O Sorriso do Palhaço DTRL

O velho palhaço o lápis no olho passou. Em seu camarim, uma kombi antiga e malconservada, fitava o espelho com atenção enquanto balbuciava uma música.

“Vejam só…”

Dividia a imagem no espelho com as mil bonecas que enfeitavam seu camarim, todas vestidas como crianças cada uma diferente das outras e tão bem conservadas que causariam inveja em muitos colecionadores.

"…todo pintado nessa solidão"

Calmamente e com um pincel bem desgastado, desenhava corações na bochecha e detalhes da sua maquiagem enquanto o tradicional nariz vermelho repousava em sua frente.

"...onde a farsa de um palhaço é natural"

Estando com a vestimenta pronta e com o nariz vermelho em seu devido local seguiu para a grande lona, o público lhe aguardava! Toda a experiência e prática não o havia tirado a excitação de se apresentar. Em um piscar de olhos atravessavas as pesadas cortinas dos bastidores e se apresentava no picadeiro. Gargalhadas e mais gargalhas, mas o espetáculo não era apenas dele! O lobisomem, uma fera peluda e feroz se debatia em uma gaiola pendurada no teto, rugia alto e mostrava seus afiados dentes. Um cavalo percorria em círculos o picadeiro com fogos saindo das suas narinas. Era uma linda apresentação assim como tantas outras.

Logo a mágica tinha que se encerrar e as cortinas da lona, com a despedida de todos os envolvidos, se fecharam.

- Mamãe, mamãe olha o que o palhaço me deu!

Uma linda garotinha com vestidinho rosa balançava uma boneca em uma das mãos pra chamar a atenção da mãe.

- Que linda bonequinha! Quando foi que você pegou isso ?

Antes que a menina pudesse responder uma outra voz em tom perturbado interrompeu a conversa.

- Marcela! a Laurinha está com você? Desviei minha atenção por um minuto e ela desapareceu!

O rosto da mulher mostrava um semblante de preocupação e seus olhos percorriam diferentes lugares em busca da filha desaparecida.

- Calma, ela não deve estar longe eu vou chamar o...

Não importava o que a mulher iria dizer, bem perto dali, o palhaço pendurava mais uma bonequinha entre tantas outras que já cobriam todas as paredes da kombi. Terminando o processo, o palhaço sentava novamente frente ao espelho. Sua aparência antes pura agora mostrava um sorriso macabro, o suor deformará a sua maquiagem transformando-se em algo perturbador. Seus olhos, duas bolas vermelhas e pulsantes, fitavam para o espelho, não para a própria imagem refletida, mas sim o fundo. O reflexo das bonecas não era apenas uma imagem estática, podia-se reparar uma ou outra mexendo os olhos e a boca. O palhaço sorriu e voltou a balbuciar a sua canção.

Maicon M
Enviado por Maicon M em 11/02/2014
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