Relatório Oficial
 Álvares, 21 anos, estudante de biologia, acordou ao amanhecer na periferia de uma aldeia ao norte de Bumba, Zaire. Virando-se em seu saco de dormir ensopado de suor, espreitou através da borda de sua barraca de nylon e ouviu o som da chuva na floresta tropical misturado aos rumores da aldeia que começava a despertar.
 Ele havia dormido mal e, ao colocar-se de pé, estava oscilante e fraco. Sentia-se bem pior que na noite anterior, quando fora acometido de calafrios e febre, cerca de uma hora após o jantar.   
 Achava que estava com malaria, mesmo tendo sido bastante cuidadoso ao tomar todas as vacinas ao sair do Brasil.
 Álvares havia se afastado por seis meses da universidade para fotografar animais africanos, como o gorila-das-montanhas, ameaçado de extinção.
 Com o andar hesitante, ele caminhou para a aldeia, onde existia uma clinica em precárias condições. Um missionário o informou que havia o hospital da Missão Belga, em Yambuku, uma pequena cidade localizada a poucos quilômetros a leste. Doente, assustado e sem mais escolhas, ele levantou acampamento e partiu para Yambuku.
 O hospital de Yambuku não inspirava confiança. Não passava de um aglomerado de cabanas nativas, e não havia nem sinal de energia elétrica. Preparava-se para entrar quando sentiu uma forte dor de cabeça, seguida numa progressão muito rápida de calafrios e dores por todo o corpo.
 Uma hora depois acordou em um quarto ocupado por mais dois pacientes, ambos sofrendo de um tipo de malaria que apresentava resistência a medicamentos fortes.
 O medico que examinou Álvares, estava confuso. Não era um caso típico.
 No final daquele dia o hospital estava lotado, e todos com os mesmos sintomas de Álvares.
 
 Uma semana depois, o Dr. Lugasa estava nervoso, enquanto observava o ultrapassado DC-3 aterrissar no aeroporto de Bumba. O primeiro a desembarcar foi seu superior, o Dr. Bouchard. Ele telefonara avisando que uma enfermidade grave e desconhecida alastrava-se na região próxima ao hospital da missão de Yambuku. Não estava contaminando apenas os habitantes, mas também a equipe do hospital.
 Os dois médicos cumprimentara-se na pista e depois entraram no Toyota Corolla do Dr. Lugasa. Bouchard perguntou se havia mais noticias sobre a epidemia de Yambuku. Lugasa pigarreou, ainda preocupado com o que ficara sabendo naquela manhã pelo radiograma. Aparentemente 11 membros do corpo medico, de um total de 17, já haviam morrido, juntamente com 114 aldeões. O hospital estava fechado, já que não havia pessoa alguma em condições de administra-lo.
 Dr. Bouchard decidiu que toda a região de Bumba deveria ficar de quarentena. Rapidamente fez as chamadas necessárias para Kinshasa e então mandou o relutante Dr. Lugasa providenciar transporte para a manhã seguinte, de modo que pudesse visitar Yambuku e avaliar a situação no próprio local.
 No dia seguinte quando os dois médicos chegaram ao pátio deserto do hospital da Missão de Yambuka, foram recebidos por uma calma assustadora. Uma ratazana esgueirou-se pela balaustrada de um vestíbulo vazio e um cheiro pútrido impregnou-lhe as narinas. Cobrindo as narinas com lenços de algodão, relutantes e cautelosos, investigaram a edificação mais próxima. Haviam dois cadáveres, ambos em avançado estado de decomposição, devido ao calor. Somente ao examinarem o terceiro prédio é que encontraram sinal de vida: Uma enfermeira delirando de febre.
 Os médicos entraram na deserta sala de cirurgia e calçaram suas luvas, túnicas e máscaras, numa tentativa tardia de se protegerem. Ainda temendo por sua própria saúde, atenderam a enfermeira doente, e então procuraram outros membros da equipe. No meio de cerca de 30 mortos, encontraram outros quatro pacientes com a vida por um fio.
 O dr, Bouchard radiografou para Kinshasa e solicitou auxilio de emergência a Força Aérea do Zaire, a fim de transportar vários pacientes do Hospital da Missão de volta á capital. Mas no momento em que o departamento de doenças contagiosas do hospital universitário foi consultado, com cuidado ao isolar os pacientes durante o traslado, apenas a enfermeira ainda vivia.
 Dr. Bouchard sabia que as técnicas de isolamento e quarentena teriam de ser excelentes, era evidente que estavam lidando com uma enfermidade contagiosa e mortal.
 A enfermeira Belga, transportada para Kinshasa, morreu ás 3 horas da manhã, depois de oscilar entre delírio e inconsciência, onde teimava em repetir que um paciente brasileiro que passou pelo hospital das Missões, depois de ser atendido, mesmo com crise forte de vômitos e febre alta, teimou em assinar sua própria alta, afirmando que voltaria para seu país de origem.
     
    
Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 29/11/2013
Reeditado em 30/11/2013
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