VIOLANDO O CORPO DE UMA POETA MORTA E OUTRAS TARAS TARADAS PARTE II

VIOLANDO O CORPO DE UMA POETA MORTA

E OUTRAS TARAS TARADAS

PARTE 2

( A MALDIÇÃO DA POETA MORTA )

E não é que Carlo esta certo quando disse que sua ideia ajudaria minha carreira ? Finalmente conseguimos tirar a D.S.T do vermelho . A qualidade do papel melhorou e passamos a publicar semanalmente , botando um texto novo da poeta morta ha cada edição . Foi incrível ,e eu já nem mais precisava escrever , passava meus dias vadiando no escritório dentro da revista . Minha noiva , Samanta , não sabia do plano e acreditava que era eu quem escrevia aquelas coisas inspiradoras.

- Oliver – me disse ela , depois de ler ** Eu , Túmulo – De onde você vem tirando essas coisas , amor ?

- Querida , elas simplesmente vem caindo no meu colo .

Dois meses depois eu já estava em alta novamente .Surgiram convites de outras publicações e a grana começava a sobrar .

Tudo parecia perfeito , até que Vânia me ligou um dia , dizendo que precisava conversar comigo e Carlo .

- E traga também aquele sem teto ...Lourenço …

Sua voz parecia nervosa ao telefone , o que me deixou nervoso também , e no dia seguinte nos encontramos no Bar Da Chica del Cabron . Encontrei Lourenço e seu cachorro no mesmo lugar de meses atrás , só que agora ele havia invadido a locadora desativada e dormia lá dentro . De alguma forma , todos nós tínhamos melhorado de vida . Lourenço trouxe seu cachorro e o brutamontes do cara do bar não queria deixar o bicho entrar . Deixamos o cão esperando do lado de fora com um prato de carne moída e arroz .Eram nove da manha , cedo demais para uma garrafa de Fuego Quiente , mas Vânia não parecia se importar e matava um copo atrás do outro .

- Então , nos chamou aqui para dizer que virou uma esponja, um pudim de pinga ? - Disse Carlo , acendendo um charuto com cheiro de baunilha.

Lourenço sacou um maço de filtros vermelhos do bolso do jeans surrado e fez o mesmo .

Vânia tinha a aparência cansada . Enxugando a boca nas costas da mão nos contou que não dormia a quatro dias .

- Venho tendo sonhos horríveis , mesmo acordada vejo coisas. Cinto cheiro de carne podre e ouço vozes …

Puxei o copo de Fuego da sua mão .

- Vânia , acho que anda bebendo de mais essa porcaria – falei , dando um trago do copo .

- Cometemos um erro , um erro terrível – disse ela , cobrindo o rosto com as mãos .

Carlo e eu nos olhamos . Vânia não era de fazer drama , nunca a tínhamos visto assim .

-Esta com problemas ? Digo , alguém esta lhe causando problemas ?- perguntei , mais serio .

Uma brisa invadiu o bar e gelou nossos corpos . O cara do balcão lavava os copos e se queixou de cheiro de merda .

- Mas que porra – disse ele – algum de vocês esta com a bota suja .

Nossa amiga começou a rir depravadamente .

- Temos que parar com isso – disse ela – temos que parar com as publicações imediatamente , ela não esta gostando , cometemos um erro , violamos sua paz ou a merda que for , só sei que se continuarmos com as publicações …

Carlo se levantou e vestiu seu casaco .

- Ela quem , mulher , do que você esta falando ?

- A autora morta !

Disse Vânia , deixando bem claro que queria os textos de volta .

- Nada disso – disse Carlo , se mostrando nervoso – vamos continuar e ponto . Temos uma centenas daquelas coisas ainda , e você fez um trato com a gente . Não quero nem saber se a defunta tá ou não gostando . E se não estiver , que se dane , que venha tirar satisfação comigo .

Carlo se virou e foi na direção da porta , enquanto Lourenço, com sua barba grossa por fazer e cabelos empoeirados acendia seu segundo cigarro , completamente impar da historia . Segurei a mão de Vânia e lhe disse que estava tudo bem , que ela só precisava dormir um pouco .

- Vamos lá , eu te levo pra casa . Pode dormir na minha se quiser .

Mas ela disse que não podia dormir , e me mostrou os braços com arranhões profundos .

- Jesus , mas que merda você anda fazendo ! - falei , assustado de verdade .

- Não sou eu , é ela . Por isso não posso dormir , Oliver , acredite em mim , eu não estou brincando .

Da porta Carlo diz :

- E quer saber de uma coisa ? Sempre tive tara por transar com um espectro . Se essa tal de Edvania não sei das quantas quiser acertar as contas , que apareça lá em casa a noite e eu lhe mostro o palhaço caolho barbado e cuspidor .

E dai ele saiu , e dai ouve um estrondo na rua . Buzinas , freiadas e um grito de dor abafado .

Corremos todos para ver , e o que vimos foi Carlo debaixo de um ônibus escolar , seu corpo um monte de espaguete jogado ao chão . Sangue e tripas …

Cai de joelhos na calçada , as crianças desceram desesperadas da condução ainda com as mochilas nas costas . Vânia , com as mãos na cabeça , mantinha um riso sinistro no canto da boca . Lourenço ..bom , Lourenço acariciava seu cachorro , que lhe rosnava protegendo o prato de carne que havíamos lhe deixado .

Carlo foi cremado , assim como havia me dito que queria . Segundo ele , ser deixado inteiro nas mãos de legistas e médicos tarados seria um grande risco .

- O idiota se achava grande coisa – Disse Vânia , segurando a urna com suas cinzas antes de despejarmos no mar .

- O infeliz se masturbava de frente para o espelho – Falei , quando suas cinzas , a poeira de seu corpo retalhado e queimado flutuava no ar levado pelo vento das ondas .

Havia umas trinta pessoas na ocasião , sua maior parte funcionários da D.S.T . A noite caia , a lua cheia tão próxima que quase dava para tocar .

- Oliver , não podemos seguir com essa coisa , não podemos mais publicar nada dessa autora …

Uma gata preta observava tudo de cima de uma pedra , seus olhos refletiam a luz das velas que iluminava a areia em homenagem ao nosso amigo .

- Ho , mais que merda !- falei , limpando a boca .

- O que foi , Oliver ? - perguntou Vânia , abatida .

- Esse desgraçado , esse puto ..voou um pouco dessa porcaria de cinza na minha boca !

Vânia deixou cair a urna na areia , seu rosto ficou pálido .

- Oliver ...disse ela , recuando alguns passo na direção do mar .

- Poxa , esse desgraçado , acho que preciso lavar a boca – falei , esfregando a língua na manga do moletom .

- OLIVER !

Gritou Vânia , sem conseguir se mexer , parada como uma boneca de cera com o mar lhe beijando os pés . Todos tomaram um susto . Seu corpo amoleceu , seus joelhos se curvaram e ela desabou na areia . Corri para ajuda la . Em meus braços , disse qualquer coisa que não entendi .

- O que foi , o que esta acontecendo ? - lhe perguntei . Com as mãos aproximou minha cabeça até sua boca enquanto uma roda de pessoas se formou em nossa volta .

- Ela esta aqui , Oliver , ela veio nos buscar !- Cochichou Vânia em meus ouvidos .

- Ela ? Ela quem ?

- A autora morta , seu espirito . Edvania !

** Eu , Túmulo - Edivana

14/08/2014

10H39M

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 14/08/2014
Código do texto: T4922132
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