A Perseguição

Becos escuros e desertos. Como a cidade era lotada deles. Cada esquina, cada lugar saía em um beco, escuro e deserto, principalmente a altas horas da madrugada.

Tinha acabado de sair da casa de um amigo e já era mais de dez da noite. A cidade estava completamente vazia, não havia uma viva alma na rua, exceto eu.

Saí da casa do meu amigo Gabe, que, por sinal, morava em um beco e fui vagando pela cidade, de encontro à minha casa.

O beco da rua da casa do meu amigo desembocava em outro beco, que saía em mais becos, até sair na rua principal. Era um emaranhado de becos aquela região da cidade, que se mostrava completamente escuro, pela precária luminosidade elétrica, e igualmente deserto. Aquele lugar se mostrava assustador.

Sem olhar para trás, caminhava em direção à minha casa. As lufadas cortantes me arrepiaram, de tão geladas que eram. Continuei andando pela cidade. Entretanto, assim que entrei no beco subsequente, comecei a sentir uma estranha sensação – parecia que eu estava sendo perseguido.

Olhei para trás. Nada. Não havia uma viva alma na cidade. Voltei a continuar andando. Senti a mesma sensação que antes. Virei novamente para trás. Nada. Eu estava ficando nervoso, meu coração começou a pulsar velozmente e eu comecei a suar. Que maldita sensação era aquela? Por que eu tinha essa sensação?

Continuei a andar. Como esse pressentimento ruim persistia, acelerei os passos. A cada passo que eu dava, eu virava para trás, para me certificar de que eu não estava sendo perseguido. Não queria ser pego de surpreso caso acontecesse o pior e queria acalmar meu coração. Entretanto, a sensação permanecia, e fazia meu coração acelerar cada vez mais.

Meu coração acelerou velozmente e suei mais frio, quando comecei a escutar um estranho barulho vindo do beco que eu me encontrava. Era um barulho de correntes sendo balançadas com o movimento do corpo. Era assustador aquele barulho, principalmente que este fora acrescido pelo silêncio do lugar. Temendo o pior, sem olhar para trás, acelerei o passo, chegando ao fim do segundo beco, para entrar no terceiro.

Dei uma última certificada de que não estava sendo perseguido. Nessa hora, gelei. Havia um vulto me fitando, do outro lado do beco. Ele carregava correntes na cintura e vestia calça jeans. Não deu para ver seu rosto, por causa da precária luminosidade. Realmente tinha alguém me perseguindo! E agora, o que fazer?

Não titubeei. Entrei no terceiro beco a passos rápidos. Aquele local desembocava em ruas mais movimentadas.

Aquele sujeito até não poderia ser um perigo, mas eu não estava a fim de descobrir. Segundo histórias contadas boca a boca, do próprio povo que mora naquela região, gente “estranha” andando só naquela região em altas horas pode ser vítimas dos “manos”, que podem te assaltar, te estuprar, fazer o diabo a quatro contigo...

Aquele terceiro beco parecia interminável. Mesmo a passos rápidos, seu fim parecia nunca chegar. Meu coração acelerou quando percebi que havia um par de olhos fitando minhas costas. O maldito já se encontrava na mesma rua que eu.

Eu não tinha coragem de olhar para trás, tamanho meu medo. Meu coração parecia sair pela boca. Minhas mãos suavam. Estava gelado. Eu sabia que o vulto me perseguia, mas não tinha coragem de olhar para trás.

Cerca de poucos minutos depois, entrei em uma rua que julguei mais movimentada. Julguei; entretanto, a rua estava tão vazia quanto os becos. Maldição! Cadê o povo da cidade para me ajudar?

As luzes dos estabelecimentos da rua estavam apagadas. Entretanto, para minha surpresa, havia um estabelecimento com a luz acesa. A pastelaria. Havia me esquecido de que aquela pastelaria era 24 horas. Minha salvação, a poucos metros!

Apertei o passo e senti que o sujeito também apertou. As poucas pessoas da rua olhavam torto para mim, porque, vira e mexe, eu olhava para trás, para me certificar de que o homem estava longe de mim. Se não poderiam me ajudar, por que me fitavam? Povo irritante.

