Seguindo o coelho branco II

Pietra acordou em um salto em sua cama, estava suada e ofegante. Pesadelos freqüentes não a deixavam dormir a semanas, desde que recebera aquele pacote de um amigo suas noites nunca mais foram as mesmas. Era estranho, ela de alguma maneira ligava seus pesadelos ao pacote que havia recebido com instruções para não abrir e esconder. Se fosse de outra pessoa qualquer ela ignoraria as instruções e abriria o pacote, mas eram instruções de Lacerda, seu amigo dos tempos de faculdade e ela sabia que era algo serio. Isso se confirmou quando ela teve noticias de seu desaparecimento semanas mais tarde.

A ultima vez que se encontraram Lacerda tinha ido até seu consultório, estava estranho e inquieto, dizia estar escutando vozes, e falava o tempo todo sobre como não podia abandonar Anna. Pietra nunca havia visto Lacerda tão obcecado, pensou em indicar um colega Psiquiatra mas não podia desacreditar do amigo assim. Ele lhe entregou o pacote e disse que se algo acontecesse com ele deveria incinerar o pacote e que em hipótese alguma deveria abri-lo. Quando desapareceu, ela sabia o que deveria fazer, mas como ela poderia destruir a única pista sobre o que havia acontecido ao amigo? Mesmo assim ela decidiu esperar para tomar alguma iniciativa. Os dias foram passando e os pesadelos foram ficando cada vez mais freqüentes e insuportáveis.

Certa noite acordou com o telefone tocando ás 3:00, quando atendeu se assustou ao reconhecer a própria voz.

- "Saia dai, ele está indo atrás de você".

- O que? Quem fala? Quem está vindo atrás de mim?

A ligação caiu, Pietra não teve tempo para pensar no que tinha acontecido, alguém vinha atrás dela. Tornou a pegar o telefone e ligou para emergência.

- Emergência, em que poso ajudar?

- Oi, meu nome é Pietra Monnerat, tem alguém na minha casa.

- Emergência, em que poso ajudar?

- Oi, você está me ouvindo?

- Alô? Tem alguém ai?

- DROGA!- Pietra Gritou.

Ouviu o barulho de alguém bater na porta da frente, batia forte, como se quisesse derrubá-la. Seu coração subiu a garganta, Pegou seu celular e correu até seu escritório onde havia um cofre. Quando ela o abriu retirou um revolver e uma caixa de balas, enquanto carregava notou a pacote que Lacerda havia deixado, seja quem for que estava lá em baixo, veio atrás do pacote, tinha certeza. Ouviu a porta se arrebentar contra a parede, agora estava dentro da casa, tratou de apanhar o pacote e se virou para a porta do escritório apontando a arma. Precisava sair dali, não sabia quem era ou em quantos estavam e nem se seria capaz de atirar em alguém. Correu para janela e saiu por ela, andou pelo telhado da varanda dos fundos e pulou para o quintal, quando se levantou, olhou para trás e viu a figura do que parecia ser um homem na janela a observando e logo sumiu, Precisava correr.

Estava frio e enevoado. Pietra pulou a cerca dos fundos e saiu nos fundos da casa de uma senhora que pouco conhecia, estranho tinha certeza de que ela tinha um cachorro. Quando saia pelo portão da frente ouviu um barulho de algo caindo vindo de trás dela, fechou o portão na tentativa de atrasá-lo e correu, foi inútil o portão se arrebentou com o primeiro encontrão, o sujeito disparou em sua perseguição. Pietra corria com toda potencia de quem fez parte do clube de atletismo durante a adolescência, era uma ótima corredora, ninguém a alcançava, exceto Lacerda certa vez. Mesmo assim o homem se aproximava e não demonstrava sinal de exaustão. o pânico aos pouco a tomara, mas Pietra não podia desistir, ela sabia que se fosse pega seria seu fim, podia sentir algo terrível naquele homem, algo que não podia explicar. Ela gritou por ajuda, mas ninguém saiu pra ajudá-la, estava sozinha. quando suas pernas finalmente fraquejaram e ela caiu, não perdeu tempo, mesmo caída apontou a arma para o homem que a perseguia e puxou o gatilho,

"BANG"!

Pietra horrorizou-se ao ver o homem que a perseguia (ao invés de cair) sumir diante de seus olhos tão rápido quanto o disparo do revolver, como um flash. Não era possível, havia acertado, tinha certeza. Se pós de pé e olhou em volta, não havia ninguém, não se ouvia nada, nem o barulho de corujas ou outro som qualquer, comum em uma noite como essa. A neblina foi se dissipando e Pietra foi recuperando o fôlego, lembrou-se que estava com seu celular e tentou de novo ligar para policia dessa vez com sucesso. Não podia voltar pra casa sozinha.

Algum tempo depois estava em casa com um grupo de policiais, nada havia sido levado, os policiais disseram que era uma tentativa de seqüestro, mas Pietra sabia a verdade, sentia. Acabou omitindo que o homem a perseguiu, não saberia explicar como sumira do nada, iam julgá-la louca, o que não era muito incomum em sua profissão, ela mesma conhecia um colega psiquiatra que enlouquecerá tratando de um paciente, adquirindo os mesmos sintomas. Era um caso bem conhecido entre seus colegas, o caso "Thomas", mas não era hora de pensar nisso, estava se distraindo, precisava ir a fundo e descobrir que diabos estava acontecendo, sabia que o amigo estava com problemas e precisava de ajuda. Pietra não conseguiria mais dormir ali, pegou algumas roupas pôs em uma mochila e foi para seu consultório.

Em seu consultório, decidiu que já era hora de abrir aquele pacote. Sentou-se em sua mesa e o abriu, quando o abriu encontrou um caderno esfarrapado. Deu uma folheada, mas nada lhe chamara real atenção, quando nas ultimas paginas reconheceu a letra e assinatura de Lacerda. No trecho dizia:

"Meus dias tem se tornado cada vez mais longos e contados ao contrario desde que o encontrei. fui amaldiçoado no momento em que pus os olhos nele e encontrarei meu fim por causa dele, tenho certeza, mas não antes de salva-la. Me vigiam de perto agora, mas eu a encontrei, juntei as peças do quebra cabeça e a encontrei, eles a levaram para uma cidade, Auto vale, é lá que ela está e eu vou trazê-la de volta".

"Alto Vale", então é lá que Pietra ira encontrar as respostas, é lá que ela ira descobrir o que estava acontecendo.