Asas Negras (Capítulo II - Ramadi a cidade do Caos)

- Acorda dorminhoco - desperto com Rose em cima de mim, beijando meu lábios.

- Eca Rose - digo pulando da cama - o que está fazendo aqui?

- Mandaram eu te acordar, vamos receber a primeira missão hoje.

- Que missão?

- Caramba Lu - esbravejou ela - Você não prestou atenção em nada do que falamos ontem né?

- A pessoa que cuidou de mim todos esses anos tentou me matar e acabou morta, queria que eu prestasse atenção em mais o que?

Chegamos a grande sala, todos estavam sentados a minha espera.

- Até que enfim a bela adormecida chegou - murmurou Marcos, todos riram menos Alex.

- Sente-se - disse Elvira - bom pessoal... Agora que a equipe está completa, vamos começar a busca pelo triângulo infernal, a primeira pista aponta para Ásia, que não fica muito distante daqui.

- Caos? - diz Luan - Ouvi dizer que ele foi encontrado a ultima vez por aquelas bandas.

- Sim, vocês vão libertar Caos.

- Temos alguma chance? - perguntou Alex.

- Vocês tem Luciel, não há o que temer.

- Não vou a lugar algum - digo me levantando.

- Não? - pergunta todos se levantando juntos.

- Você não pode fazer isto garoto - se irrita Marcos.

- Posso fazer o que eu quiser, sou livre e...

- Você nasceu para isso - diz Rose.

- Não vou - grito, Rose começa a chorar, aquelas lágrimas me levam até o orfanato de Mineurs lembro de Max - entretanto - digo - Irei com uma condição.

- O que? - pergunta Ribirth.

- Qualquer coisa - chora Rose.

- Traga Max - falo olhando para o chão - Eu a quero junto a mim.

- Fora de cogitação - grita Rose

- Está bem - diz Elvira.

- Mas mãe - protesta Rose.

- Se este é o único jeito, vamos trazer a garota.

Rose sai fazendo birra, eu sorrio e sento no sofá novamente.

- E o que devo fazer mesmo? - pergunto.

- Saberá na hora - diz Marcos - pegamos o avião daqui algumas horas, quero todos prontos até lá.

- E quem nomeou Marcos como lider? - pergunta Alex.

- Ele é o mais experiente - diz Elvira - não vai deixar acontecer nada com vocês, e se Luciel assumir agora...

- Leonardo - protesto.

- Se "ele" assumir agora certamente não terão chances contra "eles".

- Quem são eles? - pergunto.

- Ninguém com que tenha que se preocupar - diz Alan se levantando - posso me retirar agora?

- Claro - diz Elvira - Todos devem se aprontar, boa sorte meninos.

Todos subimos para nossos quartos, na escada tento puxar assunto com Alex.

- Então... - digo olhando para o chão - vai ser perigoso?

- Talvez, se eles estiverem lá sim.

- Eles quem?

- Guardiões, não achou que era só ir la e abrir uma porta não é? - diz ele sorrindo - se fosse assim não precisaríamos de seu poder.

- Não tenho nenhum... - nesse momento uma dor tremenda nas costas me faz ajoelhar nos pés de Alex.

- Tudo bem Leo? - pergunta ele me ajudando a levantar - Vou te levar para o quarto.

Deito na cama de bruços, a dor continuava intensa.

- O que está sentindo Leonardo?

- Dor... Nas costas - digo cerrando os dentes.

Alex levanta a camisa que eu estava usando e passa seus dedos em minhas costas.

- Normal - diz ele - está nascendo as suas asas.

- Minhas... Asas?

- Nós demônios temos asas sabia? - diz ele se levantando e abrindo suas próprias asas negras - afinal... Somos anjos, apenas com algumas diferenças...

Do mesmo modo que veio a dor se foi.

- Prontos? - pergunta Luan colocando a cabeça para dentro do quarto.

- Ele não está bem - diz Alex apontando para mim - as asas estão nascendo.

- Não - digo me levantando - estou bem agora, mas... Porque dói tanto para nascer?

- As asas são como os dentes do cizo, ou também chamado dente do Juízo - diz Luan - não se preocupe, a dor é passageira e compensadora.

- Vamos então - digo caminhando com dificuldade.

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A viagem foi cansativa e longa, não aguentava mais ficar dentro de um avião, cada chacoalhada meu estômago revirava.

Uma última chacoalhada e ouço as rodas tocando o solo.

- Chegamos? - pergunto arregalando os olhos.

- Sim - sorri Alex - pode soltar o banco agora.

