Drácula Vive

Do diário de Robert Frank

Era tarde da noite, quando o policial Robert Frank estava patrulhando no centro de Knigthsbridge. Estava calmo e a noite bastante clara. Passando pela vitrine do Harrod´s, Robert Frank lembrou-se da visita à grande loja que fizera com sua noiva, e como ela quase desmaiou quando passearam pela recém inaugurada escada rolante. O mundo está mudando, pensou ele, novas coisas estão surgindo, como carroças a motor, que em pouco tempo, provavelmente substituirão os tilburies. Os funcionários do Harrod´s prontamente socorreram a futura senhora Frank, com um copo de conhaque, e tudo ficou bem. O que ele não deixou sua noiva perceber, é que ele também sentiu um pouco de mal estar ao subir aquela escada rolante.

Repentinamente, o bobby (policial londrino), sentiu um súbito mal estar passageiro como se tivesse sentido uma brisa fria, e embora não tenha sentido frio, ficou arrepiado até a nuca. Apenas uma sensação temporária. O policial retirou seu capacete e passou a mão pelos cabelos, olhando ao redor para o que parecia ser uma noite de presságios. Recomposto e rodando seu cassetete pelo centro de Londres, Robert Frank, no trânsito parado de carruagens e tilburies quase sem pedestres, tomou o caminho de Picadily.

Noite sem incidentes, tudo calmo, até passar perto da estação do metrô deserta, palco para vagabundos bêbados deitados pelo chão. O Policial Frank ouviu um ruído que mais parecia um gemido, e imediatamente correu até o fim da estação segurando seu cassetete, apenas para ver uma mulher jovem estirada pelo chão. Imediatamente o bobby soprou em seu apito para chamar reforços e, sacando sua pistola, olhou em volta, apenas para dar de cara com um cão negro como a noite vigiando-o. Ele olhou para a mulher caída e percebeu duas marcas em seu pesco e uma palidez anormal. Talvez fosse uma prostituta das redondezas, mas parecia pelas suas vestes, com certa elegância, que talvez fosse uma dama bem nascida. O policial olhou novamente em direção ao cão, mas este não estava mais lá, havia desaparecido por completo.

Do diário do doutor Seward

Era noite quando o detetive da Scotland Yard bateu à porta do doutor Seward, diretor do manicômio local, a procura de informações.

O doutor ficou em silêncio quando o detetive lhe descreveu as condições em que as vítimas foram encontradas, primeiramente desmaiadas. A terceira vitima atacada, Katerine MacVoy foi encontrada, assim como as anteriores, praticamente sem sangue na noite anterior, sendo que as outras vieram a morrer em poucos dias. Em seu intimo o doutor ficou na expectativa de que fosse apenas um caso de ataque de um maníaco, mas quanto mais ele ouvia, mais vinha à mente o episódio dos ataques do conde Drácula, que atacou anos atrás. Estaria ele vivo? Se é que alguma vez já esteve vivo? Mas, apesar de tudo, teria escapado do fim quando perseguido? O doutor John Seward, com certa cautela, advertiu o detetive sobre Drácula, o demônio em forma humana. Preferiu não deixar a notícia do suposto retorno desse demônio vazar para Jonathan e Mina Harker, visto que estes escaparam por um triz da voracidade do conde. Melhor deixá-los em paz em sua vida de casados, depois de superarem o trauma da perseguição do maléfico conde.

Foi então que o doutor Seward em sua breve palestra com o detetive da Scotland Yard lembrou-se do homem que havia conseguido a muito custo derrotar Drácula, o professor Van Helsing e se prontificou a contatá-lo.

Do diário do professor Van Helsing

Depois de uma conferência na faculdade de zoologia de Frankfurt, Van Helsing recebe um telegrama de seu amigo em Londres, o diretor do manicômio, advertindo-o sobre o possível retorno do conde sanguinário que há poucos anos aterrorizou a vida de suas vítimas.

Depois de pegar o primeiro navio e de prosseguir o resto do trajeto de trem, o professor finalmente chega a Londres, onde é aguardado pelo inspetor chefe da policia, David Harting.

- Muito prazer em conhecê-lo professor. – cumprimenta o inspetor chefe, ordenando com um aceno que um policial carregue a mala pesada.

- Eu gostaria de dizer também que é um prazer retornar a Londres, mas as circunstâncias que supostamente me trazem não parecem ser nada boas.

