A consciência que a morte traz

O sangue se espalhava pelo chão. A faca num movimento alucinante perfurava o corpo nu daquele jovem.

Seus olhos fechados e apertados pelo dor via a morte caminhando em sua direção. A morte trajada de negro fúnebre e com uma foice a tiracolo sorrindo com apetite nos olhos.

Já não conseguia gritar, mas murmurava por ajuda. Seu corpo ia perdendo as forças. Sentia isso. Sentia a sua respiração pesada e fraca. Sentia seu corpo como se ele estivesse sobre uma cama de pregos e que todos eles estivessem penetrados nele.

O barulho das coisas externas começavam a diminuir: carros, buzinas, máquinas. Golfava sangue e o líquido vermelho escapava pelas laterais da boca.

Sentiu seu corpo abandonado ao chão frio. Com os olhos foscos e entreabertos, conseguiu ver o vulto homicida escapando, fugindo pelos corredores do prédio.

Ainda conseguia pensar, mas seu corpo não se movia. Tinha consciência do porvir negro que te esperava, mas a mente focalizava o passado. De repente, a vida passava como um filme rápido em sua mente:

Sua infância, seus brinquedos, seus amigos na escola, suas namoradas, seus beijos, seu primeiro carro, seus sonhos, seus objetivos, seus sorrisos, suas tristezas, seus trabalhos... Sim, tudo foi em vão!

Sentiu um certo desprezo pela vida e percebeu o quanto ela é...frágil, sem sentido. Sentiu que foi tudo em vão e que brigou por coisas tão mundanas e transitórias. Trabalhou, trabalhou e agora ? Nada, além do nada!

Mais uma golfada. Seu corpo ficou teso e gelado. Sabia que a qualquer momento era o fim da sua breve vida. Se ao menos ele não estivesse entrado nessa vida...criminosa! Não ouviu os conselhos da sua mãe.

Alguém chegou. Era a sua mãe gritando desesperadamente. Sentiu a mão quente dela deslizar pelo seu rosto lívido. A sua mente tratou de recordar todo o carinho, todos os momentos mágicos com a sua mãe.

A única que esteve de verdade ao lado dele em toda a sua vida e agora no fim. E ele sentiu que esse amor não era em vão, valeu viver com ele e por ele.

Do berço à primeira infância. Das broncas e das felicitações. Dos cuidados quando se estava doente...dos mimos, dos lanches à tarde que ela levava até a sala, das noites, dos dias, dos domingos. Saudade perfura mais do que uma faca!

Sua mãe....a única amiga. Faz tempo que ele não a abraçava e isso o incomodou. Queria abraçá-la agora, pelo menos nessa última vez. Não conseguia, não tinha forças. Tentou dizer eu te amo, falhou.

Mas sua mãe percebeu tudo e o abraçou e disse um eu te amo como só a mãe pode dizer.

Sentia as lágrimas de amor de mãe caindo sobre seu rosto num desespero alucinante. Fechou os olhos com a única força que tinha. Ouviu a mãe gritar ao longe : não, meu filho, não me deixa. Quem te fez isso ? Nãooooooooooooooooooooo!

A ambulância chegou, mas já era tarde.

Graciliano Alves de Azevedo
Enviado por Graciliano Alves de Azevedo em 29/11/2014
Código do texto: T5052680
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