O homem do galinheiro

Ted crescera na cidade, embora aquela fazenda sempre fora coadjuvante em sua infância.

Agora com seus ousados dezesseis anos perdeu a conta dos finais de semana que passara ali, sob aqueles telhados de barro já amarelados pelo tempo.

A casa principal era grande. O taco tão antigo quanto as telhas, porém lustroso, lembrando uma camada de chocolate meio-amargo incrivelmente brilhante.

O cheiro era bem peculiar também.

Tanto, que Ted se perguntava agora porque todas as casas de fazenda ou sítio tinham o mesmo odor.

Devia ser a velha amizade entre madeira e mato.

O cheiro da vegetação estava tão impregnado naquela casa que não se distinguia mais o que era um e o que era o outro.

Aquilo tudo, aliado ao aroma do café das quatro da tarde funcionava como uma espécie de máquina do tempo, fazendo o garoto reviver todas as suas lembranças naquele lugar, do beijo na festa junina aos oito até o dia em que quase se afogara na cachoeira atrás do pomar, com treze.

Boas lembranças.

Sim, Ted gostava muito daquela fazenda, mas isso foi mudando de uns dois anos pra cá.

Os pesadelos com o galinheiro ficaram mais intensos nesse período.

Pois se havia algo naquele lugar que Ted odiava, esse algo era o velho galinheiro que nunca foi desmontado nem mudado de lugar.

A fazenda como um todo passou por atualizações, reparos e mudanças, mas o avô de Ted, o velho senhor Arnold, nunca quis mudar aquele galinheiro de lugar.

Ted flagara muitas vezes a avó tentando convencer Arnold a acabar com aquela coisa, a investir num alojamento mais moderno para suas aves, que aliás traria até mais lucros para eles em forma de carne e ovos.

Mas Arnold sempre batera o pé e dizia que mudaria tudo menos o velho galinheiro. O motivo? Sempre foi a maior curiosidade de Ted.

E seu maior medo também.

O garoto fechou os olhos e lembrou das vezes que o avô pedia para ele recolher os ovos, sempre a tardinha, lá pelas cinco da tarde quando o céu estava num degradê de tons laranjas e rosa.

Ted ainda conseguia sentir o arrepio correr pela espinha lembrando de uma presença estranha e pesada que sempre sentira ao se aproximar do lugar.

Toda vez era assim. Ele descia as escadas da casa, andava pelo gramado, passava pela cerca que dava para o curral e chegava ao galinheiro. A portinha improvisada de tela e metal rangia brevemente e então com o pé direito Ted adentrava o local.

Ia coletando rapidamente os ovos conforme seu coração acelerava e sua ansiedade aumentava.

Ele se mantinha concentrado em seu trabalho de colocar os ovos no saco, tentando de todas as maneiras não olhar com sua visão periférica o que o cercava.

Ted podia jurar que não estava sozinho. Sentia a garganta seca e as pernas fraquejarem e então saía atabalhoado e com pressa, da mesma forma como entrara.

A ''presença'' o seguia até a cerca do curral, Ted sabia disso, pois os porcos ficavam agitados e grunhindo de uma forma bizarra, um som mais que gutural.

O garoto abriu os olhos.

Já não estava mais lá. Como se tivesse despertado após uma noite profunda de sono ele abriu os olhos e olhou ao redor.

Estava sentado na cadeira de balanço do avô, de frente para o grande quintal.

O vento daquela manhã afagando seu rosto e brincando com seus cabelos.

Um raio de sol brotou por uma fresta do telhado da varanda e tocou de leve o braço dele como se intensificasse que ele estava realmente ali e aquela lembrança do menino desesperado saindo do galinheiro não passava de um pesadelo. Um mero pesadelo que evaporava como o orvalho pela manhã.

Por mais bela que fosse aquela visão Ted não deixou-se iludir pelo truque que sua mente estava formando.

Seus olhos percorreram o gramado, a copa das árvores do pomar, o caminho para a cachoeira, a cerca e então lá estava: o telhadinho do galinheiro.

Daquela distância parecia inofensivo e bem simples.

''Besteira sua garoto'' pensou, imaginando que talvez agora mais velho e mais experiente poderia ver que aquele medo todo estava apenas na mente infantil e insegura.

Ted deu um sorriso e aspirou o ar fresco da manhã, mas isso durou pouco.

Logo em seguida sentiu a garganta contrair como se estivesse sendo levemente esganada. E uma voz ao pé do ouvido sussurrou marotamente: '' não tenha tanta certeza assim''.

Continua...

Vinny Barros
Enviado por Vinny Barros em 22/07/2014
Reeditado em 28/07/2014
Código do texto: T4891470
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