Eu esperava que, na pastelaria, eu estivesse a salvo. Atravessei a rua e entrei no estabelecimento. Era um ambiente luminoso e pequeno. Estava cheio de famintos, que devoravam os salgados como se fossem arroz e feijão. Do outro lado do balcão, os empregados do estabelecimento, visivelmente cansados de tanto atenderem e de tanto fritarem novos salgados.

Entrei às pressas no local e escondi-me atrás da máquina de refrigerantes, a primeiro plano. Depois de atender o povo sentado junto ao balcão, uma das atendentes, percebendo meu estado desesperado, perguntou-me:

- Posso lhe ajudar?

Sobressaltei com a pergunta dela. Estava tão estarrecido com a situação, que me assustei com pouca coisa. Como estava com medo de ser descoberto ali dentro, ergui o dedo indicador aos lábios. Deixei a atendente nervosa. Ela exaltou-se e me perguntou, irritada:

- Dá pra falar o que está acontecendo? Ou serei obrigado a chutar sua bunda daqui!

Apontando para fora, sussurrei, gaguejando:

- E...Ele...

A atendente olhou para fora. Não havia ninguém.

- Olha, maninho, fala logo, por favor. – disse, ficando mais irritada

- Tem alguém me perseguindo! – cochichei

A mulher se surpreende. Andou até a saída do local. Com um pouco de sorte, aquele empecilho para chegar à minha casa estava resolvido. Estaria a salvo, julguei. Ledo engano!

Ao chegar do lado de fora do estabelecimento, a mulher olhou para um lado da rua. Nada. Olhou para o outro. Nada. Irritando-se com a situação estapafúrdia, a mulher caminhou em minha direção. Parou à minha frente.

Crente que eu estava salvo do sujeito, sorri e perguntei:

- E aí? Ele já foi?

- Seu maldito! – gritou a mulher, jogando-me na rua pelo colarinho. Cambaleei, cambaleei, fiz força, mas não caí. – Não há ninguém te perseguindo. Acha que eu tenho cara de palhaço?

Já do lado de fora, escutei a bronca da mulher e, de quebra, ainda tinha que aguentar todo mundo do estabelecimento me fitando, com olhos tortos.

Fui andando, caminhando pela mesma calçada que eu me encontrava. Estava cabisbaixo, mas não menos preocupado. Entretanto, não mais escutava o barulho das correntes.

Cheguei a uma rua principal. A luminosidade do local não era tão precária quanto às anteriores e, de quebra, havia uns transeuntes.

Entretanto, para minha surpresa, escutei um barulho de correntes. Naquele instante, percebi o vulto me fitando novamente. Estava parado, com os braços estendidos pelo corpo. Ainda não conseguia ver seu rosto, mas dava claramente para perceber a corrente presa à sua cintura.

Entrei a passos largos na rua principal. Atravessei a rua, para ficar do lado dos transeuntes. Continuei a caminhar, nitidamente acelerado, sem olhar para trás. A visão do homem me perseguindo me incomodava. Por mais que meu coração estivesse pulando no meu peito, eu preferiria a ficar fitando o estranho.

Eu sempre tive um medo exacerbado de ser perseguido, de bandidos me cercaram e denegrirem meu físico ou meu mental. E agora meu maior medo era minha realidade.

Trafeguei por aquela avenida a passos largos. Queria chegar à minha casa o mais rápido possível. Os transeuntes me fitavam com olhares de deboche e de estranheza. Meu nervosismo era tamanho, que eu deixava mostrar em meu semblante.

Os pingos de suor escorriam pelas curvas de meu corpo, meu coração batia descompassado, meus músculos estavam rígidos, eu parecia um robô mergulhado numa bacia de suor.

Eu estava tão absorto com o barulho contínuo da corrente do meu perseguidor que, quando um transeunte me abordou, sobressaltei.

- Ei! – disse o transeunte, segurando meu braço esquerdo. Sobressaltei. Meu coração foi às alturas, parecia que ia explodir dentro do meu peito. À primeira imagem, julguei-o como um aliado do perseguidor

- Aconteceu alguma coisa, meu chapa? – perguntou o homem. Percebendo ter equivocado, acalmei-me.

