Numa manhã dessas - Mini conto

A manhã fria de inverno cobria toda a estrada de branco. A neblina consumia os contornos da paisagem, deixando apenas uma faixa de poucos metros visível. O carro rompia o silêncio. Antônio mesmo quase sem enxergar nada acelerava cada vez mais, o ponteiro caminhava além dos cem no painel.

Duas luzes vermelhas surgiram a sua frente. Não havia o que fazer. Fechou os olhos e abriu um sorriso.

Não houve impacto. O carro continuou seu trajeto. Sem entender nada Antônio parou no acostamento. Fitando os olhos na direção das luzes não viu nada além do branco da neblina.

Caminhou alguns passos. Mas a visibilidade estava cada vez pior. Ao girar os calcanhares de volta ao veículo deixou o sorriso se transformar uma careta de pavor. O carro estava consumido pelo branco da neblina. As mãos foram de encontro ao rosto num movimento robótico. O grito se fez. Era tarde. Seus dedos não tinham mais contornos. Tornaram-se um borrão.

Ao som de um rock dos anos oitenta que passava no rádio do carro ele correu. Correu. Correu até não aguentar mais. Deixou-se cair no meio da pista. Os olhos fitos no nada.

Uma carreta passou por cima de Antônio manchando o branco daquela manhã.