“Visão noturna de uma adolescente”

Dedico este conto a todos os leitores e amigos.

- O braço do homem caiu, exclama a menina para sua mãe.

A mulher apressada não da atenção ao que diz a menina de imaginação fértil.

As duas seguem para o estacionamento do shopping.

O carro da dona Silvia esta bem no fundo do estacionamento, as duas precisam caminhar quase dez minutos por entre os carros no subsolo ate o veiculo.

A pequena Lorena olha para trás a cada segundo, ela vê um homem seguindo-as, mas sua mãe não o vê.

A menina se desespera; - mamãe, mamãe, olha o homem sem braço esta nos seguindo.

- Para com isso menina, diz Silvia, quase sem paciência com a filha.

Ao chegar ao carro, Silvia abre a porta do porta mala para por seus objetos e Lorena a espera para entrarem juntas, enquanto isso o homem se aproxima da menina que fica assustada, seu coração dispara de tal forma que a garotinha desmaia.

Sua mãe sem entender o motivo do desmaio grita por socorro e os seguranças do local a atende levando a menina para uma enfermaria, os olhos de Lorena piscam rapidamente como se ela estivesse tendo convulsão.

Ninguém percebe nada, mas na mente de Lorena, quem a carrega é o homem sem braço, ele a leva para um esconderijo escuro, úmido e cheio de fantasmas, pessoas mortas e com seus membros arrancados do corpo caminham em busca de comida e luz.

O mundo aonde esta a pequena Lorena é de eterna escuridão.

Ela não vê mais sua mãe.

Agora aquele homem a carrega com uma mão puxando à pelas pernas e arrastando-a para dentro de um local cheio de lodos e lamas num lugar terrível, como se fosse um cemitério abandonado.

Num determinado momento aquele homem a abandona e corre para pegar outra criança que passa em frente a uma luz brilhante, tão clara que dói as vistas.

Lorena fica caída no chão, ela não consegue identificar o lugar, apenas uma escuridão e um silencio mórbido.

Ela ouve a respiração ofegante, um hálito fétido de uma criatura que se aproxima pelas costas dela.

De longe, o tilintar de facas se misturam com a ofegante respiração tenebrosa.

Lentamente Lorena vai se levantando, apoiando-se nas paredes úmidas, frias e escorregadias.

Ao tatear com as mãos em busca de algo para se apoiar, ela toca num corpo gelado, e úmido, com um liquido viscoso e fedorento, igual à de sangue velho ou pus.

Com certeza era liquido corpóreo, vindo de um corpo em putrefação, um cadáver que andava por ali.

O vento uivava em seus tímpanos, ela sentia o frio cortar sua pele sensível, ela já não ouvia sua mãe chamar por seu nome, o corpo úmido e gelado, se afastava dela, ela ouvia quando ele partia lentamente arrastando correntes.

Lorena fica em pé, ela permanece por alguns segundos em silencio, como quem espera a confirmação de estar de fato só.

Tudo cessa; o tilintar das facas, o barulho das correntes.

Apenas o odor, este esta cada vez mais insuportável.

Lorena esta de fato perdida, sua visão noturna agora revela imagens de pessoas fugindo de mortos vivos, homens e mulheres com aspectos cadavéricos, sangue começa a jorrar das paredes, ela ouve novamente gemidos, respirações ofegantes... Vez em quando, ela tem uma trégua, mas em seguida, tudo volta a assombrar a menina.

Lorena tateia com as mãos na tentativa de encontrar algo confiável, sua mãe é vagamente lembrada, tudo parece acontecer de forma a fazer ela pensar que esta só num mundo perdido.

Ela encontra uma sepultura de mármore.

Agora Lorena tem certeza que esta num local tenebroso, frio, um cemitério cujas sepulturas são violadas por criaturas desalmadas.

A mente da menina esta cada vez mais perdida na escuridão, apavorada.

Num instante, ela começa ouvir vozes que te faz lembrar sua mãe, a memória de Lorena começa a se recobrar, a menina senta-se no chão e diz; - mamãe, eu estive num lugar terrível, eu me vi num cemitério.

Dona Silvia pergunta para a filha; - você dizia que um homem sem braço nos seguia como era este homem? Lorena – ele não era deste mundo, ele estava morto e muito malvado.

Dona Silvia esta com um livro que Lorena lia na noite de ontem, ao pegar o livro, Lorena desliza a ponta do dedo sobre as palavras escritas em braile, e traduz para dona Silvia o que diz o livro.

Lorena lia um conto de terror e sua mente a levou para uma viagem no mundo da escuridão, sendo ela cega de nascença, sua imaginação é mais forte que os olhos, Lorena viveu uma historia de terror no fundo da sua imaginação, a visão noturna de um adolescente de imaginação criativa e fértil.

Lorena esteve à margem da morte.

Sozinha encontrou o caminho de volta, dona Silvia decide não deixar ela ler estes livros, porem, a imaginação de Lorena, ninguém controla, esta é sua única visão.

Joel Costadelli
Enviado por Joel Costadelli em 23/04/2014
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