O VELÓRIO.

Gustavo acabara de completar 19 anos, sempre bonito e bem vestido, o cabelo bem cuidado, tinha pinta de conquistador e para falar a verdade mulheres não faltavam.

No dia de seu aniversario, no entanto, acordara meio estranho, sentia seu corpo mais pesado, apesar de banho tomado, sentia-se sujo, sentia um perfume diferente do que costumava usar, era como se estivesse banhado por uma essência de rosas, misturadas a outras flores, mas não ligou muito para isso, apesar do cansaço e de uma dor na altura do peito que o incomodava vez por outra, resolveu manter o combinado de sair com os amigos. Gritou por sua mãe para lhe levar um café na cama, mas não recebeu resposta, resolveu descer e comer alguma coisa, subiu e voltou a adormecer para esperar o horário da festa.

Por volta das 20:00 horas levantou-se e saiu, antes notou que sua casa estava vazia e tentou ligar para sua mãe mas não encontrou seu celular, ao passar pela porta viu um pequeno bilhete que deveria ser endereçado para qualquer visita que por um acaso resolve-se ir até sua casa, o mesmo dizia o seguinte: - Fomos a Igreja terminar os preparativos, favor ligar para os fones! E lá estavam os telefones de sua irmã e de sua mãe; pensou então: - Essas duas não tem jeito, sempre que podem estão nessa bendita igreja. Passou na casa de Alberto, mas não conseguiu encontra-lo, quem atendeu a porta foi um desconhecido que apresentou-se a Gustavo, como Eliezer, dizia-se tio de Alberto e que poderia leva-lo até onde o amigo estava, mas, ele não conhecia esse tio do amigo, meio acabrunhado resolveu aceitar pois os convites para a boate, estavam com o amigo de longa data, e que mal faria acompanhar um estranho que era tio de seu amigo e só estava se dispondo a ajudar?

Eliezer avisou que seu sobrinho estava a algumas quadras de lá, mas que antes precisava dar uma paradinha em um determinado lugar e onde estavam algumas pessoas que lhe eram muito queridas. Gustavo ficou um tanto quanto chateado com aquilo e disse a Eliezer: - Meu amigo, eu não vou a lugar algum, não gosto desse tipo de coisa e já estou ficando atrasado para meu compromisso, por isso, se você quer me ajudar a encontrar Alberto, vamos de uma vez por todas!

Eliezer delicadamente respondeu que tinha de ser agora e que não demoraria quase nada, que era um ato de caridade. Gustavo, muito contrariado, concordou, porem, disse que ficaria na porta e que ele fosse breve em sua caridade. Seguiram então e duas quadras depois, já estavam em frente à uma capela mortuária, Gustavo tomou um susto e disse: - Droga meu amigo, és doido de me trazer em um lugar desses? Eliezer o convidou para entrar, mas ele insistiu dizendo que não e que ficaria esperando por ele, dito isso Eliezer adentrou a capela.

Passaram-se 10 minutos e nada do cara voltar, resolveu ir embora, mas antes iria ligar para Alberto, procurou pelo celular em seu bolso mas não o encontrou, resmungou: - Que droga, como fui esquecer o telefone! Agora vou ter que esperar por esse cara, mas quer saber de uma coisa, vou lá dentro chamar por ele! Quando acabou de dizer isso, seu peito voltou a doer, era uma dor estranha que nunca havia sentido, seguiu em frente e ao pisar na soleira da porta da capela, percebeu que não era um só velório e sim o de quatro pessoas.

Logo de cara avistou pessoas conhecidas, dentre elas, Altina, irmã de Alberto, não se dava muito bem com ela, mas resolveu perguntar do que se tratava, - Altina, boa noite! Por um acaso você sabe me dizer onde o Alberto esta? Altina parecia ignorar sua pergunta, ele repetiu a pergunta, ela passou a mão por sobre a cabeça, como se estivesse sentindo-se mal e nada respondeu, ele ficou indignado com aquilo e disse para si mesmo: - Essa merda sempre foi louca, custava me dizer onde o irmão esta? Fica fazendo de conta que não me conhece! Esse pessoal também é um bocado estranho, eu heim!

Caminhou um pouco mais para dentro da capela, tentando achar o tio do amigo, mas o cara parecia ter evaporado, próximo a um outro caixão, varias pessoas choravam desesperadas e diziam: - tão nova! Uma verdadeira tragédia, como isso foi acontecer? Ele tomou coragem e aproximou-se, foi ver quem era o defunto, ao aproximar-se levou um tremendo susto, era Elisangela, uma garota com quem havia ficado na festa da noite anterior, disse para si mesmo; - Nossa, ontem mesmo eu estive com essa garota, tão bonita, o que pode ter acontecido? Quando de repente, houve alguém próximo a ele dizer para um outro cara:- Foi acidente de carro, a noticia só chegou esta manha, parece que todos os ocupantes morreram com a violência do choque contra o caminhão!

Gustavo ficou horrorizado e com certa pena da garota, mas a vida continua e ele tinha de encontrar Alberto, pois a festa prometia. Olhava para um lado e para outro e nada do cara, com isso o tempo passava, mas de uma forma um tanto quanto estranha, e aquela dor no peito, só aumentava, resolveu caminhar ate o outro caixão e perguntou de quem se tratava nada lhe responderam, ele pensou: Eita povinho mal educado! Foi lá e olhou, tomou, mas um susto, quem estava no caixão, era Claudia, namorada de Oliveira, um cara que havia discutido dias antes, quando ele foi defender Alberto, pois o mesmo havia ficado com a garota do rapaz, coitado, ele não sabia e a sacana da história então, era a garota que mesmo tendo namorado, saia para curtir com outros caras. Mas agora, ela estava morta, Oliveira debruçava-se desesperado por sobre o caixão, Gustavo resolveu então afastar-se para evitar outra briga naquele lugar.