Quando descemos do avião me assusto com o que vejo, estava tudo completamente devastado.

- Onde estamos mesmo?

- Ramadi - diz Marcos - Iraque.

- Isso não era para ser uma cidade? - pergunto confuso, pois tudo o que via era destroços e poeira.

- Isso é uma cidade - fala Luan.

- Foi destruída pelo Caos - fala Rose como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Ok pessoal - digo respirando fundo - vamos libertar o tal carinha e vamos sair daqui o mais rápido possível.

Caminhamos por aproximadamente meia hora, todos ficavam em silêncio, eu odeio silêncio.

- Será que dá para alguém falar alguma coisa?

- Alguma coisa - diz todos juntos.

- Silêncio - fala Marcos - Olhem.

Todos olhamos para frente, muros enormes separam a cidade ao meio.

- O que é isso? - pergunto.

- A fortaleza - fala Rose - Caos está em algum lugar ai dentro.

- Como vamos entrar?

- Todos prontos? - pergunta Marcos.

- Prontos - falam juntos novamente.

- Prontos para o Que? - antes que alguém falasse algo correm para os muros, pulam - não esqueceram de nada não?

- Desculpe - diz Alex voltando - me esqueci que ainda não pode voar - ele me pegar pelos braços e voa até o outro lado do muro.

O que vi era mais inacreditável do que a própria cidade destruída por completo, dentro de uma cidade havia outra cidade. Era uma cidade linda, árvores, crianças correndo por toda direção, uma fonte de água cristalina ao centro.

- Essa é a verdadeira Ramadi - diz Alex - Escondida de olhos humanos e de Caos. Guardada por criaturas Mágicas, não será fácil achar mestre Caos aqui.

- Tem certeza que ele está aqui não é Marcos? - pergunta Ribirth encarando o companheiro.

- Sim, ao norte.

- Quem são vocês? - pergunta um homem elegante de capuz - Como entraram aqui?

- Somos seu pior pesadelo - diz Ribirth.

- Sendo assim, creio que devo destruí-los imediatamente - o homem deixa escorregar uma lâmina de seu terno e corre em nossa direção, Ribirth desvencilha, o homem era extremamente rápido, não sabia o que fazer, apenas fiquei imóvel enquanto meus novos irmãos lutavam por suas vidas.

- Luciel cuidado - grita Rose enquanto o homem vinha em minha direção, apenas dei um passo para trás e o homem para.

- Luciel? - repete ele - não pode ser verdade, você não pode ser ele.

Luan pula nas costas do homem e corta seu pescoço, tapo meus olhos com o braço tamanha a luz que surgiu.

Quando os abro o homem havia sumido.

- Como pode ficar parado garoto? - grita Marcos - esse descuido quase custou a vida de nossa equipe.

- O que queria que fizesse? - gritei - Não sou como vocês, sou contra a violência, nem mesmo me dou bem com sangue, tenho horror a injeções.

- Ótimo - diz Alan virando em direção ao nada - O grande Luciel não passa de um gatinho assustado.

- Só peço cuidado e cautela, podem haver outros deles por aqui - diz Marcos.

- Quem são eles? - pergunto.

- Anjos guardiões - diz Alex, parecia que era o único que ligava para mim - eles guardam Caos.

- Anjos? - repito.

- Achou que seria fácil Luciel?

- Se você quer voltar a ver sua amada Max você vai ter que usar seus poderes Luciel - diz Rose - temos que libertar Caos a todo custo, e a essa altura todo o céu já deve saber que estamos aqui, então vamos nos concentrar na missão. Alex, você que virou amiguinho dele, ensine alguns truques enquanto procuramos por onde Caos está; esse anjo não é nada comparado com o que vamos enfrentar nessa cidade.

Alex estava dizendo algo sobre como teleportar ou algo parecido quando ouvimos uma explosão.

- O que é isto? – pergunto.

- Veio lá da frente - disse Rose.

Corremos em direção ao barulho...

- O que é isso? - pergunto quando deparamos com um quadrado de vidro no centro da rua, dentro havia uma criança, um garoto acorrentado com correntes que gritava.

- Me solte - dizia ele - Socorro, alguém me ajude.

- Tirem ele de lá - gritei.

Marcos e Rose correram para a extremidades da caixa.

- Cuidado Rose - gritou Luan puxando a garota por um triz, uma bomba em volta da caixa explodiu.

- Armadilhas - Alan falou calmamente - não podemos ir pelo chão - olhei para cima e vi luzes vermelhas transparentes.

- Por cima também não - falei - Lazers.

- Alguma sugestão Leonardo? - perguntou Marcos.