Tentei formular uma frase em gaguejar, entretanto não consegui êxito.

- Te...Tem al...alguém m...me seguindo!

O homem olhou para o que estava atrás de mim. Havia diversas pessoas pelo local.

- Cadê ele?

Virei para trás. O maldito estava parado, fitando-me. Eu sentia o poder de seus olhos mesmo não os vendo. Eu tremia diante deles.

- Ali! – apontei para ele – Aquele com a corrente presa na cintura! – delatei

O homem olhou para onde eu estava olhando. Não viu nada. Achou estranho.

- Meu chapa, não há ninguém ali!

Fiquei surpreso. Como não havia ninguém ali?! Eu estava o vendo dali.

- Acho que você anda tomando cachaça demais, meu chapa! – brincou o rapaz, deixando-me irritado

O rapaz foi embora, debochando do meu estado. Fitei-o até passar ao lado do meu perseguidor. Como aquele maluco não o viu, se passou do seu lado? Não era eu quem estava bêbado, era ele.

O homem deu um passo em minha direção. O som da corrente mexendo me assustou. Era hora de ir embora dali.

Continuei andando pela avenida a passos largos. Eu queria esconder-me, mas aquele perseguidor implacável iria me achar e me fazer sabe-se lá o quê.

Precisava chegar à praça principal da cidade. Para isso, precisava atravessar uma rua bastante escura. Para o meu desagrado, a rua estava sem iluminação pública.

Só me faltava essa..., desabafei, cansado da situação

Atravessei a rua praticamente correndo, tamanho meu desespero. Como se não bastasse o fato de eu estar sendo perseguindo, ainda tinha a ausência de iluminação no local.

Meu coração foi a mil quando descobri que, por conta das suas vestimentas pretas, meu perseguidor havia praticamente desaparecido sob meu olhar dentro daquele cenário escuro e funesto. Somente o barulho da corrente era escutado naquele local. O barulho da corrente e do meu coração descompassado.

Felizmente, aquela rua era pequena e consegui atravessá-la em dois pulos. Cheguei à praça principal da cidade, onde inúmeras vezes estavam sentadas ao redor de inúmeras vezes do bar local. Do outro lado da praça, as imensas palmeiras que a rodeiam assustavam diante da sua onipotência. Atrás das palmeiras, uma igreja e o caminho em direção à minha casa.

Eu queria alertar a todos sobre o perigo que me circundava, entretanto, depois do que aconteceu com o transeunte e com a atendente da pastelaria, queria esconder-me até o maldito aparecer na praça. Assim estaria livre dele.

Caminhei a passos largos em direção ao outro lado da praça. Ele apareceria do outro lado e todos o viram, foi o meu primeiro pensamento.

E foi isso que aconteceu. Quando cheguei ao outro lado da praça, escutei o barulho amedrontador da corrente. Virei para trás. Eu o vi fitando-me, parado, na entrada da praça.

Gelei no momento. O maldito estava muito próximo de mim. Caminhei vagarosamente em direção à rua que dava à minha casa. Caminhei, sem tirar os olhos do maldito. Assim que dei os primeiros passos, o maldito começou a caminhar em minha direção.

Parecíamos que estávamos sintonizados. A cada passo por mim dado, ele dava um passo. Foi assim passo por passo.

Eu estava um tanto afastado das mesas e das pessoas quando ele começou a atravessá-las. Ninguém sequer olhou para o maluco; ele passava focado em mim e parecia transparente, era como se ele não existisse. Os garçons passam por ele, ele passava entre mesas, entre as pessoas e ninguém, absolutamente ninguém olhava para ele. Eu queria entender o que estava acontecendo naquele espetáculo bizarro que eu estava presenciando.

Como minha última salvação foi-se embora, tinha que me preparar para chegar à minha casa. Felizmente, ela estava próxima. Ela só subir o morro ao lado da igreja e virar à direita, entrando num pequeno beco. Como tantos da cidade, eu também morava em um beco escuro e deserto. Até aquele momento, isso nunca se incomodou.