Andou mas um pouco e aproximou-se de um outro caixão, era uma urna de luxo, tinha muita gente em volta e lá estavam os pais de Alberto e muitos outros amigos, que aglomeravam-se em volta do esquife, resolveu aproximar-se e começou a sentir mais mal ainda, quase cambaleando aproximou-se, algumas pessoas o observaram e pareciam censura-lo, eram pessoas que ele nunca tinha visto, mas talvez estivessem agindo assim, por conta das roupas de festa, inapropriadas para aquela ocasião. Quando postou-se a frente do caixão, quase desmaia pois para sua desagradável surpresa, quem estava lá no caixão, era seu querido amigo Alberto, Gustavo se desesperou, quis fugir daquele local, mas não teve forças, gritou perguntando como aquilo aconteceu, quando aconteceu, estava desesperado. Aproximou-se dele uma jovem que pediu para se acalmar e explicou-lhe que Alberto havia falecido em consequência de um grave acidente. Ele questionou, como aquilo pode ter acontecido se eles estavam juntos e havia deixado Alberto em sua casa? A moça nada mais disse e afastou-se, ele ficou a gritar com ela para obter mais respostas, mas ela seguiu em direção ao ultimo caixão, ele a seguiu, quando de repente, surge o tio de Alberto que lhe diz, eu não lhe falei que aqui estavam pessoas muito estimadas e que tinha de fazer um ato de caridade? Gustavo a essa altura nada mais dizia, apenas chorava e a dor em seu peito parecia querer arrebentar-lhe o coração, a medida que aproximava-se do outro caixão.

Os passos pareciam pesados e a distancia parecia aumentar a medida que ele caminhava, sentia uma repulsa por conta de tudo aquilo, logo avistou sua mãe e sua irmã, não entendeu, por quem sua mãe poderia estar chorando, poucas pessoas rodeavam o caixão e quando finalmente chegou próximo ao caixão e olhou para sua mãe e sua irmã, pode notar para sua desgraça, que era ele mesmo que estava deitado, rodeado por flores, um cheiro de vela que lhe dava náuseas, sua cabeça rodou e ele por fim desmaiou.

Ao acordar, estava rodeado por Alberto, Elisangela e Claudia, eles pereciam estar pálidos, de olhos fundos e lhe disseram: - Gustavo, chegou a hora, temos de partir ou então vamos sofrer dores atrozes. Gustavo riu-se como um louco e disse para pararem de palhaçada que aquilo não era certo e que a brincadeira de mau gosto não colava mais. Os três o olharam penalizados e explicaram tudo o que havia acontecido, a festa, as bebidas, o retorno, o choque com o caminhão e que todos haviam morrido, mas que poderiam ser socorridos pois não eram culpados, no entanto, precisavam seguir adiante, pois entidades malévolas já rondavam o lugar, querendo arrasta-los para zonas de perturbação.

Gustavo riu-se, debochou dos amigos e disse: Vocês não sabem sabem a hora de parar seus babacas, como podemos estar mortos se eu sinto meu corpo, se estou vendo vocês, vendo as pessoas, se estou respirando? Saiam daqui, vocês não prestam, não quero mais saber de vocês, e ainda por cima armaram toda essa palhaçada com todos presentes, que coisa mais mórbida, deve ser alguma sacanagem por conta de meu aniversário, ate minha mãe participando, fala sério, saiam daqui. Os amigos o olharam penalizados, mas não podiam mais fazer coisa alguma pois Gustavo não queria aceitar a situação, o tio de Alberto reapareceu e mas uma vez explicou tudo, teve no entanto como resposta, o desdém de Gustavo, os quatro então viraram de costas e seguiram em frente e para surpresa de Gustavo, desapareceram diante de seus olhos.

Gustavo enlouqueceu com o que acabara de ver, saiu correndo atrás dos amigos, mas já haviam sumido, era tarde demais. Surgiram então a sua frente, figuras demoníacas que o arrastaram para junto do caixão e o aprisionaram em seu corpo que jazia sem vida, ele tentou gritar, para sua mãe e sua irmã, dizendo que estava ali, que estava vivo, mas elas não o escutavam, as criaturas continuaram rodeando seu caixão, ate que o dia amanheceu e chegou a hora do enterro. Desesperado, ele viu-se ser enterrado, viu jogarem flores, viu o caixão baixar, viu jogarem terra sob o caixão e viu quando fecharam a sepultura, ele gritava desesperado que estava vivo, que todos estavam loucos, mas nada adiantou, por fim desacordou.

Naquela noite, já no silêncio do cemitério, Jorge o zelador, jurava que do túmulo do rapaz que havia sido enterrado pela manha, vinham vozes de desespero e pedidos de socorro, era como se alguém estive sendo devorado vivo por vermes, resolveu afastar-se e foi rezar, pois afinal de contas, o que os mortos necessitam é de muita oração.

Tony Monteiro
Enviado por Tony Monteiro em 17/05/2014
Reeditado em 17/05/2014
Código do texto: T4810215
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