Pensei um pouco.

- Alguém tem um espelho ai? - pergunto, Rose tira um espelho gigantesco da bolsa - Como isso coube ai?

- Nunca subestime o poder de uma garota - disse ela.

Corro até próximo da caixa de vidro, podia ver claramente onde estavam as bombas.

- Cuidado com as bombas Leonardo - disse Alex seguindo meus passos - são instaladas pelos anjos, não conseguimos vê-las.

- Eu as vejo - falei naturalmente.

Todos ficaram em silêncio, coloquei o espelho na ponta de um dos lazers, a luz se voltou para o ponto inicial, fez um pequeno barulho de explosão e sumiu.

- Parabéns garoto - falou Marcos - você está fazendo jus a seu título.

- Que título? - pergunto.

- Saiam daqui agora - gritou uma garota que estava atras da caixa.

- Outro anjo - diz Alex.

- Acho que está na hora de seu batismo - sorri Rose.

A anja tinha os cabelos negros e olhos esverdeados, sua pele era branca como papel. Suas vestes eram estranhas, um tipo de armadura de tecido laminoso, ao contrario do ultimo anjo esta não possuía arma alguma, ou era o que eu pensava.

- Mate-a - diz Marcos - Assim você se tornará um demônio completo, anjo é uma das criaturas mais puras da criação, tentar algo contra um anjo é mandar sua alma direito para o inferno - todos sorriram, menos Alex - Mate-a e se tornará um de nós por completo, seus poderes fluirão normalmente.

- Não - sussurrou Alex.

A garota levantou a mão na altura de seu peito e mostrou o número três, olhei novamente e entre os dedos dela haviam três pregos afiados.

- O que eu faço? - perguntei em voz alta.

- Se defenda - falou Ribirth se afastando seguido pelos outros.

A anja mexeu sua mão rapidamente, vi os pregos vindo em minha direção em câmera lenta e coloquei meu braço na frente dos olhos, esperei alguns segundos, não senti nada, não haviam acertado em mim.

- Boa Luciel - gritou Rose.

Abri meus olhos e vi os pregos flutuando em minha frente.

- Como? - falou a garota anja - Impossível, nenhum demônio tem o poder de parar os pregos sagrados.

Marcos riu.

- Ele não é um demônio qualquer Tina, ele é o príncipe do inferno.

- O Ant-Cristo? - gaguejou ela - Não pode ser.

Eu mecho meus dedos para baixo e para cima, os pregos acompanhavam meus movimentos.

- Mate-a Luciel - gritou Rose.

Chacoalho a mão como se estivesse jogando ar para Tina, como antes os pregos acompanharam meus movimentos e prenderam os braços da anja na parede do quadrado de vidro.

- Me desculpe - disse.

- Me tire daqui - gritava ela.

- Não é tão valente agora Tina - disse Marcos passando seus dedos morenos na pele branca da anja.

- Acabe logo com isto - gritava ela - Mas você sabe, sabe que meus irmãos vão te matar.

- Cala a boca Vadia - Marcos da um tapa no rosto de Tina, a fazendo sangrar - Acaba com isto agora Luciel.

- Nã-não - Gaguejei - Não quero matá-la.

- Ela está sofrendo - disse Alex - Acabe com isto logo Leo.

Caminhei até o Tina que gritava e se debatia de dor, movimentei ambas minhas mãos no sentido dos pregos, fiz outro movimento ligando as mãos, e os pregos sagrados foram parar no coração da anja.

Ouve um barulho e uma luz cegante surgiu, dentro da caixa de vidro menino Caos sorria.

Desabei no chão e comecei a chorar, eu matei uma "pessoa", pior que isto...

Eu havia matado um anjo.

Alex se ajoelhou ao meu lado e colocou a mão em minhas costas.

- Não fique assim Leo, vai passar, tudo passa, esse é seu Destino.

- Destino? - falei em um sussurro - Se meu destino é ser um assassino, não quero ter futuro.

- Vamos parar com a choradeira? - falou Caos saindo de sua pequena prisão de vidro - Você é o filho de Lúcifer? Luciel?

- Meu nome é Leonardo - disse encarando o menino demônio.

- Vamos para casa - falou Marcos - vão ter tempo de se conhecerem durante a viajem.

Limpo as lágrimas e me levanto.

- Não esqueça dos pregos sagrados - diz Ribirth - podemos precisar deles.

Antes que alguém se mexesse estendi minhas mãos e puxei os dois pregos no coração de tina, poderia precisar deles em algum momento, meus planos eram pegar Max e dar o fora, fugir para um lugar onde ninguém me conhecia, ou me chamassem de Luciel.