- Sim, professor. E se me permite usar de certa franqueza, não acreditei nas estórias contadas pelo doutor Seward sobre uma criatura sobre-humana com sede de sangue, mas pelo que sei, algum maníaco atacou três jovens nas ultimas semanas deixando-as praticamente sem sangue, e isto está de acordo com a metodologia do desequilibrado que há alguns anos o senhor perseguiu, segundo o doutor. Em vista de que por conta de nossas investigações não avançamos nem um pouco, eu agradeceria muito se o senhor pudesse contribuir, portanto, com sua experiência nas investigações.

- O senhor não acredita que tal criatura possa existir, não é mesmo? – fala o professor baixando os óculos e fitando o inspetor chefe nos olhos.

David Harting, tirando o chapéu e cofiando o espesso bigode prossegue:

- Para mim, existe alguém, um maníaco sexual provavelmente, que acredita ser tal criatura, provavelmente um imitador do seu tal demônio sanguinário, professor.

Van Helsing solta um grande suspiro cansado, como se estivesse carregando um grande peso imaginário.

- Estamos em uma era nova inspetor, onde lendas sobre criaturas fantásticas que foram temidas por séculos se tornam realidade. E Londres como centro mundial atrai todo este tipo de mitologia e mistério. E tais criaturas, vamos chamá-las de vampiros, têm um grande sortimento de sangue nesta cidade.

- Depois de Jack o Estripador, acredito que todos os monstros que você caça são bastante humanos, o suficiente pelo menos para morrer com um tiro ou dois. - Retruca o inspetor.

- Quem dera meu caro inspetor fosse tão fácil assim. O único meio de matar tal criatura... – o professor faz uma expressão bastante séria – um vampiro... seja com uma estaca de madeira no coração. O problema é localizar este vampiro em seu local de repouso durante o dia quando está em um estado de transe e se torna vulnerável.

- Já coloquei diversos policiais pelo centro da cidade, e estamos apenas esperando que ele apareça.

- Creio que o melhor meio de seguir a trajetória de Drácula seja a partir do cemitério.

- Cemitério? – o inspetor Harting faz uma expressão de quem duvida da sanidade do professor a seu lado.

- Certamente, precisamos vigiar o tumulo das vitimas e, se possível, segui-las à noite até o covil do vampiro.

- Mas se elas estão mortas... – e o inspetor em seu intimo começa a imaginar que o homem à sua frente não passa de um charlatão.

- Exatamente inspetor, acredite em mim, e mesmo que não acredite, se sobraram policiais disponíveis coloque-os de vigília no cemitério local. – E antes que o inspetor pudesse contradizê-lo, o professor Van Helsing prossegue – eu mesmo ficarei esta noite para ajudar na vigília.

Do diário do Inspetor David Harting

Durante a noite, o inspetor da policia e o professor Van Helsing, com mais três policiais, iniciam a vigília. O inspetor se sente desconfortável com tal situação, mas resolve dedicar apenas uma noite para as teorias do estranho professor.

A noite parece calma e estrelada, quando lá pela meia noite todos ouvem o barulho de uma lápide sendo deslocada. O inspetor e o professor, armado com uma besta com uma flecha de madeira de feixo e uma maleta, deslocam-se até a fonte do ruído, apenas para ver duas mulheres pálidas se retirando de suas tumbas e andando pela noite, com o vento dançando sobre suas vestes e seus cabelos revoando. Elas não caminham, mas como que flutuam pela noite adentro, como que em transe, sem dar importância aos policiais.

Depois de algum tempo elas chegam até perto de uma casa vazia, onde as espera um cão negro, que ao ser tocado pelas mãos diáfanas das mulheres em transe, toma, aos poucos, uma forma humana, revelando aos olhos incrédulos dos policiais e do inspetor, a figura de um aristocrata elegante, vestido de preto e com uma capa.

Quando o inspetor, recuperando-se de seu espanto, está prestes a dar ordem de prisão, o professor Van Helsing lhe chama a atenção e todos, mantendo distância segura, se agacham atrás de um pequeno muro ao lado de Londres Wall, um muro muito antigo, esperando pelo pior.

- Não podemos deixá-lo perceber que encontramos seu covil, inspetor, senão ele poderia mudar-se rapidamente para qualquer outro lugar, e sabem-se lá quantos imóveis o conde comprou em Londres através de seu representante comercial, Jonathan Harker. – então os policiais e o professor, mantendo distância segura, apenas seguem o trajeto dos vampiros.

