O Porão sabe falar.

Em uma cidadela miserável ao sul de Santa Catarina morava Érick e seus pais, Érick era um menino muito saudável e adorava brincar de basquete nos finais de semana e nos dias de semana amava jogar vídeo-game depois de chegar do colégio. Tinha apenas doze anos e não gostava nem um pouco de ser chamado de pirralho, ainda mais quando seus pais pegavam em seu pé por que ele tinha medo de descer até o porão de casa para pegar alguma coisa. Ele dizia que tinha algum tipo de monstro lá embaixo e que se ele fosse até lá seria surrado ou pego pelo tal “bicho papão”, seus pais se divertiam com essa “estória” e adoravam aborrecê-lo para, então, depois pedirem desculpas. Porém mal sabiam eles que na noite de 13 de novembro de 2013 não teriam como se desculpar.

Uma noite fria com mais ou menos zero graus no termômetro e caindo, uma espécie de geada estava caindo lá fora e o aquecedor dentro de casa tentando dar conta daquele frio imenso, conseguia um pouco, mas não por completo por que eles ainda precisavam usar moletom para ficarem aquecidos por completo, além de estarem todos tomando achocolatado bem quente.

- Quero outro copo de achocolatado – Disse Érick para sua mãe.

- Acabou o leite – Ela pensou e ainda tinha leite, porém apenas lá no porão (eles guardavam as caixas de leite que compravam no porão), uma ótima oportunidade para brincar com o medo dele de novo, pensou a incrível mãe – Na verdade, só tem lá no porão. Após ouvir a palavra “porão” os pelos da nuca dele se eriçaram e os olhos saltaram para fora assim como bolas de gudes quando são jogadas belo dedão da sua mão para ir de encontro ao chão.

- Não irei de jeito nenhum – Os pais riram e isso fez com que ele ficasse extremamente irritado. – Parem de rir.

- Seu fraco. Não tem nada lá embaixo, pode ir –Érick estava quando chorando quando o pai terminou essa frase.

Após muitas insistências e brincadeiras de mal gosto chamando o menino de medroso e mulherzinha, o mesmo, decide ir até o porão pegar uma caixa de leite para seu achocolatado. Ele calça seu chinelo havaiana, e vai caminhando até a porta do porão, seu coração estava no peito e batendo forte, porém a cada batida parecia que ia subindo mais e mais, sua respiração estava ofegante e uma energia ruim assumia seu corpo, a mão voou até a maçaneta em câmera lenta.

Nada aconteceu. Óbvio que não aconteceu, ainda.

Girou a maçaneta e com um breve ruído a fechadura fez – pléc – e a porta abriu, lá embaixo tudo escuro dava apenas para ver os quatros primeiros degraus na escada de treze no total. Os olhos estavam brilhantes esperando as lágrimas que iriam vir mais pra frente e toda aquela conversa de fraco e mulherzinha parecia muito sem importância nesse porão escuro e sem vida. Porém algo maior fazia com que ele ficasse parado em frente à descida do porão, algo sem explicação ou descrição simplesmente o pregava o pé ali e puxava-o para baixo quase como sussurrando em seu ouvido – você está ai? Venha para cá – e ele foi. Primeiro um passo, depois o outro, primeiro degrau, segundo degrau e a voz parecia cada vez mais clara – venha, venha para cá – a partir da quarta escada já não dava mais para ver Érick, tinha emergido diretamente para a escuridão da qual nunca saíra até hoje.

Lá embaixo não conseguia enxergar um palmo a sua frente tudo completamente escuro, tateava para ver se achava alguma coisa em que se apoiar e até que depois de algumas horas a caminhar como um cego ele encontra algo sólido. Passou a mão lentamente sobre esse objeto e sente uma camada oleosa, com algumas coisas em forma de triângulos a cada três centímetros. Seu coração já havia subido para a garganta que atrapalhava sua respiração e apesar de o frio lá fora ele estava suando da ponta da cabeça até a ponta dos pés, estava com medo, mas não conseguia voltar algo fazia-o permanecer ali para que algo acontecesse. Escorou-se sobre o objeto encontrado e sentiu leves idas e vindas desse objeto como quando alguém está respirando lentamente.

- Você está encostado em mim – Uma voz que veio do além, ou então ali mesmo daquele porão.

Alguns vizinhos contaram que ouviram gritos e gemidos, outros que ouviram tiros e gritos, os pais apenas catatônicos tiveram que ser levados diretamente para um hospital e depois para uma clinica psiquiátrica, pois não paravam de dizer coisas sem sentido nenhum.

- Estamos aqui. Queremos ir ai também – Repetindo-se inúmeras e inúmeras vezes.

Mas nunca descobriram o que significava, e também nunca acharam o corpo de Érick e nenhum vestígio de seu paradeiro e nenhuma prova de invasão a casa tudo estava intacto, menos a alma de seus moradores.

Vocês estão por ai? Venha para cá também.

Willpsk
Enviado por Willpsk em 12/08/2014
Reeditado em 12/08/2014
Código do texto: T4919077
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