Sonhos Fatais

“UM SONHO!!! É apenas um sonho!!!”

Breno pensava repetidamente enquanto corria no meio daquela floresta. O caminho era estreito e as árvores estavam repletas de galhos que arranhavam seu corpo. Sentia o cansaço chegando e sua respiração começou a ficar ofegante. Apertou a mão e sentiu o peso frio do revolver que carregava. A criatura que o caçava deu um urro assustador, a coisa mais grotesca que os ouvidos de Breno já ouviram. Pensou em parar e atirar, mas desistiu por que sabia que seria em vão e que só iria perder mais tempo.

“Apenas um sonho!”

pensou mais uma vez, dessa vez trazendo uma lágrima ao seu rosto. Pelos passos velozes sabia que o monstro que o seguia estava mais próximo. Virou rapidamente a cabeça para trás para ver se conseguia enxergar alguma coisa naquela floresta escura. Nada. Tentou olhar para frente, mas tropeçou em um tronco que estava solto na floresta. Primeiro veio som do baque do seu corpo caindo no chão, depois apenas alguns segundos de silencio que logo foi quebrado pelo som da sua respiração trêmula.

“Apenas um sonho!”

Seus olhos avistaram a criatura se aproximando bem vagarosamente. De longe, parecia uma pantera negra deformada com olhos avermelhados. Seus dentes fora da boca estavam manchados de sangue. Breno levantou a mão que portava a arma e atirou na criatura, o tiro não causou dano algum, apenas fez a besta urra com mais raiva. Sem pensar direito, Breno levou então a arma e a apertou sobre sua própria testa. Suas mãos tremiam. Sua vista estava embaçada por conta das lágrimas.

“Posso até morrer, mas não será por você.”

Foi a ultima coisa que pensou antes de puxar o gatilho.

***

O despertador na cabeceira da cama tocou, avisando que o dia já havia amanhecido. Cristiane nem precisou abrir os olhos para desligar o despertador. Acostumada a dormir de bruços, virou o corpo para cima e só então abriu os olhos para olhar para o teto. Sentiu algo úmido no seu rosto e cabelo, passou os dedos e viu-os voltarem ensanguentados. O vermelho nos dedos ativou seu cérebro para acordar o seu corpo todo, que em um impulso saltou da cama como se ficar ali apresentasse algum tipo de perigo. Agora, em pé, seus olhos conseguiam decifrar a origem do sangue. Vinham da parte de trás da cabeça de seu marido Breno que dormia a seu lado. O corpo de Cristiane ficou paralisado. Seus olhos vidrados alternavam entre no corpo do marido e a cama toda ensanguentada. A visão do sangue novamente fez seu cérebro acordar, e sem entender nada do que ali acontecia, gritou o mais alto que pôde.

***

O corpo de Breno voltou da necropsia com um laudo de morte por tiro, que poderia indicar assassinato ou até mesmo suicídio, apesar do buraco de bala em sua testa não conter indícios de pólvora. Foi constatado que a morte foi recorrente de um tiro pelo estrago que sua cabeça ficou. O corpo foi liberado então depois de cinco horas, sem que os médicos legistas conseguissem chegar a uma conclusão determinada da morte do individuo. Cristiane de maneira alguma aceitou esse laudo, eles não tinham armas em casa e, mesmo que Breno tivesse morrido de um tiro, eles dormiam juntos, lado a lado, como não escutar o barulho de um tiro? E onde estaria a arma? Porém Cristiane estava cansada demais para brigar, só queria enterrar o marido e esquecer logo aquilo tudo. No velório foi aonde veio a pior parte. Como lidar com a pergunta que todos queriam saber: a causa da morte?

Os olhos de Cristiane estavam inchados de tanto chorar, a cabeça parecia explodir, queria gritar, ficar só, rasgar as roupas e quebrar os objetos de sua casa. Queria expulsar todos aqueles "amigos" dali, mas se conteve. Enxugou as lágrimas e permaneceu firme até aquilo tudo acabar. O enterro de Breno ocorreu no finalzinho da tarde, acompanhado de um leve chuvisco. Cristiane voltou para casa de carona com Walter, seu chefe e amigo, que a mais ou menos dois anos também perdera a esposa de forma trágica.

– Você ficará bem Cristiane? – Perguntou Walter. Porém ela não conseguiu responder, apenas balançou a cabeça, forçou um sorriso e então saiu do carro e entrou na casa. Walter pode ver pelos olhos da amiga que ela mesma estava indecisa quanto àquela pergunta. Ao entrar foi tirando logo a roupa, detestava ficar vestida com uma roupa da qual acabara de sair do cemitério, se sentia suja, talvez por ser médica e saber como os corpos ficam ao se decomporem. Olhou-se no espelho. "Estou um lixo" pensou. Subiu as escadas e foi direto para seu banheiro tomar banho. Enquanto a água caía do chuveiro, seu corpo sentou nos azulejos frios do banheiro e mais uma vez chorou desesperadamente. Ao terminar o banho vestiu um roupão. Desceu novamente as escadas, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de vinho. Depois foi até a caixa de medicamentos e pegou dois remédios de dormir (um já não fazia efeito). Engoliu os dois comprimidos de uma vez, virando a taça de vinho. Depois desceu as escadas e se sentou na poltrona do seu marido e deixou o choro vim até que pôde adormecer.

De longe, vinha o som de algumas risadas (risadas de crianças). Sonolenta, Cristiane tentou se mexer, mas percebeu que não estava mais sentada, se equilibrou para não cair, abrindo completamente os olhos. Olhou ao seu redor, estava parada no meio de um corredor escuro, olhou para baixo e viu na sua mão que segurava um facão. Soltou. Não estava mais de roupão, mas com um sobretudo preto. Deu dois passos para trás até seu corpo esbarrar na parede. Ouviu novamente as risadas.

– Onde diabos eu estou?

Continuação: https://www.clubedeautores.com.br/book/172863--Sonhos_Fatais#.VBjYR5RdX6c

Icaro Sunderland
Enviado por Icaro Sunderland em 16/09/2014
Código do texto: T4964656
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