Depois de uma hora, Drácula e suas acompanhantes, sem perceber estarem sendo seguidos, chegam a uma casa com uma grande janela aberta, e o vampiro, hipnotizando uma jovem em sua cama, chama-a para a rua com gestos demoníacos. Em seguida, passando a mão por seus cabelos, crava seus dentes afiados no pescoço da pobre e indefesa jovem.

Ainda falando aos cochichos, o inspetor se dirige a Van Helsing.

- Não podemos ficar aqui parados enquanto esta criatura banqueteia-se com aquela pobre moça.

- Acredito que podemos enfrentá-lo, aqui estamos distantes o suficiente de seu covil para atacá-lo sem que ele desconfie de nosso real objetivo. – e falando isso, o professor faz mira com sua besta e atira uma flecha que acerta o ombro do vampiro.

Drácula, sem soltar nenhum grito de dor, olha em volta e retira a flecha, procurando ao mesmo tempo o autor de tal afronta, e percebe os policiais que se aproximam. Entre eles um rosto conhecido e temido corre com uma cruz na mão. È então que as feições do rei da noite se transformam de uma face humana com raiva em algo grotesco como um morcego de dentes compridos e afiados, então ele abre sua capa e parece que mil morcegos saem voando em direção ao alto, se dispersando, enquanto suas seguidoras se transformam em fumaça e simplesmente desaparecem na noite. Antes da calmaria da noite prevalecer, o inspetor chefe David Harting e Van Helsing, acompanhados de três policiais assustados, ouvem uma gargalhada sinistra.

Depois do clarear do dia, por sugestão de Van Helsing, o inspetor manda que violem o túmulo das mulheres vitimas de Drácula e lhes corta a cabeça, enquanto Van Helsing, abrindo sua maleta, retira estacas de madeira e um martelo, cravando as estacas bem fundo no que antes era o coração das jovens. Depois seguem em direção à casa que serve de covil ao vampiro, em Barbican Centre no leste de Londres, numa rua repleta de casas com jardins bem cuidados.

Dando ordem de prisão, o inspetor entra seguido de seus policiais casa adentro, apenas para dar de cara com um homem enorme, com mais de dois metros de altura e roupas de cigano. Com um sopapo e um grunhido derruba-os para fora da casa, correndo depois até o porão.

O inspetor Harting não desiste e, sacando sua pistola, corre atrás do gigante. Adentrando o porão da casa descobre vários caixões, e abrindo um deles, descobre-o cheio de terra. Sem perder tempo o inspetor atira no cigano gigante duas vezes, e este começa uma corrida abalada até o inspetor jogando-o contra a parede e agarrando seu pescoço. Logo, dois policiais abrem fogo contra o gigante, que aos poucos vai caindo de joelhos enquanto ainda segura sua vítima pelo pescoço tentando sufocá-lo, mas suas forças se esvaem aos poucos até que cai morto ao chão.

Van Helsing chega com uma estaca na mão e o martelo na outra, e enquanto os policiais prestam socorro ao inspetor, ele abre um por um dos caixões cheios de terra até dar de cara com o temível conde Drácula. Desviando seus olhos do olhar do vampiro, que parece fitá-lo em um transe hipnótico enquanto repousa inerte em sua alcova, Van Helsing, juntando todas as suas forças, crava a estaca no coração do temível conde que começa a degenerar e secar até sobrarem apenas ossos, e com um cutelo corta o crânio e ergue-o no ar triunfante, eliminando de vez a ameaça do vampiro.

Do Diário de Van Helsing

A bordo do trem para Liverpool, o professor se põe a pensar nos últimos acontecimentos, e se vê diante da duvida crucial: Se desta vez o famigerado conde finalmente está morto, ou se ainda poderá retornar a vida? Ele fica mais tranquilo ao lembrar-se de que a cabeça do conde jaz a quilômetros de seu corpo, mas quem garante que não haverá mais algum servo que poderia roubar a cabeça e o corpo com a estaca e juntá-los novamente através de algum ritual macabro. Depois de devanear um pouco mais a respeito, Van Helsing parece ainda escutar dentro de sua cabeça a gargalhada satânica de Vlad Drakul, ou como ele se tornou mais conhecido, o conde Drácula, jurando retornar.

......Fim......

Paulo Salgueiro
Enviado por Paulo Salgueiro em 18/09/2014
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