As ruas da cidade de Ramadi pareciam mais assustadores que antes, durante o trajeto de volta ouvíamos apenas o barulho do vento.

Caos tinha um ar arrogante, ninguém ousava falar com ele, a viajem toda foi tranquila, Alex continuava me dando dicas de "poder dos demônios"

A uma semana estava jantando com mais vinte e sete crianças no orfanato Mineurs e agora estava viajando com sete demônios.

Chegamos em Besançon era por volta de meio dia, as árvores em volta do castelo o deixavam com um ar sombrio, abro a porta do castelo com meu novo "poder", esse lance de mexer as coisas só de pensar é muito legal.

- Leo? - Max vinha a meu encontro correndo e me abraça - Estava morrendo de saudades, onde você se meteu? - Não acreditava que era Max, então a beijei, foi um beijo longo e apaixonado.

- Vamos parar com a patifaria aqui? - disse Rose se jogando no sofá - Não acredito que você a trouxe Elvira.

- Demônios também cumprem o que prometem - falou Elvira entrando no grande salão com uma bandeja de prata nas mãos com algumas taças - Conseguiram? - ela para quando vê Caos entrando, a bandeja escorrega de suas mãos e cai, antes que tocassem no chão Caos as pega, sem derrubar um pingo de vinho - Obrigada Caos - diz ela sorrindo - Você gentil como sempre.

- Seria um desperdício derramar um sangue tão nobre.

- Não é vinho? - gritei soltando Max que se encolheu atrás de mim, Rose riu - vamos Max - disse a puxando pelo braço enquanto subia as escadas para os quartos.

Entramos em meu quarto e sentei na cama, ela me empurrou e deitou em cima de mim me beijando.

- Estava morrendo de saudades de você.

- E - beijo - u - beijo - também - ela morde meus lábios, tira minha camisa que ainda estava com um pouco de sangue de Tina e a joga para longe - Como estão todos em Mineurs? - perguntei me levantando.

- Estão bem, mas Alana sumiu, sem dar explicações.

- Eu sei...

- Como sabe?

- Longa história.

A essa altura estávamos ambos despidos. Me sento na cama e digo.

- Max, aconteça o que acontecer, vou sempre te amar...

- Por que está falando isto agora?

- Não confie nas pessoas desta casa Max, são todos perversos e maus. Me obrigam a fazer coisas que não quero, dizem coisas que me confundem, quero que me prometa uma coisa... - ela me olha confusa - Nunca se esqueça de quem somos, nunca esqueça de quem sou e nunca me deixe esquecer de onde viemos e para onde queremos ir.

- Para onde queremos ir?

- Para onde ninguém nos conheça, um lugar onde me chamem de Leonardo e não Luciel.

Ela me beija e diz:

- Acho que você bateu a cabeça amor.

Eu sorrio e ouço alguém batendo na porta.

- Leo, ta ai?

- Sim - digo, era a voz de Alex.

- Leo, Elvira mandou nós descermos para o jantar.

- Tá bem - grito me vestindo - já estamos descendo.

- O porquinho não vai tomar banho para o jantar? - diz ela me abraçando.

- Depois fazemos isso - digo a beijando - estou morrendo de fome.

Descemos para a cozinha, estavam todos a mesa nos esperando.

- Será que seus pais não os ensinou que é falta de educação deixar os outros esperando? - diz Caos - Ah, desculpe... Esqueci que seu papai está preso e sua mamãe está mota.

A raiva me invadiu, fui para cima da mesa, mas algo me segurou no lugar onde estava, logo percebi que era Max me segurando pela cintura.

Nos sentamos entre Alex e Alan.

A mesa era enorme e farta, havia várias vasilhas e panelas tampadas na mesa, o cheiro pareia ótimo, minha barriga fazia barulho, afinal... Não havia comido nada durante a viajem.

Elvira entra na sala de jantar com uma enorme vasilha nas mãos, colocou no centro da mesa e se sentou na ponta.

- Bom apetite - diz Caos abrindo as vasilhas em uma velocidade incrível.

Max gritou quando viu o que era o jantar.

Na panela do centro havia a cabeça de Alana sem os olhos recheada com algo que não distingui. Nas outras vasilhas haviam, ensopado de dedos; uma vasilha com os órgãos internos de várias pessoas, jarras com sangue, e um coração que ainda parecia bater... caos e Rose riam enquanto Max chorava. A abracei e empurrei a mesa sem usar as mãos, Caos conseguiu salvar o coração, ele comia com vontade, aquilo me dava nojo...