Segredos da Noite

O Homem nu estava morto em sua cama.

Apesar de estar registrado em sua identidade que ele tinha apenas trinta e cinco anos, os cabelos brancos e o corpo frágil indicavam o dobro da sua idade. Everaldo Silva, esse era o nome que estava na identidade e que não se encaixava com aquela cena do crime.

Adalberto Nunes, detetive da polícia civil do Estado do Rio de Janeiro aproximou-se do corpo e notou que apesar da fragilidade do cadáver, o morto sustentava um sorriso no rosto. Os olhos estavam abertos, mas não havia terror ali, era como se nos últimos segundos de sua vida, ele tivesse encontrado o paraíso.

Saiu do quarto e dirigiu-se para a rua onde um grupo de curiosos se espremiam no portão da residência para saber o que havia acontecido ali.

-Alguém mais entrou aqui antes da polícia chegar? Gritou para a multidão.

-Apenas eu mesmo! Respondeu um garoto que não tinha mais de vinte anos.

Adalberto sinalizou para que o rapaz entrasse, e perguntou como ele se chamava.

-Leonardo! Respondeu o rapaz.

-Você reconhece o morto?

-Ele estava morando ai na casa do Everaldo, Fazia uns dois meses que ninguém via o Everaldo, e esse senhor raramente saia na rua.

Adalberto puxou um maço de cigarro do bolso, ascendeu e tragou tranquilamente.

Se despediu do garoto deu duas tragadas no cigarro, o jogou fora e voltou para a cena do crime.

Assim que voltou para o quarto o legista lhe avisou que mais ninguém esteve naquele quarto e só os exames poderiam esclarecer a morte do idoso.

Adalberto concordou com um aceno de cabeça e ficou sozinho no quarto com o corpo.

Olhou tudo com seus olhar de detetive experiente, a sujeira que insistia em ficar no canto dos moveis a teia de aranha no teto, até que seus olhos se prenderam em um quadro de uma mulher atraente na parede.

A mulher tinha cabelos loiros que contrastavam com o fundo negro do quadro, ela estava sentada em uma mesa do século XVII, havia um par de velas em cada lado dela, as chamas vermelhas davam um tom quase sobrenatural a sua pele, e o sorriso da mulher lembrou o detetive do sorriso do moribundo na cama.

Apesar desses tons macabros, a mulher era bela, o quadro havia sido pintado por um verdadeiro artista.

Não sabendo o porquê estava fazendo aquilo, Adalberto se viu caminhando em direção ao quadro e o tirando da parede.

Notou um livro escondido na parte de trás do quadro e o folheou.

Era um diário, e o nome escrito na primeira página era Everaldo, o jovem dono da casa que encontrava-se desaparecido.

Adalberto levou o quadro e o diário para a casa, colocou o quadro no banco do carona e durante todo o trajeto ele se pegava olhando para o quadro, quase causou um acidente ao perder o controle do carro por causa disso.

Ao chegar em casa, colocou o quadro deitado na sua cama e começou a ler o diário de Everaldo:

Me chamo Everaldo Silva e tenho trinta e cinco anos.

Posso dizer que minha vida se divide entre antes de eu encontrar o quadro em uma esquina no centro da cidade e depois de eu ter encontrado o quadro.

Antes do quadro minha vida era comum, tinha amigos comuns, fazia coisas comuns, era apenas mais um jovem tentando viver minha vida.

Eu nem sei explicar o porquê de ter pego um quadro que se encontrava jogado em uma esquina, mas alguma coisa me fez o pegar e levar até minha casa.

O coloquei na parede do meu quarto e toda vez me pegava olhando para ele, não entendia o porquê disso também.

Adormeci olhando para o quadro e quando acordei uma mulher muito semelhante a do quadro estava nua na porta do meu quarto sorrindo para mim.

Aquilo era magico. Era estranho. Eu estava tomado por uma excitação sobrenatural, não importava como aquilo era possível, aquele olhar, aqueles seios duros e rosados, a vagina carnuda...

A puxei para a cama e comecei a beijar seu corpo todo, em pouco tempo eu a estava possuindo, ou melhor ela me possuía, ela estava no comando, ela fazia de tudo.

Transamos a noite toda, até que peguei no sono quando já estava amanhecendo.

Só acordei as 14:00 horas da tarde, meu corpo estava cansado, mas eu estava feliz, não fiquei de mal humor nem quando percebi que tinha perdido a hora do trabalho, deveria ter acordado as 7 da manhã.

Andei pelo casa e nem sinal da visita da última noite, aquilo foi me causando um pavor, será que foi tudo um sonho? Será que jamais terei aquela beldade em meus braços novamente?

Comecei a tremer e tive um crise de choro, corri em direção ao quadro e o tirei da parede. Como uma criança de cinco anos me vi deitado na cama abraçado com o quadro e pedindo que a deusa da noite passada voltasse mais uma vez.

Adormeci assim. Acordei com alguém tirando gentilmente o quadro dos meus braços, era a minha deusa, levantei e a segurei pela cintura, tinha urgência dela, ela me empurrou com uma força sobrenatural contra a parede e colocou novamente o quadro de volta no lugar.

Me levantei meio tonto, por causa da pancada e ela me segurou pelo pescoço, ela me sufocava, e eu gostava daquilo, quando eu estava quase apagando ela me soltou. Cambaleei e cai sobre a cama, como uma leoa ela veio para cima de mim e mordeu meus lábios, eu já estava dentro dela novamente e aquilo me aliviou novamente eu era feliz, fizemos mais vezes dessa vez, não sei precisar o quanto, quando estava com a mente turva, quase desmaiando tenho certeza de ter visto ela saindo de cima de mim e não ser mais a pessoa linda que eu conheci, ela possuía pernas e patas de bode, seu peito antes rosado agora eram murchos e cabeludos, e havia um par de chifres enormes em sua testa, quando ela virou-se para mim com seus olhos vermelhos como de um felino,eu apaguei.

Acordei as 17:00 horas e mais cansado do que a noite anterior, mal conseguia me manter em pé, havia perdido mais um dia de trabalho.

Caminhei até o banheiro e me olhei no espelho, eu estava envelhecendo, havia rugas no meu rosto e meus cabelos estavam ficando brancos, e eu havia perdido uns quinze quilos em dois dias, o que aquela mulher estava fazendo comigo? Estava roubando minha energia vital?

Não importava, ela era minha droga eu estava viciado nela mesmo sabendo todo mal que ela me causava, preciso dela, sem ela não consigo viver.

Havia mais páginas escritas, mas a escrita era indecifrável, parece que Everaldo perdeu a força na mão a ponto de não conseguir mais escrever. Pensou o detetive.

Deixou o diário de lado e foi tomar um banho para relaxar, estava cansado o dia tinha sido desgastante.

Ligou a TV e pensou em assistir um episódio de Game Of Thrones antes de dormir, mas pegou no sono antes mesmo de acabar a recapitulação do episódio anterior, acordou com um barulho no quarto, ao abrir os olhos se deparou com a moça do quadro, nua e sorrindo para ele.