Os Contos do Frio - 2: É impossível fugir do Frio

BRASIL NOTICIAS — 15 de julho de 2013

Meteorologista desaparece durante as férias

Um meteorologista que trabalhava na Antártida para uma empresa especializada, entrou de férias no dia 15 de junho e embarcou num voo para o Brasil, com data de chegada no dia 17 do mesmo mês, mas desde então não houve sinais dele. Nossos repórteres conseguiram entrar em contato com um motorista particular que fora contratado para levar o meteorologista para a cidade Tempestade de Gelo e ele fez uma declaração para nossa equipe: "Eu o apanhei no aeroporto e levei-o na estrada para Tempestade de Gelo, mas quando estávamos diante da entrada da cidade meu carro simplesmente parou de funcionar e o homi quis ir embora sem esperar que eu concertasse, então quando abri o capô e olhei o motor não havia nada errado com ele. Olhei para a entrada para ver o homi, mas ele já tinha sumido, então entrei no carro e saí de lá".

BRASIL NOTICIAS — 17 de julho de 2013

Autoridades brasileiras investigam o desaparecimento de meteorologista

As autoridades do estado de São Paulo estão investigando o desaparecimento do meteorologista que passava as férias na cidade Tempestade de Gelo. O motorista que o levara é considerado suspeito do desaparecimento e está sob vigília policial. Além disso, o delegado do Trigésimo DP de São Paulo declarou que as autoridades vão realizar uma busca na cidade Tempestade de Gelo para descobrir evidencias do caso.

BRASIL NOTICIAS — 19 de julho de 2013

Autoridades realizam buscas em Tempestade de Gelo, mas não encontram meteorologista desaparecido

As autoridades do estado de São Paulo realizaram buscas na cidade Tempestade de Gelo, mas não encontraram nenhum vestígio da presença do meteorologista na cidade, o que aumentou as suspeitas sobre o motorista que levou o meteorologista para cidade. As autoridades decidiram também investigar a vida do meteorologista a fim de descobrir algum motivo para seu desaparecimento.

BRASIL NOTICIAS — 21 de julho de 2013

Meteorologista desaparecido era na verdade um criminoso fugitivo

A investigação da vida do meteorologista resultou na descoberta de que ele na realidade era um criminoso fugitivo da África do Sul, culpado pelo assassinato de um colega de trabalho numa lanchonete, por ter prendido a vitima no freezer e trancado a porta para que congelasse até a morte. O homem conseguira o emprego na empresa meteorológica graças a documentos falsos que mascaravam sua identidade.

BRASIL NOTICIAS — 01 de agosto de 2013

Prisioneiro de alta periculosidade é transferido para prisão de segurança máxima no interior do estado de São Paulo

Na tarde de hoje, as autoridades do estado de São Paulo, iniciaram a transferência de um perigoso preso de uma das mais seguras penitenciárias do país para uma prisão de segurança máxima, localizada próximo à cidade Tempestade de Gelo, para que não pudessem haver tentativas de resgate efetuadas por criminosos que seriam cumplices dele.

As viaturas de transferência e escolta de presos estão seguindo pela rodovia que corta o estado de São Paulo, a poucos metros da estrada de terra batida que leva para Tempestade de Gelo, quando o primeiro carro de escolta simplesmente virou horizontalmente na estrada, de modo que o outro que vinha logo atrás colidisse em cheio com o primeiro e assim sucessivamente, num enorme efeito dominó.

Por algum motivo estranho, a porta do carro em que estava o preso abriu de repente e ele saiu de lá, sem algemas e tudo como se algum policial o tivesse libertado. Sem pensar em nada além de fugir, o preso fugitivo correu e encontrando a estrada de terra batida que descia a encosta de uma montanha e que leva à cidade Tempestade de Gelo, decidiu que aquele seria o melhor caminho a seguir para não ser encontrado e seguiu correndo por ali.

Logo no início da descida, percebeu que o caminho seria longo, pois não conseguia avistar o fim da estrada, que era cercada em ambos os lados por uma densa floresta, com árvores próximas umas das outras.

A descida foi bastante longa, o que o fugitivo calculou ser cerca de uma hora, até ver o fim da estrada, às margens de um campo quadrado.

A grama do campo estava seca e malcuidada. Assim que o fugitivo pisou na grama, viu que ao nordeste havia outra estrada de terra batida, agora retilínea, que seguia para o norte. Sem pensar duas vezes, ele rumou para estrada ao nordeste.

Foi outra longa caminhada que durou cerca de quarenta minutos, até que pudesse ver o fim da estrada às margens de uma rua asfaltada. Ao fim da estrada, a margem direita que antes tinha árvores, passou a ter um alto muro de um dos edifícios, enquanto a outra continuava igual.

O fugitivo caminhou até o asfalto, feliz por ter conseguido fugir e acreditando que estaria livre para sempre. Não havia ninguém morando naquela cidade, desde o dia 15 de junho e o único homem que fora àquela cidade, não foi mais encontrado. Com certeza estava escondido, pois era um criminoso.