Comecei a subir o morro. Não havia ninguém na rua, naquela hora aquela parte da cidade era completamente vazia. E isso me amedrontava ainda mais. Aquele cenário funesto – uma rua deserta, com a incidência das sombras das palmeiras, cujas copas bruxuleavam no alto e refletiam seus movimentos no chão, e a rua ainda mais escura pelo fato da incidência da sombra onipotente da igreja – deixavam-me cada vez mais amedrontado.

Enquanto subia o morro, veio-me um ódio mortal de ter me esquecido de andar com meu celular. Se eu estivesse com ele, há muito teria ligado para a polícia. Como eu queria estar com ele naquele momento! Minha mãe sempre falou para eu nunca andar com celular à noite, com medo de os assaltantes o carregarem. E agora ele seria uma peça fundamental para um provável desfecho daquela trama.

Estava ofegante; o morro era muito puxado para subir a passos largos. Olhei para trás, o maldito insistia em me perseguir. Eu estava suando, um suor frio, característico de quem está com tamanho medo.

Queria parar para respirar, inspirar e expirar profundo, entretanto aquela situação me obrigava a seguir, sem parar. Ou sabe-se Deus lá o que iria acontecer comigo...

Continuei subindo a rua, passo por passo. Lufadas vindas do cemitério, atrás da igreja, congelavam o ar e davam ao cenário uma sensação ainda mais funesta.

No meio do morro, entrei em um pequeno beco que ali se encontrava. A rua da minha casa. Um beco tão fino que mal conseguia passar um carro. Ali, certamente, eu estava seguro!

Meu desespero para entrar em casa era tamanho, que minhas mãos rapidamente inundaram de suor. Com custo, retirei a chave do meu bolso. Minha mão estava tão escorregadia, que mal conseguia segurar a chave.

Cheguei a frente da minha casa. Pequena, com frente alaranjada. Uma porta central e um par de janelas, lado a lado, tomavam a frente da casa. Tentei enfiar a chave na fechadura da porta, entretanto, a chave, inundada no meu suor, estava esguia demais e acabou caindo. Rapidamente, abaixei-me para pegá-la. É quando eu vi um par de pernas na entrada do pequeno beco. Era ele! Ele já havia chegado à entrada do beco. Agora o maldito sabia onde eu morava e faltava muito pouco para ele chegar perto de mim.

Entrei em completo desespero. Rapidamente, peguei a chave do chão e ergui meu corpo. Tentei enfiar a chave na fechadura, mas, com a mão suando e trêmulas de nervoso, não conseguia achar o buraco da fechadura.

O meu perseguidor estava andando vagarosamente em minha direção. Dava passo por passo, como se estivesse certo de que eu não conseguiria abrir a porta da minha casa a tempo. A cada passo que o maldito dava em minha direção, a tensão e o nervosismo no meu corpo aumentavam. Estava ficando insuportável do lado de fora.

Entretanto, para meu agrado, eu consegui abrir a porta a tempo.

Assim que a porta foi escancarada, tratei logo de entrar e trancá-la por dentro. Estava tão desesperado que, ao fechar a porta, ela escapuliu da minha mão e bateu. Com o silêncio dentro da minha casa, o barulho da batida foi amplificado, chamando a atenção de todos ali presentes.

Vindo da porta oposta à porta da entrada da casa, minha mãe me perguntou, preocupada:

- O que aconteceu, filho?

Meu corpo ficou relaxado. Passada a tensão, sem os efeitos da adrenalina, meu corpo ficou relaxado e me mostrou quão exausto daquela noite macabra eu estava. Caí relaxado no sofá, que ficava à direita da porta principal.

- Acabou! – murmurei

- O que acabou, Denial? – rápida pausa – Denial, o que está acontecendo?

Joguei o boné que estava usando o mais longe possível e disse:

- Nada de mais, não. Coisa mi...

Entretanto, para minha surpresa, antes que eu tivesse terminado de falar, o meu perseguidor apareceu no recinto, logo atrás da minha mãe, um pouco à sua esquerda. Naquele momento, incrédulo, sobressaltei.

