Maria Eugênia - Final

Na noite seguinte, Jorge e Helena deixaram Marina dormir na casa da avó. Jorge foi até o pátio, cavou e exumou a ossada de Maria Eugênia, que colocou num saco de plástico juntamente com a coleira. Em seguida foram buscar Renita em sua casa. Ela já os aguardava no portão, com uma sacola. Então rumaram para o cemitério.

-Estou me sentindo surreal. - comentou Jorge durante o trajeto. - Sempre fui meio descrente de coisas do além. Mas depois disso, tia, sou obrigado a rever meus conceitos...

Renita sorriu.

- Tudo o que nos acontece nos serve como aprendizado e oportunidade de crescimento, Jorge. - respondeu. - Na verdade, nem a gata nem o menino querem lhes fazer mal algum. Estão perdidos, somente isso, precisando encontrar o caminho para continuar sua evolução...

- Acho que não quero mais ficar naquela casa. - disse Helena. - Marina está muito traumatizada com tudo isso. Temo pela saúde dela...

Renita voltou-se para a sobrinha.

- Marina é portadora de uma grande mediunidade. - falou. -Foi por causa desse dom que ela possui, que se tornou possível a gata se materializar a ponto de se passar por um ser vivo. Foi Marina quem forneceu o ectoplasma necessário para isso. Quanto a permanecer na casa ou não, será uma decisão de vocês... mas tenham a certeza de que, depois que passarem pelo portal, eles nunca mais voltarão.

- Chegamos! - disse Jorge, ao ver os velhos portões do cemitério.

O cemitério onde Lucas estava sepultado era muito antigo, com um ar de abandono que o tornava ainda mais impressionante à noite. Jorge estacionou e trancou o carro numa rua transversal. Depois abriu o porta-malas e tirou de lá o saco com os restos mortais de Maria Eugênia, uma pá e uma lanterna. Durante o dia ele estivera na administração e se informara sobre a localização do túmulo.

Os três entraram pelos fundos, onde uma parte do muro estava com os tijolos tombados. O capim era alto e corujas piavam nos galhos das árvores centenárias. Renita andava serenamente, mas Helena estava com muito medo e seguia agarrada ao braço do marido.

- É aqui. - disse Jorge, parando diante de um túmulo de granito. A luz da lanterna mostrou a foto de um menino. Lucas Renan Pinho de Souza, 1995-2002.

- Agora, Jorge, - disse Renita, - enterre o saco ao lado do túmulo.

Jorge entregou a lanterna a Helena e começou a cavar. Por sorte chovera e a terra estava fofa. Enquanto ele cavava, sua tia colocou sobre o túmulo de Lucas sete velas brancas e sete velas pretas em forma de cruz, e ao redor delas fez um círculo de sal grosso. Assim que Jorge terminou de enterrar o saco ela acendeu as velas e disse, vamos dar as mãos...

Os três ficaram de mãos dadas por algum tempo, olhando as chamas das velas... então de repente uma espécie de túnel luminoso se abriu mais adiante, no muro do cemitério, e Lucas surgiu flutuando no ar, com Maria Eugênia nos braços. Ele sorria, acariciava a gata e vestia uma túnica branca e resplandecente.

- Muito obrigado! - falou. - Agora temos de ir...

E assim dizendo, o menino rumou em direção ao túnel, que se fechou atrás dele... e somente restou a escuridão da noite.

Renita respirou aliviada.

- Deu tudo certo! Eles estão livres, e vocês também.

Jorge e Helena olharam um para o outro, e sorriram.

Cerca de um mês depois, eles se mudaram para outra casa, em outro bairro. O sétimo aniversário de Marina estava perto. Quando Jorge lhe perguntou o que ela queria ganhar de presente, ela respondeu; quero uma gata, pai. Ele ficou surpreso, mas feliz porque ela estava recuperada do trauma que sofrera. Reconheceu que sua filha era uma menina muito especial.

Então, eles foram a um pet shop onde sempre havia animais para adoção. Encontraram uma pequena gatinha, muito semelhante a Maria Eugênia, de pelo tricolor e olhos cor de âmbar. Marina se apaixonou por ela e a tomou nos braços. e disse.

- É essa que eu quero, pai. E o nome dela vai ser... Maria Eugênia!

FIM

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 28/02/2014
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