— Esse lugar é um paraíso e ainda tem alimento e água, tudo que preciso para sobreviver. Se eu encontrar o mano do tempo ou mete-sei-lá-o-que, é só dizer pra ficar fora do meu caminho que nada acontecerá com ele. Só queria entender o que cunteceu com o povo da cidade. — O fugitivo falou feliz e caiu na gargalhada.

De repente o calor sumiu, sem motivo, pois o céu continuava azul e com pouquíssimas nuvens e o sol ainda irradiava o asfalto com seus raios, porém ainda assim o calor fora substituído por uma forte onda de frio. Embora o frio fosse intenso, não o congelava.

— Que diacho é isso! Essa parada ta me assustando mais que os puliça! — O fugitivo exclamou assustado — Esse frio não é normal! Vô vazar daqui agora mesmo! Prefiro a jaula a isso!

O fugitivo virou-se para a estrada por onde viera, mas aconteceu algo que o impediu de continuar.

Uma gigantesca parede de gelo se formou de repente, tão alta e íngreme que não seria possível escalar e tão espessa que nem mesmo o mais grosso aríete poderia derrubá-la.

Assustado demais para pensar com clareza, o fugitivo virou a rua que seguia para o leste e correu, olhando para os lados à procura de uma saída, mas os edifícios estavam cobertos por espessas camadas de gelo, impossibilitando o acesso às portas. O asfalto também estava coberto por gelo, porém uma camada mais fina, que parecia ser de néon azul.

Chegando ao final da rua, o desespero do fugitivo aumentou, pois não havia saída. Barricadas impediam o acesso à única curva que seguia para o sul.

O fugitivo olhou em todas as direções e ao noroeste avistou um baixo muro de madeira que estava coberto por uma leve camada de gelo que emitia um brilho azul, assim como o asfalto.

Não havia outro lugar para ir, então o fugitivo correu para o muro e com um salto agarrou-se ao topo, passando logo para o outro lado, caindo num estreito corredor entre dois edifícios.

O chão está coberto por uma fina camada de gelo, enquanto as paredes estão cobertas por uma espessa camada de gelo. E os raios de sol não conseguem derreter o gelo, embora esteja tocando em tudo. Ao final do corredor há uma porta comum de madeira, coberta por uma fina camada de gelo que emite um brilho azul. Acima do portal há um letreiro, onde está escrito: saída.

O fugitivo começou a correr para o final do longo corredor, mas após alguns metros, ainda distante da metade do corredor, escutou um baque surdo como se alguém tivesse saltado o muro. Seguindo de perto o baque, houve um som realmente assustador, como se um animal feroz corresse sobre as quatro patas.

O fugitivo apertou o passo, mas sentiu que deveria saber o que era o ser que o perseguia. Sem diminuir a velocidade da corrida, ele virou o rosto para trás e se assustou ainda mais com o que viu.

Era um ser humanoide, com membros, tronco e cabeça, semelhantes aos humanos, mas sem dedos nos pés, sem boca, nariz, olhos, orelhas, cabelo e pele, o corpo constituido por tecido muscular vivo.

O fugitivo tornou a olhar para frente, percebendo que já estava a alguns passos da metade do corredor e viu uma estranha estátua de gelo, muito bem esculpida, pois parecia um ser humano congelado e estava virado de frente para o corredor e de costas para a saída. A face congelada tinha uma expressão de claro terror como se tivesse olhando algo assustador.

Ele passou pela estátua e então o perseguidor caiu sobre ele, agarrando-o com os braços como se estivesse abraçando e o peso do ser era tamanho que ele pensou ser impossível se livrar, mas após se sacudir um pouco, conseguiu empurrar o ser para longe e tornou a correr em direção ao final do corredor, pois enquanto o ser o agarrava mal conseguia dar um passo.

A poucos centímetros da porta, um baque surdo soou no corredor e mais passos se juntaram ao primeiro. Com dois perseguidores, o fugitivo apertou o passo e alcançou a porta, girando a maçaneta e abrindo.

Mas ficou desapontado, porém não era uma saída, pois chegara a uma sala quadrada com uma porta idêntica à esquerda, com um letreiro sobre o portal, onde está escrito: saída.

O fugitivo correu em linha reta, e virou para ir em direção à porta, mas os seres o alcançaram e saltaram juntos sobre ele, o peso era muito grande e mesmo tentando se livrar, não conseguiu.

Então o fugitivo avistou algo que o fez tomar uma expressão de terror e uma voz gélida e assustadora sussurrou-lhe ao ouvido:

— O Frio nunca deixa um errado fugir!

O que ele avistou, ninguém pôde saber, porque uma dor como mil facas perfurando sua pele surgiu e uma espessa camada de gelo começou cobrir-lhe o corpo, iniciando pelos pés, até cobri-lo completamente, deixando-o como uma estátua de gelo.

Edu Marchezini
Enviado por Edu Marchezini em 08/04/2014
Reeditado em 14/04/2014
Código do texto: T4760825
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