Percebendo que fitava com olhar de assustado e que sobressaltei do sofá, minha mãe me perguntou:

- Denial, o que foi? O que aconteceu?

Meu coração foi tomado novamente por uma adrenalina maior. Como aquele filho da puta conseguiu invadir minha casa? Eu estava novamente em apuros; e pior, dentro da minha própria casa.

Trêmulo, apontava para o invasor e tentava formular alguma coisa plausível:

- E...E...E...Ele .........

Percebendo minha atitude estapafúrdia, minha mãe virou para onde estava apontando. Depois, virou para mim e perguntou:

- Pra onde está apontando?

O invasor começou a andar em minha direção. Comecei a ficar cada vez mais trêmulo. Recuei até a parede. Precisava ficar longe daquele monstro. Minha mãe não conseguia compreender a minha ação; estava achando estranho o que estava acontecendo.

- Sai... Sai... – comecei a gritar. O monstro continua a caminhar em minha direção. Não tinha como eu ver seu rosto, a iluminação na sala também era fraca, mas era inconfundível o barulho da corrente se mexendo.

Desgrudei da parede, tentando fugir. Passei ao lado da minha mãe e longe do maldito. Minha mãe estava no meio, entre eu e ele. Assim, evitaria dele me segurar ou até me atacar enquanto eu fugia. A primeiro instante, parecia que coloquei minha mãe em perigo, mas ele parecia apenas me querer, não aos outros. O que ele queria comigo?, era a pergunta que eu estava me fazendo naquele instante.

- Denial, Denial... – gritou minha mãe, preocupada

Assim que passei por minha mãe, ela me segurou pelos quadris. Comecei a me debater para tentar me desvencilhar, enquanto gritava para ela me soltar. Eu estava bastante estarrecido.

Minha mãe me falou alguma coisa enquanto me segurava, possivelmente para eu me acalmar, entretanto, diante dos meus gritos, os sons proferidos por ela eram inaudíveis.

- Me solte, me solte... É ele... É ele... – eu gritava

Para os sons se tornarem audíveis, minha mãe teve que gritar mais alto que eu...

- Denial, Denial... – gritou – Não há ninguém aqui. Não há ninguém. Denial. Denial!

Aquela frase proferida por minha mãe me surpreendeu e me fez pensar. “Não há ninguém aqui”. Como assim? Minha mãe havia dito aquilo apenas para me acalmar. Só pode... Mas, a troco de quê? Para me certificar que minha mãe queria apenas me acalmar e possivelmente para explicar toda aquela situação, virei para fitar o invasor. Não havia ninguém no local! Como?!

Ao perceber que acalmei, minha mãe me soltou. Comecei a procurar por todos os cantos onde se encontrava aquele maldito.

- Não há ninguém aqui, Denial... – disse minha mãe, com ar de exaustão

Parei, surpreso com a fala da minha mãe. Como assim, não havia ninguém?! Ainda não conseguia entender a explicação. Depois, virei para minha mãe e disse:

- Mãe, eu vi. Tinha um sujeito, usando uma corrente na perna. E...Eu – comecei a gaguejar – não vi seu rosto, mas o barulho da corrente é inconfundível...

Assim que citei a corrente, minha mãe se abaixou. Fitei seus movimentos. Via-a erguer-se segurando alguma coisa. Uma corrente. Igual à que o sujeito usava na perna, que fez o barulho inconfundível! A prova de que o malfeitor estivera no local!

- A corrente... do sujeito... – eu disse, apontando para o objeto – A prova de que ele estivera aqui!

- Essa corrente caiu quando eu te segurei, Denial! – pausa – Ela estava presa à sua calça. – explicou minha mãe

Fiquei surpreso. Como assim, presa à minha calça? Não tinha como estar... Acalmado, reconheci a corrente. Era do Gabe. Eu havia escondido-a no bolso para escondê-la dos pais dele e me esqueci de devolvê-la. Então... tudo aquilo que aconteceu foi imaginação minha? Tudo por causa dessa maldita corrente?