos não lêem. Pois em algumas horas nada vivo existirá. Deixo esse texto como um legado para as estrelas e qualquer raça que nelas possa habitar.

Sou, ou melhor, fui um homem, que viveu para e pela ciência. E apesar de não constar nos livros de minha raça como alguém digno de nota, tive a infelicidade de ser o último a existir.

E agora que tudo teve seu fim em meu planeta, mesmo ele, só me resta enviar pelo vazio a história.

Há seis meses, os satélites e sondas que minha raça lançou ao vácuo celeste captaram um enorme cometa, que passaria próximo ao nosso planeta e que segundo os homens de conhecimento e razão, deixaria uma grande quantidade de gelo e minerais que se desprenderiam de suas caudas, em nossa órbita.

Grande foi a alegria de minha raça, pois nossa água foi contaminada por nossa ganância e falta de zelo.

Isso seria nossa salvação.

Nossa nova chance.

Homens foram escolhidos e lançados às estrelas para trazer o líquido que era nossa vida. E pela primeira vez em toda a nossa história, minha raça se uniu em torno de algo, de um objetivo em comum. Pela primeira vez fomos uma só nação, uma só alma, um só povo, uma só raça.

Mas assim que o grande cometa entrou em nosso sistema solar, notamos que algo não estava certo. A grande estrela errante, que chamamos de "Sperare", esperança, não traria a vida, mas sim, a morte. Ela mudou seu curso, vindo diretamente em direção de nosso planeta.

O medo se assenhorou de minha raça, revoltas, matança e guerras tiveram seu lugar mais uma vez. Os governos enviaram mais homens para as estrelas. Eles carregavam armas que fariam as estrelas morrerem com seu poder.

Quando o cometa se aproximou da terceira estrela mais próxima de nosso planeta, milhares de ogivas foram lançadas contra ele e o brilho de suas explosões eclipsaram o Sol.

Mas de nada serviu nosso ataque.

A estrela continuou sua caminhada.

Já próxima de nosso planeta, podemos notar que não se tratava de uma estrela, era algo diverso, algo feito de horror e misticismo. O medo mais profundo e primordial que tomando forma, vinha nos legar o vazio do esquecimento.

Os homens que estavam nas estrelas, foram os primeiros a sucumbir. Ao ver o ser, gritaram de horror e enlouqueceram. E um a um, se mataram. Menos eu, que por algum fator que jamais será entendido, mantive minha razão.

Ao alcançar nossa lua, o ser se mostrou em toda a sua forma, abrindo suas seis asas, com as quais abraçou nosso mundo, apagando as estrelas.

De milhares de bocas, em milhares de línguas, que cortaram o vazio, ela disse.

"É chegado o ocaso de sua raça, assim como há muito foi profetizado. E agora, a raça dos homens será apenas um sonho, que não mais será sonhado."

E com suas titânicas mãos, partiu em infinitos pedaços a Terra e seguiu seu caminho entre as estrelas.

Agora, eu flutuo no vazio sem fim, aguardando que a morte venha tomar meu último alento, assim que o ar acabar.

Nada restou de minha raça, apenas este meu relato, que com esperança, torço ser a prova que algum dia nós, os homens, tão pequenos e mesquinhos, mas com uma parcela de grandeza, existimos.

TTAlbuquerque
Enviado por TTAlbuquerque em 14/11/2013
Reeditado em 14/11/2013
Código do texto: T4571076
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